Letícia
Acabei descobrindo o tumor agressivo na cabeça do Eduardo, da maneira mais sorrateira possível. Logo ele, o grande amor da minha vida, razão do meu viver.
A dor me consumia drasticamente, corroendo até os ossos.
Precisei buscar forças da onde não existia, contendo a dor lá no fundo para tentar buscar uma solução rápida.
Olhei o Doutor Gustavo com o rosto molhado, lágrimas derramadas. Ele rebateu olhando-me seriamente.
— Esse tumor tem como ser retirado sem deixar sequelas? Meu esposo tem chances de sair deste hospital com vida, fazendo essa cirurgia na cabeça?
Enchia o médico do meu esposo de perguntas, o mesmo apenas caminha tocando com as duas mãos nos meus braços. Do nada deu um sorriso torto no canto dos lábios e comete um ato inesperado. Tentou me puxar pra si, mas me afastei a tempo desse ser, com o coração na mão.
— O que você quer de mim?!! — Perguntei após me afastar de suas garras, estava nervosa.
— Bem, senhora Letícia, serei o mais curto e breve. Eu faço a cirurgia do seu marido, p**o todas as despesas do hospital, mas em troca eu quero você. — Ditou descaradamente.
— Quem você pensa que é!? Vou agora mesmo falar com o dono desse hospital, denunciar você, seu mostro!! Irei te entregar para a polícia seu escroto!!! — Gritei.
Sai correndo da sua frente, colocando rapidamente a mão na maçaneta da porta, ele veio em cheio, me abraçando por traz, agarrando a força. Uma mão no meu corpo e a outra na minha boca, quando estava prestes a gritar por socorro. Assustada.
O senti chegando bem perto do meu ouvido, enquanto o horror e o pavor ardia na alma.
— Ama mesmo o seu marido, Letícia? Não parece! — Me sacudiu. — Qualquer outra mulher faria qualquer coisa para salvar a vida do seu amor.
Sussurrou o monstro.
Relatava como se estivesse rindo, debochando da nossa situação.
De costas, sentia a ereção esfregando-se sem pudor no meio da minha bund.a. Imobilizada tive vontade de vomitar, nutrindo um asco abomináve.l. Tenho nojo de homem assim, e não era a primeira vez que isso acontecia comigo.
Novamente reagi, tentando miseravelmente sair de suas mãos demoníaca.s mas sem resultado.
— Sou o único que pode ajudar vocês, ou tem alguém que pode? Algum amigo ou parente que possa ajuda-los? Fazer essa caridade?
Respirou fundo.
— Olha, não sou uma pessoa má, lhe darei um dia para tentar arrumar ajuda, mas se não conseguir será do meu jeito ou seu marido morre.
Cuspiu as palavras sem nenhuma pena.
— Irei solta-la agora, se gritar, ou me denunciar, seu esposo já era.
Ameaçou-me entre dentes.
Fez como havia dito, não pedi tempo, saí correndo pelos corredores do hospital, sem olhar para trás. Acabei esbarrando em um Senhor que parecia ter uns 60 anos.
— Calma menina. Por que está correndo no hospital!? Pode me contar tudo, você parece está muito nervosa, eu sou o Doutor Carlos, médico e dono do hospital.
Ele segurou os meus braços, como se me amparasse. Olhava dentro dos meus olhos.
— O Senhor é realmente o dono? Eu preciso falar urgentemente, quero prestar uma...
— Boa tarde Doutor Carlos!
Letícia vem comigo? Seu esposo precisa da senhora agora e rápido. — Relatou o Doutor Gustavo com certa urgência na voz, ficando preocupada com Edu na mesma hora.
Acreditando nesse médico monstro sou guiada por ele, mas no meio do caminho o Doutor Carlos me chamou, vindo até a mim.
— Letícia, se precisar de mim é só vim até a minha sala conversar, fui alertado sobre o estado que chegou o seu esposo, e já tomei ciência do prognóstico devido a eficiência do meu sucessor. Se eu estivesse em bom estado de saúde faria a operação do seu marido. Já fui um grande cirurgião desse hospital mas atualmente é a vez do Doutor Gustavo. Só quero afirmar que o seu marido está em ótimas mãos. — Falou com um sorriso no rosto, um orgulho imenso desse Doutor Gustavo.
Dei um aceno pra ele e continuei a andar pelos corredores ao lado do médico.
Observava os funcionários fazendo as suas tarefas normalmente.
Chegando no quarto, segurei em suas mãos. Sufocando o desejo de chorar novamente.
— Meu amor, o que houve?
Sabia que Edu não podia responder, mas ouvia dizer que fazia bem falar com uma pessoa em coma.
Olhei para o médico cretino que estava sorrindo.
— O que aconteceu? Não entendi a razão de ter me convocado. — Ditei enfezada.
— Sabia que ia procurar o Doutor Carlos, por isso fui atrás de você. Pensa que sou algum i****a? Não vai me caguetar, sabe por quê?
Apertei as mãos em punhos.
— Precisa de mim, olha para ele! Está morrendo e até sentindo dores. Se não fosse o coma induzido, é claro por mim, já estaria morto! — Esbravejou com certo desprezo de Edu, seu paciente!
O ódio escorria pelos meus poros, era a segunda vez que passava a odiar alguém na minha vida.
Um médico de verdade fazia um juramento solene para salvar vidas, e esse projeto de médico só pensava em si mesmo, se acha um máximo!
Olhava para esse ser repugnante com enorme desprezo.
— O Doutor Carlos pode operar o meu marido, falarei com ele... Ele também é cirur...
— Não ouviu o Carlos!? Ele já está velho, mãos tremendo. — Gesticulou, pondo ênfase no que dizia. — Que arriscar a vida do seu marido? Ele só anda por ai no hospital por que é o dono, e faz umas consultas ali e acolá, mas operar nunca mais... Há! E ele operária seu esposo de graça, por isso esse hospital está assim. — Relatou em tom de lamúria. — Tantas cirurgias de graça que ele fez na vida dele.
Gustavo se sentou na beirada da cama do meu marido, cruzando os braços sobre o peito, sorrindo, um sorriso diabólico.
— Nao adianta contar para ele, não vai acreditar em você, sou como um filho para o Doutor Carlos. Ele me deu carta branca para gerênciar esse hospital, sem mim, já estaria fechado, então minha cara, te dou um dia pra você resolver, senão...
Avançou alisando o meu rosto, virei para o outro lado, lotado de asco desse homem.
Se afastou logo em seguida até a porta, colocando a mão na maçaneta, sem desviar o olhar obsceno.
— Eu mesmo resolvo tudo para você, só terá que se abrir para mim. — Disse-me sorrindo, parecendo o capeta.
O Doutor monstro saiu me deixando com aquele misto de raiva, nojo, insegurança, desespero e solidão...
Eduardo era tudo para mim, a minha família.
De repente uma ideia surgia na cabeça, mas teria que retornar ao lugar onde nasci, para pedir aquele homem dinheiro. Salvando a vida do meu amor.
***
Algumas horas depois...
Estou em um ônibus indo me encontrar com este homem rico e poderoso, porém, o medo me consumia.
Depois de mais de uma hora cheguei na fazenda. Sou recebida pela minha mãe.
Depois que eu e Edu fugimos para casar, liguei para a minha mãe contando tudo. Mesmo não gostando, se esforçou para me compreender, e depois de uns meses casada com Edu, contei o verdadeiro motivo da gente ter fugido dali.
Minha mãe ficou perplexa, acreditando fielmente em mim, mas disse para não denuncia-lo, pois o Senhor Augusto era um homem muito perigoso e que poderia acontecer algo pior comigo e com Edu se abrisse demais a boca.
Na época, Edu não gostou de ter evitando a denuncia. Augusto quase me abusou, mas ele deu uma surra tão bem dada nele que o deixou no hospital por vários dias. Fiquei sabendo pela minha mãe.
Agora pensando nisso tomava consciência de que o rei nunca iria emprestar o dinheiro, mesmo que eu tentasse trabalhar de graça na fazenda todo o santo dia, de sol a sol.
— Mãe! Que saudade!
Abracei ela bem forte, as lágrimas escorrem dos meus olhos. Ela me abraçou também, mas logo me levou para casa dela com extrema rapidez.
— Minha filha, cuidado. Desde que vocês fugiram ele mudou completamente. — Disse-me, aparentando um certo nervosismo.
Minha mãe Dona Carla tinha um medo danado do Senhor Augusto, por mim é claro, mas eu nunca entendia a razão dela não ter ido embora daqui, bom na verdade eu sei, né!?
A casa era emprestada para ela e meu pai, eles tinham que comprar comida e pagar os meus estudos. Ganhavam um salário mínimo cada um, mas como a minha mãe continuou trabalhando aqui acredito que ainda continuava juntando dinheiro.
— Mãe, Edu está com tumor cerebral, e só uma cirurgia pra salva-lo. Preciso urgentemente de de 50 mil reais. Falarei com este senhor para me emprestar esse dinheiro. Fico trabalhando aqui de graça para ele.
Não aguentando cai em desespero, chorando, em prantos. Estava dilacerada por dentro. Sentia que se não conseguisse o dinheiro iria morrer junto com Edu, pois ele era, e é, a razão da minha existência.
Me joguei de joelhos no chão de madeira, minha mãe vem se ajoelhando junto comigo, abraçadas, choramos juntas. Ela sentia a minha dor.
— Filha eu queria poder ajudar, só tenho 10 mil guardado, se quiser pode levar, mas não vai falar com o Senhor Augusto, por favor. — Suplicou.
— Mãe eu tenho que tentar, se precisar me humilhar, fico de joelhos para o todo poderoso dessa fazenda eu...
Ela me segurou pelo rosto.
— Letícia Albuquerque Menezes! Esse homem vai te prender na casa dele, consumar o que não conseguiu a um ano atrás. Virou uma obsessão dele! você acha que ele não tentou te encontrar? Por que acha que eu fiquei aqui? Te esperando, porque se esse homem tentar de novo fazer alguma coisa com você eu não respondo por mim. Eu confiava nele, achava que ele era um homem correto.
Dona Carla Albuquerque se levantou, me levando junto com ela. Me colocou no sofá, sentando de frente.
Controlei o choro com ela secando minhas lágrimas, depois secou as suas também.
— Filha, seu Augusto é filho único, seus pais morreram em um acidente de carro, um pouco tempo depois, eu e seu pai viemos morar aqui na fazenda. Senhor Augusto e seu pai ficaram amigos, eles tinham a mesma idade 22 anos... Ele não tinha amizades fora, ficava muito sozinho. Eu tinha 20 anos quando fiquei grávida do seu pai, e Seu Augusto ficou em êxtase quando você nasceu, e até deixou trabalhar no casarão com você ao meu lado e quando você chorava vinha correndo para pegá-la no colo...
— Mãe, a senhora alguma vez nos deixou sozinhos? — Perguntei assustada.
— Não, é claro que não! No começo eu e seu pai achávamos esse interesse estranho, mas como foi passando o tempo ele foi ganhando mais a nossa confiança. Nós achávamos que ele te via como irmã, já que não tinha nenhum irmão. Você era muito ligada nele, e quando estava com quase 5 anos o Senhor Augusto começou a namorar uma mulher da região, ele se afastou de você, parecia que ela tinha ciúmes de vocês dois... Esse respectivo romance só durou 1 ano. Até que um dia ... você já tinha completado a mocidade. Eduardo e você queriam namorar, mas a gente não deixou, achávamos você muito jovem...
O Seu Augusto ficou sabendo e disse para nós dois liberarmos esse namoro, por que você era jovem e precisa aproveitar, mas que teria que liberar o namoro com uma condição: que Eduardo respeitasse você e não tirasse a sua virgindade. Acabamos seguindo o conselho dele, e quando faltava um dia para você completar a maior idade, o patrão pediu a sua mão em casamento.. Eu e seu pai ficamos sem entender nada! Disse que tomaria conta de você e até pagaria sua faculdade de veterinária... e nós dois acabamos concordando.
Lamentou-se amargamente.
— Ele nos manipulou o tempo todo! confiamos e acreditamos em tudo que nos dizia. — Ditou com raiva emocionada. — No seu aniversário de 18 anos aconteceu as duas tragédias; a morte do seu pai e a sua fulga com Eduardo.
Jurei não pensar muito nesse dia, porque me doe pensar no meu pai, digo pra mim mesma.
— Sei que se sente culpada pela morte do seu pai, mas não se sinta tá! Seu pai tinha problema de coração, mas a culpa foi desse Seu Augusto, porque tentou abusar de você e vocês tiveram que fugir. Tenho ódio desse homem!
— Mesmo sabendo disso tudo preciso ir... — Funguei. — Mas antes preciso falar com o Senhor Romão.
***
Tomei um banho, e depois coloquei um vestido simples. Na intenção de esclarecer a saúde do meu marido com o meu sogro.
***
Ele me recebeu muito receptivo e eu achando que não gostava de mim....
Contei o caso do seu filho e nós dois choramos juntos. Disse que resolveria tudo.
O Senhor Romão não podia ir no hospital ver Edu, pois ele se encontra muito doente.
— Sei que vai cuidar minha filha. Sabe, sempre tive receio de você com meu Edu, achava que você o colocaria em uma encrenca, mas no fundo, secretamente torcia por vocês.
A nossa conversa durou mais alguns minutos, antes de nod despedirmos.
***
Estou indo para o casarão e logo na entrada está dois seguranças. Seu Augusto desceu as escadas todo prepotente.
— Ora,ora! Quem acaba de chegar para a festa! Minha futura esposa!!