Capítulo 4

1166 Words
Letícia Fontenelle Passei o domingo inteiro sozinha no meu quarto, imersa em pensamentos que não me deixavam em paz. E o senhor Guilherme? Nem ao menos se deu o trabalho de me ligar para saber como eu estava. Provavelmente estava com alguma mulherzinha em seu quarto, como sempre. Ele não sabe passar um único dia sem uma companhia feminina. Esse homem... um sujeito s*******o! Às vezes, sinto uma raiva tão intensa que a vontade de dar um soco naquele rosto bonito dele se torna quase irresistível. E não são só as mulheres com quem ele se relaciona que me tiram do sério... é a forma como ele age, tão indiferente, como se meu coração não tivesse importância. Como ele pode ser tão... insensível? E, ainda assim, aqui estou eu, amarrada a esse sentimento como se não pudesse viver sem ele. Mas... já está na hora de superar. Há quanto tempo estamos nesse jogo? Talvez seja mesmo absurdo. Será que o que eu sinto é amor? Ou é só uma ilusão criada pela minha própria dor? O início da semana trouxe uma série de compromissos que ocuparam a minha mente e meu tempo. A primeira reunião foi logo pela manhã, seguida por um evento social no hotel. Levei meu computador portátil, pois todas as minhas tarefas estavam nele, mas m*l sabia eu que algo me aguardava além das planilhas e gráficos. Ao sair do elevador, dei de cara com Werkema. Ele estava ainda mais atraente do que o normal, e parecia saber disso. O olhar dele, aquele olhar penetrante, era como um convite disfarçado. Como se quisesse que eu o tocasse, o desejasse. Mas ele sabia muito bem que eu não tomaria essa atitude. Ele sabia, mas continuava com esse jogo sutil, quase imperceptível. — Depois da reunião, participaremos do coquetel — ele disse, com um sorriso que me fez sentir meu coração acelerar. — Ok! — respondi, tentando soar despreocupada, mas sentindo o calor subindo pelo meu rosto. Hoje, o dia seria longo. Todos os compromissos estavam agendados para ocorrer no hotel, e, ao chegarmos na área do evento, percebi uma predominância de homens, com apenas três mulheres presentes, incluindo eu. Meu chefe cumprimentou todos e iniciou a reunião com sua habitual autoridade. Mas, mesmo com todos os elogios e discussões sobre o projeto, eu não conseguia me concentrar. Ele estava ali, tão próximo, e sua mente parecia vagar em outro lugar. Eu queria tanto saber o que ele estava pensando. Eu daria tudo para ser parte daquele universo distante em que ele se perdia, só para nunca mais sair. A frustração me consumia. Como ele conseguia despertar tais sentimentos em mim e, ainda assim, continuar sendo uma incógnita? Nada sobre ele estava ao alcance das minhas mãos, e isso me fazia sentir ainda mais desesperada. Ele estava em todos os lugares: nas redes sociais, nas revistas, na televisão... Mas eu nunca tive coragem de procurar mais sobre ele. Nunca busquei a verdade, preferi viver na ilusão de que ele era apenas uma fantasia distante. Tudo o que sei é o endereço dele, que, em raras ocasiões, enviava buquês de rosas para alguém ali. Para quem, eu nunca soube. Talvez para a mãe, ou uma mulher especial em sua vida. Eu me sentia uma tola, sabendo que nunca teria uma chance com ele. “Para de pensar nisso, Letícia!” eu me disse em voz baixa, como se essas palavras pudessem silenciar o turbilhão de sentimentos dentro de mim. A reunião continuou, mas minha mente estava longe. O projeto que todos elogiavam, que prometia trazer lucros, parecia tão pequeno diante da dor que eu carregava. A empresa dele era um império, erguido com sua visão e coragem. Eu o admirava, claro. A sagacidade com que ele conquistou o mundo me fazia lembrar do meu pai, que também começara do nada, mas isso não ajudava a acalmar o caos que se formava dentro de mim. Era mais fácil tentar focar, então, nos detalhes do trabalho. Cada pessoa na sala estava concentrada, analisando minuciosamente os relatórios que eu havia preparado. As palavras de elogio começaram a surgir, e eu me senti aliviada, mas, ao mesmo tempo, vazia. Como se todo o meu esforço não fosse suficiente para preencher o vazio que ele deixava em mim. Quando a reunião finalmente terminou, uma sensação de alívio se instalou. Mas o evento social ainda me aguardava. Eu retornei ao meu quarto, sentindo uma expectativa crescente. Não sabia exatamente o que me aguardava, mas uma coisa era certa: meu chefe, aquele homem que dominava meus pensamentos, estaria lá, me esperando. E eu não podia evitar a ansiedade que tomava conta de mim a cada passo que dava. Após um momento de descanso, me levantei, decidida a me preparar para a noite que prometia ser inesquecível. Tomei um banho calmante, permitindo que a água morna acariciasse minha pele e acalmasse os nervos. A maquiagem foi meticulosamente feita, cada detalhe pensado para destacar minha beleza de forma sutil, mas sedutora. Finalizei com um batom vermelho intenso, que contrastava com a suavidade do meu tom de pele, e escolhi um vestido deslumbrante. O esmeralda realçava o brilho dos meus olhos e o decote valorizava meu colo de forma elegante, sem ser vulgar. Calcei os saltos altos, que me davam uma confiança única, e peguei minha bolsa de mão preta, com detalhes dourados, que combinavam perfeitamente com os sapatos. Deixei meu cabelo solto, com ondas suaves que emolduravam meu rosto. Quando me vi diante do espelho, já estava pronta para a noite. Uma sensação de antecipação tomou conta de mim, como se eu estivesse à beira de um abismo, pronta para me lançar sem medo. Deixei o quarto e desci em direção ao salão de eventos, ainda incerta quanto ao local exato. Mas então, como se o destino me guiasse, encontrei o senhor Guilherme. Ele estava lá, imponente, vestido com um terno preto impecável e uma gravata borboleta que exalava sofisticação. Ele me avaliou com um olhar profundo e calculado, mas não disse uma única palavra. Fomos ao evento, onde a presença de muitos homens atraentes não passou despercebida. Mas, sinceramente, será que minha mente estava realmente com eles? A resposta era óbvia: minha atenção estava inteiramente voltada para um único homem. Ele estava ali, tão perto de mim, e o aroma amadeirado de sua colônia preenchia o ar, uma tentação irresistível. O coquetel seguiu, e eu já havia tomado algumas taças, sentindo uma leve tontura quando Werkema me chamou. Concordamos que era hora de ir embora, cada um para o seu quarto. No entanto, minha mente não conseguia deixar de fantasiar sobre possibilidades, sobre o que poderia acontecer naquela noite. Infelizmente, a realidade se impôs. Guilherme estava completamente fora de si, mais bêbado do que jamais imaginaria. Mas isso me deu a oportunidade de me aproximar. Com ele se apoiando em mim para se manter de pé, o conduzi até o quarto, sem saber que o destino estava prestes a mudar tudo entre nós.
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