⚖️Capítulo 1⚖️

1301 Words
Capítulo 1 | Maju Nos últimos dias, minha vida tinha voltado ao caos que eu achava ter deixado para trás. Rafael. O nome dele não saía da minha cabeça, e o pior de tudo: eu continuava vendo ele. Ou achava que via. Em todos os lugares que eu ia, lá estava o maldito. De longe, numa esquina, na saída do escritório, cruzando a rua. Sempre um relance rápido, mas suficiente pra me deixar com o coração disparado . Eu estava ficando louca? Talvez . Passei a mão pelos cabelos, tentando focar nos papéis da minha mesa. Tinha uma audiência importante pra me preparar, mas como é que eu conseguia me concentrar com essa sensação constante de estar sendo observada? "Você tá paranoica, Maju" Pensei, balançando a cabeça, tentando afastar a ideia. Mas não era só paranoia. Eu sabia o que tinha visto . Respirei fundo e olhei pela janela do meu escritório daqui do morro (Eu tenho dois, um aqui e outro no asfalto), com aquela vista do morro que costumava me trazer uma certa paz. Fantasma sempre dizia que a Rocinha era nossa fortaleza, o lugar onde construímos nossa vida juntos. Mas agora, nem aqui eu conseguia me sentir segura . Pensei em falar com ele. Fantasma sempre foi meu ponto de equilíbrio, o homem que consegue me acalmar até nas piores situações. Ele ia me ouvir, claro. Ia me dizer que tudo não passava da minha cabeça me pregando peças, que o Rafael estava morto e que nada podia mudar isso. Ele ia me abraçar, me chamar de "mulher maravilha", e tudo pareceria um pouco mais leve . Mas eu não consegui . Não dava pra falar sobre isso com ele. Não enquanto eu mesma não sabia o que era real ou não. Como é que eu ia dizer que estava vendo um cara morto em todo canto, sem parecer uma completa maluca? Fantasma já tinha problemas demais pra lidar, e eu não queria ser mais um . Levantei da cadeira e fui até a janela, observando a movimentação lá embaixo . A vida no morro seguia seu ritmo, mesmo que a minha estivesse uma bagunça . O que me deixava mais confusa era o fato de que, por mais que tudo gritasse que aquilo era impossível, a imagem do Rafael parecia tão ... real . Me virei de volta para minha mesa, tentando ignorar a sensação de que, se eu olhasse de novo pela janela, ele estaria lá, me encarando de algum canto escuro. Peguei meu celular, pensando em mandar uma mensagem para o Fantasma. Talvez só ouvir a voz dele me ajudasse a colocar os pés no chão. Mas, em vez disso, coloquei o aparelho de volta na mesa . — Vai trabalhar, Maju — murmurei pra mim mesma, tentando me convencer de que era isso que eu precisava fazer. Eu sabia que precisava distrair a mente. Mas a verdade era que, não importava o quanto eu tentasse me ocupar, o fantasma do Rafael não ia embora . ( ... ) Naquela noite, quando cheguei em casa, Fantasma estava na sala, com aquele sorriso de quem não tem ideia do furacão que está passando na minha cabeça. Ele veio na minha direção e me puxou para um abraço apertado, beijando minha testa como sempre fazia . — Finalmente, estava morrendo de saudades da minha mulher maravilha? Tudo certo? — Ele me olhava com aquele olhar carinhoso que sempre me desarmava . Eu queria tanto contar pra ele. Queria dividir essa loucura que estava me corroendo por dentro. Mas, de novo, me calei . — Mais um dia cheio, só isso — respondi, tentando parecer casual. Ele me puxou para o sofá, e eu deitei a cabeça no ombro dele, sentindo o conforto que só ele sabia me dar. Mas nem o calor dos braços do Fantasma conseguia me livrar da sensação de que o Rafael estava perto. Fechei os olhos e respirei fundo, tentando não pensar nisso. Mas era impossível . Fantasma, por sua vez, percebeu que tinha algo de errado. Ele sempre percebe. Mas como ele é, ele não quis me pressionar. Ele sabia que se eu tivesse algo pra falar, eu falaria. Então, ele só me deu o espaço que eu precisava, o que, de certa forma, só me fez sentir pior. Eu não estava conseguindo lidar com isso sozinha, mas também não conseguia abrir a boca para falar . Nos dias seguintes, a coisa só piorou. Aonde quer que eu fosse, parecia que Rafael estava lá, espreitando nas sombras. Um segundo de distração e lá estava ele, parado, me olhando com aquele mesmo olhar que me assombrava desde o dia em que tirei sua vida . Eu sabia que não era possível. Rafael estava morto. Eu matei ele. Não tem como uma pessoa morta voltar. Mas, ao mesmo tempo, eu via ele. Estava cada vez mais difícil diferenciar o que era real e o que era fruto da minha cabeça perturbada . Numa manhã, eu estava saindo de casa pra mais um dia de trabalho quando o vi de novo. Ele estava do outro lado da rua, parado, me encarando como se quisesse me dizer algo . Meus pés travaram no chão, o coração disparou, e por um segundo, eu quase fui até lá . Mas quando um carro passou, ele sumiu. De novo . Eu estava começando a me perguntar se isso era algum tipo de punição. Alguma parte da minha mente que ainda não tinha superado o fato de que matei o homem que um dia amei. Por mais que eu soubesse que não tinha escolha, que foi a única forma de salvar o Fantasma, a culpa sempre esteve lá, como uma sombra . Fantasma me ligou no meio do caminho . — Maju ... meu amor, minha mulher maravilha, tudo certo? — A voz dele era sempre um bálsamo pra mim . — Tudo sim, estou indo para o escritório, não te achei quando sair . — respondi, tentando soar normal. Mas minha mente ainda estava presa na imagem de Rafael, me encarando do outro lado da rua . — Você tá estranha esses dias . Tem alguma coisa acontecendo? Porque se estiver eu quero saber, não gosto de te pressionar, mas você tá muito estranha amor, ia conversar com você hoje, porém precisei sair cedo para resolver sobre um carregamento, mas quando cheguei da boca, você não estava mais . — Ele conhecia cada detalhe da minha voz, cada nuance. Era difícil esconder algo dele . — Nada demais, só um pouco de estresse, normal. — Eu sorri, mesmo sabendo que ele não podia ver . Fantasma não insistiu. Ele sabia respeitar meu tempo, sabia que eu falaria quando estivesse pronta. Mas, naquele momento, eu não estava. Como é que eu ia falar pra ele que o homem que eu matei estava voltando pra me assombrar? — Tá bom meu amor, preciso desligar, tenho umas paradas para resolver, te amo . — Também te amo . Desliguei o telefone e respirei fundo. Eu precisava parar com isso. Rafael estava morto. Ele não podia estar me seguindo, não podia estar me observando. Isso tudo era coisa da minha cabeça. Tinha que ser . Mas quanto mais eu tentava me convencer disso, mais as aparições de Rafael se tornavam frequentes . No fundo, uma parte de mim sabia que isso não ia acabar tão cedo. Eu podia tentar ignorar, podia fingir que tudo era fruto da minha imaginação, mas o fantasma do Rafael estava lá, e ele não parecia estar com pressa de ir embora . E a verdade, por mais que eu não quisesse admitir, era que eu não sabia se tudo isso era só a minha mente jogando comigo... ou se, de alguma forma, o Rafael realmente estava de volta.
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