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635 Words
**Capítulo 4 - Antonella Narrando** Já passava do meio-dia, e nenhuma notícia do Toco. O silêncio era ensurdecedor. Olhei todos os jornais, vasculhei as redes sociais, liguei pra cada hospital que conhecia. Nada. Era como se ele tivesse evaporado. Enquanto eu tentava me concentrar, a dona Kátia, a mãe dele, surgiu na sala, cheia de atitude. — A primeira-dama desse morro, como sempre, tranquila sentada em casa — ela provocou, me encarando com desdém. Respirei fundo, mas não ia deixar barato. — Faço muito mais aqui sentada do que a senhora infernizando a vida dos outros. Ela bufou, furiosa. — Meu filho está desaparecido! — E a senhora preocupada em me alfinetar? — retruquei, cruzando os braços. — Isso só pode ser coisa sua — ela acusou, com o dedo apontado na minha direção. — Você é ardilosa, Antonella. Sei que tá metida no sumiço do meu filho. Revirei os olhos. — Eu? — perguntei, sarcástica. — Estava dormindo em casa, bem folgada, como a senhora gosta de dizer. — Você não me engana! Engana meu filho e todo mundo, mas a mim, não. — Ela negou com a cabeça, cheia de drama. — Eu conheço o seu tipo: perigosa e se faz de santa. Soltei um sorriso debochado. — Talvez porque a senhora seja igual, né? Ela me lançou um olhar fulminante, mas não respondi. Levantei, cansada daquela discussão sem fim. — Quero notícias do meu filho — ela insistiu. — Somos duas. Até porque ele também é meu marido, dona Kátia. Deixei ela falando sozinha e saí. Fui direto atrás do Salve, porque ninguém mais parecia saber de nada sobre o Toco. Já tinha procurado em tudo quanto era canto. Quando cheguei na boca, notei uma movimentação estranha: vários homens armados, mas nenhum deles era do morro. O clima tava pesado. Na entrada, um homem armado me parou. — Quem é você? — Antonella, a fiel do Toco. Quero passar. — Minha voz saiu firme, mas meu coração tava disparado. — Cadê meu marido? Ele me olhou de cima a baixo, avaliando. Depois pegou o rádio. — A fiel do Toco tá na porta. Posso mandar entrar? — Pode. — A voz do outro lado veio seca. — Cadê ele? — insisti. — Cadê meu marido? — Entra — ele respondeu, abrindo espaço. — O novo chef do morro da Santa Marta tá mandando você entrar. Meu sangue gelou. — Ele tá morto? — perguntei, quase sem voz. — Entra — repetiu. Fui conduzida pra dentro, e logo vi o Salve cercado por vários homens armados. Todos me olharam quando entrei. O ar ali dentro era denso, sufocante. — Quem são vocês? Cadê meu marido? — questionei, encarando Salve. — Cadê o Toco? Acabei de ouvir que tem um novo dono nesse morro. Que história é essa? Um homem alto, com um cigarro aceso na mão, se adiantou. — Nolasco — ele disse, soltando a fumaça devagar. — Sou o novo dono do morro da Santa Marta. Meus olhos se estreitaram ao ouvir aquele nome. — Já ouvi falar de você. Ele deu um sorriso cínico, segurando o baseado. — Sou padrinho do Toco — confirmou. — E agora, tô no comando desse morro. Todo mundo aqui vai acatar as minhas ordens. Minha paciência tava no limite. — Cadê meu marido? — perguntei, mantendo o tom firme, apesar do nervosismo. — Tá preso. Aquelas palavras bateram em mim como um soco. — O quê? — minha voz falhou. — Como assim ele tá preso? Nolasco deu mais um trago no cigarro antes de responder, sem pressa. — Foi pego ontem à noite pela polícia, logo depois de sair pra falar comigo. Parece que alguém deu a letra. Meu coração afundou. Isso era maior do que eu imaginava, e, pelo jeito, tava só começando.
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