Passa o número da Luana pra mim?

1104 Words
Minha mãe, com um sorrisinho no rosto, apenas apontou na direção de onde o som vinha. Saí correndo em disparada, o coração acelerando por algum motivo desconhecido. Cheguei ao quarto, empurrando a porta com um pouco mais de força do que o necessário, e me joguei na cama para alcançar o celular. Quando olhei a tela, era a Giulia. — Oi, prima! — atendi, tentando soar normal. — Oi, Lu! Vamos sair hoje pra comemorar a chegada do meu irmão. Vai ser muito legal! — a animação na voz dela era palpável. — Não sei se estou com ânimo pra sair hoje... — respondi, deixando transparecer meu cansaço. — Ah, para com isso! Eu passo aí às 21h. Beijo! — ela disse, decidida, antes que eu pudesse protestar. Suspirei, resignada. Como sempre, Giulia era insistente e sabia exatamente como me convencer. Talvez eu fosse boba por ceder, mas, de algum jeito, eu sempre acabava fazendo o que ela queria. Voltei para a cozinha, ainda pensativa. — Quem era, filha? — minha mãe perguntou, sem tirar os olhos da torta que cortava em fatias perfeitas. — Giulia, me chamando pra sair hoje... — minha voz saiu desanimada, refletindo o meu humor. Minha mãe me olhou com curiosidade e uma ponta de reprovação. — E por que esse desânimo todo? Dei de ombros. — Não estou com vontade de sair. Ela se aproximou com uma fatia de torta e me ofereceu com um sorriso. — Vai se divertir, filha. Você é jovem, precisa aproveitar. — disse enquanto eu pegava o pedaço. A verdade é que eu estava sem ânimo não só para sair, mas para muitas coisas. Algo dentro de mim parecia estar constantemente inquieto, mas não queria preocupar minha mãe com isso. Peguei o prato e comecei a comer em silêncio, enquanto ela observava com aquele olhar típico de mãe que tudo percebe, mas às vezes deixa passar. Gustavo narrando Assim que desembarquei do avião, meus olhos vasculhavam o terminal em busca de um rosto familiar. Caminhei devagar, procurando minha mãe entre as pessoas, mas, para minha surpresa, quem eu vi acenando foi uma garota bonita. O sorriso dela iluminava o rosto, e por um segundo, fiquei confuso. Será que era comigo? "Gu!" ouvi a voz dela chamando pelo meu apelido, e finalmente me aproximei, ainda sem acreditar. Quando me dei conta de quem era, fiquei sem palavras. — Luana? É você? — perguntei, incrédulo. Ela sorriu largamente. — Não me reconhece mais, Gustavo? Aqueles olhos travessos e o sorriso provocador eram familiares, mas o resto... Ela tinha mudado tanto! — Você está... diferente. — admiti, enquanto a observava dos pés à cabeça. Ela deu uma risadinha. — Ah, nem tanto assim. — disse, fingindo modéstia. Diferente? Ela tinha se transformado num mulherão! A última vez que eu a vi, ainda era aquela priminha que corria pela casa com roupas coloridas. Agora, ali estava uma mulher madura e linda, com um ar de confiança que me desconcertava. Antes que eu pudesse me perder mais nas minhas impressões, minha mãe e irmã apareceram correndo, me abraçando com aquela alegria barulhenta de sempre. Durante o caminho para casa, tentei me concentrar nas conversas, mas não conseguia parar de olhar para o rosto delicado da Luana. Cada vez que meus olhos iam parar na boca dela, sentia uma pontada de desejo que tentei ignorar. Ao perceber que ela me olhava confusa, rapidamente desviei o olhar para a janela, fingindo estar interessado na vista. Quando finalmente chegamos em casa, encontrei meu pai no sofá. O abraço que ele me deu foi frio, como sempre. Nosso relacionamento estava longe de ser fácil. Ele queria que eu trabalhasse no restaurante que gerenciava, acreditando que, de alguma forma, me devia por ter encoberto um erro do meu passado. Mas eu nunca gostei da ideia de ser controlado, e isso só nos afastava mais. Troquei algumas palavras mornas com ele antes de me refugiar no meu quarto, o lugar onde eu sempre me sentia seguro. Nada havia mudado ali, como se o tempo tivesse congelado desde a minha última visita. Joguei minha mala no chão e me deitei na cama, sentindo o colchão familiar afundar sob o meu peso. Logo depois, minha irmã entrou no quarto com a energia de sempre. — Hoje tem baladinha, né? — ela perguntou, animada, se jogando ao meu lado. — A Luana vai também? — perguntei, me sentando na beirada da cama. Ela me olhou de soslaio, como se já soubesse o que eu estava pensando. — Tá encantadinho pela prima, é? — disse, desconfiada. — Ela tá muito gata... — confessei, me jogando de volta na cama, com as mãos atrás da cabeça. Giulia riu, balançando a cabeça. — Sossega, Gustavo! A prima tem namorado, sabia? Aquilo me pegou de surpresa. — Tá falando sério, Marrenta? — perguntei, decepcionado. Ela mordeu o lábio inferior, mas o nariz dela... Ah, o nariz! Ela sempre mexia o nariz de um jeito estranho quando mentia. — Para de mentir! Seu nariz de Pinóquio mexeu demais. — provoquei, tocando a ponta do nariz dela. Ela explodiu em gargalhadas. — Tá bom, tá bom! Eu tava zoando. Ela tá solteira. — admitiu, ainda rindo. Suspirei aliviado. — Ainda bem. Se tivesse namorado, azar do cara. — falei, confiante. Giulia me lançou um olhar desdenhoso. — Acha mesmo que a Luana ia te dar bola, Gustavo? — Claro! Eu sou irresistível. — sorri, jogando charme. Ela revirou os olhos. — Irresistível ou não, a prima é devagar, viu? Não vai te dar mole fácil. — Devagar como? Ela deu de ombros. — Ah, você sabe... do time das santinhas. Eu ri, mas estava mais interessado no que ela faria a seguir. — Vou ligar pra ela e convidar pra balada. — anunciou, pegando o celular. — Coloca no viva-voz! — pedi, baixinho, enquanto ela fazia a ligação. No fim, a minha irmã "intimou" Luana a sair com a gente. — Pronto, você tá me devendo uma. — Giulia me olhou com um sorriso triunfante. — Não começa, Marrenta. Agora passa o número dela! Ela hesitou por um momento. — Tenho que perguntar pra ela antes, né? — Ah, por que? Eu sou o priminho! — insisti, fingindo indignação. Giulia revirou os olhos novamente, mas me entregou o celular. Após guardar minhas roupas, finalmente mandei uma mensagem para Luana. WhatsApp on — Boa noite! — Boa noite! Quem é? — Ninguém importante, só alguém que te acha linda. — Eu vou te bloquear. — Nossa! Para de ser má. WhatsApp off Sorri, sentindo o coração bater mais rápido. Hoje à noite seria interessante.
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