✔ 46. Vergonha:
✔ 46.1. Na cozinha:
O dia se fez bonito com o céu com poucas nuvens que eram levadas pelo vento, o sol aquecendo as primeiras horas do dia. Na fazenda Encantos funcionários já exerciam sua função, na cozinha da casa grande Julieta não escondia sua felicidade. Na noite passada, quando chegou em casa percebeu a porta do quarto de Aurélia aberta, quando espiou encontrou a cama arrumada, o quarto vazio. Se Aurélia não estava no quarto, só existia um lugar em que poderia estar. Quase pulou de alegria, Aurélia estava no quarto de Benjamin. Felicidade em saber que os dois estavam dormindo juntos, que mesmo que ele negasse, que tentasse resistir, estava falhando.
Seu menino seria feliz.
Com gosto preparou a mesa para o farto café da manhã, bolos, biscoitos, torradas, pães, suco, leite, achocolatado, frutas, tinha de tudo um pouco. Era exagerada. Não demorou para o aroma de café fresco tomar conta do ambiente.
_ Bom dia! Vejo que cheguei em uma boa hora.
Rosário anunciou sua chegada.
_ Bom dia, Rosário.
_ Estou ansiosa para ver Benjamin. Ele ainda está dormindo?
_ Sim, e não ouse fazer nenhum barulho, não quero acordá-los.
_ Pedro também está dormindo?
_ Sim, mas não me refiro a Pedro e sim a Benjamin e Aurélia, não quero que sejam incomodados.
_ Aurélia é a moça que Benjamin defendeu na festa?
_ Sim.
Não demorou para Pedro aparecer na cozinha, mesmo dormindo tarde possuía o costume de acordar cedo, sempre no mesmo horário.
_ Benjamin e Aurélia ainda não acordaram?
_ Não.
_ O assunto de Vale dos Lírios hoje com certeza irá ser os dois, Delegado Baumann, ameaça com uma arma, homem que importunava sua acompanhante na Lily Fest.
_ Benjamin deveria era ter dado um tiro naquele infeliz desavisado, que ousou assediar a sua namorada.
Rosário estranhou, ouvir que Benjamin estava namorando era um tanto estranho, ele sempre refutou relacionamentos.
_ Pensei que Benjamin nunca namoraria.
Julieta recriminou Rosário com um olhar fulminante. Ergueu as mãos para o alto.
_ Repreenda Senhor! Repreenda esta mulher com pensamentos equivocados. Repreenda. Não os deixe perpetuar.
Rosário estava ansiosa por rever Benjamin, Julieta para ver a expressão envergonhada dos dois.
Pedro não continha o riso, feliz por ver a mãe alegre, contente com a presença do seu filho, fazendo planos de almoço em família. Sabia que sua mãe sempre desejou reunir toda a família, como no passado, os filhos, netos, nora e genros, o seu pai. Mesmo separados Fernando não ficaria de fora.
A presença de Fernando, deixaria o ânimo da senhora exaltado. Os dois sempre trocavam farpas, pareciam duas crianças briguentas, bastava se encontrarem para a implicância começar. Passavam o tempo todo se provocando, chegando a ser engraçado ver os dois juntos.
✔ 46.2. No quarto:
No quarto Aurélia e Benjamin despertavam, não estavam abraçados, como um casal apaixonado, mas estavam próximos, as pernas entrelaçadas.
_ Dormiu bem?
_ Muito e você?
_ Dormi bem até você começar a roncar.
Ela ficou ruborizada, mesmo percebendo o sarcasmo na voz de Benjamin.
_ Eu não ronco. Está mentindo.
_ Da próxima vez gravarei, assim não poderá dizer que estou mentindo.
_ Benjamin, isso é sério? É verdade que eu ronco?
O olhar triste de Aurélia o fez desfazer a brincadeira.
_ Estou brincando, você não ronca, apenas suspirou algumas vezes, quase como um gemido.
_ Gemido?
_ Sim, como os que deu ontem a noite.
O rosto de Aurélia que já estava corado ganhou ainda mais cor. A vergonha a fez esconder o rosto com as mãos. Benjamin sentiu vontade de rir, mas se conteve, não queria a deixar mais envergonhada e muito menos que entendesse errado, pensando que ele estava rindo dela.
_ Não tem motivos para sentir vergonha, adorei ouvir cada um deles.
Quando se lembrou que teriam que encarar Julieta, ficou tenso, havia se esquecido que estavam na casa da sua avó, que naquele momento deveria estar pensando que os dois estavam de saliências no quarto.
“Pobre Aurélia, se ficou envergonhada comigo que fui o responsável por a fazer gemer, não consigo nem imaginar como ficará quando encontrar com a minha avó.”
Pensou.
Seria cômico se não fosse trágico. Aurélia corada de vergonha e ele fodido.
Com a presença do avô tudo poderia ser infinitamente pior. Benjamin não sabia que o avô estava na cozinha o esperando. Fernando, não foi até o seu quarto o acordar porque foi ameaçado por Julieta.
Fernando Baumann, estava na fazenda para rever o neto, Pedro o avisou que Benjamin estava na fazenda.
Pedro avisou ao pai, que não aguentou esperar o fim do dia para receber a visita do neto.
Apesar de estarem separados há muitos anos, Julieta e Fernando, conseguiam conviver bem.
Não aceitavam que ninguém falasse m*l de um deles, falar um do outro, somente os dois podiam. Eles diziam que um era a cruz um do outro. A cruz para eles representava as dores, o sofrimento, as tristezas, tudo o que tiveram que abdicar durante a vida, a imposição feita a cada um deles. Caminharam juntos, um apoiando o outro, sendo a mão que ajudava a sustentar o peso da cruz. No final, a cruz para eles representava tudo o que viveram para serem livres.
A história de Fernando e Julieta, teve um início difícil. Aceitação, resignação, aprendizagem. Difícil, mas juntos superaram.
_ Aurélia, você está com vergonha de mim que fui o responsável por a fazer gemer. Como irá ficar quando sair desse quarto e encontrar com a minha avó e meu pai?
_ Céus! Morrerei de tanta vergonha.
Postergar o inegável era inútil, não havia como fugir. Precisava de coragem para olhar para a dona da casa, que naquele momento deveria estar pensando o pior dela.
“A senhora Julieta deve estar pensando que sou uma oferecida, uma mulher sem valor, uma messalina. Deus, que ela não brigue.”
_ Hoje começamos com as aulas de tiro, então não podemos passar o dia aqui, fugindo do inevitável encontro com a minha avó.
Ela assentiu.
_ Sugiro que vá para o seu quarto, se arrume, vista uma daquelas calças que as mulheres usam na academia e calce um tênis. Também irei me preparar, assim que acabar aqui a chamo em seu quarto, assim enfrentamos a senhora minha avó juntos.
Com Benjamin ao seu lado seria bem mais fácil.
Aulas de tiro, era tudo o que não desejava aprender. Odiava armas.
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Lidar com o novo assusta e foi exatamente o que aconteceu com ela. Benjamin também estava assustado.