Bônus Clarisse
Lembro-me de minha infância. Kira não sabe, mas eu sei quem é meu pai: o duque de Green. Sou filha bastarda desse homem, ele enganou minha mãe e se aproveitou dela.
Sei como a corte funciona e os podres que esconde. Mas ainda tenho que ser grata ao duque e duquesa por, mesmo sendo uma bastarda, me abrigarem em sua casa.
Quando Kira nasceu eu tinha cinco anos e já estava começando a trabalhar na mansão. Ela era um lindo bebê de olhos verdes e alguns fios pretos na cabecinha. Na época ela se tornou minha bonequinha e hoje a minha melhor amiga.
Eu ajudava a criada de leite, Malva, a cuidar dela e aos dez anos fui colocada como dama de companhia e criada de Kira.
Em todos os meus vinte anos a bruxa da duquesa fez de minha vida um inferno. Mas a primeira e última vez que chorei em frente a alguém foi aos seis anos de idade.
Agora estou aqui, em um navio viking e cercada de bárbaros fedorentos. O pior é aquele cabeça de fogo nojento e asqueroso.
Toda vez que o vejo sinto vontade de lhe arrancar os olhos com as unhas. Ele me irrita profundamente.
Assim que atracarmos preciso nos tirar daqui, sei que não estaremos nem um pouco seguras.
-O que tanto pensa? - Kira pergunta e a preocupação em meu peito cresce mais.
-Em nossa fuga.
-Não sei se conseguiremos – ela diz
Estou começando a me irritar com seu pessimismo. Sei que Kira é forte, mas no momento ela está muito pessimista e isso a torna mais vulnerável.
-Não fale isso Kira, por favor. Daremos um jeito.
-Mas o viking ruivo parece que iria até as profundezas para te buscar.
-O seu também não fica para trás. Ele te olha como fosse te devorar a qualquer momento.
-Não podemos negar que são…
Não a deixo terminar, me recuso a admitir que o ruivo descabelado seja bonito.
-Horríveis, desprezíveis…
-Não ia usar essas palavras, mas são também.
Rimos de nossa situação. Duas moças raptadas por bárbaros, que Deus tenha piedade da gente.
Kira Green
A noite esta fria, o vento sopra forte no porto em que estamos. Vejo os bárbaros tirando caixas repletas com vestidos de seda, ouros, joias e tantas outras coisas que foram roubadas.
Recordo-me da cena que presenciei na mansão. Corredores manchados de sangue, gritos de súplica, matança….Tudo ainda está bem claro em minha memória.
Imagino o tanto de lugares que já foram e saquearam. O tanto de famílias que perderam algum ente querido ou foram aniquiladas. Tudo pela ganância de um homem.
Saio dos pesadelos em minha mente com a voz de Clarisse.
-Kira, fica esperta, logo estaremos longe bem longe desses demônios na Terra.
Esculto as palavras dela, sinto toda segurança na sua voz. No entanto, quando olho em seus olhos vejo o medo e a insegurança presentes
— Não julgo que será fácil, Clarisse. Tenho medo e não acredito que nos deixarão fugir assim tão fácil.
-Kira, não temos a opção de falhar. Nossas vidas dependem disso, não quero ser uma meretriz, principalmente daquele i****a de cabelos vermelhos.
As palavras de Clarisse me fazem pensar no bárbaro. Seu jeito salvagem e forte, seu cheiro único...Tudo nele me faz lembra de um tigre, um animal salvagem e forte. Sem perceber deixo meu olhar vagar sobre todo o local a sua procura, em poucos segundos meu olhar se cruza com o dele. A forma com que ele me olha é como se dissesse ‘’você pertence a mim’’.
Sinto todo meu corpo esquentar e arrepiar.
Ele logo corta nosso contato visual para pegar um barril que estava no chão.
— Não deixe seu coração se iludir por ele, Kira. São selvagens que só querem nosso corpo submissos à vontade escrotas deles. -diz com desprezo.
— Nossa, Clarisse. Você fala tão fria, como se conhecesse todos os homens.-digo um pouco abismada.
Clarisse se demonstrou uma pessoa diferente de quando estávamos na Inglaterra. Está mais ousada e corajosa. Por um lado isso é bom, mas tenho medo dessa ousadia acabar lhe custando caro.
Ela me lança um olhar furtivo e logo vejo que está com algo escondido embaixo do seu vestido. Antes que eu pudesse perguntar algo, vejo ela chamando o jovem que estava próximo de nós.
Ele não conseguiu nem ter tempo de reagir quando Clarisse tirou de baixo do vestido um cálice de prata e com toda sua força bateu em sua cabeça o desmaiando.
— Meu Deus, Clarisse. Ele está morto? -pergunto preocupada.
— Suponho que não. Agora vamos. - fala apressada já se levantando.
Nenhum homem estava abordo, o que nos facilitava. Clarisse puxa minha mão e lentamente descemos do navio. Assim que pisamos em terra firme sinto minhas pernas bambas, Clarisse segura meu braço e me arrasta junto correndo, como se realmente nossas vidas dependessem disso. Escuto gritos e sei que estão atrás da gente.
Os passos deles ficam gradativamente mais fortes. Estão nos perseguindo e sinto-me como um animal encurralado.
-Kira, não olhe para trás e corra. Não pare de correr por nada.
Entramos cada vez mais na floresta. Meu coração está disparado, evito pensar sobre os perigos que estamos correndo.
Avistamos uma enorme árvore.
-Kira, subiremos nesta árvore.
Paro de correr e olho para ela. Como assim vamos subir em uma árvore?
Nunca em toda minha vida subi em uma árvore.
-Você perdeu o juízo, Clarissa. Sabe que eu não sei subir em árvore, nunca subi em uma.
Escuto eles se aproximando e meu coração dispara. Realmente agora estamos mortas.
Minha amiga olha para todos os lados procurando opções, até que fala:
-Kira, se esconda naquele arbusto.-aponta -Cuidarei de você.
Olho para onde ela está apontado e vejo um arbusto que deve estar cheio de bichos.
Sem pensar muito corro e me escondo. Vejo Clarisse subindo em uma enorme árvore e poucos segundos depois vêm o cabeludo e o ruivo iguais dois cães farejadores.
Sinto algo frio passando nas minhas pernas e em seguida sinto uma dor forte, um grito escapa dos meus lábios.
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Revisado por prettysavage116. ❤️❤️