CAPÍTULO 5
DUAS SEMANAS ANTES
Cada Vez Mais Afastadoa
Narrado por Sophia
Gravar um filme era um sonho que eu tinha desde criança, mas ninguém me avisou que era assim, que o cansaço tomava conta de cada parte do corpo, que era preciso encarar câmeras e repetições como se cada cena fosse a primeira vez.
Entre tomadas e ensaios, eu me esforçava para me manter concentrada, mas a saudade que tinha do Nathan era como um peso constante no peito.
As filmagens eram intensas, especialmente com o enredo romântico. Passava horas em cenas cheias de gestos delicados, olhares demorados e diálogos carregados de afeto com Sam, o ator que fazia par romântico comigo. Ele era bonito, era inegável, e parecia estar sempre sorrindo com uma confiança natural que me irritava um pouco. Era simpático e educado, e isso não ajudava em nada, pois eu percebia o interesse constante dele, mesmo que eu tentasse manter as coisas profissionais.
E as pessoas ao redor não ajudavam em nada. A equipe sempre fazia comentários como, “Nossa, vocês têm uma química incrível!”, ou, “É lindo ver o quanto você e o Sam funcionam tão bem juntos na tela.”
Eu sorria, assentia, porque sabia que isso era parte do trabalho, mas, internamente, eu queria deixar claro para todo mundo que eu já tinha alguém. Eu amava o Nathan. A ideia de qualquer coisa com outro homem parecia impossível.
Enquanto filmávamos uma cena ao ar livre, sob o sol escaldante, percebi que o Sam me observava enquanto ajeitava o meu cabelo para a próxima tomada. Ele lançou um sorriso, aquele sorriso cheio de charme que eu sabia que muitas garotas provavelmente adorariam receber, mas que, para mim, só causava uma leve irritação.
— Tu és muito dedicada, sabias? — ele disse, de repente. — Acho incrível como te envolves nas cenas.
Eu ri, tentando ser gentil, mas mantendo a distância.
— Obrigada, Sam. Faço o meu melhor.
Ele balançou a cabeça, mantendo os olhos fixos em mim por mais tempo do que o necessário.
— E não é só isso, é o jeito como tu fazes. Parece tão natural. Acho que só alguém apaixonada de verdade conseguiria trazer esse brilho para o papel.
Respirei fundo, controlando a vontade de desfazer o elogio que ele me deu. Eu sabia onde ele queria chegar, e estava cansada dessa tentativa de “subentendidos”. Preferi mudar de assunto.
— O que achas que a diretora achou da última cena? Fiquei em dúvida se transmiti bem o que ela queria… — Tentei desviar a conversa para algo mais técnico, mas ele continuou com aquele olhar.
— Acho que foi perfeito. Mas, se precisares de ajuda para ensaiar, estou por aqui. — Ele deu de ombros, e eu sorri sem graça, tentando dar o mínimo de corda. Ele me ajudava a manter as cenas profissionais e entregava uma atuação impecável, mas sempre ficava algo no ar, como se ele estivesse à espera que houvesse algo entre nós.
Finalmente, o diretor de cena nos chamou, salvando-me de mais uma conversa ambígua. Ensaiei o sorriso certo para o take e me preparei para a próxima cena, onde teríamos que caminhar de mãos dadas por um campo, rindo como um casal apaixonado. Era engraçado, eu conseguia fazer o papel, mas, enquanto segurava a mão de Sam, a única coisa que vinha à minha mente era o quanto eu gostaria que fosse o Nathan ali, o quanto era ele quem fazia o meu coração acelerar.
Mas, entre um intervalo e outro, eu tentava disfarçar o desconforto. A rotina de filmagens era pesada, e me manter focada era quase um mecanismo de defesa contra a saudade.
Nas pausas, dava uma olhada rápida no telemóvel, sempre à espera de ver uma mensagem dele.
Trocávamos algumas mensagens ao longo do dia, mas as respostas demoravam, os fusos horários atrapalhavam, e eu sentia cada vez mais a distância entre nós.
Num intervalo mais longo, fui para o meu trailer e finalmente consegui uma chamada de vídeo. A imagem do Nathan apareceu na tela, e, por alguns segundos, só ficamos em silêncio, trocando sorrisos cansados. Ele parecia desgastado também, mas ainda tinha aquele brilho nos olhos, o que me fez sorrir.
— Ei, amor, — ele começou, a voz carregada de carinho. — Como está o set hoje?
— Intenso, mas sobrevivo. Tu sabes como é… — Dei uma risada, tentando aliviar o peso da saudade, mas sabia que ele notaria o cansaço nos meus olhos.
Ele assentiu, compreendendo.
— Imagino. Ouvi dizer que o filme vai ser um sucesso. Deve estar todo o mundo te elogiando, né?
— Ah, sim, é… o pessoal é gentil. Querem que a química entre mim e o Sam apareça nas cenas, sabes?
Eu sorri, mas percebi um breve silêncio do outro lado.
Nathan parecia hesitante.
— Hum, esse tal de Sam… ele é um cara legal?
— É, é legal, mas ele… sabes como é. Ele não és tu. — Eu ri, e notei que ele também sorriu, um pouco mais relaxado. — Só consigo pensar em ti, Nate. Eles pedem química, mas o que eles não sabem é que, na minha cabeça, eu estou interpretando para ti.
Ele me olhou com uma mistura de alívio e ternura, e eu quase podia sentir o calor do abraço dele.
— Isso me deixa mais tranquilo. Porque, bom, eu fico aqui a pensar… será que também não sentes falta? Ou que esse tal de Sam… sei lá, pode estar a ganhar espaço.
Rolei os olhos, tentando afastar o ciúme bobo que percebi na voz dele.
— Nate, o único espaço que alguém ocupa aqui é o teu. Mesmo com tudo o que acontece… tu és quem eu quero.
A nossa conversa foi interrompida, alguém o chamou no fundo. Ele olhou para o lado, com um suspiro frustrado.
— Desculpa, Soph. Precisam de mim agora. Vamos nos falar mais tarde, sim?
— Claro.
Despedi-me, tentando esconder a pontinha de tristeza que sempre aparecia quando as chamadas terminavam.
A rotina de gravações continuou, dia após dia, e as ligações com Nathan foram ficando cada vez mais raras.
Cada vez tínhamos menos tempo para nós, para a nossa relação. Já não estávamos juntos há quase um mês e isso cada vez era mais complicado de gerir.