MIA
Eu estava tão irritada, que poderia matar aquele homem. Como ele pôde falar aquelas coisas sobre mim? Como não sentia o peso das próprias palavras?
Eu não era a mais bonita, a mais alta, nem a mais sensual. Diria que estava na média. Não fui contratada para agradar visivelmente ao meu chefe, mas parece que isso importava para ele. Portanto, Aaron me forçou a ir até àquela loja.
Nunca fui tão humilhada. Não só por suas palavras, mas pelas atitudes. Ele simplesmente nos fez sair no horário de trabalho só para comprar roupas. Esse é um tipo de humilhação pelo qual eu nunca tinha passado antes.
Comentários maldosos da minha irmã já me deixavam para baixo há muito tempo. Ela, diferentemente de mim, tinha tudo que queria: usava roupas da moda e era perfeita com seu corpo magro e em forma. Porém, eu nunca fui de me importar com essa parte. Desde muito cedo focava nos meus objetivos e não tinha tempo de adquirir um gosto pessoal por algo tão banal.
Sim, eu sabia que para estar ao lado de Aaron Jackson não poderia usar qualquer coisa. Geralmente, eu gostava de moletons, calças largas e blusas finas e macias, só que, para o trabalho, pensei que o traje formal iria agradar a todos. Grande engano o meu. Ele queria que eu me tonasse uma de suas milhares de funcionárias de cintura fina, cabelos loiros e ondulados e roupas justas e provocantes. No entanto, eu não me achava bonita o suficiente para ser tão corajosa de usar esse tipo de roupa.
— Deveria tê-lo visto falar. Parecia que eu estava de pijama, e não com roupas de alfaiataria comportadas — resmunguei, sem querer saber se parecia uma criança ou se reclamava de boca cheia, já que não seria o meu cartão de crédito a ser cobrado no final. — Foi humilhante. Parece que esse homem não foi ensinado a ter bons modos.
— O chefe é assim mesmo. Se tivesse lido as legras minúsculas no seu contrato antes de assiná-lo, teria visto as objeções dele em relação ao vestuário — Sadie comentou.
Ela era uma boa pessoa. Poderia considerá-la uma amiga. Pacientemente, foi comigo àquela loja cara. Óbvio que a mando de Jackson.
— Isso não está no contrato — eu a contrariei, surpresa. — Não pode ter.
— Tem sim, é bem sutil. E acredite, deve se adequar ao que ele quer. Pelo menos durante o horário de trabalho. Ele tem um temperamento forte e não se importa de dizer tudo que pensa na sua cara.
— É, eu percebi — comentei, pensativa. — Isso não é errado de alguma forma?
— Não sei. Ele não te obriga a nada, mas também não vai te dar muitas oportunidades de negar. Pode até demitir você se recusar algo e não se importar se vai levar um processo por isso.
Isso ficava pior a cada minuto.
— i****a! — sussurrei. E ela ouviu, pois riu do meu comentário. — Não precisa exagerar. Pode ser algo simples, mas que ele vá aceitar — pedi. — Não sei como vim parar nessa situação — lamentei. — Era a minha oportunidade de brilhar. Pensei que fosse um emprego com o qual sempre sonhei, mas...
— Esse é o efeito Aaron Jackson. — Sadie se vira e estende uma peça de roupa em minha frente, medindo-a só com o olhar. Devia fazer isso sempre.
— Efeito Aaron Jackson?
— É — confirmou e abriu um grande sorriso, crendo eu que aprovando a sua escolha. — O cargo é ótimo, o salário também, e chegar logo de cara na presidência da empresa... Isso sim é sorte. Mas, por fim, você descobre que tudo não passa de uma ilusão. O chefe é exigente, tem muitas normas e fala o que pensa de você sem se importar com seus sentimentos. Você não foi a única. Esses são os efeitos que esse homem causa: felicidade e desilusão.
O sorriso largo dela caiu no mesmo instante em que levantou o olhar por cima dos meus ombros. Com os olhos arregalados, voltou a procurar peças.
Virei-me para saber quem havia chegado e tive uma enorme decepção. Aaron andava até nós, prestando atenção no seu aparelho telefônico. As mulheres que estavam na loja quase babavam por ele. As malucas nem sabiam como ele era arrogante e egocêntrico.
— Qual o porquê de tanta demora? — ele questionou ao nos olhar, com o cenho franzido, por alguns instantes. — Tenho afazeres e preciso de você.
— Eu não estaria passando por isso se não tivesse me obrigado a vir até aqui. — Cruzei os braços.
Ele levantou uma das sobrancelhas e me encarou como se fosse me sufocar com suas mãos. Percebi que eu tinha feito aquilo de novo. Até que era engraçado, mas não poderia perder o emprego.
— É para eu estar chateada, não você.
— O que falei sobre me responder desse jeito?
— Não estamos na situação na qual devo calar a minha boca — justifiquei. — E não sei por que o senhor está aqui. Quer presenciar ainda mais a minha humilhação?
— Deveria me agradecer por fazer esse favor a você. — Ele poderia estar bravejando agora, e eu sentia que queria, só que não faria isso na frente daquelas mulheres. — Posso poupá-la do trabalho se achar melhor ser demitida.
— Certo. Mas depois disso, não poderá reclamar de mais nada em mim — propus.
— Isso é só o começo, e acho que você ainda vai perder essa sua língua se não parar de me responder desse jeito.
Eu poderia matá-lo naquele mesmo instante. Ele estava perto o suficiente de mim para isso. Mas me contive. Teria que colocar na cabeça que Aaron Jackson era meu chefe e que tinha plenos poderes sobre o meu cargo. Então, por que não parar de provocá-lo?
— Mia, vamos ao provador. — Sadie me puxou pelo braço e deixamos o chefe para trás. Depois de entrar na cabine, ela me olhou, quase me dando uma bronca. — Você ficou louca?
— O quê? — eu me fiz de desentendida. — Ele merece ser respondido à altura.
— Ele é o chefe. O Aaron Jackson. Não sei nem o que estamos fazendo aqui. Pelo que sei do chefão, ele demitiu as outras por muito menos — alertou-me. — Então, pare de falar desse jeito com ele, ou vai acabar na rua.
— É que não dá — justifiquei, com raiva de mim mesma. — Costumo responder às pessoas sem pensar antes. Não era assim até ontem. Ele me ignorava. Mas hoje tudo mudou, e quando ele me provoca, eu dou o troco.
— Não pensa que ele está sendo bonzinho demais com você?
— Bonzinho? — Quase ri, em deboche. — Você viu como ele falou comigo? O que estamos fazendo aqui? Isso é ser bonzinho?
— Para Aaron Jackson, isso é normal — ela sussurrou com braveza. Era engraçado ver seu rosto pegar fogo quando estava chateada.
— Ele me advertiu, só que não seguro a língua quando ele é...
— O que estão fazendo nesse provador há tanto tempo? — a voz grave dele soou do outro lado e eu revirei os olhos. Esse homem era um perseguidor. — Já falei que temos que ser rápidos.
— Se não quiser, posso não provar nada e saímos agora mesmo, senhor — debochei, e então olhei para Sadie, que não estava nada feliz. — Ok, não vou fazer mais isso — sussurrei para que ele não me ouvisse. — Ficarei muda.
— Ótimo.
— Saia do provador. Esqueceu que tenho que aprovar a vestimenta?
Encarei a minha colega como se quisesse perguntar se isso era uma piada ou um delírio dele, porém ela só deu de ombros. Depois abriu o zíper da roupa enquanto eu tirava as que estava vestindo. Entrei no vestido de cor clara, querendo morrer.
Na minha cabeça, eu só me perguntava como eu podia estar aguentando passar por essa situação e por que eu não deixava aquele babaca de lado para procurar outro emprego. Só que no fundo da minha mente existia uma voz dizendo que eu não tinha tentado de tudo e que não me perdoaria se desistisse tão fácil.
Fui para aquela cidade para crescer e conseguir o que sempre quis: trabalhar com grandes empresários e mostrar o meu valor. E não seria Jackson que me faria desistir disso.
Depois de arrumar os cabelos e a roupa que estava vestindo, saí do provador, querendo me enfiar em um buraco. Botei um sorriso no rosto, que não era nada verdadeiro.
Ele estava sentado, bem confortável em um sofá branco em frente à cabine.
Eu estava me cobrando muito, já que prometi ficar de boca fechada. Isso, sim, era um desafio.
Aaron me olhou dos pés à cabeça, e, dessa vez, com mais intensidade, causando-me uma vergonha bem maior. Eu nunca havia me vestido daquele jeito. Olhei-me no grande espelho ao meu lado e enxerguei uma outra pessoa. Até que eu tinha curvas. Senti-me uma i****a se preparando para um show de circo.
— Melhor assim, chefe?
Odiei ver o sorriso de orgulho em seu rosto. Ele me venceu nessa, e, pensando bem, eu sabia que teria que me submeter a ele muitas outras vezes para permanecer naquele cargo.
— Viu? Não foi tão difícil. — Senti que iria ficar com mais raiva dele. — Quando as pessoas me procurarem, elas vão ter que passar por você, e quero que a recepção inicial seja agradável. Você até tem uma beleza debaixo daquelas roupas de velha.
— Não são de velha, eu gosto do estilo simples e...
— Cafona — ele completou ao seu gosto. — Usando-as, parece até que é uma virgem de trinta anos.
— Tenho vinte e sete. — Cerrei os olhos e cruzei os braços, com raiva.
— Discordou da idade, e não da posição de virgem. O que isso quer dizer?
Senti meu rosto arder e minhas mãos suarem. Isso não era nada demais e não me incomodava, porém algo no seu olhar não me agradava.
— Não quer dizer nada — neguei, batendo os pés. — Além do mais, minha vida não é da sua conta.
Sadie pigarreou atrás de mim e eu revirei os olhos por saber o que isso significava.
— Podemos ir agora? — O sorriso que exibi não foi de felicidade.
— Sadie se encarregará de terminar por aqui, já que sabe qual é o molde. Quero peças suficientes para que nunca mais ela tenha que usar aqueles trapos.
— Espera...
— Vamos. Pode usar isso hoje — ele falou sem ao menos me ouvir, levantou-se e saiu.
Olhei para a minha colega. Nem ela estava acreditando no que tinha acabado de escutar.
— Acho melhor você ir. Mando entregar tudo no seu endereço.