Anna
– Acho que eu estou me apaixonando por você – Erick disse se virando para mim e me olhando fixamente.
Assustada com sua declaração eu me levantei da cama na mesma hora. Ele tinha perdido o juízo? Que merda é essa que ele acha que está fazendo agora?
– Erick não faz isso, eu te disse que seria tudo casual. Sem sentimentos, lembra? – eu disse enquanto pegava minhas roupas que estavam espalhadas pelo quarto.
– Princesa. Vai me dizer que você não está apaixonada por mim? – ele perguntou enquanto acompanhava meus movimentos com os olhos. Parei por um instante franzindo minhas sobrancelhas enquanto olhava em sua direção.
Eu queria mesmo era ter esse ego! Misericórdia.
Com um sorriso frustrado, peguei minha blusa e comecei a vesti-la.
– Não, não estou. Você tinha que estragar tudo não é? – perguntei, demonstrando a ele toda minha frustração enquanto me concentrava em me vestir para ir embora o mais rápido possível. – CA-SU-AL – falei pausadamente – Droga! Qual o problema de vocês por nunca entenderem isso? Eu não estou atrás de um relacionamento e eu te avisei! – disse terminando de abotoar minha calça. Calcei minha sandália e em seguida me virei para procurar minha bolsa e celular.
Distraída pegando o resto de minhas coisas, não percebi que Erick havia se levantado. Me dei conta quando senti suas mãos envolta de meu braço. Tentei o afastar na mesma hora.
– Calma princesa. Eu estou brincando com você. – ele sorriu, enquanto segurava meu braço.
Olhei fixamente em seus olhos, para tentar identificar se realmente era brincadeira. E a única coisa que eu vi, foi um brilho diferente. Um sorriso forçado. Não, essas palavras definitivamente não me convenceram.
Droga. Droga. Droga! Mil vezes Droga! Eu odeio quando isso acontece.
– Tudo bem. – eu disse e em seguida forcei um sorriso. – Mas sinto que isso não está dando mais certo. Acho melhor pararmos por aqui.
– Ei, princesa. Você vai terminar comigo por causa de uma brincadeira?
– Nós não temos nada Erick, essa é a questão. Por favor me solte, eu preciso ir para casa. – disse com a voz um pouco alterada. Seu aperto em volta de meu braço era forte. E vê-lo me segurando dessa forma, tentando me impedir estava me tirando do sério.
É exatamente disso que eu quero fugir. O cara não hesitou por um minuto antes de me segurar tentando me fazer ficar.
– Tudo bem. – ele disse depois de um tempo, me soltando relutantemente. Então ele se virou e foi em direção ao banheiro.
Apenas dei uma ajeitada em meu cabelo rapidamente, peguei meu celular e sem olhar para trás apenas sai de seu apartamento. Não me atreveria a esperar esse babaca sair do banheiro. Eu não queria ficar mais um segundo sequer ali.
Eu sei exatamente o que isso parece, que sou uma v***a* sem coração. Mas não é isso, pelo amor de Deus. Não me levem a m*l.
Se foi realmente uma brincadeira ou não, eu não queria arriscar. Eu não queria carregar o peso de iludir alguém, pra depois os sentimentos se intensificarem e machuca-lo. Esse definitivamente não era meu estilo.
Deixe-me explicar para vocês como funciona minha mente. Eu Anna Carolina Bittencourt me vejo incapaz de sustentar um relacionamento sério. Então, eu nunca me envolvi sentimentalmente com alguém.
Gosto muito de sair, curtir e conhecer pessoas novas. Mas para sexo casual, eu costumava ter um ou outro contato fixo. Sempre me cuidando muito é claro. Acontece que antes de começar esse tipo de “relacionamento” eu sempre deixava claro para pessoa que seria somente sexo. E combinávamos que se por acaso começasse a rolar sentimento, deveríamos parar imediatamente. Eu me recusava assumir qualquer tipo de relacionamento sério. Tenho pra mim que são muito problemáticos. Dor de cabeça na certa. A pessoa começa a se sentir dona de você. Cruzes, não gosto nem de pensar.
O amor, é lindo no início, mas as coisas podem ficar bem feias. E eu vi isso de camarote, a minha infância todinha. Como meu pai era abusivo, como minha mãe sofria nos braços dele. E cega de amor, implorava para que o traste voltasse para nossas vidas sempre que ele a largava por outra mulher.
Não cresci vendo o relacionamento ideal, e a maioria a minha volta nunca dava certo. Tinham suas exceções claro. Mas raras do jeito que eram, eu seria uma exceção? Eu não acreditava nisso.
E tinha para mim que eu estava muito bem sozinha. Não precisava de um homem para mandar em mim. E me recusava ficar cega de amor por uma pessoa que só me traria sofrimento no final. Como aconteceu com meus pais.
Hoje graças a Deus minha mãe se livrou daquele homem, e eu não tenho contato algum com ele. Mas o que sofremos em sua mão... não desejo para ninguém.
Esse foi um dos motivos que me levou a deixar Manhattan tão nova, junto com minha melhor amiga Sophia. Eu sempre quis conhecer o Brasil. Meus pais eram brasileiros, mas quando foram para Manhattan eu era muito novinha, não tinha seis meses. Então eu não tive contato algum com parentes. Cresci apenas com o contato dos meus pais.
Quando cheguei ao Brasil, eu já sabia o que queria, e o que eu não queria também. Então sempre que eu percebia que podia estar rolando algum sentimento. Eu pulava fora. Eu simplesmente não poderia lidar com isso.
Acontece que ultimamente, é o que mais tem acontecido. Mesmo eu deixando claro que eu não queria nada sério. Ou até mesmo quando eu mentia, dizendo que estava saindo com outras pessoas, acontecia.
Droga! Isso estava me dando uma dor de cabeça muito grande.
E eu só via uma opção, eu precisava dar um tempo em qualquer tipo de relacionamento casual. No fim, isso estava me dando trabalho.
Eu iria me concentrar em sair com as amigas, curtir uma balada. E me concentrar apenas em mim. Apesar de que, creio que não terei muito tempo por agora. Afinal, minha melhor amiga vai se casar em breve.
Eu estava feliz por ela, apesar de não acreditar muito em relacionamentos, eu torcia do fundo do coração para que o dela desse muito certo. Os dois pareciam se amar, e Andrew a tratava muito bem. O que me dava esperança, de que talvez nem todos estivessem perdidos.
***
Assim que abri a porta do apartamento senti o cheiro delicioso de café feito na hora. Eu sentiria falta de chegar pela manhã com o cheiro do cafezinho da Sophi pelo ambiente.
Fui em direção a cozinha cantarolando. Assim que entrei, encontrei Sophia sentada em um banco em frente a bancada, junto com seu noivo Andrew. Eles estavam tomando café da manhã. É claro que seu amado estaria aqui com ela, os dois não desgrudavam para nada. lancei lhes um sorriso enquanto caminhava para sentar no banco á frente deles.
– Chegou a margarida. – Sophia disse com um sorriso no rosto.
– Bom dia pombinhos. – eu disse cumprimentando os dois.
– Bom dia Anna. – Andrew me cumprimentou.
– Vocês deveriam se separar um pouco não acham? O casamento é na próxima semana. A saudade deixa tudo mais divertido. – eu disse em tom de brincadeira enquanto pegava uma xícara e servia o café.
Os dois trocaram olhares cheio de malicia e começaram a sorrir em flerte bem na minha frente.
– Hey! Por Deus, eu ainda estou aqui. – eu disse pegando um pano e jogando em direção aos dois que gargalharam em seguida.
– Falando em casamento. – Sophia disse arqueando as sobrancelhas para mim. – Já conseguiu arrumar um acompanhante pra você querida madrinha?
– Não vai rolar amiga. Você vai ter que arrumar alguém para mim. – fiz biquinho ao falar.
– E os seus contatinhos? – ela perguntou, fiz uma careta instantaneamente. Sophia e Andrew caíram na gargalhada novamente.
– Não dá certo, eles sempre interpretam de forma errada, o ultimo que inventei de levar a um casamento como acompanhante, pensou que poderia mudar meu pensamento sobre relacionamentos apenas por esse motivo. Segundo ele, pelo convite eu estava afim, só não queria admitir. – eu disse revirando os olhos. Em seguida peguei uma torrada que estava servida a mesa para comer.
– Verdade. Eu me lembro disso... – ela disse dando balançando a cabeça em afirmativa. – Você está certa. Deixe-me pensar.
Poucos minutos depois percebi uma troca de olhares entre ela e Andrew, então ele assentiu com a cabeça para ela.
– Sei quem seria o par ideal pra você. Caio, ele é primo de Andrew. E eu já te falei sobre ele antes. O canalha sem limites. – Andrew deu uma risada ao ouvir Sophia, ela olhou para ele com um sorriso, então se virou para mim novamente e voltou a falar. – Ou seja, você não terá problemas, só temos que confirmar com ele se ele chegou a convidar alguém.
– Por acaso é aquele que recentemente vocês tiveram que buscar na delegacia por se envolver em uma briga por sair com uma mulher casada?
– O próprio. Mas nesse caso ele não sabia. – Andrew disse enquanto sorria balançando a cabeça em negativa, então olhou em minha direção e continuou a falar. – Mesmo sabendo que você não terá problemas com isso, tenho que te avisar... além de chamar atenção, ele tem lábia, então não da corda. É problema. – Andrew deu de ombros. – Mas pelo menos ele não vai ficar no seu pé.
Excelente, eu queria mesmo conhecer esse cara. Sophia já tinha me contado algumas coisas que esse primo de Andrew aprontou ao longo dos anos, mas a que eu não me esqueci de forma alguma foi quando ela me disse que ele namorava com uma das funcionárias da empresa. Depois de quase um ano de namoro a menina o pegou na cama com a irmã dela. A coitadinha ficou tão traumatizada com a situação que cortou totalmente os laços com ele e com a irmã. E depois de um tempo, aconteceu de ver Caio na empresa. Sophia disse que ela fez um escândalo danado. Foi aí que todos ficaram sabendo o que aconteceu. E infelizmente ela teve que ser demitida por conta da conduta. O cara era um filho da p**a. Quando isso aconteceu Sophia trabalhava na empresa a pouco mais de dois anos. E pelo visto, ele continua aprontando até hoje. Uma pessoa que tem coragem de brincar assim com os sentimentos das pessoas como se elas não fossem nada... Isso tira todo o meu juízo. Começo a pensar que ele precisa é de alguém que mostre pra ele como é a sensação de ser magoado.
– Ótimo. Pra mim é melhor assim. – eu disse com um sorriso no rosto.
Se fosse pra ter um acompanhante, que seja ele. Pelo menos estarei livre de problemas. Já que decidi dar um tempo em meus lances casuais por questões de sentimentos, posso aproveitar e sondar esse tal de Caio.
– Confirmo com ele mais tarde e Sophia te avisa então. – Andrew disse e Sophia apenas assentiu com a cabeça.
– Combinado. – eu disse enquanto terminava de tomar meu café. Em seguida me levantei.
– Bom, vou deixar os pombinhos á sós. – eu disse dando uma piscadinha para os dois. Eles lançaram um sorriso divertido para mim. Então fui em direção ao armário e peguei algumas guloseimas e caminhei em direção ao meu quarto.
Ao subir a escada, passei em frente ao quarto de Sophia, a porta estava entreaberta, levei minha mão na maçaneta e a abri um pouco mais. O quarto estava uma bagunça. Caixas espalhadas por toda parte.
Eu estava feliz, por ela estar se casando, e iniciando essa nova etapa de sua vida. Mas eu sentiria falta da companhia dela, nós somos muito grudadas. Sei que continuaríamos tendo contato. Mas era diferente.
Isso tudo me bateu uma nostalgia grande. Eu e Sophia éramos inseparáveis desde quando ela se mudou para Manhattan, ao lado da casa dos meus pais.
Eu costumava ir para a casa de Sophia, na tentativa de fugir de ouvir as brigas dos meus pais. Sophia sempre disse que eu a ajudei na época mais difícil da vida dela, mas eu me sentia da mesma forma. Eu não sei como eu poderia passar por tudo, se não fosse sua amizade.
Bem... Nos veríamos com menos frequência, claro. Mas continuaríamos amigas. Era isso que importava. Uma hora teríamos que nos afastar um pouco...
Minha boca se curvou em um sorriso e apenas fechei a porta do quarto. Então caminhei em direção ao meu quarto.
Coloquei no criado ao lado da cama as guloseimas que trouxe comigo e fui para o banheiro. Após tomar banho, vesti meu pijama e me deitei na cama. Era sábado, pretendia dormir o dia todo. Liguei a TV e procurei por algo para assistir, deixei rolando uma série enquanto mexia no celular e comia um pacotinho de Marshmallow. Não demorou muito para que meus olhos pesassem então apenas me virei para o lado e adormeci.