Capitulo 2

1441 Words
Eduardo   Ver o dia amanhecer é a coisa mais maravilhosa do mundo. Eu adoro sair para correr antes mesmo de o sol nascer. Enquanto corro pelo parque logo cedinho, vejo pessoas me encarando e devem me achar louco por estar tão disposto logo cedo, mas eu não ligo. Amo a energia que isso me dá para enfrentar o dia. Hoje vai ser um dia completamente diferente para mim, estou me preparando psicologicamente para enfrentar uma nova turma de alunos para a qual fui chamado a lecionar. Sou formado em letras e licenciatura em literatura. Amo o que faço. Ensinar meus alunos o que eles devem ler, indicar um livro de algum autor maravilhoso como Mario Quintana, Carlos Drummond de Andrade, entre outros é uma coisa que me traz prazer. Vou ensinar a essa turma como é bom pegar um livro e viajar na leitura. Você entra na história, se transforma no personagem, viajar por diversos lugares, conhece culturas diferente. Claro que não preciso dizer que vou seguir essa profissão para o resto da minha vida.  Termino minha corrida e vejo que já estou quase em cima da hora de ir para a escola, faço o caminho de volta numa corrida menos intensa. Chegando a casa, encontro a minha cadelinha, Bolinha, toda alegre porque cheguei. Ganhei ela de presente dos meus pais quando resolvi morar sozinho, claro que quando eu dei a notícia, minha mãe não gostou nem um pouco. Para ela, eu tinha que ficar debaixo da saia dela. Amo muito minha mãe, mas, como toda mãe, ela fica no meu pé para ver quando vou arrumar uma mulher, sabe, para casar e ter filhos. Claro que eu quero isso, só que ainda não encontrei a pessoa certa. Também não vou dizer que sou um santo, sendo que não sou e nunca fui, mas também não sou nenhum galinha. Dou ração para a Bolinha e subo correndo para tomar um banho. Sou diferente dos professores de hoje em dia, gosto mesmo é de usar um bom terno e gravata, sei que tem gente que acha ridículo usar esse tipo de roupa, mas considerando que já trabalhei em universidades, de grande porte, gosto de estar alinhado. Tomo um banho rápido e me visto. Escolho um terno preto e gravata da mesma cor, já imaginando a cara dos meus novos alunos torcendo o nariz. Borrifo um pouco do perfume que sempre uso, Portinari, pego as minhas coisas e me preparo para sair. Sou um homem alto, um metro e oitenta de altura, cabelos negros e querendo já aparecer alguns fios grisalhos. Tenho trinta e seis anos e sou o que é chamado de boa pinta, mas, no momento, o que eu mais quero é tranquilidade. Tranco a porta da casa e vou para a garagem, entro no carro, dou a partida e sigo direto para a escola. Assim que estaciono na porta do estabelecimento, não sei dizer o que estou sentindo neste momento, parece um misto de expectativa e ansiedade... sinto como se a minha vida fosse mudar drasticamente. Olho no relógio e vejo que ainda dá tempo. Pego minhas coisas no banco do carona e sigo direto para a sala da diretora, para me apresentar. Ao chegar, vejo uma moça muito bonita por sinal, só que não faz o meu tipo. Bem, na realidade, eu nem sei qual mulher faz. Realmente estou precisando sair para me divertir e encontrar umas mulheres. — Bom dia! Sou o novo professor de literatura! — Apresento-me para a secretária. Ela se levanta e é uma bela morena, corpo escultural. Ela me avalia e abre um grande sorriso de safada, como se estivesse dizendo “vem aqui, gostosão, que eu vou te pegar”. Se fosse em outra época, eu aceitaria, mas, atualmente, eu não quero mais isso para mim. — Bom dia, o senhor deve ser o professor Santana — a secretária fala naquele tom aveludado, demostrando que está a fim de mim. — Sim — confirmo. — Aguarde um momento, que vou avisar a diretora que o senhor se encontra à sua espera. — Ela vem ao meu encontro, rebolando sensualmente e passa por mim, seu corpo quase encostando no meu. Ela segue para a porta ao lado e bate. — Obrigado. — Agradeço antes de ela entrar. Avalio a bela mulher e se fosse em outra época, jogaria meu charme e com certeza ela estaria no papo. Enquanto espero ela me anunciar, penso em como seria maravilhoso encontrar uma mulher pra mim, eu iria venerar o corpo e alma dessa mulher e escrever belas poesias para declarar meu amor por ela. — Professor, professor. — Ouço uma voz me chamando, eu estava tão longe daqui que fico surpreso ao ver que estava sendo chamado. — Perdão, eu estava um pouco longe. — Não tem problema, a senhora Adeline já vai recebê-lo, venha por aqui — avisa e eu agradeço. Entro numa sala muito simples e encontro a senhora Adeline, uma senhora com aquela carinha de vovó bondosa. — Bom dia, senhora diretora. Sou Eduardo Santana, o novo professor de literatura. — Cumprimento, apertando a mão dela de leve. — Bom dia, professor. Bem-vindo à nossa escola Maria Trujillo Torloni. — Eu que agradeço o convite, diretora. Realmente é mesmo um prazer, estou surpreso por estar sendo bem-vindo numa escola e sendo tratado com todo carinho. Acho que eu nunca fui tão bem tratado, mesmo já tendo trabalhado em escolas renomadas e universidades, mas, nesses lugares, as pessoas m*l olhavam em sua cara e sempre estavam falando em comprar carros, sair para baladas, roupas, joias etc. — Bom, professor, vou apresentar a sua nova turma. O senhor vai lecionar durante o ano letivo inteiro para eles — a senhora Adeline explica. — Obrigado, diretora. Estou ansioso para conhecer os novos alunos. Eles são tranquilos ou... como vou dizer... — Bagunceiros? Bem, professor, eles são um meio-termo, como qualquer turma de adolescentes — completa, já se levantando para que eu a acompanhe. Saímos da sala e seguimos por um corredor aonde vários alunos estão transitando a caminho de suas respectivas salas de aula. Por onde passamos, os alunos nos olham com curiosidade. Algumas meninas olham para mim e fazem aquela cena típica de abanar a mão como dizendo que estão com calor. A minha vontade é de dar risada, essas meninas ainda têm muito que aprender. Os alunos cumprimentam a diretora, que conhece a maioria pelo nome. Enfim, paramos numa sala. Reparo que a sala não está completa, sinal que ainda alguns alunos estão para chegar. Entramos e todos param de falar ao nos ver, ficam nos olhando com curiosidade. — Bom dia, alunos — a diretora diz. Ouço um bom-dia tímido da parte deles e vejo o quanto estão curiosos. — Esse é o novo professor de literatura de vocês, quero que o tratem bem e desejem um bom-dia a ele. — Bom dia, professor — falam em coro. — Bom dia, caros alunos. — Cumprimento. — Bom, professor, vou deixar o senhor com os alunos. Com licença, alunos. — Obrigado, novamente, diretora Adeline. — Eu que agradeço, professor — responde e sai da sala. Viro novamente para os alunos. vendo que todos estão esperando para ver o que vou falar.   — Bem, alunos, meu nome é professor Eduardo Santana. Vou ficar com vocês durante o afastamento da outra professora. Gostaria que todos se acomodassem e se apresentassem — peço e vejo que eles começam a se movimentar. Cada um seguindo para a sua carteira. Os alunos começam a se apresentar, vou olhando para eles e arrumando a minha mesa ao mesmo tempo. De repente entra uma aluna carregando uma garrafinha, que eu imagino que seja água, ela se apressa a procurar o seu lugar. Os alunos continuam a se pronunciar quando mais uma aluna entra na sala. Meu olhar desvia para a porta e vejo um anjo com cabelos ruivos presos num coque malfeito. E a vontade que me arrebata é a de ir até ela e soltar aqueles cabelos que devem ser longos e belos. Seu olhar não se desvia do meu, e o meu, sustenta o dela. Seu rosto é cheio de pequenas sardas, que eu gostaria de contar só para senti-lo perto do meu. A boca é um convite para ser beijada. E aqueles olhos? Meu Deus, seus olhos são verdes como águas de um rio cristalino. O corpo mostra que ela não é mais uma menina, e, sim, uma mulher, pela qual estou completamente enfeitiçado. Sei que deveria sentir vergonha do sentimento que acaba de se instalar em meu coração. Mas me apaixonei pela pequena feiticeira de olhos verdes.
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