LILY’S POV
Eu estava no meu quarto, terminando de arrumar a mochila para a escola. A cada segundo, sentia a expectativa de que Samuel poderia entrar a qualquer momento, mas a porta permaneceu fechada. O alívio misturado com uma pontada de decepção me fez suspirar profundamente. Coloquei a última apostila na mochila e a fechei, tentando afastar os pensamentos sobre Samuel. Precisava me concentrar na escola e na minha rotina, não na confusão dos últimos dias.
Peguei a mochila e desci as escadas em direção à sala de jantar. Para minha surpresa, encontrei meu pai, Doug, e Samantha, minha nova madrasta, arrumando a mesa do café da manhã. Isso nunca acontecia quando éramos só eu e meu pai. A mesa estava cheia de frutas frescas, pães, geleias e sucos. Parecia uma cena de filme.
Samantha sorriu para mim quando me viu entrar. "Bom dia, Lily! Você fica muito bem com o uniforme da escola."
Tentei retribuir o sorriso, ainda me sentindo um pouco desconfortável com toda a situação. "Obrigada, Samantha." Olhei ao redor, procurando por Samuel. "Onde está Samuel?"
Samantha deu de ombros enquanto colocava um prato de panquecas na mesa. "Provavelmente na casa do John. Deve ter passado a noite ensaiando com a banda."
Meu pai, Doug, levantou o olhar do jornal e acenou para mim. "Venha se sentar aqui ao meu lado, Lily."
Sentei-me ao lado dele, tentando não parecer tão deslocada quanto me sentia. O cheiro do café fresco encheu a sala, misturado com o aroma das panquecas quentes. O café da manhã se transformou rapidamente em um show de paparicos para mim. Samantha e Doug se revezavam tentando me agradar, oferecendo mais suco, mais panquecas, perguntando sobre meus planos para o dia. Fiquei sem jeito, mas ao mesmo tempo, não pude evitar sentir meu ego inflar um pouco com tanta atenção.
Doug passou a manteiga em uma fatia de pão e olhou para mim com um sorriso caloroso.
"Então, como estão as coisas na escola, querida? Está tudo bem?"
Assenti, mastigando um pedaço de panqueca. "Sim, está tudo bem. As aulas estão um pouco puxadas, mas estou conseguindo acompanhar."
Samantha se inclinou sobre a mesa, parecendo genuinamente interessada.
"Então, Lily," Samantha começou, passando-me a jarra de suco de laranja, "quais são seus planos para depois da escola hoje?"
"Tenho aula de química e depois vou estudar na biblioteca," respondi, pegando o copo de suco. "E talvez encontre Emily para revisar algumas matérias."
Doug sorriu, orgulhoso. "Fico feliz em ver que você está se dedicando tanto. É importante manter as notas altas."
Assenti, tentando ignorar a sensação de desconforto que ainda persistia.
"Sim, pai. Estou fazendo o meu melhor."
Samantha parecia encantada.
"Tenho certeza de que você vai se sair muito bem. E se precisar de ajuda com qualquer coisa, pode contar comigo."
A conversa continuou, com Samantha perguntando sobre meus professores e Doug me dando conselhos sobre como lidar com a pressão dos estudos. Era estranho ter uma figura materna em casa novamente, alguém que parecia realmente se importar com os detalhes do meu dia a dia.
Enquanto Samantha falava sobre um novo projeto de decoração para a sala de estar, minha mente vagou para Samuel. Será que ele realmente estava na casa do John? Ou estava tentando evitar qualquer encontro embaraçoso depois do que aconteceu? Meu coração apertou com a lembrança de seus lábios nos meus, do toque dele. Balancei a cabeça, tentando afastar esses pensamentos. Não queria que Samantha ou Doug percebessem minha inquietação.
"Então, Lily," Samantha disse, chamando minha atenção de volta à mesa. "Estava pensando em fazermos um passeio no próximo fim de semana, só nós duas. O que acha?"
Pisquei, surpresa. "Um passeio? Para onde?"
Samantha sorriu, seus olhos brilhando de entusiasmo. "Podemos ir ao shopping, fazer algumas compras, almoçar fora. Sempre quis ter esses momentos mãe e filha, sabe?"
Olhei para Doug, que estava sorrindo de apoio, e depois de volta para Samantha. "Parece ótimo," menti, embora a ideia de passar um dia inteiro fingindo normalidade me deixasse ansiosa.
"Perfeito!" Samantha exclamou. "Vamos nos divertir muito."
Terminei meu café da manhã e peguei minha mochila, pronta para ir à escola. Doug me deu um beijo na testa. "Tenha um bom dia, querida."
"Obrigada, pai. Vou tentar." Lancei um último olhar para ele querendo contar tudo, afinal meu pai sempre foi meu melhor amigo.
Samantha pegou as chaves do carro e fomos para o carro dela, um verdadeiro luxo em quatro rodas. O caminho até a escola era também a rota para o trabalho de Samantha, então acabamos indo juntas. Enquanto o motor rugia suavemente, iniciamos uma conversa que me surpreendeu pela naturalidade.
"Então, Lily, você já pensou sobre o que quer fazer depois da escola?" Samantha perguntou, os olhos ainda no trânsito.
Olhei para ela, ponderando a pergunta. "Ainda não tenho certeza. Talvez algo relacionado a artes ou literatura. Eu gosto de escrever."
Samantha sorriu, um sorriso genuíno que alcançou seus olhos. "Você deveria seguir o que ama. Eu sempre fui apaixonada por comunicação, por isso me tornei relações públicas. É um trabalho que me permite ser criativa e ajudar a moldar a imagem das pessoas e empresas."
O interesse em seu trabalho era evidente em sua voz, o que me fez querer saber mais. "Você gosta do que faz?"
"Sim, muito," respondeu ela. "Cada dia é diferente, e adoro os desafios que vêm com a gestão de crises e a criação de campanhas. Faz com que eu me sinta viva."
Havia algo reconfortante na maneira como ela falava sobre seu trabalho. Houve um momento de silêncio, e então Samantha perguntou:
"Lily, você sente falta da sua mãe?"
Não estava esperando essa pergunta. Ela me fez pensar na minha própria mãe, sobre quem sabia tão pouco.
"Eu não sei muito sobre a minha mãe," confessei. "Ela foi embora quando eu era bebê. Nunca tive a chance de conhecê-la."
Samantha me lançou um olhar de empatia.
"Deve ser difícil. Você sente falta dela?"
Refleti por um momento, tentando encontrar as palavras certas.
"Não sei se é saudade. É mais uma sensação de vazio, de não ter uma figura materna em datas importantes. É estranho não ter uma mãe."
"Eu sinto muito por isso," disse Samantha suavemente. "Mas quero que saiba que estou aqui para você, se precisar de qualquer coisa."
A oferta era sincera, e de alguma forma, me fez sentir um pouco mais leve. "
Obrigada," murmurei, olhando pela janela do carro. Fiquei quieta por um momento, então decidi mudar o assunto. "E o pai de Samuel? Como foi conhecê-lo?"
"Eu conheci o pai do Samuel quando comecei a trabalhar na empresa. Ele era um cliente e acabamos nos aproximando," respondeu Samantha, a tristeza tingindo suas palavras. "Ele era um homem incrível."
"Então, o que aconteceu?" perguntei, sentindo que estava entrando em um terreno delicado.
"Foi um acidente de carro," ela disse, a voz embargada. "Ele estava indo para uma viagem de trabalho e... bem, tudo aconteceu de repente. Foi muito difícil para nós."
"Deve ter sido h******l," murmurei, imaginando a perda que Samantha e Samuel devem ter sentido.
"Foi," ela respondeu. "Mas a vida continua, e temos que encontrar maneiras de seguir em frente."
Havia tanta dor em suas palavras, uma dor que me fez querer alcançar e confortá-la.
"Sinto muito, Samantha."
Ela respirou fundo, recompondo-se.
"Obrigada, Lily. A vida tem seus altos e baixos, mas o importante é seguir em frente. E agora tenho você e Doug, o que me dá forças."
Chegamos à escola, e antes de eu sair do carro, Samantha me deu um abraço rápido.
"Tenha um bom dia, querida."
"Você também," respondi, sentindo-me um pouco mais conectada a ela.