Devlin estava olhando fixamente para o relógio preso na parte superior da parede lisa da recepção na clínica psiquiátrica. Os azulejos brancos ecoavam cada som, e ela tentou ignorar como a pressa dos enfermeiros ao seu redor borravam a sua visão periférica. Só fazia um dia que tinha aceitado o acordo de Tristan, e ela já estava se perguntando se tinha feito a coisa certa.
Neste ponto cabe dizer que Devlin nunca foi uma garota inocente. E que ela também não tinha mais idade para se prender a qualquer promessa vazia de um homem. Ela tinha apenas vinte e quatro anos, mas tinha vivido e aprendido com muitas situações indesejadas. O seu transtorno mental tão pouco fazia com que ela tomasse atitudes impulsivas. Deste modo, vale a pena dizer que ela só concordou com aquele plano estranho e meramente secreto de Tristan porque queria saber até onde poderia ir para conseguir a afeição suprema do homem.
Devlin nunca foi amada. Ela nunca escutou pessoas dizendo que esperavam que algum Deus a abençoasse. Ela nunca foi querida. Ainda que a sua mãe tenha se esforçado tardiamente a tentar estabelecer uma ligação entre as duas. Ainda que o seu padrasto tenha respeitado e ajudado nas suas situações de estresse extremo. Ela nunca escutou ninguém dizendo o quanto a estimava. E por pior que fosse pensar assim, foi um homem completamente sádico e com intenções péssimas que demonstrou sentir qualquer importância sobre a sua vida.
Devlin Knox era uma jovem mulher diagnosticada com transtorno bipolar. Tudo o que ela sentia em seu mundo, era dez vezes maior do que uma pessoa normal sentiria. A sua raiva se transformava no ódio; o seu amor se transformava em obsessão; a sua felicidade era a euforia; E a tristeza era semelhante ao luto. Devlin estava tendo tratamentos durante cinco anos para tentar lidar com aquele seu lado obscuro. Ela tinha crises que faziam com que se sentissem a criatura mais indesejada do mundo. E era nestes momentos que precisava de maiores cuidados, porque o seu primeiro pensamento sempre era tirar a própria vida. Devlin jamais sentiu que poderia machucar alguém, porque a sua doença fazia com que ela se martirizasse acima de todos.
De qualquer maneira, não se pode dizer que Devlin Knox tenha sido inteligente ao selar um tipo de pacto com Tristan. Ela estava parada diante do balcão da recepção, observando os ponteiros do relógio se movendo a medida que as horas passavam. E ela só estava ali porque o psiquiatra que acompanhava o seu caso também estava encostado do outro lado do balcão, tomando um pequeno copinho descartável de café e conversando animadamente com uma das recepcionistas.
A medida em que o tique-taque do relógio soava nas horas mais altas da noite, Devlin se pegava duvidando de que Tristan poderia mesmo tirá-la daquele local. Ele disse na noite anterior de que seus homens — fossem eles criminosos ou apenas malucos — estariam chegando na madrugada daquele dia. Já passava da meia-noite. E ela só estava ali porque, no geral, a sua relação com os médicos e enfermeiros era boa o bastante para que ela conseguisse certas prioridades. Circular livremente enquanto estivesse sendo acompanhada era uma dessas vantagens, das quais ela não sabia se Tristan tinha conhecimento de que ela possuísse, mas sabia que tinha de possuir alguma coisa de aspecto muito importante para que ele aceitasse a sua ajuda.
Mentalmente ela contou os segundos, enquanto seus lábios se moviam para distrair a enfermeira em sua frente. Devlin não precisou de tanto esforço, já que a enfermeira estava agindo muito bem em ignorá-la, conversando sobre a previsão do tempo com o bonitão doutor. Seus olhos passavam do rosto do médico para a tela do seu computador, e na posição em que Devlin estava, ela pôde facilmente enfiar a sua mão pelo vão abaixo do espaço alambrado que protegia a enfermeira recepcionista dos loucos. Embora fácil, Devlin soube que não poderia agir até receber um sinal.
Havia uma câmera apontando diretamente para ela no alto da recepção, e ela sabia que havia outra pessoa olhando para ela do outro lado. Devlin deu um sorriso para cima, cruzando os braços no balcão como se não estivesse interessada. O médico disse que já estava passando da hora de que Devlin voltasse ao seu quarto, e a enfermeira tentou enxotá-la mais uma vez, só que a mão que ela usou para empurrar Devlin travou a poucos centímetros do seu braço. O chão estremeceu, e mesmo já preparada para qualquer atitude suspeita ser o seu sinal para agir, até mesmo Devlin teve que fazer um esforço para se segurar.
Um segundo de silêncio mortal instalou pelo cômodo, e assim que ela se virou para aproveitar da distração da mulher e do médico que se agachou para manter o equilíbrio, a porta do portão rangeu ao cair inteiramente no chão. Homens vestidos de preto invadiram a clínica, disparando com suas armas em todas as direções. Consumida por um impulso repentino, Devlin saltou contra a p******o diante da enfermeira, conseguindo alcançar o cartão de acesso que tinha cobiçado desde o momento em que parou no balcão. Devlin correu para longe do alcance quando os homens se aproximaram das enfermeiras encolhidas e dos médicos que passeavam pelo saguão, disparando sem qualquer piedade.
As coxas de Devlin arderam pela subida frenética pelos lances de escada, e ela evitou cada louco que descia às pressas, sem saber que o perigo estava logo no primeiro andar. Devlin atravessou as portas automáticas com nada menos do que um apito como prova, estando tão concentrada em sua missão, que quase se perdeu no corredor das portas do isolamento. Aquela era a tarefa mais difícil: encontrar uma pessoa que provavelmente não esperava por sua liberdade, e obviamente, não daria qualquer sinal para que Devlin interpretasse como a pessoa certa.
Para o seu desgosto, todos estavam eufóricos com os sons que soaram abafados nos outros andares, e a pequena janela na pesada porta do quarto acolchoado tremeu quando os loucos se aproximaram. Devlin abriu todas as portas por onde passou, perguntando aos gritos sobre o nome que deveria procurar. Os loucos não responderam, eles a empurraram, choraram. E Devlin perdeu o seu tempo nas primeiras vinte portas que encontrou, até que a última a releva uma mulher encolhida no escuro, braços cobrindo os olhos e cabeça chacoalhando levemente. Mesmo sem esperanças, Devlin perguntou:
— Você é Sandy Fowler?
Afastando os cabelos curtos até a altura dos ombros, a mulher ergueu a cabeça, olhando cautelosamente em sua direção, e afastando o braço do rosto.
— Q-quem é v-você?
— Tristan me mandou por você.
Devlin não saberia dizer por que as palavras a incomodaram tanto, mas ela as disse. Abrindo caminho para que a luz entrasse no quarto e que a mulher saísse. Ela demorou uma infinidade para realizar passos simples que a levariam até Devlin. Demorou tanto que Devlin tentou ver o que estava fazendo e elas quase trombaram. Sandy inspirou profundamente, esticando todo o corpo, como se fosse a primeira vez em muito tempo que deixava aquele lugar. Mesmo totalmente esticada, ela era pequenina o suficiente para não alcançar mais do que o peito de Devlin, e era magra demais também, o que lhe dava quase uma aparência de fragilidade.
Devlin observou o corredor mais uma vez. Ela sabia que as alas superiores pertenciam aos loucos em um grau preocupante. Até onde ela se lembrava, as pessoas que permaneciam ali deveriam ser em sua maioria esquizofrênicos. No entanto, enquanto ela observava a mulher se esticar e aquecer os músculos do corpo, ela teve a ligeira impressão de que pudessem ter feito um diagnóstico completamente errôneo.
— Já não era sem tempo — ela resmungou com aspereza, surpreendendo Devlin com a rapidez de sua fala. Naquele exato momento, Devlin entendeu que a mulher não apresentava sinal algum de demência. Aliás, estava fazendo caretas ao observar as paredes do seu quarto, como se lamentasse profundamente que tivesse sido obrigada a sofrer tais humilhações. — Eu não acredito que aquele bastardo pretendia me deixar trancada neste lugar.
Devlin franziu as sobrancelhas.
— Ele me mandou para ajudar.
Sandy gargalhou, encostando-se na parede.
— Querida, acredite em mim, se Tristan Killian quisesse algo, ele mesmo teria feito. Você só está aqui porque ele deve ter pensado que era o melhor a se fazer para se livrar de nós duas ao mesmo tempo. — Sandy soltou um longo suspiro, impaciente. — O que, eu devo dizer, é um verdadeiro ultraje. Aquele homem não poderia dar mais do que dois passos sem mim. Ele não poderia pisar numa calçada sem que eu estivesse olhando por cima da cabeça dele para garantir que não morreria a qualquer passo. E mesmo assim, o bendito filho da mãe, me deixou para trás na primeira oportunidade. E só teve a coragem de voltar para me buscar depois de dois anos internada nesse hospício.
Devlin piscou, aturdida. Alguma coisa parecia ter passado despercebida. Porque ela não fazia ideia do que é que Tristan precisaria que estivessem olhando sobre ele. E nem sabia por que é aquela mulher seria importante o bastante para não admitir que fosse deixada para trás por tanto tempo. Sandy observou o aturdimento de Devlin, arqueando uma sobrancelha.
— Está feito, de qualquer maneira — disse Devlin, engolindo em seco. — Agora nós só temos de chegar até o lado de fora, mas não podemos descer. Estão atirando em todo mundo e podem acabar nos acertando. Eu acho que é mais fácil agora que já estamos juntas.
Sandy olhou para a esquerda e se endireitou, trincando o maxilar.
— Se eu fosse você, não contava com isso.
Devlin virou a cabeça, encontrando dois enfermeiros avançando em suas direções. Devlin afastou-se alguns passos de Sandy, e ela se preparou para correr. Devlin não teve tempo. Enquanto Sandy correu apenas para se encontrar com mais uma dupla de braços prontos para prendê-la no fim do corredor, Devlin foi encurralada entre a porta de um dos quartos por um homem alto e muito magro.
O enfermeiro puxou o pulso esquerdo de Devlin, tentando tirar o seu equilíbrio, e então tudo aconteceu rápido demais.
Num primeiro momento, ela se lembrou do seu pai, do toque proibido, da brutalidade, e sentiu ódio... Depois lembrou-se do seu padrasto, dos ensinamentos militares e de quantas vezes ele dizia que ela jamais poderia se deixar ser capturada por um homem. Nas palavras do seu padrasto, havia muitas formas para se torturar uma mulher, e que se ela tivesse a chance de lutar, que fizesse até o fim. Porque era melhor morrer de exaustão, do que por burrice. Então Devlin sentiu seu corpo agindo como em reflexo àquelas memórias, e se deixou sentir o ódio que subia até a sua garganta sendo expelido pela consciência de que podia lutar até ficar exausta, mas não se deixaria ser pega.
O enfermeiro levou a mão ao braço direito dela e ela o puxou primeiro, dobrando a sua mão para alcançar a nuca dele, propositalmente deixando o seu cotovelo em um angulo estranho, diante de seu nariz. Não houve tempo para qualquer reação, ela puxou a sua mão direita com força, forçando-o a inclinar o corpo, ao mesmo tempo em que ela subiu o seu joelho direito, friccionando-o para dar um impulso em sua costela. Ele soltou o seu pulso esquerdo, e com a força do seu segundo chute, foi arremessado para trás. Tudo aconteceu com muita força, porque apesar de aparentar ser uma mulher com um bom peso e uma altura mediana, Devlin sabia a forma ideal para deixar sua mão e pés pesados o bastante para atrapalhar no equilíbrio do seu adversário.
Devlin não era uma super-h*****a com poderes tele cinéticos ou gritos supersônicos. Ela era apenas uma mulher que depois de muitos anos de a***o, aprendeu a melhor maneira para se defender. Ela não podia voar e nem podia contar com uma inteligência super-humana, tudo o que tinha era a consciência de cinco pontos vitais no corpo de um ser-humano; Cabeça, olhos, garganta, costela, genitais. Ela se lembrava disso como uma canção que nunca mais se esqueceria. Por isso enquanto o enfermeiro tentava se levantar, ela se aproximou para dar um único soco na região da sua garganta, na esperança de que isso pudesse acertar a sua traqueia. O homem se agitou em desespero, e Devlin se afastou.
O segundo enfermeiro lhe deu uma vantagem por sua estatura pequena, e Devlin não precisou de muito esforço para levantar a perna esquerda e envolvê-la em seu ombro, girando o seu corpo para que a perna direita fizesse o mesmo. Ela girou com o impulso dos seus braços, usando o seu peso para desequilibrá-lo. Os dois caíram, e Devlin apertou as suas pernas contra o pescoço dele, executando o golpe como um passo de dança. Como se em algum intervalo entre o seu susto e o ataque dele, ambos tivessem ensaiado juntos. Tudo aconteceu em um único movimento. E Devlin o manteve contra as suas coxas enquanto ele se agitava para respirar, batendo inutilmente com as mãos contra as pernas dela.
Em qualquer luta justa, ela teria que ter parado naquele momento, porque ele estava se rendendo. No entanto, enquanto ela perdia seu olhar no mais longe dali, ela apenas esperou até que o desmaio acontecesse. A mente de Devlin flutuou para longe, enquanto o corpo dela se mantinha ocupado para garantir a sua segurança. Ela sabia que todos aqueles anos dentro da clínica poderiam ter afetado aquela consciência bruta de que ela sabia muito bem se defender sozinha, porém, naquele instante percebeu que nem tudo na vida se perdia ao se render totalmente a loucura. Golpes marciais e de defesa pessoal eram uma dessas coisas.
Assim que o homem afrouxou o corpo contra o dela, Devlin se arrastou para longe, erguendo-se num movimento tão fluído que ninguém poderia dizer que ela pesava mais do que uma pena. Sandy ainda estava sendo arrastada para longe e Devlin a puxou com brusquidão para fora do caminho, aparecendo diante do enfermeiro surpreso.
Houve um momento de percepção surpresa em que o homem se esticou para ver os dois colegas de trabalho caídos no chão. Aquele que Devlin atingiu com o soco na garganta ainda tentava respirar, ofegando em um som alto e pesaroso. O enfermeiro diante dela fez menção de que iria recuar, mas notou que também estava sozinho, porque Sandy conseguiu — ao custo de estar com a cabeça sangrando na região das têmporas — se livrar do homem que também se surpreendeu com a rapidez com que Devlin se livrou dos outros dois.
Notando que o primeiro deles já estava caído, o enfermeiro diante de Devlin tomou o seu cabelo nas mãos, puxando-a para frente. Devlin girou o seu punho com as duas mãos, ciente de que estava sendo arrastada enquanto os seus gritos comandavam os seus passos. Assim que Devlin conseguiu soltar o toque bruto dos seus cabelos, ela empurrou os dedos indicador e médio do enfermeiro para frente, forçando as suas unhas contra a carne da mão do homem. Ela dobrou a mão dele quase até alcançar o seu pulso, de modo que ele gritou em desespero ao perder o controle sobre a própria mão.
Ele gritou mais uma vez enquanto Devlin o empurrou, tencionando completamente o seu carpo. Quando ele levantou a outra mão por reflexo – certamente tentando alcançar a lateral do corpo dela —, Devlin usou toda a sua força para friccionar e estender a perna, lançando um chute entre as pernas do enfermeiro. Ele cambaleou com um resmungo incompreensível, deslizando pela parede até cair sentado, e Devlin m*l pôde dar um sorriso até que Sandy agarrou o seu braço e a puxou para atravessar o corredor.
— Onde aprendeu a lutar assim? — Sandy perguntou, ofegante. Ela levou uma das mãos até o cabelo e puxou os dedos para perto afim de averiguar o sangue ali contido. — Merda... Eu acho que um deles conseguiu bater a minha cabeça na parede. p**a merda... Não posso desmaiar.
Devlin segurou Sandy quando esta cambaleou.
— Vamos continuar. Nós podemos sair pela janela.
Sandy assentiu, cambaleando enquanto caminhava ao lado de Devlin, esperou até alcançar a porta de uma sala e a observou como se estivesse vendo um fantasma.
— Como é que você aprendeu a lutar assim?
As duas entraram em uma sala pequena, onde várias telas de computador mostravam as imagens dos outros andares. Devlin reparou que havia um grande grupo de homens armados na recepção agora, todos atirando, enquanto muitos outros subiam para finalizar o trabalho nos andares superiores. Ainda cambaleando e olhando para Devlin de um jeito esquisito, Sandy bloqueou a porta com uma cadeira, e procurou por alguma coisa nas prateleiras ao longo das paredes.
— Meu padrasto me ensinou a lutar — respondeu Devlin, observando os homens que pareciam cobrir o maior número possível de paredes com marcas de disparos. — Ele não queria que eu fosse frágil demais, principalmente depois de tudo.
Sandy afastou as cortinas da janela atrás das telas e puxou com brutalidade. Ela lançou mais um olhar para Devlin, certamente querendo interpretar as entrelinhas do que a jovem-mulher disse.
— Bem, querendo ou não, tenho uma dívida com você agora. — Sandy enrolou os dois pedaços de tecido que tinha em mãos e lançou a Devlin um olhar de esguelha.
— O que pretende fazer? — Devlin perguntou.
Seguindo Sandy até o espaço à frente da janela, Devlin assistiu enquanto ela amarrava a ponta das cortinas unidas no pé da mesa.
— Você já praticou escalada? — Perguntou Sandy, recebendo uma negação de cabeça de Devlin como resposta, e ela sorriu. — Este é um ótimo momento para treinar.
A porta estalou às costas de Devlin e gritos ressoavam, olhando para as câmeras apenas para tirar a dúvida, Devlin notou com uma certa decepção de que não se tratava dos homens armados. Vários enfermeiros tentaram abrir a porta, e Devlin não sabia como é que tinham chego na conclusão de que elas poderiam estar ali, e nem porque é que eles estavam tão empenhados em mantê-las lá dentro se o verdadeiro caos estava sendo provocado pelos atiradores na recepção. Devlin apenas sabia que elas estariam perdidas se continuassem ali.
— Eu vou primeiro. — Sandy disse ao notar a relutância de Devlin em querer se aproximar da corda improvisada.
Sandy se lançou pela janela quebrada e escorregou lentamente pelo pano frágil, descendo vagarosamente. A porta estalou mais uma vez, e parte dela desabou pela força com que estava sendo arrombada. Devlin decidiu não esperar e subiu no beiral, olhando para baixo. A queda pareceu h******l quando ela notou ao se abaixar, e seus músculos ainda estavam doloridos pela luta no corredor, ainda assim, quando a porta se abriu completamente, não lhe restou opção senão pular.
Escorregou pelo tecido, machucando as suas mãos travadas pelo frio. Sandy gritou algo enquanto ela descia, mas ela não escutou. Os seus ouvidos estavam concentrados no som daquela corda improvisada, raspando contra o muro craquelado pelo tempo. Sandy saltou primeiro para o chão, e Devlin faz o mesmo antes de chegar ao fim, sentindo uma instabilidade perigosa no tecido fino. Devlin caiu de pé, mas suas pernas vibraram, gemendo cada junta com a sua queda.
Evitando uma careta, Devlin seguiu Sandy com passos rápidos, mancando um pouco.
A entrada da clínica foi completamente invadida, e carros espalhavam-se pelo jardim, onde homens saltavam de suas portas em uma corrida desenfreada. Um grupo deles retornou, escoltando uma figura alta. Devlin pôde escutar a risada macabra antes que ele estivesse perto o bastante para vê-la.
O grupo dispersou, revelando um Tristan risonho. Quando seus olhos finalmente encontram uma Devlin ofegante, mas muito animada de estar fazendo parte de algo grandioso, o sorriso desapareceu do rosto de cicatrizes de Tristan.
— Ah, você conseguiu... — murmurou de maneira decepcionada, e Devlin pôde jurar que ele se esforçou para não revirar os olhos. — É uma pena que foi uma missão inútil.
Se sentindo furiosa, Devlin abriu a boca para falar, mas Sandy foi mais rápido do que ela. Sandy agarrou Tristan pela gola da blusa do seu uniforme e o lançou contra a porta de um dos carros, fechando-a.
— Você mandou uma louca para me tirar deste lugar, qual é o seu problema, i*****l?
Tristan empurrou bruscamente as suas mãos com um golpe, mas ela não soltou, apesar da força do t**a que ele havia dado.
— Tire as patas de mim.
Sandy bateu com mais força contra o peito dele, e sibilou feito uma cobra contra o seu rosto:
— Me obrigue.
Alguém resmungou um palavrão baixinho, e outra sombra surgiu contra os feixes de luz que escapavam da zona de guerra a poucos metros.
— Vocês dois... — uma voz afeminada chama, embora fosse inegavelmente masculina. — Resolvam os seus problemas em casa! Esse lugar me deixa deprimido.
Outra risada soou, dessa vez, feminina e insuportavelmente maliciosa.
— Tristan, não seja tão m*l. Nós estávamos mesmo precisando de um recruta novo.
Com tamanho desdém em seu olhar, Tristan me encarou. Ele estreitou os olhos e soltou um muxoxo, como se quisesse dar de ombros. Ele não pôde fazer isso enquanto Sandy segurava o topo de sua camisa.
Sandy se afastou quando mais um grupo de homens se aproximou, revelando uma nova presença que vinha sendo arrastada, que parecia ter sido o verdadeiro motivo de tantos disparos e pânico. Tristan abriu o seu sorriso estranho e se aproximou, batendo com força no ombro do homem encolhido.
— Doutor Conway! — Ele cumprimentou com animação. — Será um prazer ter um momento a sós com o senhor.
O doutor Conway cuspiu aos pés de Tristan, e ele estalou os lábios, reprovando-o. Com um único aceno, os homens empurraram o médico para o carro, arremessando-a lá dentro sem pena. Tristan se aproximou novamente de Devlin e esticou uma das mãos para o homem de voz afeminada. Eles trocaram alguma coisa que ela não pôde ver, e Tristan colocou uma das mãos nos seus ombros.
— Nada pessoal, amor. Mas você não pode saber para onde estamos indo.
Antes que Devlin pudesse reagir, ele levantou a mão sobre o seu rosto e a mais completa escuridão a envolveu.