MIA
Meu terceiro dia no trabalho não estava indo como o esperado. Acordei atrasada e tive que escolher entre tomar um café para despertar e ficar de bom humor ou me arrumar. Então, fiz a escolha óbvia, porque eu poderia tomar um café no caminho, mas não poderia chegar ao trabalho atrasada e desajeitada.
Faltava dez minutos para as nove horas e eu ainda estava passando pelo hall de entrada. As pessoas circulavam normalmente pelo lugar e eu estava quase correndo.
Sempre me orgulhei de trabalhar duro e não reclamar dos meus pés doloridos, só que com aquele homem o negócio era outro. Eu poderia apostar que ele fazia aquilo de propósito, só para ver eu me desdobrar inteira. Ou era um teste para ele ver até onde eu aguentaria. Se fosse o caso, ele quebraria a cara, pois nunca fui de desistir. Nem mesmo com meu novo chefe parecendo mais um ditador do que um empresário focado.
Dei graças a Deus por faltar dois minutos para a sua chegada depois que pus os pés no seu escritório. Só tive tempo de colocar as coisas em cima da mesa, junto com alguns papéis que fui buscar e havia separado no dia anterior, antes de sair da empresa, e então já ouvi seus passos atrás de mim.
Eu esperava que minhas roupas não estivessem tão amassadas, ou isso seria mais um ponto para ele criticar.
Admito que o chefe tinha uma espécie de magnetismo fora do comum. Eu já havia me sentido atraída por homens aleatórios que eram super gatos, mas Jackson não era só um homem bonito, exalava masculinidade, tinha um olhar misterioso e me olhava de um jeito que me fazia pensar que ele tinha um interesse fora das normas por mim. Porém, era só eu me lembrar de onde estávamos e quem ele era, para essa magia acabar. Sem falar que o cara era um arrogante, que não tirava férias.
Eu sempre pisava em ovos com ele e só estava naquele cargo há três dias.
Aaron andou até sua mesa sem dizer uma palavra. Minha teoria era de que ele não queria notar a minha existência ou de mais ninguém quando acabava de chegar à empresa. Talvez fosse louco ou muito esnobe.
Afastei-me para sair e fui, imediatamente, interrompida.
— O que tem de errado com o seu guarda-roupa? — foi o que ele perguntou, fazendo-me olhar para o que eu estava vestindo e procurar algum defeito. Mas não tinha nenhum.
— Hã? Não entendo. O que tem o meu guarda-roupa?
Meu questionamento pareceu ser um absurdo para ele, que se deu ao trabalho de me encarar com firmeza. Eu me senti como se estivesse prestes a levar uma bronca. Jackson me olhou dos pés à cabeça, causando em mim aquela sensação odiosa de estar nervosa e ser desejada. Poderia ser só coisa da minha mente, porque ele era um homem rico, bem mais velho que eu e tinha milhares de mulheres ao seu redor. Contudo, isso não significava que eu não me sentisse atraída por ele. Ainda mais eu sendo tão inexperiente.
Não sei se o pior seria fazer o ato ou imaginar várias ocasiões e formas de fazer.
— Pensei que suas vestimentas fossem à altura do cargo, mas hoje é o seu terceiro dia e está... claro para mim que não são. — A frieza e insensibilidade que ele usou para falar isso me deixou irritada.
Eu tinha um defeito — ou qualidade — que vinha para o bem e, às vezes, para o m*l: minha língua não era presa como deveria ser. Aprendi a não esconder o que sentia ou o que pensava, e em muitas ocasiões nem percebia o que estava falando. Meus familiares diziam que existia um quinto m****o da família dentro da minha boca.
— Desculpe, senhor, mas minhas roupas não devem ser da sua conta. — Cruzei os braços. — Não estou desarrumada nem vulgar, então...
Meu patrão mudou instantaneamente a forma como me encarava. Ele cerrou os olhos e eu pude ver que não tinha gostado nem um pouco da minha resposta.
— Permita-me lhe lembrar de que está falando com o seu chefe. E sim, quando estiver nessa empresa, no horário de trabalho, sua vestimenta e modos são da minha conta. — Ele deu passos em minha direção, fazendo-me desejar voltar dois minutos no tempo, e eu tive que engolir em seco. — Deve tomar cuidado em como fala comigo, ou posso mandá-la embora em dois minutos.
— Certo. O senhor é o chefe, mas não significa que pode me rebaixar ou me criticar.
Eu queria me bater por não conseguir me controlar. Geralmente, eu era uma boa pessoa, obediente e sabia o meu lugar, porém não poderia deixar que esse homem usasse de sua posição para me menosprezar. — Perdoe-me se estou...
— Você está. E quando eu falo, não pode me responder — ele retrucou, quase furioso, encarando a minha boca. Quase achei que estivesse me provocando ao me olhar dessa forma. — Tem a língua solta — acusou-me. — Nos últimos dois dias não demonstrou essa rebeldia.
— Não sou rebelde, sou justa. Vai me demitir por isso?
— Já fiz isso por muito menos.
Ele estava a poucos passos de mim. Eu odiava ter que levantar a cabeça para o encarar, portanto pensava que ele fazia isso de propósito só para me provocar.
— Deseja mais alguma coisa, senhor? — Não abaixei a cabeça, o que só me colocaria em uma má situação.
Eu tinha que permanecer naquele cargo. Era a minha chance ali em Nova York. Nunca pensei que já chegaria me sentando ao lado da cadeira presidencial de alguma empresa, e acreditava que poderia estar arriscando o meu trabalho.
— Volte ao trabalho, faça-o calada e nunca mais me responda dessa forma.
Passei alguns segundos presa ao seu olhar e tive que piscar algumas vezes para sair da sua hipnose.
— Devo lhe comunicar que não será a última vez. — Ele achou que eu estava desafiando-o, pelo que pude ver em seus olhos. E para o bem da minha permanência ali, eu deveria explicar o meu lado. — Não é insubordinação, é que às vezes faço isso sem perceber.
— Então está me dando motivos para a demitir — ameaçou-me, falando entre dentes.
— Não pode me demitir. Ainda nem viu do que sou capaz. — Ri de nervoso.
— Você já deixou claro do que é capaz, Mia. É capaz de me provocar e me enlouquecer. Não permito que nenhum funcionário meu me responda desse jeito, seja no meu escritório ou na presença de qualquer outra pessoa.
Ele estava certo. Eu era uma secretária.
Sabia que esse era o início de uma batalha de farpas. Eu era desse jeito e nem sempre poderia segurar a minha língua.
— O senhor está certo — concordei, sentindo-me m*l. — Prometo não fazer isso na frente de ninguém. Vou segurar a minha língua. Mas não garanto que vou ter sucesso quando estivermos a sós. — Não sei o que deu em mim, mas ri da cara de mau que ele fez, deixando-o confuso. — Desculpa. É que... faço isso quando estou nervosa.
Creio que rir na sua cara foi pior do que o ter respondido.
— Saia da minha sala e cuide do seu trabalho antes que eu esqueça das leis e a tire do meu escritório.
— Sim, senhor.
Eu ainda tentava parar de rir. Estava quase me batendo por esse descontrole.
— E nunca mais apareça aqui vestindo esses trapos — ele falou com muita raiva, mas não gritou. Fiquei surpresa com o seu autocontrole.
Parei no meio do caminho, pensando no que ele disse.
— Não uso trapos, essas roupas são...
— Um lixo — completou.
Novamente, senti minha língua coçar. Pensei muito se o responderia ou não e tive que a morder.
— Pode parecer com uma senhora de cinquenta anos fora da minha empresa, mas enquanto estiver aqui, deve ser elegante e demonstrar finesse. Você me representa, é como uma extensão minha. E quando estivermos em reuniões, em jantares de negócios e viagens, deve estar à minha altura, então arranje roupas mais dignas de uma secretária executiva.
— Mas o senhor esquece que sou sua secretária. Meu salário não paga as roupas que exige. — Cruzei os braços.
Eu estava no cargo há três dias e, apesar do salário ser bom, ainda não tinha muito dinheiro para sair gastando com roupas de grife.
— O que quer que eu faça? Que jogue tudo fora e assalte uma loja? Me desculpe por ser tão... feia. Deveria contratar alguém como a Sadie. Ela é fina e se veste adequadamente.
— Acredite, eu quero muito demitir você agora.
— Por que não consegue ser um pouco mais educado?
Ok, eu estava cutucando a onça com vara curta. Até eu sabia que tinha saído dos meus limites.
Ele pegou o telefone sobre a sua mesa e discou algum número. Meu sangue gelou, porque achei que fosse uma ligação ao RH para me demitirem.
— Sadie, venha à minha sala neste exato momento, antes que eu jogue a novata pela janela — ele disse, furioso, e depois bateu o aparelho, desligando-o.
— Espera. Vai me demitir mesmo? — Voltei à sua frente, sentindo uma raiva imensa de mim. — Não vou mais respondê-lo, vou ficar calada, e prometo trabalhar em dobro. Será péssimo se...
— Cale-se. — Eu engoli em seco e o Senhor Jackson me encarou profundamente. Senti que cometi um erro ao chegar tão perto dele. — Não brinquei quando a mandei queimar tudo que veste agora. Eu poderia arrancar essas peças do seu corpo só por odiar olhá-las em você.
— Não vai me demitir? — Franzi o cenho.
— Tome cuidado. Não costumo ser bonzinho ou perdoar. — Ele se deu ao trabalho de se curvar e me olhar nos olhos, bem de perto. — Na próxima vez, eu mesmo a coloco para fora desta empresa.