CELINA
Eu tenho 27 anos, fui forçada a casar aos 25 pela minha família, eles tinham um contrato com a família Albuquerque que envolvia muitas coisas obscuras por trás, como crimes envolvendo muito dinheiro. Para que minha família não perdesse tudo e fosse parar embaixo da ponte eu acabei aceitando esse casamento e há 2 anos eu vivo nesse inferno.
Diego tem 30 anos, é um homem bonito, rico, mas um grosso. Não sabe me olhar e me lançar um elogio, nem nada parecido.
Só sabe jogar na minha cara o tempo inteiro que eu dependo dele pra sobreviver.
Esse casamento ia contra todos os meus princípios, eu prometi a mim mesma que jamais aceitaria que um homem levantasse a mão para mim e que se isso acontecesse eu iria embora para não voltar mais.
Mas as coisas mudam, e a gente acaba fazendo o que precisa ser feito.
Diego me batia sim, da última vez que me bateu (semana passada) me deixou hematomas mais profundos que os outros que fiquei um longo tempo chorando de dor sentada no chão. Mas a humilhação era muito pior que a dor.
Mas ir embora não era a saída, ele me encontraria e apesar de tudo eu não quero morrer. Ainda acredito que um dia eu vou ser feliz de verdade.
O que eu mais queria era sair por aquela porta e nunca mais voltar, mas não era tão fácil assim.
Eu estava na janela do quarto, no escuro, sem sono, olhando a lua, era minha rotina quase todos os dias nas madrugadas. Afinal, era o mais perto que eu conseguia chegar do ar puro sem que Diego me proibisse.
Ouvi algo cair no chão.
- d***a. - ouvi a voz rouca dele e olhei pra trás
- o que ta fazendo acordada?- ele perguntou ligando o abajur ao lado da cama.
- sem sono.- eu disse e ele rolou os olhos.
- ficar acordada toda noite ja ta me irritando. Vai num médico e procura um remédio pra te fazer dormir.-ele disse grosso como sempre.
- como se eu pudesse botar meu pé pra fora dessa casa.- eu disse baixo me virando novamente. Ele bufou.
- se a Julieta for junto, pode ir. - Julieta era a governanta. E eu ainda nao entendia pq a gente precisava dela lá. Ela era de muita confiança de Diego, inclusive ja apanhei muito por causa de suas fofocas. Respirei pesado.
- eu nao preciso de um médico. Estou bem.
- você quem sabe.- ele deu de ombros e deitou novamente.
Deitei na cama ao seu lado e fechei os olhos, senti os braços dele envolverem minha cintura. Era bom quando ele me tocava sem machucar, mas isso era só quando ele tava dormindo mesmo.
(...)
Acordei com Diego derrubando tudo no banheiro do quarto, coloquei a coberta no rosto tentando cessar aquele barulho que martelava minha cabeça, mas era inevitável ouvir.
Olhei no relógio e ele marcava 9:30, lembrei que consegui dormir na noite passada era 3:00 da manhã. Respirei fundo e resolvi levantar, Diego saiu do banheiro já dentro do seu terno, pronto para ir para sua empresa, uma das mais prestigiadas do país, era especialista em advocacia.
Ele se aproximou de mim com a gravata desarrumada.
- ajeita pra mim.- ele disse e eu obedeci.
- pq isso?- ele perguntou e eu arqueei uma sobrancelha.
- isso oq?
-pq teu toque é tão leve? Tem medo de encostar em mim?- ele perguntou e eu o olhei incrédula.
- É sério isso Diego? Poxa vc sempre tem algum motivo pra reclamar de mim.
- e vc sempre tem.uma resposta na ponta da língua. - ele disse tirando minhas mãos dele quando viu que já estava pronto.
- nao tenho hora pra chegar hoje.- ele disse e eu rolei os olhos.
- novidade.- falei baixo e ele saiu.
Ele sempre chegava tarde, mas eu sabia que não era trabalhando que ele estava. Eu sabia que ele me traía, saber daquilo doía, mas eu podia fazer oq? Me sujeitei a isso, agora eu precisava tolerar até onde eu aguentasse.
.................................
Desci e encontrei a mesa de café da manhã farta como sempre, Madalena a empregada que comandava a cozinha era um amor, sempre me ajudava com os machucados e confortava meu coração com seus conselhos sábios, já era uma mulher de idade e foi quem viu Diego crescer. Sentei à mesa e ela logo veio com meu suco preferido nas mãos.
- laranja com acerola. Acertei?- eu ri baixo.
- vc sempre acerta Madalena.-ela me deu um beijo na testa.
- bom dia minha menina.
- bom dia.
- como foi a noite passada? Ouvi uns barulhos do meu quarto.- ela disse preocupada.
- eu não estava conseguindo dormir como sempre e Diego quer que eu vá ao médico.
- ele se preocupou?
- que bom se fosse. Mas é só pq irrita ele eu estar acordada todas as madrugadas.-eu disse num suspiro e ela sorriu torto
-ir ao médico é sua chance de sair dessa casa por algumas horas.
- ele disse que a Julieta vai junto.- ela bufou.
- mulher asquerosa. - ri baixo.
- shiiu, ela sempre aparece do nada.- nós rimos e tomei café enquanto Madalena voltou a trabalhar.
Olhei em volta, uma casa enorme e eu não tinha nada pra fazer sozinha lá. Decidi que ir ao médico seria só uma desculpa para eu me arrumar e sair de lá um pouco.
...dia seguinte...
Diego havia concordado em me deixar consultar,claro com Julieta junto. Depois de pronta me olhei nos espelho e depois de tanto tempo me senti bonita. Sorri de lado e Diego saiu do banheiro, me encarou dos pés à cabeça e eu sorri torto esperando que fosse vir um elogio.
- pq tão arrumada? Só vai ao médico. -ele disse e eu fechei o sorriso.
- não está bom?
- ta querendo um elogio?
- eu já sei que nunca vai me elogiar.
- drama.- rolei os olhos e peguei minha bolsa na cama.
Saí do quarto me encontrando com Julieta lá embaixo. Ela me lançou o mesmo olhar surpreso de Diego.
- estou pronta.- eu disse e ela assentiu.
- ótimo. Sua consulta é às 10:00am então é melhor apressar-se.
(...)
- Celina Albuquerque. - não que eu quisesse ter esse sobrenome i****a, mas tive que mudar também, era inacreditável o que esse casamento me proporcionava. Fui chamada e eu e Julieta nos levantamos.
- Quem é Celina?- a moça que me chamou perguntou.
- eu.
- não entra com acompanhante,por favor somente a senhora.-ela disse e olhei pra Julieta que ficou sem jeito, mas ao mesmo tempo com raiva. Eu é claro que fiquei feliz, pela primeira vez em 2 anos eu estava longe dos olhos de qualquer um deles.
Entrei na sala e a moça antes de sair disse:
- o doutor já vem.-assenti e ela saiu.
Fiquei longos minutos esperando até a outra porta dos fundos se abrir, entrou um homem de jaleco branco. Ele me olhou e sorriu me estendendo a mão.
- doutor Erick, muito prazer. - sorri segurando sua mão.
- Celina.
- e oq te trás aqui Celina?- ele disse sentando na minha frente.
- bom, nos últimos meses eu nao estou dormindo muito bem. Na maioria das vezes nem durmo.
- tem alguma preocupação que te aflige?
- muitas.
- ja toma alguma medicação Celina?
- nenhuma.
- pode sentar na maca ali atrás por gentileza?- ele disse levantando e assenti.
Sentei e ele ficou bem perto de mim, envolveu meu braço com um medidor de pressão.
- está normal, evidente que é stress. Se sente sobrecarregada com algo?- ele disse segurando minha mão para eu descer.
- bom... sim, com muitas coisas que acontecem. - eu disse abaixando o olhar e sentamos novamente. Ele me encarou sério.
- tudo bem se não quiser falar. - assenti e ele continuou. - bom, vou receitar um remédio mais leve que vai te fazer relaxar e dormir bem. Tome ele todos os dias algumas horas antes de dormir e vamos ver como seu organismo vai reagir ok? Quero um retorno em 15 dias. - ele disse escrevendo algo no computador e eu assenti.
Me entregou uma receita médica, sorriu pra mim.
- algo mais?
-nao doutor,obrigada. - ele assentiu e eu saí.