Capítulo 7

1222 Words
Guilherme Werkema Hoje é o dia da viagem, mas a empolgação passou longe. Vai ser uma viagem de negócios e, depois de horas de reunião, ainda haverá um coquetel que prometem ser "essencial" para o networking. Francamente, só me imagino pensando no caminho de volta para casa. Vou ter que levar minha secretária. Ela é competente, faz tudo sem queixas, mas não tem muito talento para se vestir – sempre com aqueles terninhos cinzas sem vida. Parece que vou acabar comprando um vestido decente para ela, algo que ao menos combine com o evento. Quando mencionei a ideia e perguntei seu tamanho, ela ficou irritada, dizendo que tinha roupas suficientes. Ah, essas mulheres… E, mesmo que ela seja bonita – mesmo com aqueles óculos enormes e cabelo preso em coque apertado –, eu nunca me senti tentado a olhar duas vezes. Talvez, inconscientemente, ela se vista assim para me afastar. Não que fosse necessário; eu nunca tive vontade de cruzar essa linha com ela. Afinal, mulheres nunca faltam para mim. Elas me olham, me desejam, me jogam olhares carregados de promessas. Que culpa tenho se sou irresistível? Até agora, nenhuma delas resistiu. E eu? Gosto da liberdade de não me amarrar a ninguém, apenas viver intensamente o momento, sem perguntas e sem futuro. Mas, honestamente, já fui um homem bem diferente. Acreditava no amor, em compromisso, mas não sou mais aquele cara. Hoje, sou um homem endurecido, desconfiado, cansado das mentiras que parecem brotar de todos os lados. Parecem todas iguais, querendo algo de nós, seja dinheiro ou status. Eu era apaixonado, sabe? Acreditava em um futuro com uma única mulher, e ela tinha um nome: Verônica. Não era rico naquela época, mas a vida ao lado dela me parecia suficiente. Estávamos de casamento marcado, até que, uma semana antes do grande dia, o destino mostrou sua face c***l. Flagrei-a na cama com o meu chefe. No meu próprio trabalho. A cena ainda está marcada na minha mente, como uma ferida aberta. Ela gemia o nome dele, com uma intensidade que eu nunca vi ela demonstrar comigo. Naquele instante, tudo que eu acreditava, tudo que eu sonhava, ruiu. E ela sequer mostrou arrependimento – só me olhou com um misto de pena e frieza, dizendo que amava Maurício e que ele a fazia sentir coisas que eu nunca conseguiria. O choque me quebrou. Minha dor e fúria explodiram, e eu fui para cima do Maurício, o traidor que se dizia meu amigo. Mas, antes que pudesse acertar um soco, seguranças vieram e me impediram. Foi um espetáculo; todos no escritório assistiram à minha humilhação. Eu, o romântico, o homem fiel, traído como um t**o por uma mulher que eu planejava ter ao meu lado para o resto da vida. Cheguei em casa em pedaços. Bebi até a última gota, destruí tudo que estava ao meu redor. Passei dias trancado, lutando contra as lembranças, a humilhação, as palavras de Verônica. Aquela imagem dela com ele não me deixava em paz. Eu amava aquela mulher, e ela me traiu por causa de dinheiro, de status. Depois disso, jurei a mim mesmo que nunca mais amaria. Tornei-me cético, frio, incapaz de confiar. Hoje, não busco mais nada além do prazer, sem compromisso, sem abrir espaço para decepções. Mulheres vêm e vão, e isso me basta. E, se a ruiva da minha equipe um dia quiser me desafiar, ela que se prepare. Porque, para mim, romance e amor não são mais do que palavras vazias. Hoje em dia, não consigo mais confiar nas mulheres. Há muito tempo deixei de procurar por um relacionamento sério. No meu mundo, só há espaço para sexo casual – e, mesmo assim, elas sempre querem mais, sempre pedem algo que não estou disposto a oferecer. Lembro-me de uma delas, que ousou dizer que eu não era bom na cama, que o traidor fazia melhor. Mas, se não gostavam, por que sempre voltavam, implorando por mais? Era tudo um jogo, um teatro mentiroso para me prender de alguma forma. Mas já não me iludo; reconheço uma mentira quando a vejo, e sei o que elas querem de verdade. Depois de testemunhar aquela cena grotesca – aquela traidora se rebolando descaradamente em cima do meu chefe – meu coração endureceu. O amor que um dia existiu foi consumido por um ódio frio, não apenas por ela, mas por tudo que ela representava. E, embora eu saiba que julgar todas por uma única mulher é injusto, é exatamente o que faço. Hoje, para mim, são apenas companhias passageiras, um prazer momentâneo. E, no minuto seguinte, nada mais. Faltava tão pouco para o casamento… Os convites já estavam enviados, a igreja reservada, e cada detalhe planejado para ser o dia mais feliz da minha vida. Eu me entreguei por inteiro a ela, amava aquela mulher mais do que a mim mesmo. Minha família, sem entender, insistiu em saber o que aconteceu, mas mantive o silêncio. Nada do que dissesse mudaria a realidade brutal do que eu havia presenciado. Desempregado e sem rumo, busquei a ajuda do meu pai para abrir meu próprio negócio. Se existia algo em que eu era bom, era engenharia – sempre fui obcecado por matemática, cálculos, e sabia que tinha talento. Comecei pequeno, com o mínimo que conseguia, mas com uma dedicação feroz. Hoje, minha empresa é reconhecida entre as melhores do mercado, nosso trabalho já é conhecido até fora do país. Projetamos e executamos desde casas a pontes, prédios e muito mais. Sou mencionado como um dos engenheiros civis mais respeitados do Rio de Janeiro, e esse sucesso é resultado de anos de esforço e aprendizado. Passei por estágios, noites em claro e incontáveis projetos para adquirir o conhecimento que hoje aplico em cada trabalho. Hoje, com uma equipe grande ao meu lado, vejo o legado que construí com minhas próprias mãos. Cada novo projeto é mais um degrau na minha trajetória – e não há espaço para distrações ou amarras. O começo foi árduo. Comecei sozinho, sem apoio, mas com um objetivo claro. Com o tempo, minha empresa cresceu, se expandiu e, junto com ela, veio a riqueza. Hoje, trabalho em projetos internacionais, e sei que ainda há muito por vir – inclusive esta viagem com a Letícia, minha secretária. Pelo menos agora sei o nome dela, e espero que ela se sinta reconhecida por isso, de alguma forma. Sei que ela preferiria evitar essa viagem. A reunião é crucial para discutir o projeto de uma ponte complexa, onde precisamos de uma segunda opinião qualificada. É um trabalho delicado, exigente, que demanda atenção aos mínimos detalhes. Cada aspecto, cada cálculo, conta. E eu sou especialista em garantir que tudo esteja no lugar, que cada elemento da estrutura seja seguro. Meu trabalho é supervisionar, manter os olhos em tudo e prevenir qualquer acidente antes que aconteça. Mas foi o meu trabalho, exatamente essa dedicação, que me impediu de cometer algo irreversível. Algo insano, como tirar a vida daqueles dois – ela e meu chefe – e, quem sabe, a minha própria. Sei que é uma ideia absurda, mas a raiva me consumia. Era difícil não ser engolido por ela, a dor e a traição. A hora da viagem se aproximava, e eu sabia que precisava parar de pensar naquela desgraçada. Ela não merecia mais um minuto da minha mente.
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