Fim?

1137 Words
**Zara** Acordo já de noite. Eu não sabia o que incomodava mais, se eram as dores no meu corpo ou a fome e sede que sentia. Alfa James não havia tido misericórdia mais cedo, me batendo até à exaustão. Podia sentir meu corpo cedendo ao peso dos meus ferimentos. Eu tinha perdido muito sangue e sabia que não duraria outra noite na sua presença. No fundo da minha mente, eu ansiava por aquilo, pelo momento em que finalmente não sentiria mais nada. "Isso não vai acontecer, Zara", diz Nala. Ela havia tentado me curar, mas não teve grande sucesso; eu estava fraca, então ela também estava. "Você tem mais esperança do que eu", digo desanimada. Nala tinha visto em primeira mão a fúria de James durante a manhã, ainda não entendia por que ela acreditava que sairíamos daquele lugar. "Ele está aqui, Zara, logo sairemos daqui", diz ela animada, mas era difícil acreditar em algo quando as suas esperanças já haviam se acabado. Mesmo perdida nos meus pensamentos, pude ver o exato momento em que Alfa James entrou na minha cela. Eu não conseguia ver os seus olhos, mas podia sentir a sua aura ao meu redor, e ela era assassina. O momento havia chegado, finalmente tudo aquilo terminaria, e eu poderia descansar em paz. — Sua maldita! — diz ele, desferindo um soco no meu estômago. Sinto a dor cortar o meu corpo, fazendo cada fibra doer. Vomito o pouco de água que ainda tinha no estômago. Ele não me alimentava desde que eu estava ali, nem ao menos água me dava. Era realmente um milagre que eu estivesse viva. "Se eu estivesse forte, rasgaria a garganta dele", ouço Nala rosnar na minha cabeça. Se eu não estivesse com tanta dor, teria rido do que ela disse. — Você só me traz azar! — diz Alfa James, dando um tapa no meu rosto. Sinto a minha cabeça ser jogada para trás com o impacto, a minha visão ficando turva por um tempo. Eu não sabia o que tinha acontecido, mas sabia que ele descontaria em mim, como sempre. Ao que parecia, meu único papel naquela alcateia era ser o saco de pancadas do alfa. — É bom saber que você ainda está viva — diz ele, e ouço-o pegar um chicote na parede. Pelo som, eu sabia que não era o que ele costumava usar, era outro. Alfa James tinha um chicote de prata com pontas; quando ele queria realmente me causar dor, era aquele que usava. — Hoje vai ser seu último dia. Eu queria dizer a ele que ele estava certo, que depois daquele dia eu nunca mais sofreria nas suas mãos. Eu queria dizer o quanto o odiava e desejava a sua morte. Queria ao menos ter forças para cuspir no seu rosto, externando todo o meu ódio por ele. Por muitos anos, achei que, se o agradasse e fizesse o que ele queria, ele me trataria melhor, mas não. À medida que o tempo passava, os seus castigos apenas pioravam, mostrando que eu me alimentava de uma ilusão. Sinto a primeira chicotada e seguro um grito, mordendo a língua. Aquela era diferente das outras, pois quando ele puxava de volta o chicote, eu sentia a pele das minhas costas rasgando. Mas então algo muda; eu não conseguia explicar. O ar ao meu redor se eletrifica, ficando carregado. James continua me batendo, mas em algum momento ouço um rosnado tão forte e apavorante que pensei que o dono dele fosse me estrangular, tamanha era a fúria que irradiava dele. Lentamente, sinto um aroma diferente, algo tão envolvente que fazia o meu coração disparar loucamente. A minha boca enche de água, e pela primeira vez em anos eu me sentia calma com a presença daquele estranho. Ele cheirava a floresta depois de uma chuva, com algum toque de chocolate, algo que eu amava e quase nunca podia ter. "Ele está aqui", grita Nala na minha mente, emocionada. O tempo todo eu me perguntava quem era ele, mas não conseguia verbalizar. Ouço quando Alfa James é lançado para o outro lado da cela, e aquilo me deu um prazer enorme. Eu podia ouvir vários passos entrando no lugar onde eu estava, vozes alteradas discutindo algo que eu não conseguia entender. Eu sabia por quê: eu estava morrendo, a pouca força que tinha estava indo embora. "Não, Zara!", grita Nala na minha mente, tentando me manter acordada, mas já era tarde. Eu não conseguia mais manter os olhos abertos, já tinha suportado muito. "Só quero dormir um pouco, Nala", digo a ela num fio de voz. "Você não pode, não agora!" Podia ouvir a urgência na sua voz, mas eu não conseguia mais reagir. Sinto as minhas pernas fraquejarem e o meu corpo pender nas correntes. Braços fortes me envolvem. O dono daquele cheiro maravilhoso estava me segurando com cuidado. As vozes à nossa volta aumentam, mas eu não prestava atenção nelas. Eu só conseguia me concentrar nele e na forma como o seu cheiro me afetava. — Precisa tirá-la daí, Koda — ouço alguém dizer, e me pergunto quem era Koda. — Deixe Fenrir voltar. Tudo aquilo não me importava mais. Aquela conversa incomodava os meus ouvidos, eu só precisava dormir um pouco. — Minha! — brada alguém furioso. Podia sentir o peito do homem que me segurava vibrar quando ele rosnava. — Ela vai morrer se você não deixar Fenrir voltar! — ouço alguém em desespero, e aquilo me alegra. Então, eu realmente iria morrer, isso era bom, o meu descanso estava chegando. Acho que consegui sorrir com esse pensamento. Alguém desamarra os meus braços, e eu gemo quando sinto a dor envolver o meu corpo. Era como se agulhas se espalhassem pelos meus braços quando o sangue voltava a circular. O meu salvador rosna, e eu não sabia se era por minha causa. Eu não desejava ser salva para me tornar escrava de outra pessoa. — Zara! — ouço a voz de Diana ao longe, desesperada. Eu queria consolá-la, mas não tinha forças para ir até ela. Sinto quando uma mão puxa o meu rosto em direção ao seu, então encaro um par de olhos verdes que estavam quase negros me fitando. Mas isso era diferente. O ar escapa dos meus pulmões quando sinto a necessidade de estar perto dele me dominar. Era como se só existisse ele naquele lugar, meu mundo, a partir daquele momento, gravitando em torno do homem mais lindo que eu já tinha visto. Então, Nala toma a minha boca pela primeira vez. — Companheiro — diz ela, emocionada, e aquilo deixa um rastro de dor no meu peito. Eu m*l havia o encontrado e já o tinha perdido. A última coisa que ouço é sua voz suave confirmando aquilo que o meu coração já tinha percebido. — Companheira!
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD