Paula entrou no novo trailer e ficou surpresa ao ver que havia roupas e casacos dela ali, mesmo que nunca tivesse passado uma noite com Baltazar. Abraçou Baldrick com força. Tornar-se mãe foi um processo lento, muito doloroso e construído aos poucos. Enquanto o apertava, a irmã de Baltazar, Bia, chegou e sorriu para ela.
— Está tudo bem? — perguntou Bia.
— Está, sim — respondeu Paula.
— Então, vou voltar para o meu trailer. Vim só ver se a comida que preparei para a semana desse menino lindo ainda estava aqui.
— Você sabe que nunca vou poder agradecer o que fez, Bia. Foi mais mãe do meu filho do que eu.
— Eu só ajudei e sempre explico a ele que não sou a mãe — disse Bia. Baldrick a chamava de mãe, assim como chamava Paula.
— Pode deixá-lo te chamar de mãe também. Se não fosse por você, ele não teria tido metade do que teve. Eu estava tão assustada, e você esteve lá... cuidou, deu banho enquanto eu não sabia o que fazer.
— Ele é meu sobrinho, Paula. Por isso cuidei dele, assim como cuidei do pai dele — disse Bia, com um sorriso compreensivo, antes de partir.
Com Baldrick adormecido nos braços de Paula, Baltazar o pegou com cuidado e o deitou na cama que havia construído para ele, uma cama baixa, onde o garoto podia subir e descer sozinho. Voltou para a sala do trailer e olhou para Paula.
— Olhe para mim, Paula. É por gratidão que vai ficar comigo?
Paula sentiu o peso da pergunta. Baltazar queria saber se o amor dela era real ou apenas fruto da ajuda que ele sempre ofereceu de longe.
— Não, não é por gratidão. É porque eu não vejo a hora de poder me aconchegar em seus braços. Nas noites de chuva, eu ficava acordada, sabendo que Baldrick estava com você, e desejava ter seu colo também.
— Eu não podia, menina. Você era menor de idade, e o meu "baro" me puniria. E também não era certo.
— Eu sei, e quero estar com você. Mas estou morrendo de medo, Baltazar. Apesar do tempo que passou, ainda me lembro de dor
Ela era só uma menina quando foi abus.ada e machucada..
— Eu sei, Paula. Hoje vai ser só um beijo. Toco em você de verdade quando nos casarmos, porque vou seguir as leis do meu povo cigano.
— Mas essa lei é para mulheres virgens.
— Não importa nada do que aconteceu. Sei que dizem por aí que sou maluco e perigoso, mas meu peito doeu todos esses anos por não ter você .
A puxou para perto, respirando o cheiro dela e acariciando os seus cabelos, tinha tantas fantasias com aquele cabelo, tantas, as vezes achava que nem teria tempo o suficiente para viver tudo que sonhou.
— Sou louco por seus cabelos, completamente louco, Paula.
— Não gosto muito deles — respondeu ela.
— Eu gosto — disse ele, sorrindo. Paula tremia, tinham se tornado pais de uma criança sem nem mesmo trocarem um beijo..
Era loucura, Paula sabia. Ela chegou ao acampamento grávida, resultado dos abusos sofridos, e decidiu ter o filho. Baltazar, o motoqueiro cigano coberto de tatuagens e temido por todos, a quis mesmo assim. Quis mesmo quando ela estava presa em um mundo de dor e traumas. Mesmo sabendo que ela era menor de idade e que não podiam ficar juntos, ele esperou. Paula o via de forma diferente, achava-o bonito de um jeito que ninguém mais era. Antes de saber seu nome, ela o chamava de "moço bonito".
— Você já era minha desde a primeira vez que te vi. Dormi tantas vezes no telhado do trailer onde você estava, só parei quando Baldrick nasceu, porque precisava estar com ele.
Baltazar colou o rosto no dela, e, mesmo tremendo, Paula enlaçou seu pescoço. O corpo dele era quente, tão diferente da cama fria em que ela costumava dormir, tão diferente dos pesadelos que conhecia. Quando os lábios dele tocaram os dela, Paula gemeu e chorou. Era o primeiro beijo real que compartilhavam, mais forte do que ela jamais imaginara. Ele segurou o queixo dela, ensinando o ritmo, e passou a língua pelos lábios macios. Agora podiam, ela finalmente era maior de idade.
Ele se perdeu por um momento na loucura de sentir os cabelos dela durante o beijo. A sua mão deslizou pelos cabelos e desceu em busca de mais contato. Paula se viu sendo levada até o quarto e deitada na cama, observou Baltazar tirar a camisa. O seu olhar ficou preso nas tatuagens que cobriam o corpo dele. Respirou fundo, mas Baltazar percebeu a sua hesitação.
Lembrando da sua promessa de esperar até o casamento e seguir as leis do seu povo, ele deitou-se ao lado dela e respirou fundo. A puxou para um abraço.
— Não precisa tremer, vou esperar. Eu me esqueci por um momento. Foram muitos anos desejando você e muito tempo sem nenhum contato íntimo.
— Baltazar, durante todo esse tempo, você não esteve com ninguém? — perguntou Paula.
— Não, nem se eu quisesse. Era sobre você, menina. Sempre foi sobre você. Nunca balancei por nenhuma outra mulher, nunca. Antes, era só sex.o, nada mais. Mas você... você balançou o meu corpo inteiro, completamente.
Até conhecê-la, Baltazar era apenas um motoqueiro, um cigano louco por fogo. Mas agora, ele era mais do que isso: era um homem que sabia amar. Respirou fundo, sentindo o cheiro dos cabelos de Paula, e pela primeira vez, sentiu a verdadeira sensação de tê-la deitada em sua cama. Descobriu que seria capaz de colocar fogo no mundo e destruir qualquer um para proteger aquela sensação..
E teria de fazê-lo, pois alguém estava voltando do inferno para assombrar ainda mais os pesadelos de Paula.
Mas o "moço bonito", que de moço não tinha mais nada, acenderia o fósforo como só ele sabia fazer. Por Paula e Baldrick, ele queimaria tudo, não restaria nada..