Capítulo 1
Ouvindo a voz do médico ao fundo, enquanto o choque me consumia acabei chorando, derramando muitas lágrimas devido o estado original do meu marido.
Sou apaixonada por Edu desde muito novinha, desde antes de me entender por gente. Não podia acreditar que essa maldita doença poderia tirar ele de mim.
Fiquei sem ação além de chorar, pedindo aos céus um milagre em nossas vidas, podia sacrificar qualquer coisa em nome desse amor.
A única coisa que me consolava nesse instante de pura desolação, era relembrar da época da fazenda, de quando eu e Eduardo nos conhecemos.
Era uma menininha quando o avistei pela primeira vez...
Flashback
- Oi menina linda! Está brincando de que?
Eduardo se aproximou de mim, abaixando-se ficando na mesma altura que eu. Quando olhei pra ele, achei que fosse uma espécie de anjo protetor.
Morávamos na fazenda do Senhor Augusto, no interior de Minas Gerais.
É claro, que durante nossa moradia nunca tinha visto ele antes, fiquei sabendo depois que o seu pai trabalhava e morava ali na imensa propriedade do empoderado fazendeiro. Todos os funcionários conheciam, menos essa garotinha, se chamava o caseiro Romão.
O Senhor Romão morava nos fundos da fazenda, local bem escondido, afastado do lado principal, já eu e meus pais: Thomas e Carla Albuquerque morávamos na casa ao lado do casarão, bem perto do todo poderoso daquelas terras.
A fazenda do Senhor Augusto tinha 30 mil hectares, então era impossível que alguns funcionários se encontrassem no dia a dia.
Meus pais eram empregados desde Senhor, e trabalhavam dentro do casarão, já eu, quando não estava na escola ou com os meus pais, ficava perambulando pela fazenda.
Nasci e cresci naquela região, conhecia cada pedacinho, só não tinha muito amizade com as pessoas.
Era meio solitário, então conversava com os cavalos, as galinhas, os porcos, as vacas e os bois, eles eram os meus melhores amigos.
E naquele dia, pela primeira vez fui brincar logo naquele específico derredor, conhecendo-o.
- A menina linda não quer falar comigo? Eu me chamo Eduardo, mas pode me chamar de Edu.
Ele estendeu a mão sorrindo, apertei, olhando dentro daqueles olhos azuis. Tinha cabelo loiro liso um pouco jogado para o lado.
Simpaticamente havia se abaixado para falar comigo enquanto estava sentada mexendo na casinha com as minhas bonecas.
- Me chamo Letícia, quer brincar comigo?
Uma relação sem malícia ou maldade se iniciava ali. Naquele dia brincamos de casinha, ele foi meu primeiro amigo. Descobri sua idade e que era tão solitário quanto eu.
Logo o levei pra conhecer a fazenda do patrão, ele gostou de tudo que tinha lá, mas o que mais chamou sua atenção foi o gado.
O ramo principal da fazenda do Senhor Augusto era a pecuária, ele tinha 5 mil bois e vacas.
Edu nasceu e cresceu no Rio de Janeiro e quando seus pais se separaram, o seu pai veio trabalhar e morar na fazenda como caseiro.
Estávamos no mês de novembro, nas férias escolares. Passamos um mês inteiro nos conhecendo, conversamos de quase tudo, dizia que eu era muito madura pra minha idade... Me lembro que brincamos de pique alto, pique cola três vezes... Tudo na maior inocência. Edu me respeitava muito.
Até que um dia faltando 5 dias para o Natal... Estava chovendo muito e me encontrava preparada pra ir dormir, mas avistei Eduardo debaixo de uma árvore olhando para a janela do meu quarto.
Estava todo encharcado e com os olhos vidrados, achei estranho, porém peguei um guarda chuva e uma capa.
Abri a porta e o guarda chuva, mas ao sair correndo em sua direção Edu se virou, querendo ir embora...
- Edu!! Edu!! Não vá!! O que aconteceu?! - Gritei no meio do temporal.
Edu se virou com lágrimas nos olhos, expressão carregada de dor. Ouvi um trovão e pulei de susto.
- Menina linda... Eu sinto muito...
Mas vou ter que ir embora hoje!
Não poderei passar o Natal com você! Como nós queríamos... e vou ter que... - Disse com o olhar angustiado.
- Mas por quê!? Fiz algo errado!? -Perguntei já querendo chorar porque ele era o meu mundo. Tinha me apegado a essa amizade pura.
- Nunca!! Pelo ao contrário, o errado aqui sou eu nessa história toda... mas um dia não será mais, e todos irão enteder o que si...
Edu tocou no meu rosto enxugando uma lágrima minha, olhando no fundo dos meus olhos, e eu o olhei de volta naquela imensidão azulada, tão lindos...
- Eu não entendi o que você falou!!
Mas você pode voltar para o ano novo!? Ou janeiro!? - Disse exasperada.
- Não, não posso mais voltar pra fazenda. Tenho que me afastar de você! É o que todos querem...
Falou num tom de tristeza, lágrimas escorrendo dos olhos.
Edu me beijou na testa sem mais nada a dizer, me deixou chorando debaixo daquela árvore, no meio daquela tempestade de raios e trovões...