**Capítulo 4 - Antonella Narrando**
Já passava do meio-dia, e nenhuma notícia do Toco. O silêncio era ensurdecedor. Olhei todos os jornais, vasculhei as redes sociais, liguei pra cada hospital que conhecia. Nada. Era como se ele tivesse evaporado.
Enquanto eu tentava me concentrar, a dona Kátia, a mãe dele, surgiu na sala, cheia de atitude.
— A primeira-dama desse morro, como sempre, tranquila sentada em casa — ela provocou, me encarando com desdém.
Respirei fundo, mas não ia deixar barato.
— Faço muito mais aqui sentada do que a senhora infernizando a vida dos outros.
Ela bufou, furiosa.
— Meu filho está desaparecido!
— E a senhora preocupada em me alfinetar? — retruquei, cruzando os braços.
— Isso só pode ser coisa sua — ela acusou, com o dedo apontado na minha direção. — Você é ardilosa, Antonella. Sei que tá metida no sumiço do meu filho.
Revirei os olhos.
— Eu? — perguntei, sarcástica. — Estava dormindo em casa, bem folgada, como a senhora gosta de dizer.
— Você não me engana! Engana meu filho e todo mundo, mas a mim, não. — Ela negou com a cabeça, cheia de drama. — Eu conheço o seu tipo: perigosa e se faz de santa.
Soltei um sorriso debochado.
— Talvez porque a senhora seja igual, né?
Ela me lançou um olhar fulminante, mas não respondi. Levantei, cansada daquela discussão sem fim.
— Quero notícias do meu filho — ela insistiu.
— Somos duas. Até porque ele também é meu marido, dona Kátia.
Deixei ela falando sozinha e saí. Fui direto atrás do Salve, porque ninguém mais parecia saber de nada sobre o Toco. Já tinha procurado em tudo quanto era canto. Quando cheguei na boca, notei uma movimentação estranha: vários homens armados, mas nenhum deles era do morro. O clima tava pesado.
Na entrada, um homem armado me parou.
— Quem é você?
— Antonella, a fiel do Toco. Quero passar. — Minha voz saiu firme, mas meu coração tava disparado. — Cadê meu marido?
Ele me olhou de cima a baixo, avaliando. Depois pegou o rádio.
— A fiel do Toco tá na porta. Posso mandar entrar?
— Pode. — A voz do outro lado veio seca.
— Cadê ele? — insisti. — Cadê meu marido?
— Entra — ele respondeu, abrindo espaço. — O novo chef do morro da Santa Marta tá mandando você entrar.
Meu sangue gelou.
— Ele tá morto? — perguntei, quase sem voz.
— Entra — repetiu.
Fui conduzida pra dentro, e logo vi o Salve cercado por vários homens armados. Todos me olharam quando entrei. O ar ali dentro era denso, sufocante.
— Quem são vocês? Cadê meu marido? — questionei, encarando Salve. — Cadê o Toco? Acabei de ouvir que tem um novo dono nesse morro. Que história é essa?
Um homem alto, com um cigarro aceso na mão, se adiantou.
— Nolasco — ele disse, soltando a fumaça devagar. — Sou o novo dono do morro da Santa Marta.
Meus olhos se estreitaram ao ouvir aquele nome.
— Já ouvi falar de você.
Ele deu um sorriso cínico, segurando o baseado.
— Sou padrinho do Toco — confirmou. — E agora, tô no comando desse morro. Todo mundo aqui vai acatar as minhas ordens.
Minha paciência tava no limite.
— Cadê meu marido? — perguntei, mantendo o tom firme, apesar do nervosismo.
— Tá preso.
Aquelas palavras bateram em mim como um soco.
— O quê? — minha voz falhou. — Como assim ele tá preso?
Nolasco deu mais um trago no cigarro antes de responder, sem pressa.
— Foi pego ontem à noite pela polícia, logo depois de sair pra falar comigo. Parece que alguém deu a letra.
Meu coração afundou. Isso era maior do que eu imaginava, e, pelo jeito, tava só começando.