Capítulo 1 •

1628 Words
Isabela Lombardi A cabeleireira ajustava as minhas madeixas ruivas sobre o meu couro cabeludo com certa delicadeza, enquanto outra fazia as minhas unhas com um verde-esmeralda que eu havia escolhida a pouco. Suas mãos trabalhavam com delicadeza, me fazendo relaxar sobre a cadeira e respirar fundo tantas vezes quanto fosse possível. Eu queria poder deitar e dormir enquanto sentia as mãos milagrosas da mulher tocando cada mínima parte do meu couro cabeludo. Suas mãos trabalhavam com o babyliss de maneira cuidadosa, fazendo alguns cachos bonitos e simétricos. Meu cabelo havia sido lavado e cortado a pouco tempo, deixando-o cheiroso. Tudo isso por um homem. Pensei. Meu pai jamais me permitiria ter um SPA desses em casa, mas para conseguir conquistar o Don e dar a ele o posto de suocero del don e del consigliere, meu pai seria capaz de tudo. Até de gastar uma quantidade que ele considera absurda com os meus caprichos femininos. “É tudo uma questão de tempo.” Ele disse, sorrindo. “Todo o dinheiro gasto voltará para mim, valerá a pena.” Meu pai chegava a ser c***l, enquanto falava como se eu, sua filha, fosse um pedaço de carne que estava a venda para quem desse a ele mais poder e dinheiro. Os dedos da mulher puxaram duas mechas de cabelo, juntando-as atrás e prendendo os meus cabelos com uma presilha de prata — herdei da mãe do meu papà — com algumas pedras de esmeralda. Eu, definitivamente, não podia perder aquilo. Era a única coisa que me ligava a única mulher do mundo que tinha coragem de se impor contra o meu pai — e contra meu avô, que não levantava um dedo para a mulher. Queria ser forte e decidida igual a ela. Queria ter o meu lugar no mundo, como ela gostava de falar. “— Um dia, você terá seu lugar no mundo. — Vovó disse, mexendo nos meus cabelos. — e então, você entenderá que tudo que passamos tem um propósito. Seja ele bom ou r**m. — Seus lábios encostaram na minha testa de maneira delicada. — Apenas deixe o destino trabalhar.” Fechei os olhos com força, repetindo a frase milhares de vezes na minha cabeça. Deixe o destino trabalhar… Deixe o destino trabalhar… Mas, e se o destino estivesse me pregando uma peça? E se ele estivesse brincando comigo e me pregando peças? Se, no fim, eu só tivesse uma onda enorme de azar? — Você está ficando linda. — Uma delas disse. Sorri, e podia jurar que meus olhos estavam brilhando. Eu não recebia muitos elogios, a verdade é que meu pai me rebaixava muito por não aceitar que eu tivesse um traço do meu avô — Nikolai — um russo mafioso, antes dos russos e dos italianos entrarem em guerra. Eu era tão ruiva quanto a minha família e isso me transformava em única no meio das crianças. Fui obrigada a sair do colégio para crianças da Máfia após sofrer bullying diversas vezes e ter sido ameaçada por filhos e filhas de outros mafiosos. “— Mamãe disse que você é filha de uma traidora. — Uma das meninas disse, rindo de mim. — Quando o Don souber de você, ele irá matá-la, como todos os russi¹ merecem.” Foi uma das coisas mais traumáticas que já escutei já minha vida. Cheguei em casa chorando e com medo de morrer e mammina² implorou ao meu papà³ que me permitisse ter um estudo dentro de casa. Depois disso, eu nunca mais sai. Talvez, uma ou duas vezes depois disso, para algum evento — meu pai não gostava que eu fosse em muitos —, mas passava grande parte do tempo escondida dentro dos portões da minha casa. Éramos a vergonha de meu papa, lembrávamos aos russos e merecíamos ser castigadas por isso. Mas agora, eu estava saindo de casa, indo para um lugar onde eu ficaria em evidência e era obrigada a estar deslumbrante, enquanto procurava por alguma maneira de chamar a atenção de um único homem: Vicent De Lucca. — Grazie⁴, ragazza⁵! — Sorri abertamente, tentando me mostrar agradecida. Sabia que depois desse dia, meu papa nunca mais contrataria as moças, mas queria ter certeza de que elas teriam uma boa impressão de mim. Talvez... Talvez, se eu me casasse com Vicent, ele me deixasse escolher minhas próprias estilistas e eu pudesse voltar a ter elas trabalhando para mim. — Você está pronta, que acha? — Ela perguntou, apoiando a mão no meu ombro. Observei meus cabelos puxados para trás, com cachos perfeitos jogados por todas as minhas costas e o pingente de família brilhando entre os meus cabelos. Tudo isso dava contraste aos meus olhos que também eram verdes. Deve mostrar a ele a joia que é, mamãe disse. E eu estava. Me encheria de esmeraldas e tentaria chamar o máximo de atenção para mim. Se eu fosse jogada para escanteio, com certeza, meu pai ficaria bravo comigo e eu não queria apanhar, com certeza não. — Perfetto⁶, isso está incrível. — Falei, balançando minhas madeixas. — Vocês podem deixar um cartão, se os meus planos derem certo, quero poder contratar vocês novamente. — Claro, Signora⁷! — ela correu até a bolsa e me entregou um cartão branco, com letras cursivas escritas nele. Era elegante e minimalista. Guardei dentro da minha gaveta, agradecendo as moças pelo atendimento e dispensando-as. Corri para o closet, procurando o vestido escolhido da noite. Passei os dedos pelo armário, sabendo exatamente o que estava procurando. Havia o experimentado ontem a noite, tentando passar a imagem que minha mãe alegou que eu precisaria passar. Uma mulher sexy, dona de si, mas com os olhos frágeis e aparência inocente. Eu precisava conquistá-lo para me livrar do meu pai. O vestido era da cor esmeralda, com o b***o todo envolvido em renda, com alças ombro-a-ombro e bem marcado na cintura, valorizando as curvas da minha cintura. Meus s***s estavam bem apertado dentro do vestido, deixando a impressão de que eram um pouco maiores do que realmente era. A saia era de um tecido brilhante e liso, com uma f***a enorme que seguia até a metade da minha cocha, deixando boa parte da minha perna desnuda. Enquanto o vestia, me perguntava se Vicent gostaria, se olharia para mim, se aprovaria, se eu estava, realmente, bonita. Nos pés, completei com um par de saltos da cor nude e uma pequena pendurada ao ombro, com batom dentro — caso precisasse retocar. Me encarei no espelho, dando uma última volta. Suspirei, tomando a coragem que me faltava. Eu precisava de uma boa dose de whisky agora, para me acalmar e conseguir levar as coisas mais levemente, igual os homens faziam. Mas, eu não bebia, então a bebida alcoólica estava fora de cogitação, no momento. Sai do quarto, tomando cuidado para não tropeçar na saia do vestido e andei a passos largos até o fim do corredor, onde se encontrava a escada central da casa. Podia escutar os resmungos do meu pai, enquanto reclamava do horário e da minha demora. — É bom mesmo que ela seja a última. — Mamãe disse. — Assim, quando for anunciada, toda a atenção será dela. — O pirralho do Vicent pode não gostar do atraso da sua filhinha. — Ele resmungou. — Já estou aqui, papa. — Murmurei, abaixando o rosto. — Ótimo, você ainda não é a noiva para se atrasar tanto. — Ele disse, emburrado e se levantando. — Apenas, desça logo, não temos todo o tempo do mundo. — Está mais ansioso que eu, que terei de conquistar o homem. — Reclamei, me arrependendo em seguida. Meu pai se aproximou e levantou a mão para me acertar um tapa, me encolhi, esperando pelo impacto que não veio. Abri os olhos devagar, observando minha mãe segurando o braço do marido, e o encarando seriamente. — O que caralhos você pensa que está fazendo? — Perguntou. — S-se tocar nela... — minha mãe disse, tentando ser firme. — Você poderá ser morto. Ele encarou a minha mãe e puxou seu braço com força, dando a volta e indo até a porta sozinho, vermelho como um pimentão raivoso. — Vamos, ou vocês vão ficar paradas aí? — Ele disse, piscando para nós. — Vamos, querida. — Minha mãe cruzou nossos braços, me puxando para fora da casa rapidamente, quase me fazendo tropeçar nos meus próprios pés. Meu cuore⁸ estava palpitando rapidamente, com certa rapidez e força, me deixando nervosa. — Está bellissima⁹, figlia mia.¹⁰ — Mama disse, apertando-me mais contra si. — Grazie, Mama. — Agradeci, beijando seu rosto. O carro parou na frente da casa. Era um carro caríssimo, um dos melhores da garagem. Papa nunca havia nos deixado andar nesse carro e m*l saia com ele, apenas em situações especiais e ele queria chamar a atenção do Don de qualquer forma. Em outras palavras, ele queria que fossemos vistos e notados. Queria que eu chamasse atenção e eu também queria, talvez, somente talvez, o Don fosse melhor que o mau-caráter do meu pai. O carro passava pelas ruas, aumentando a minha ansiedade. Meu coração estava batendo forte no meu peito, me fazendo respirar fundo várias vezes, tentando me acalmar. Essa noite seria decisiva. O olhar do meu pai, antes de pararmos na frente do enorme salão — que ficava dentro da propriedade De Lucca — foi uma ameaça silenciosa e implícita. Caso eu não conquistasse o amor do homem, ou pelo menos, o seu encanto. Eu apanharia tão feio e eu poderia me esquecer de tudo, até mesmo do único resquício de liberdade que eu ainda podia ter. •★• Dicionário: Russi¹: Russos mammina²: Mamãe Papá³: Pai Grazie⁴: Obrigada Ragazza⁵: Moça Perfetto⁶: Perfeito Signora⁷: Senhora Cuore⁸: Coração Bellissima⁹: Linda Mia figlia/figlia mia¹⁰: Minha filha.
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD