Odeio esse trabalho

2228 Words
Carolina Gonçalves Quando mais nova eu perdi minha família em um acidente de carro. Nós estávamos indo para uma viagem na casa do tio Álvaro, mas acabou que sofremos um acidente de carro e apenas eu sobrevivi. Me pergunto todos os dias porque eu não fui levada juntamente com eles, mais aí me vem as palavras do meu melhor amigo na minha cabeça, Léo sempre diz "Você ficou pra não me deixar sozinho Carolina". Assim que meus pais morreram, entraram em contato com um tio meu que morava em São Paulo para ele cuidar de mim, mas a esposa dele não deixou, disse que seria mais uma boca para alimentar e que eu não tinha modos, acredita nisso? Meu tio apoiou a decisão dela, mas eu tenho pra mim que ela nunca gostou da minha pessoa , desde o dia que eu quebrei a janela da sua casa brincando de taco na lata. Eu nem queria ter feito aquilo, e se fosse eu no seu lugar, agradeceria. Era a janela da cozinha, estava velha e enferrujada, dava para ver do lado de fora as crostas de gordura velha e que provavelmente nunca foram limpas . Por fim... Tio Álvaro era a única pessoa que poderia ter pego a minha guarda, mas preferiu com que eu morasse três anos em um orfanato. Como ele pode me deixar em um local daqueles? Com tantas pessoas de diferentes personalidades e índoles, ainda mais sendo meu tio de sangue, irmão do meu pai ! Eu fiquei muito chateada por ser rejeitada desse jeito, mais agora eu agradeço. Deus me livre, ter que conviver com aquele ninho de víboras. Lembro das poucas vezes que estive lá. As duas filhas delas me odiavam por conta de um menino que eu não tinha nem um pouco de interesse e eu era bem novinha, nem passava em minha mente ter qualquer envolvimento com alguém. Meu querido pai me ensinou que homem não presta e me fez agir como eles, me ensinou a dar um nó de marinheiro como ninguém, meu pai me ensinou muitas coisas. Ele era o melhor pescador das praias do Rio de Janeiro, por isso não tinha tempo para nada a não ser, socorrer as peixarias que viviam sem peixe, principalmente na semana santa, havia Páscoa que nós não víamos o papai . Já minha mãe , aah.. aquela mulher me lembrava que eu deveria ser uma moça, ela sempre tão elegante, sorridente e linda. Extremamente linda, ainda não sei como meu pai a conquistou, mais o amor dos dois era incomparável, já aceitei que meu destino é ficar sozinha, mas caso um dia eu tenha a oportunidade de ter alguém, quero que seja como eles dois, sempre devotando o amor, um pelo outro. Minha mãe me obrigava a usar saltos, saias e vestidos quando pequena. Mas eu sempre preferi os shortinhos curtos e umas calcas bem arroxeada no corpo, o que levava meu pai a loucura. Já minha irmã, sempre tão comportada era o prêmio da família, eu queria ser como ela, linda, que agradava todos, chamava a atenção de todos, em uma simplicidade sem fim. Eu sinto muito sua falta, por mais que muita das vezes nós brigávamos. Ela era o meu espelho, sabia me acalmar e impedia de eu tomar uma bela surra por aprontar quase todos os dias Eu era a menina macho do papai e o furacão da mamãe. Você agora consegui entender porque o tio Álvaro não quis pegar minha guarda? Foi melhor assim, pois dessa forma eu não sofri mais com aqueles malucos. As primas que me detestam e o primo que vive para dar em cima de mim, Deus me livre. Pelo menos eu conheci o Léo no orfanato, foi uma sorte nossa bem grande já que ficávamos em locais diferentes, mas sempre conseguíamos uma licença para visitar um ao outro, até que o pai dele encontrou ele e o levou para morar na Califórnia, o pai dele tem muito dinheiro e Léo sempre tenta me ajudar de longe quando estou apertada, mas evito, eu não gosto de dar esses tipos de trabalho Falar nele eu estou com ele agora no celular — Léo você está uma semana sem me ligar, isso é uma traição sabia? — Carolzinha desculpas, eu tentei, mas tu sabe como é a empresa do meu pai! — É grande e cheia de investimentos— imito suas falas— eu não tenho tempo para te ligar Ca, porque estou sempre muito ocupado — Ca me desculpa, eu prometo que vou tentar falar com você mais vezes, mas agora eu preciso ir, meu pai está fazendo sinal de que estou atrasado para a reunião na minha frente Olho para meu relógio e vejo que quem está atrasada sou eu — Tchau, Tchau, Tchau Leonardo, depois nós conversamos, se eu não sair agora vou perder o ônibus e vou chegar novamente atrasada — Vou te ligar mais tarde! — Será o milagre do Senhor se isso acontecer, agora preciso ir Desligo o celular, pego minha mochila e saio correndo para o ponto para não perder o ônibus, graças a Deus cheguei na hora certa. Subi no ônibus e o motorista deu partida. Mais a frente, percebi que havia um engarrafamento. Que droga, vou tomar outro esporro do Sr João, ninguém merece , ainda por cima os passageiros começaram a reclamar, como se a culpa fosse do pobre coitado do motorista. Pobre não tem vez, só vive cagado de urubu. Nem para chegar no serviço em paz serve. O motorista passou pelo motivo a qual estava causando esse transtorno e era um carro que havia enguiçado na pista do meio, e não conseguiu sair por não ter ninguém para ajudar a tirá-lo dali mas reclamações haviam. O motorista acelerou bastante e os passageiros começaram a reclamar mais uma vez dizendo que não queriam morrer e que não era a mãe do motorista que estava dentro do ônibus Oh povo ingrato, nunca agradecem por nada, desci no meu ponto faltando três minutos para eu entrar, sai correndo mais uma vez como uma louca e assim que coloquei os pés no mercado onde eu trabalho como caixa dei de cara com o Sr João, dei minha mochila para o Ricardo guardar, ele sempre me ajuda quando pode, nem perguntou o que aconteceu, só pegou e saiu. — Mais um dia atrasada Carolina! Desse jeito vou ter que te mandar embora — No meu relógio está faltando um minuto para eu bater meu ponto Sr João— digo já irritada, pois não aguento mais esse trabalho — Porém no da empresa você está dois minutos atrasada e isso é que vale — Não sabia que a empresa também era falha no relógio Sr João — Vá para o seu canto antes que eu te mande embora de uma vez e não falar mais um pio— Espero ele sair e dou dois dedos do meio nas suas costas. Acredito que ninguém veja as câmeras, porque quase todos os dias Eu faço isso e nunca me chegou reclamações Sento na minha cadeira e espero abrir a loja, Maria está virada de frente pra mim na cadeira ao lado. Eu só não consigo entender porque fizeram caixas um de frente para o outro e m deixaram com a velha da Maria pra me encher o saco — Não tem vergonha né garota? Deveria acordar mais cedo! Se no seu primeiro emprego você está desse jeito, imagine quando estiver da minha idade — Na sua idade eu não vou está em um lugar que me roubam as horas extras sua velha fofoqueira. Vá tomar conta da sua vida — Você é uma má educada, sua mãe não te deu educação nenhuma Ninguém aqui sabe das minhas condições, e eu prefiro assim — Ela não me deu foi paciência pra aturar velhos entrão como você. Vem Cá, você já não passou da idade de se aposentar não? Você é quase centenária nesse lugar. Com essa cara enrugada, deve ter no mínimo uns 75 anos — Eu vou chamar o Sr João e vou falar o que você está falando para mim sua impetulante — Vá lá Maria, diga tudo mesmo, sabe o quanto o Sr João ama uma conversa de caixas , no é mesmo? Eu odeio ficar de papinho com vocês que são todas fofoqueiras, acha mesmo que ele vai dar esporro só em mim? — Você é uma peste garota! — Obrigada— uso meu deboche— e você continua fofoqueira, agora me deixa em paz que preciso trabalha— Olho para o lado e vejo um cliente e o chamo — Próximo Ele vem até a mim e eu lanço meu melhor sorriso, que faz parte do disfarce de fingir gostar desse lugar. Pelo menos os clientes me fazem passar o tempo, eles começam a contar as suas vidas e eu me divirto com algumas histórias, mais no final já não tenho sorriso para inventar de tão cansada Ainda bem que domingo agora é minha folga, já que trabalho de domingo a domingo, tenho uma folga de domingo ao mês e uma na semana, a minha sorte é que eu peguei as sextas como folga o que deixa a Maria mais irritada, eu não estou nem aí pra ela, só quero arrumar algo melhor já que sou tão inteligente, isso eu reconheço, não mereço isso e estou estudando para passar em um concurso, quando eu passar vou esfregar na cara dessa velha que eu consegui e ela continua a mesma de sempre, no caixa Eu saio por volta das 15h todos os dias, o que me possibilita de fazer ainda bastante coisas. — Desse jeito você vai acabar sendo demitida Carolina—Ricardo fala comigo Ele deve ser uns 20 anos mais velho do que eu, é o único que presta desse lugar — Eu sei Ricardo, mas olha ! Você sabe como eu sou e esse pessoal ainda me estressa, eu ia chegar no horário, porém o carro enguiçou na rua e fez um engarrafamento daqueles. Mas se eu falo isso para o Sr João ele não ia poupar palavras para me responder, você sabe como ele é — Velho irritante, ninguém merece ele — Não, ninguém merece— Ele me olha e parece querer falar alguma coisa — Está com aquela cara de que quer por algo para fora, diz logo Ricardo— incentivo — Você estava falando tanto que queria passar em um concurso que eu acabei me escrevendo em um que eu tinha conhecimento— fico feliz por sua atitude — E quando é a prova?— Pergunto animada — Eu já fiz e passei — Aaaaaah...— dou um baita grito e dou um abraço bem apertado nele— eu estou tão feliz por você Ricardo — Eu também, mas preciso que fique em segredo até eles me chamarem para exercer o cargo — Claro Ric, minha boca é um túmulo— faço sinal de zíper fechando na direção da boca, eu estou tão feliz por ele— eu vou perder outro amigo Bem, Ricardo não é tão amado quanto o Léo, mais ainda assim ele é meu amigo — Prometo vir te ver quando der— faço careta — Conheço essas promessas vagas, mas vou tentar acreditar— É óbvio que eu não vou, ele vai sumir como todos fazem — Você não consegui mentir mesmo né, sua cara diz que você não está acreditando no que eu estou falando — Claro que eu estou —Eu prometo Carolina, e vou te deixar feliz mais uma vez, sabe por que?!Você é a primeira a saber disso, não contei nem para a minha esposa ainda— ele mesmo responde antes de eu perguntar — Agora sim eu fiquei bem melhor, pode deixar que vou tentar acreditar que você vai vir me visitar — Gosto da sua sinceridade— ele pega a bolsa dele e eu tranco o meu armário— E você já viu o resultado do prêmio desse mês? Todo mês eu cadastro o QR code de caixas de leite. Essa marca oferece prêmios como viagens, passeios e até carros, estou doida para ganhar um carro, mas eu nem sei dirigir. — Eu acho que não vou ganhar mais um mês, mas não tem problema eu tenho bastantes meses para tentar, se eu ganhar o carro te levo para o trabalho de carona, pode deixar— ele rir Eu já estava de saída quando ouvi a voz do Sr João — Carolina— me virei revirando os olhos e com os ombros abaixados — O que é dessa vez? — A Luciana pegou uma semana de atestado, você vai precisar dobrar durante esses dias — Até domingo?— pergunto super desanimada — Sim— respiro fundo e peso o peso das palavras que vou falar — Eu vou ficar Sr João, mas se o senhor não me pagar as horas extras como eu tenho direito serei obrigada a te por na justiça e dessa vez eu não estou brincando— ele nem liga para as minhas palavras — Eu vou te dar o que merece, amanhã pode chegar uma hora mais tarde se quiser — Pelo menos isso né — Quer que eu volte minha palavra Carolina?— ele pergunta — Até amanhã Sr João— viro as costas e vou embora.
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