Nathan Keen
A comemoração da Model se aproxima, e a atmosfera é de pura correria. Estamos ocupados a semana toda, ainda que eu mesmo não esteja diretamente envolvido — uma equipe foi contratada para coordenar tudo. Com tantos convidados, inclusive internacionais, meu telefone e o de minha assistente não param de tocar. Ela, coitada, já está exausta, enquanto as chamadas, majoritariamente femininas, parecem todas querer falar comigo pessoalmente. Minha secretária, no entanto, protege a linha com um m*l-humor quase admirável, recusando-se a transferir qualquer ligação.
No meio desse caos, há algo que realmente me inquieta: Valentina. Minha felina indomável. Desde que essas ligações começaram, percebo uma sutil mudança nela, um certo distanciamento. Ela guarda seus pensamentos em silêncio, luta com desafios que talvez eu jamais compreenda totalmente… E, ah, que mulher intrigante eu fui escolher para amar.
Em uma conversa franca com meu pai sobre Valentina, mencionei sua idade, e ele reagiu com certa apreensão, questionando se eu não estaria brincando com os sentimentos de uma garota tão jovem. Ouvir isso foi como um golpe. Será possível? Talvez ele tenha razão. Mas a verdade é que estou profundamente envolvido. Simplesmente não consigo imaginar minha vida sem ela.
— Pai, não é uma brincadeira. Estamos juntos há meses, e eu a amo profundamente. Se acha que a diferença de idade é um problema, então eu… posso considerar o que diz, mas a verdade é que não tenho intenção de terminar com ela.
Meu pai, contudo, conhece meu olhar quando falo dela e, para minha surpresa, finalmente sorriu.
— Filho, não menospreze esse sentimento. Você está apaixonado, e a idade é irrelevante. O amor verdadeiro não se mede em anos, mas em intensidade. Fico feliz por ver que encontrou alguém com quem pode viver isso. Não pensei que veria o dia em que você, meu Nathan, falaria com essa paixão. Que seja eterno, meu filho. Agora, quem sabe, talvez um neto seja algo mais próximo do que eu imaginava?
Essas palavras soaram como uma bênção. Naquele instante, toda minha hesitação se dissipou. Eu sabia: Valentina era o presente mais precioso que o destino poderia ter me dado. E, independentemente de qualquer obstáculo, eu a escolheria, hoje e sempre.
— Pai, pra ser sincero, eu não tenho planos de ter filhos no momento, nem pedi Valentina em namoro. Tenho vivido nosso relacionamento de forma casual, focado mais na conexão física. O senhor entende, não é?
Meu pai soltou um suspiro profundo e estendeu a mão, como se minhas palavras já fossem esperadas.
— Chega de falar assim, garoto. Venha cá, me escute — respondeu com um tom firme, mas carregado de um carinho quase paterno.
— Sim, pai — respondi, tentando absorver a seriedade em sua voz. Logo mudei o rumo da conversa. — Em uma semana, já é o dia da festa da Model.
— Exatamente, e como sempre, tenho certeza de que será um sucesso, meu filho. A sua dedicação está fazendo a diferença.
Nos despedimos, e ao sair dali, percebi que um vazio insistia em me acompanhar. Era saudade, uma sensação estranha e inesperada. Não de qualquer pessoa, mas dela — minha morena. Como era possível? Nunca senti falta de alguém desse jeito. Eu, um homem de 32 anos, experimentando o tipo de insegurança que há tempos julgava coisa de adolescente. Será que ela sente o mesmo? Não... Melhor não pensar nisso. Tenho que ser mais confiante. No fundo, sei que minha morena me ama tanto quanto eu a amo.
Ao abrir a porta do apartamento, fui recebido pelo som alto de música. E, ao entrar, me deparei com uma cena no mínimo inusitada: cinco mulheres dançavam animadamente, todas vestidas com lingerie da marca Keen, claramente celebrando e, a julgar pela risada alta e os passos incertos, bastante embriagadas.
Não pude acreditar no que meus olhos viam, e um sorriso debochado surgiu em meus lábios. A expressão das mulheres ao me verem parado ali, observando-as, foi impagável — um misto de susto e embaraço. Elas tentaram fugir, mas a embriaguez as traiu, deixando-as ainda mais descoordenadas.
— Você disse que seu namorado só voltaria mais tarde — brincou Ketley.
— Ele não é meu namorado! Sabe disso, não espalhe boatos — retrucou Valentina, num tom confuso, e se aproximou de mim, sorrindo de um jeito provocante. — Você não é meu namorado, certo? A gente só se diverte junto. A química é incrível, não acha, Nathan? — Ela riu, e continuou em um tom que fez meu coração despencar. — Adoro o que temos, mas ainda quero explorar outras experiências. Vou completar dezenove anos e quero encontrar alguém tão especial quanto ele.
As outras riram, mas logo se calaram, percebendo o peso das palavras dela. Aquelas frases se repetiam em minha mente como um eco amargo. O que ela queria dizer com aquilo? Era apenas uma jovem inconsequente ou nunca havia tido a intenção de levar a sério o que tínhamos?
A dor e a raiva se misturaram, e, antes que eu perdesse o controle, saí dali, sentindo um impulso de socar a parede. Jamais pensei que ouviria algo assim da boca dela. Aquilo me lembrava o que outras mulheres frias e desleais já haviam dito antes. Decidi afogar a dor no bar mais próximo, tentando me convencer de que, se ela realmente queria estar com outros, eu não deveria mais me importar. Mas era inútil. Cada pensamento voltava para Valentina, e a mágoa se aprofundava.
Eu devia ter ficado com Brenda, uma mulher mais madura, em vez de uma garota que ainda não sabia o que queria…
Era quase quatro da manhã, e eu já estava perdido em um estado de embriaguez. Em um último lampejo de razão, chamei Michael para me buscar. Claro, ele estava furioso ao ser acordado, mas não tinha como dirigir.
Ele chegou, com uma expressão de desagrado evidente.
— Nathan, você ficou maluco? O que faz aqui, sozinho e bebendo até essa hora? Isso não parece você. Nunca te vi assim, sem uma companhia.
Suspirei, deixando transparecer minha dor.
— Hoje, não queria ninguém por perto.
Michael me olhou com atenção, percebendo que algo estava errado.
— E Valentina? Onde ela está?
Balancei a cabeça, sentindo um peso no peito.
— Não quero mais saber dela. Me disse coisas terríveis, como se não sentisse nada por mim.
Michael ergueu uma sobrancelha, cético.
— Você realmente acreditou no que ela disse?
— Não sei, mas aquilo me feriu. — Admiti, com uma vulnerabilidade que não costumo deixar transparecer.
Michael sorriu, como quem vê o óbvio.
— Você está apaixonado por ela, não é, Nathan?
Eu não queria responder. Não queria admitir que, mesmo com tudo, eu a amava profundamente. Mas talvez fosse hora de encarar a verdade: Valentina havia se tornado uma parte de mim, uma parte que eu não estava disposto a perder, mesmo que, por orgulho, tentasse me convencer do contrário.
A raiva tomou conta de mim quando Valentina mencionou seu desejo de estar com outro homem. Cada palavra dela era como uma punhalada, mesmo que, no fundo, eu soubesse que tudo aquilo era mentira.