Padre Vergas
Eu me olhava no espelho do banheiro da casa de Samantha, refletindo sobre a imagem que via diante de mim. Sem a batina, parecia outra pessoa, alguém que eu via todas as noites antes de repousar. Contudo, agora a situação era diferente. Estava vestido com roupas de dormir — não qualquer roupa, mas aquelas que ela mesma havia guardado, em sua casa, no espaço dela. Juntamente com os pertences dela.
Minha primeira namorada… Meu primeiro e único amor. Esse pensamento me atingiu com a força de uma confissão profunda. Suspirei, pressionando a mão contra meu peito, sentindo a suavidade do algodão da camisa branca que ela me entregara. Era uma sensação estranha, amassar aquele tecido simples, tão diferente da rigidez das vestes sacerdotais.
Ao baixar o olhar, me deparei com as minhas pernas expostas, coxas à mostra, muito mais nü do que jamais estaria na presença dela, ou de qualquer outra pessoa. As pernas, não muito peludas, destacavam-se debaixo do short, e eu tinha certeza que o olhar aguçado de Samantha não deixaria aquilo passar despercebido.
Samantha… minha jovem Samantha. Ela conhecia cada parte da minha alma, por ter se alojado nela sem pedir licença, chegando sorrateira e fazendo morada, e agora, pela primeira vez, iria ver esse lado meu, tão humano, tão frágil. Sentia-me vulnerável, mas ao mesmo tempo, havia um conforto. Um alívio ao saber que ela era a única pessoa no mundo para quem eu poderia me mostrar assim — sem máscaras, sem barreiras.
Com um último olhar para o espelho, preparei-me para retornar ao quarto, onde ela ansiosamente me esperava.
Samantha
Ele apareceu no batente da porta do quarto, hesitante, como se estivesse pisando em terreno desconhecido. Fiquei parada, observando-o com um sorriso discreto nos lábios. Era impossível não notar como ele estava diferente. O Padre Vergas, que eu sempre via coberto pela batina pesada e solene, agora parecia tão... humano. Vestido com uma blusa de algodão branca e o short que eu havia entregado, ele estava longe da imagem imponente de sacerdote. Naquele momento, ele era apenas o homem que a sua cruzinha amava.
Seus olhos percorreram o ambiente, nervosos, até encontrarem os meus. Não pude deixar de notar sua timidez, algo raro de se ver nele, mas encantador de uma maneira que me tocava mais do que profundamente. Ele se deslocou devagar, quase com cautela, e seu desconforto só fez crescer a ternura que eu sentia.
— Ficou perfeito no senhor— eu disse, a voz baixa, quase como um sussurro, enquanto o olhava de cima a baixo, apreciando o modo como as roupas casuais o faziam parecer tão real, tão próximo. Tão… Meu!
Ele desviou o olhar por um momento, corando levemente.
— Não estou acostumado com isso, senhorita.
— Eu sei. — Ri de leve, tentando aliviar a tensão que parecia pesar entre nós. — Mas assim está... lindo.
Ele sorriu, meio sem jeito, e deu um passo adiante, entrando finalmente no quarto. Seus olhos permaneciam em mim, com aquela mistura de vulnerabilidade e intensidade que só ele sabia ter. Estava claro que aquele momento, por mais irreal que fosse, tinha um significado profundo para ambos. Eu o observava, sem pressa, apreciando cada detalhe do homem que estava ali, diante de mim, sem qualquer barreira entre nós.
— Sente-se — sugeri, apontando para o colchão onde repousava. Ele hesitou por um segundo, mas logo obedeceu, sentando-se lentamente na beirada, os ombros ainda tensos, como se não soubesse o que fazer a seguir.
O silêncio entre nós não era incômodo, mas carregado de algo novo, uma conexão ainda mais forte do que qualquer palavra poderia expressar. Ele me olhou de novo, dessa vez com uma expressão mais relaxada, e eu sabia que, apesar do nervosismo, ele também se sentia confortável em minha presença.
— Não precisa ficar nervoso — murmurei, chegando um pouco mais perto. — Estamos juntos, e isso é tudo o que importa.
Ele assentiu, soltando um suspiro profundo.
— Tem razão, senhorita... estamos juntos.
E naquele momento, mesmo sem tocar um no outro, senti que dividimos um elo. Estávamos ali, de corpo e alma, finalmente em paz, mesmo que por apenas uma noite. A primeira noite de muitas, assim espero.
Padre Vergas
Estava sentado à beira da cama, tentando controlar a respiração que teimava em sair entrecortada. A pequena cama de solteiro m*l suportava meu peso, e agora teria que nos acomodar. Fechei os olhos por um instante, respirando fundo. Minhas mãos tremiam e suavam, e os pensamentos rodopiavam em minha mente, repletos de perguntas e incertezas.
Como chegamos até aqui? O que me levou a este extremo? Era impossível não pensar na longa jornada que nos trouxe a este exato momento. O caminho de renúncia e sacrifício, e, no entanto, ali estava eu, esperando Samantha retornar do banho, sabendo que em poucos minutos ela se deitaria comigo, ao meu lado, sentindo o seu aroma feminino. Era um pensamento inquietante, quase insuportável. Meus dedos apertavam os lençóis com força, enquanto a expectativa e a tensão se acumulavam em meu peito.
Quando ela havia se retirado para o banho, com uma leveza natural e um sorriso travesso nos lábios, deixou-me ali com minhas próprias divagações. A imagem de sua camisola, escolhida com cuidado, ficava brincando com minha imaginação fértil. Era algo simples, mas eu sabia que, em Samantha, nada era exatamente simples. Nela tudo ficava um espetáculo. Sua presença sempre me deixava sem fôlego.
De repente, ouvi o ranger leve da porta do banheiro se abrindo. Logo a minha namorada estaria aqui. Segundos depois olhei instintivamente para cima, e ali estava ela. Minha respiração falhou por um segundo diante daquela visão suprema.
Samantha, vestida com uma camisola branca, parecia um anjo. Havia algo de puro em sua aparência, algo quase etéreo, que me fazia pensar na santidade. Mas a verdade estava nos detalhes... A transparência leve do tecido revelava muito mais do que minha mente poderia suportar. Senti meu coração disparar, palpitar, batendo forte e descompassado contra o peito. A visão de sua silhueta através da delicada camisola me deixou estático, sem saber como reagir. Então apenas engoli em seco, sentindo os lábios secos, rachados, completamente sedento por aquela menina.
Ela se aproximou devagar, os pés descalços m*l fazendo barulho no chão de madeira. Seu olhar estava fixo em mim, mas havia uma suavidade nos seus olhos, uma entrega silenciosa que fazia minhas barreiras se desmoronarem. Cada passo que ela dava era um desafio ao meu controle, à minha força de vontade. Meus pensamentos estavam em ruína, em confusão, um completo caos.
Minha namorada parou em frente à cama, perto o suficiente para que eu pudesse sentir o calor de sua presença. Eu não conseguia desviar os olhos daquela formosura de moça. Era como se cada parte do meu ser estivesse presa àquela imagem. A admirei com leveza, mas também de maneira bastante carnal. Embora tentasse não revelar de forma grotesca o quanto podia me afetar fisicamente.
— O senhor está bem? — sua voz era suave, mas carregada de preocupação.
Balancei a cabeça de maneira positiva, tentando encontrar minha própria voz em meio a isso tudo, mas as palavras pareciam presas, agarradas feito farpas angustiantes na minha garganta. Ela sorriu de leve, quase tímida, e foi então que percebi que, por mais que minha mente estivesse em tumulto, ela também parecia nervosa. A tensão entre nós era algo visível, mas havia uma ternura que a suavizava. Que tornava esse manifesto quase belo, embora todo esse cenário fosse abominado pela santa igreja. Uma abominação aos olhos do Vaticano e aos meus líderes religiosos.
— Estou... estou bem — consegui responder, a voz mais rouca do que eu gostaria. — Só... não esperava...
— Não esperava me ver assim? — completou ela, seus lábios se curvando num sorriso leve, um brilho de travessura nos olhos.
Eu ri, um riso nervoso e desajeitado. Fiquei sem jeito.
— Não, senhorita... não esperava.
Ela deu um passo à frente, sua mão tocando de leve meu ombro, como se quisesse me acalmar, e o calor de sua pele contra a minha só aumentava a tormenta interna que eu tentava segurar.
— Não precisa se preocupar, meu padre — disse ela, sua voz baixa e quase sussurrante. — Estou aqui... estamos juntos. E sempre estaremos.
Naquele momento, senti que estava no limite do que podia suportar. Samantha era minha maior tentação, e, ao mesmo tempo, meu maior alívio. Meu céu e o meu inferno. Minha prisão e minha... libertação.