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Imperatriz da Favela

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realistic earth
crime
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intro-logo
Blurb

Lorena Ávilla foi nascida e criada dentro do Vidigal, filha mulher e única herdeira da favela, localizada na Zona Sul do Rio de Janeiro. Seu falecido pai, Vitor Hugo Ávilla, mais conhecido como Cabeção, era sócio de uma rede de associados da máfia do Rio de Janeiro e narcotraficantes do Paraguai. Depois da execução violenta partindo de policias civis estaduais, Lorena tomou um ódio infindável do militarismo do Rio e jurou, diante do caixão do seu querido e amado pai, que se vingaria de cada um que acabou com a vida da sua única família. Sua mãe a abandonou quando ainda era um bebê, e seu pai a cuidou com todo zelo e amor do mundo, dando e mimando de todas as formas a sua imperatriz, como era chamada por ele. Depois dos seus 18 anos, completou os estudos pois era a única coisa que seu pai pedira enquanto treinava lutas, defesas pessoais e artes marciais num todo, fez treino de armas, de faca, aprendeu a pilotar e a dirigir e enfim, pegou o comando do morro com o sócio de Cabeção, que ajudou ela em todo o processo. Lorena, anos depois, com sangue nos olhos, fez seu nome crescer nos corredores da favela e aos arredores, mas no meio do caminho, um policial astuto, frio, arrogante e apaixonante, teria a missão impossível de se infiltrar no Vidigal pra balançar o coração da Imperatriz e poder executá-la assim como fez com o seu pai, mas os planos dele ruíram quando viu a bela morena brava, relutante e reluzente que teria que enfrentar. Será que ele conseguiria? Será que esse amor improvável poderá, um dia, existir?

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PRÓLOGO
Prólogo  CABEÇÃO NARRANDO   Quando eu ouvi o chorinho lindo dela, tudo transcendeu dentro de mim. Foi como se fosse mais uma força de dentro do meu coração pra fazer tudo certo e deixar tudo o mais lindo, confortável e sofisticado possível pra recebê-la. Minha princesinha, eu iria te proteger até o meu último suspiro, eu faria tudo pra que as coisas fossem incríveis na sua vida, eu vou te proteger até o meu último minuto de vida.   A vida nem sempre é fácil, no mês seguinte do nascimento da Lorena, Ana Lara foi embora. Minha mulher me deixou com uma criança de 1 mês, sem leite, sem nada, simplesmente foi sem a mínima piedade. Não me deixou uma carta, uma justificativa, nada. Ela sumiu da minha vista, da minha vida, do mapa.   Por ser dono da favela, conhecia todo mundo, sabia quem entrava, quem saía, os passos de cada um. Uma mulher experiente, n***a, forte, tinha acabado de ganhar bebê, e sabendo das minhas condições, ela se prontificou em ser mãe de leite da minha filha, e eu nunca vou ser capaz de agradecer tanto por isso.   O nome dessa mulher é Cristina, e ela se tornou uma das minhas irmãs de alma. Eu forneci uma casa maior, com todo conforto possível e dei dinheiro pra que ela pudesse cuidar da minha filha enquanto eu trabalhava, e foi assim que a Lorena cresceu. Cresceu com os 4 filhos dela: Raimundinho, Patrick, Fabrício e Priscila.   Todo mundo sempre abraçou minha menina, e eu era grato a vida inteira por isso. Eu sempre pedia pra Cristina: quando eu morrer, cuida da minha filha. E ela vinha com um tapão na minha cabeça mandando me foder... Eu me divertia tanto, eu amava essa mulher.   Anos depois, Raimundinho e Patrick entraram pro movimento, Fabrício era o mais novinho. Lorena tinha 15 anos, e foi depois da festa dela que eu decidi colocar ela pra se virar. Lorena era geniosa, teimosa, mas muito dedicada e focada. Era uma boa líder, uma boa aluna, e sempre teve curiosidade sobre tudo no morro. Me perguntava todos os passos, me perguntava até porque a droga era embalada num papel transparente, ela tinha curiosidade e vontade de saber, embora eu não gostasse que ela se envolvesse, eu não podia controlar a curiosidade de uma adolescente.   Até que um belo dia, ela falou: Eu quero ser a próxima dona do morro.   Eu gritei, me assustei, fiquei descontrolado, mas eu parei pra pensar que esse era o exemplo que ela tinha, e eu não podia fazer nada, porque era minha vida. Eu não era um pai perfeito, era longe disso, eu era traficante, mafioso, e esse era o único homem com papel paternal que ela conhecia.   ***  - Arruma teus pano de b***a que eu vou te levar pra fazer uma missão. - Falo.  - Que missão? - Ela me olha desconfiada.   - Bora, cracuda. - Falo pegando minha bandoleira. Ela me vê pegando a bandoleira e se anima.   Essa garota era a própria ladra de salto, ela ama fazer uma merdinha, ama ser vida louca e não dá confiança pra ela não, era só ela e ela. 17 anos, e mesmo assim, a curiosidade aguçada só fazia ela me implorar e implorar pra ensinar a atirar, a dirigir, a lutar.  Entro na minha SUV, o Russo, meu braço direito, entra no banco do carona, Lorena entra de um lado junto com Raimundinho e Patrick, filhos da Cristina. Sai do Vidigal e fui pra um matagal abandonado que tinha um pouco distante da favela, estacionei num terreno abandonado, pegamos as armas na mala do carro, coloquei minha bandoleira, minha AK, alguns fuzis, pistolas, cada um com uma bolsa de armamento e entramos dentro da mata.  Paramos num lugar distante, com sombra, bastante árvores em volta, então era bem arejado. Coloquei as placas de tiro ao alvo lado a lado, do outro lado peguei algumas pedras coloquei uma do lado da outra com latinhas em cima, alguns obstáculos pra ficar mais difícil, junto com o Russo montamos um circuito pro primeiro contato dela nesse mundo.   Entreguei primeiro uma pistola pra ela, Lorena ficou eufórica, feliz da vida. Ela olhava admirada, o olhar dela deduzia perigo, ela se divertia com o errado. Arrumei a posição dela, a postura, ela estendeu os braços, olhou séria pro cano da pistola e alternada entre ali e a placa de alvo. Respirou fundo, firmou a mão na arma, fixou o pé no chão e como se tivesse nascido pra isso: mirou e acertou, bem no miolo do centro, o tiro perfeito.   Essa garota ainda me daria muita dor de cabeça, mas sei que seria uma ótima soldada. Ela ia pro lado, acertava os alvos com maestria, instruímos os obstáculos, ela abaixava a arma sempre ali bem na frente do rosto, os tiros certeiros nas latas me faziam vibrar. Raimundinho, Pk, Russo e eu de boca aberta babávamos. Parecia que ela tinha nascido pra fazer tudo aquilo, ela executava os movimentos da maneira certa, errava alguns passes, mas com o tempo ela aprenderia.  - c*****o, cuzão. - Raimundinho diz.  - Minha imperatriz. – Falo bobo.  - Nem eu sou tão bom assim. - PK diz.  - Parabéns, Lorena. - Russo era o mais sério de todos, se limitava com poucas palavras, mas me ajudava pra c*****o.    - Obrigada, gente! Eu tô muito feliz, adoro essa sensação de perigo. - Ela diz agitado.     Depois de uma aula espetacular de tiro, foi a vez de o Russo ajudar o Raimundinho, Patrick e Lorena com artes marciais. Antes de ele entrar pra essa vida, ele era professor kruang preta de muay thai, faixa marrom no judô e roxa no jiu jitsu, também fazia karatê e taekwondo. Todo mundo levou uma surra, mas aos poucos conseguiram pegar. Os treinos de artes marciais eram freqüentes, normalmente eles faziam três vezes por semana, era algo recorrente porque luta equivale sacrifício, e todos eles gostavam muito. Depois de um dia cansativo, voltamos rindo e brincando para o carro, as coisas estavam leves e a Lorena só falava no aniversário dela que seria daqui há 2 semanas, tudo lindo pra eu planejar a festa. Eu não, a Cristina, eu só dava o dinheiro e a mercenária faria de tudo do mais lindo. O presente dela seria uma pistola de ouro cravejada com diamante junto com um cordão escrito “Imperatriz” do mesmo material que eu já tinha mandado fazer e seria o presente do meu bebê. No dia seguinte, levantei cedo, tudo conforme o normal. Tomei meu banho matinal, coloquei uma bermuda de tactel da Hurley e minha regata da Adidas, coloquei meu boné e meu kenner, passei meu perfume aulas, desodorante e desci as escadas com a pistola na cintura, o radinho e o meu celular. Passei pela Isabel, a menina que ajudava a limpar a casa, fazer comida e tudo mais, eu não gostava de chamar ela de empregada, pra mim, ela era só a menina que me ajudava em casa. O cheiro do café já invadiu meu nariz, sorridente, me sentei na mesa, peguei o jornal pra ver as notícias do dia. Ela me serviu uma xícara de café e um pão com queijo e presunto também. - Cadê a Lorena, Isa? – Pergunto olhando no meu relógio da Bvlgari, já era 08 horas da manhã. - Já foi pra escola, seu Hugo. – Responde e eu concordo, está certa. Gosto assim, responsabilidade primeiro. Depois de comer, dobro o jornal. - Obrigada pelo café, Isa, ta sensa. – Levanto, jogo beijo e saio pela porta de casa. Minha favela estava tranqüila, graças a Deus. Monto na minha XJ6, e vou andando devagarinho olhando o movimento da favela, passo no seu Beraldo pra comprar um cigarro, coloco no bolso e aceno pra todo mundo que me cumprimenta. Aqui na favela, eu sou tranquilão, não tem papo torto pra cima de mim. Quem precisar de ajuda tem minha ajuda, aqui é certo pelo certo. Vou pro casarão, mais conhecido como boca de fumo, aqui é composto por uma kitnet basicamente, era uma casa abandonada, pichada, o portão de madeira já estava todo decaído, os moleques colocavam uma mesa enorme de madeira com as drogas em cima pra vender, chamávamos de mesão. Dentro do casarão ficava o depósito, um envelopava as drogas, outro cuidava da contabilidade e ficava nisso aí. Eu ou o Russo tomávamos conta do dinheiro que entrava e saía, Rato e MP envelopava as drogas, eram soldados da favela. Os demais soldados ficavam tomando conta do mesão, alguns vapores faziam ronda na favela e também tinha os aviãozinho que ia pra Zona Sul vender aos playba. Sinto meu celular vibrar e olho no visor, era o Marcondes. Marcondes era o narcotraficante mais brabo do Paraguai, juntos tínhamos uma gangue de mafiosos basicamente ligados a traficantes do México, Paraguai e Brasil, só países da América do Sul. Além de fazer trocas e comercialização de drogas, também fazíamos roubos de bancos centrais, carros e motos de luxo, funcionavam com carros fortes durante a madrugada, e reuníamos os melhores homens pra poder fazer a missão. Dependendo de quanto tirávamos, 20% limpo era dividido entre esses homens. Conseguíamos a planta de tudo, de todo território que iríamos fazer o roubo. Independentemente do local, poderia ser em qualquer país, mas concentrávamos os roubos na América do Sul. Eu sempre dizia que caso eu não estivesse mais aqui, quem assumiria era a minha filha, Lorena Ávilla. Eles desdenhavam por ser uma mulher, mas eu mostraria que a minha filha é capaz de coisa pra c*****o. Marcamos uma reunião essa noite em um cassino clandestino no Paraguai, recheado de drogas, whisky, jogos e apostas, cerveja das melhores marcas e mulheres de todos os tipos e estilos, tudo luxuoso. Sempre tínhamos que levar uma acompanhante de luxo, era obrigatório. Liguei pro Jordan, que era um dos homens do carro forte e agora, se tornou meu piloto oficial e também meu guarda-costas quando eu saía da favela e acionei explicando de como seria o proceder. Ele não conhecia a Lorena, e eu expliquei que essa noite ela iria ser minha acompanhante. Tá na hora dela ver o serviço, já que enche a boca pra falar que quer ser a minha sucessória. Quando deu 13h da tarde, normalmente ela faria o treino com o Russo, mas hoje seria diferente. O Russo não sabia muito do esquema, só sabia que eu era fechado com uns caras lá de fora e ele achava que era só drogas, e eu preferia que se mantivesse assim. Quanto menos gente souber de onde eu tiro realmente o dinheiro que eu tenho, melhor. Ligo pra ela, e espero chamar. - Fala, fedorenta. Sobe no casarão rápido que eu quero levar um lero contigo. – Falo simplesmente e desligo. Não demora nem 10 minutos e ela sobe com sua BMW S, Rosa Pink, que eu fiz questão de comprar. Essa praga era mimada pra c*****o! - Pô pai, como que você faz isso comigo? Quer me matar do coração? – Ela diz descendo o descanso e vindo até mim. Primeiro dá a bença, beija meu rosto e eu puxo ela pra um canteiro afastado do pessoal. - Hoje você vai numa missão comigo, beleza? – Falo e ela concorda feliz. – Essa missão exige que você seja muito, mais muito profissional. Eu definitivamente vou te avaliar se você realmente vai estar apta quando eu decidir que é hora de eu me aposentar do Morro. Lorena me olhava concentrada e concordava. - Você vai pegar meu cartão, vai ao shopping e vai comprar uma roupa incrivelmente deslumbrante, ok? – Falo estendendo o cartão, ela perde o fôlego durante algum tempo, eu dou risada, mas ela se mantém séria, e eu gosto disso porque é exatamente disso que eu preciso. – Compra uma roupa, um sapato pra combinar e acessórios. Faz o cabelo, sei lá, faz o que quiser mas esteja pronta no máximo, às 21 horas da noite. Combinado? Ela concorda e eu beijo sua testa. - Pai, quando você diz deslumbrante, é deslumbrante, né? – Pergunta e eu concordo. - Nada muito menininha, esteja o máximo de empoderada que você conseguir, algo sexy, algo que te deixe p**a pra c*****o. – Ela só acena e manda beijo. Hoje promete. *** Às 20h35, eu já estava pronto. Meu smoking preto, casual, já estava no corpo. A calça social, o sapato e a camisa branca caíam como luva no meu corpo. O paletó estava no meu ombro, e a camisa social não tinha p***a de gravata borboleta porque eu não gostava, apenas abria dois botões de início e estava ótimo. Atendo o telefonema do Jordan dizendo que estava no Heliponto na Lagoa Rodrigo de Freitas, assobio pra Lorena e saio do quarto, desço as escadas e aguardo a bonita. Pelo menos ela estava no hora, sento no sofá e fico vendo coisas irrelevantes no celular. Ouço alguém coçar a garganta e elevo os olhos no topo da escada, quase caí pra trás quando vi minha filha. Lorena era linda, a pele morena sobressaia com os pêlos do corpo loiro loiro, o cabelo ondulado-cacheada caíam em camadas, ela tinha feito luzes loiras, e os cachos estavam bem armados e penteados. O vestido vermelho com uma enorme a******a no inicio da coxa até o final, me deixou com ciúme. Minha bebê estava linda. A alça dourada do vestido e o tecido de seda caiu como uma luva no corpo dela. Lorena estava com jóias brilhantes, e um salto alto mais alto que ela, brilhante também. A maquiagem escondia o rosto verdadeiro dela, mas estava lindo. Jogo o paletó no sofá, puxo minha arma da cintura e bato com ela nas minhas mãos em forma de bater palma, ela ri. - Minha imperatriz, você tá perfeita. – Falo com lágrima nos olhos e ela ri, me abraçando. - Larga de ser bobo, pai. – Ela me abraça. - É sério, c*****o. Vou matar todo mundo naquela p***a hoje... – Coço a cabeça e ela ri, puxo meu paletó, puxo ela pela mão e o Feijão, meu soldado, estava na frente de casa pra me levar, abro a porta de trás pra minha filha e entro no carona. Quando ele viu a Lorena pelo retrovisor interno, chega ficou tonto. - Olha pra frente, seu filho da p**a. - Qual foi, chefe... – Diz sem graça. Saímos dali, fomos rápido pra Lagoa, e quando a Lorena viu que íamos pegar o helicóptero, o sorriso se multiplicou. *** Assim que pisamos no Cassino, que estava com a luz baixa num tom avermelhado, a atmosfera mudou. Absolutamente todos os homens olharam pra minha filha, eu não podia demonstrar, mas tinha me deixado puto pra c*****o. Vai olhar a filha da p**a que pariu! Antes de entrar, de fato, no Cassino, eu expliquei pra Lorena absolutamente tudo que tinha que ser explicado. O que seria falado, o que eu trabalhava além da comercialização de drogas, o que ela poderia ouvir e o que ela não deveria fazer. Ela me olhava atentamente, não sabia exatamente o que ela pensava e no momento aquilo não importava, estávamos entrando em um lugar sério. Marcondes veio me cumprimentar, feliz da vida. - Fala, meu amigo! – Ele batia nas minhas costas. Lorenzo que era traficante do México, Marcondes do Paraguai, Bradock dono do Alemão e Calibri dono da Rocinha também levantaram pra me cumprimentar. Tinham mais uns outros 3, porém eu não tinha muita amizade e nem fazia muita questão, eles eram traficantes de subúrbios do México e Paraguai. No total, éramos 7. 3 do Brasil, 2 do México e 2 do Paraguai. Todos eles olhavam com espanto pra Lorena, era uma latina, queimada e bronzeada de praia, com marquinha de biquíni. O olhar de fome era nítido. - Que mulher, hein, Cabeção? – Lorenzo diz admirado. - Lembra quando eu falei pra vocês que quando eu me aposentasse minha filha que seria minha sucessória? – Eles concordaram, mas Marcondes desdenhou. - De novo esse papo, Cabeção? – Pergunta e eu concordo. - Sim, porque essa é a minha filha. Lorena Ávilla, mais conhecida como Imperatriz. – Pego na mão da minha filha e faço ela dar uma meia volta na minha frente. - Olá, rapazes. – Ela sorri tímida, mas era um sorriso, um olhar e um andado diferente. Ela já estava colocando a Imperatriz, sucessória, em cena. Marcondes puxou uma poltrona pra mim, ainda embasbacado com a Lorena. - Ela é perfeita. – Ele diz gaguejando. - Muito obrigada. – Lorena responde, sensualmente, e pisca. Já não estava gostando dessa cena toda não. Ela senta no braço da poltrona como toda acompanhante faz, e cruza as pernas. Lorenzo não tirava os olhos dela, estava vidrado, e eu dei uma risadinha discreta. Espero que ela não me dê dor de cabeça. A reunião se iniciou, whisky pra cá, cerveja pra lá, a música ambiente nos permitia conversar em paz. O ponto fixo nessa reunião seria o assalto a joalharia mais rica e conhecida do Chile, seria um pouco mais arriscado, mas com quase 100% de sucesso.   Lorena saiu ao bar para pegar uma bebida, Lorenzo também saiu e Calibri. Decidimos jogar poker pra eu ir embora, depois de perder 20 mil pro Marcondes, sinalizei o Jordan, chamei a Lorena e fomos embora. Me despedi de todos, ela também se despediu e fomos. - c*****o, que incrível, p**a que pariu! – Ela dizia eufórica, rindo, a boca toda vermelha, como se tivesse beijado muito. - Beijou quem, Lorena Ávilla de Carvalho? – Pergunto me acomodando no banco do helicóptero e ela arregala os olhos como se tivesse pega no flagra. - An... An? – Gagueja. - Fala logo. – Resmungo. - Lorenzo. – Ela diz quase como um sussurro. - Hum. - Larga de ser ciumento, homem. – Ele vem até mim, deita no meu colo e fica igual um bebê deitada, com a cabeça no meu ombro. Abraço seu corpinho crescido e apoio meu queixo em sua cabeça. Meu coração aperta, pressiono ela nos meus braços como se a vida dependesse disso, beijo seus cachos e ela cochila enquanto os primeiros raios de sol se chocam no horizonte. Assim que entro no carro, Feijão é acionado no rádio. O meu rádio mesmo eu tinha esquecido em casa, e também não ia conseguir interferência com eles do outro lado do território, então não me importei muito, preferi acreditar que estivesse tudo bem. - Qual foi Feijão, tá com o Cabeção já? – Russo diz na linha, pego o rádio e responde. - Fala comigo, mano. – Responde. - A civil ta subindo, brota logo c*****o. – Os fogos do fundo me deixaram tenso. Feijão pisa no acelerador, e para no pé do Morro, o barulho de tiro dava pra ouvir há dezenas de quilômetros. Lorena assustada me olha, mando ela descer. - Pai, não vai, por favor! – Ela diz desesperada. - Filha, papai não tem esse opção, fica aqui até a poeira abaixar, vai pra casa da Ananda. Toma cuidado. - Tiro dinheiro da carteira, dou pra ela mas ela agarrava minha blusa, completamente desnorteada, e isso me preocupou. - Pai, pai...! – Ela chorava, me beijou no rosto e pulou do carro. Meu coração acelerava, ela nunca ficou assim. Suspiro fundo, Feijão acelera e sobe o morro com tudo. Subimos o vidro do carro, o mar de tiro que vinham pra cima da gente me deixou eletrizado, pulei pra fora quando vi o casarão, coloquei o colete, peguei minha bandoleira, minha fuzil, pistola e bala. A bala estava comendo, corri pra lateral do Morro, pulei de laje em laje enquanto atirava em todos os homens fardados que via na minha frente. Eu não sabia a posição de ninguém, não sabia onde estavam, o que queriam, só sabia que era a Polícia Civil. Desci as escadas de um terreno baldio, ofegante, pingando de suor, miro na lateral vendo a cabecinha de um policial na lateral do bar do seu Beraldo, atirei e no mesmo momento fui atingido no braço e abaixei com o susto, no mesmo momento que atiraram no meu ombro. Os coletes do Casarão eram quase que contados, eu não encontrei o meu, tive que colocar um que já estava desgastado pelo uso. Cai e gritei com o impacto da bala, olho pra frente e vejo uma mulher descalça, de vestido longo escondida. Meu olho arregala, era ela, reúno forças pra levantar e sinto o impacto no peito, mais um tiro, a dor dilacerante me fez gritar mais uma vez. Essa p***a de colete estava tão fodido assim? A careca na minha frente me fez tremer, era o Carlos Atanázio, ele sempre quis minha cabeça, era o cargo mais alto e o mais velho da Polícia Civil, ele estava bem no alto na minha frente com a arma apontada. Eu tremia, meu olho baixo, minha boca com gosto de sangue e só saía sangue. Na minha mente só tinha ela, meu anjo moreno, eu queria gritar pra ela sair dali, pra ela fugir pra bem longe, eu não queria morrer na frente dela. - NÃO! – Ouvi um tiro na mesma hora que ele atirou. Um tiro só, um tiro certeiro, um tiro que me fez perder o que sobrou de vida, e conseqüentemente, a evolução da minha filha como mulher e como Dona do Morro do Vidigal.

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