05/09/201X - MEU NOVO TRABALHO

649 Words
Me arrumo quase todos os dias, como toda funcionária pública deve se arrumar: coloco uma blusa de algodão, calça jeans, uma sandália rasteirinha, maquiagem leve e cabelos soltos, com apenas uma tiara segurando-os. Pego minha bolsa, saio de casa, tomo meu ônibus e vou para a nova escola onde começarei uma nova vida longe de escândalos. Ou tentarei ficar longe deles. Pedi uma remoção da minha antiga escola, porque me envolvi demais com os outros funcionários. Até um caso com uma professora eu tive. Muitos pensavam que ela era lésbica, mas na verdade era bi. Eu, curiosa demais, fui lá e tirei a prova. Mas como estava levantando muitas suspeitas, conversei com a diretora, que quase chorou para que eu não saísse de lá e solicitei que me desse a remoção, para o bem da professora e dos demais funcionários. A nova escola em que trabalho, diferente da outra, que estava sendo citada nos telejornais como a que possui o maior índice de violência do estado da Louisiana é mais tranquila, apesar de ter alunos suspeitos de que andam e moram em periferias. Ela é um pouco maior que a em que eu trabalhava, tem mais salas e mais alunos. A diferença entre essa e a que eu trabalhava é que ao invés de diretora, eu agora terei como chefe um diretor. Isso mesmo! Um diretor. Mas mesmo sendo maior e com mais alunos, ela ainda possui alguns problemas com assaltos e violência. O secretário de Educação do estado da Louisiana está pressionando a equipe diretiva, para que ela, junto com o diretor, encontre uma solução rápida e satisfatória para esse problema. Mas nem só de problemas ela sobrevive. A escola, apesar de estar situada em Nova Orleans, é uma das que mais são visadas pelas empresas, tanto estatais, quanto particulares. É comum aparecerem oportunidades de estágio para os alunos que possuem as melhores notas do currículo. Outro ponto positivo são as constantes visitas de alunos universitários para estágios supervisionados. O contato com alunos universitários, muitas vezes estimula os alunos a quererem sair da realidade em que se encontram, e irem para uma nova realidade acadêmica. Já quanto aos funcionários, não tem nenhum que tenha me chamado a atenção. Nem mesmo os professores são atraentes. A maioria são aqueles velhos quase aposentados. Se eu fosse uma caçadora de recompensas eu até sairia com eles. Mas como tenho um bom salário de secretária, e ganho bem como sócia de uma boutique, não tenho nenhum interesse em sair com nenhum deles. Já com os funcionários rasos como eu, a coisa é bem diferente. Não tenho do que reclamar, pois são bem divertidos e pervertidos. As merendeiras do turno da tarde são umas desbocadas. Falam o que gostam e não tem vergonha de dizer isso pra ninguém. Até têm, mas quando vão ver, já saiu tudo o que elas queriam falar. E até se parecem, pois ambas são magras e ruivas. Na limpeza tem dois funcionários: uma loirinha gestante chamada Mary, e um homem forte, alto, sempre sério, com cara de mau, mas com ar de safado, de nome chique, chamado Magno Bernard Keffer. Mas os alunos aqui o chamam apenas de Magno. Ele, apesar de trabalhar na limpeza, tem um irmão que é artista plástico, um coroa doidão chamado de Peter Bernard Keffer. Mas que assina suas obras como Peter Keffer. Magno é branco, têm braços fortes de homem trabalhador, cabelos castanhos curtos, cortados sempre de máquina, não usa barba e possui olhos cor-de-mel. Ele seria um gato completo, se não fosse gordinho. Pode não parecer, mas não gosto muito de homens descuidados. Mas dá para ver notadamente que por baixo daquelas gordurinhas do Magno escondem um homem másculo, pois suas formas não me deixam mentir. Quem sabe se no passado ele não tenha sido bem fortão, sarado de academia e depois que parou, deu uma engordadinha? Só o tempo dirá.
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