A MANSÃO DE CAINA - 02

1276 Words
A atmosfera serena do quarto era impregnada por uma suave fragrância de nostalgia, enquanto a luzes suaves de um único lustre no meio do teto dançava com ternura, lançando sombras delicadas pelas paredes ornamentadas. O silêncio era pontuado pelo canto distante de um pássaro solitário, cuja melodia melancólica parecia sussurrar promessas de um novo amanhecer. Morar numa mansão solitária às vezes tinha as suas vantagens. Enquanto Sandrine se encontrava imersa na quietude daquele lugar sereno, uma tempestade interior fervilhava dentro dela, ameaçando arrastá-la para as profundezas do desespero. Cada batida do seu coração ecoava como um trovão na sua mente e cada respiração era um suspiro de angústia contida. Sim, ela tinha uma crise de ansiedade, coisa que só começou quando os seus pais passaram a discutir e o mesmo demitiu os empregados, jogando toda a responsabilidade daquela enorme mansão, nas costas da sua mãe. Mas mesmo assim, a jovem acaba prometendo a si mesma que não sucumbiria ao turbilhão de sentimentos que ameaçavam consumi-la. Pois tal como uma guerreira solitária num campo de batalha emocional, ela jurava lutar até o último suspiro, buscando desesperadamente uma trégua na tempestade que assolava a sua alma. E cada avanço era uma prova da sua resiliência e cada olhar para o horizonte era um grito silencioso de esperança. Pois, mesmo diante das adversidades mais sombrias, ela se recusava a ceder ao desespero, alimentando a chama da determinação que queimava dentro dela com a promessa solene de encontrar uma saída para aquela vida que ela e a sua mãe levavam, custe o que custar. Mais tarde, naquele mesmo dia, quando a noite já começava a cair sobre a mansão, Sandrine se aproximou da mãe com uma expressão séria. - Mãe, podemos conversar? - Sandrine perguntou olhando nos olhos da sua mãe, buscando dentro deles a determinação que nunca encontrava em si – Preciso retirar um peso da minha consciência e preciso que seja agora. Adrienne se virou para a filha, surpresa com a seriedade no seu rosto jovem: - Claro, querida. – Adrienne respira fundo e muda o semblante, como aprendeu a fazer, para não transparecer a sua tristeza, sorrindo em seguida para sua filha – Para você tenho todo o tempo do mundo. O que foi? - Eu sei que as coisas não têm sido fáceis para você. E eu não posso mais ficar parada enquanto vejo você sofrer devido ao papai. – Sandrine falou com firmeza, a sua voz soando mais madura do que os seus anos poderiam sugerir – E isso está-me matando por dentro. As lágrimas brilharam nos olhos de Adrienne, com o amor e o orgulho da sua filha, transbordando no seu peito. - Oh, Sandrine... Você é tão forte, tão corajosa... Naquela mansão opaca, onde as sombras dançavam ao som do vento noturno, a figura de Adrienne emergia como uma mulher resiliente. Como uma alma penada, ela perambulava pelos corredores desolados, entre os escombros de uma vida outrora grandiosa, carregando o fardo dos segredos antigos que assombravam cada pedaço daquela morada gótica. Sandrine, enclausurada no seu quarto, saindo apenas para jantar, ir à faculdade ou ao “shopping” com as suas amigas, sentia-se como uma prisioneira da própria existência, observando os únicos farrapos de esperança que lhe sobram, desvanecerem-se diante dos seus olhos. A casa, erguida como um castelo amaldiçoado, ecoava os lamentos silenciosos da mãe, cujos esforços para proteger a filha daquele mundo onde o seu marido a havia colocado eram como oferendas à própria melancolia. Cada suspiro de Sandrine era um eco de desespero, uma prece perdida nos corredores vazios, enquanto o peso da solidão esmagava a sua alma como uma maldição ancestral. O silêncio noturno era apenas interrompido pelos sussurros dos fantasmas do passado, que assombravam os recantos sombrios daquela mansão decadente. E assim, entre os escombros de sonhos quebrados e promessas não cumpridas, mãe e filha se viam presas numa teia de desespero, onde cada dia era uma batalha perdida contra as forças ocultas que habitavam aquele lugar maldito. O destino das duas estava entrelaçado pela amargura e pela solidão, como personagens de uma tragédia sombria escrita nas pedras do tempo, onde nada poderia apagar. Na vastidão opressiva da sua angústia, Sandrine encontrava-se como uma alma atormentada, observando impotente o espetáculo macabro que se desdobrava para além das paredes melancólicas da sua morada. Ela era como uma sombra grotesca e fantasmagórica, naquela cena trágica, incapaz de oferecer mais do que o vazio gélido como lenitivo para as aflições que ecoavam na penumbra claustrofóbica. Entre suspiros entrecortados e murmúrios soturnos, a saga maldita da sua linhagem se desenrolava como um tomo proibido, com a suas páginas manchadas pelo fardo de infortúnios, ansiosas por um desfecho que pudesse, quem sabe, trazer a tão ansiada redenção para sua linhagem. Nas alcovas sombrias, os espectros do passado dançavam num macabro ritual, tendo a suas sombras retorcidas pelas chamas dos segredos obscuros que permeavam os corredores silenciosos da mansão Tamerlane. As paredes, testemunhas mudas de incontáveis discussões, brigas familiares, tragédias e demais infortúnios, pareciam sussurrar num murmúrio sepulcral, como se guardassem os segredos do além-túmulo nos seus tijolos frios e úmidos. Sandrine, perdida em meio ao turbilhão de lembranças sinistras que assombravam a sua alma, sentia-se aprisionada num labirinto de desespero, cercada por sombras que pareciam se contorcer com a própria agonia da existência. O eco de passos furtivos reverberava nos corredores como o lamento de almas penadas que nunca conseguiram encontrar a luz que precisam para se tornarem iluminadas, curadas ou ajuizadas, enquanto o vento uivava lá fora, como se fossem os suspiros de tristeza da própria casa, ecoando o tormento que a corroía por dentro. E assim, no enredo sombrio que tecia a trama da sua vida, Sandrine era apenas uma peça frágil, jogada ao sabor dos caprichos do destino c***l, esperando, em vão, por um desfecho que talvez nunca viesse, enquanto a sombra da desgraça pairava como um manto eterno sobre a sua alma. Mas mesmo com esse sentimento, a mesma sempre dorme e acorda, acreditando que o outro dia será sempre melhor e mais iluminado. *** Quando os primeiros raios de sol ousam romper as barreiras das pesadas cortinas da mansão, eles não trazem consigo a promessa calorosa de um novo dia, mas sim uma presença indesejada, uma intrusão sinistra que revela segredos ocultos há muito tempo. Esses raios pálidos, como dedos gelados da morte, estendem-se vorazmente para agarrar a vida, trazendo consigo um arrepio lancinante que faz os cabelos na nuca de Adrienne se eriçarem. Cada feixe de luz, ao penetrar na escuridão da habitação, parece revelar mais do que iluminar, lançando sombras grotescas que dançam e contorcem-se pelos cantos, como espectros desencarnados clamando por atenção. A própria essência da casa parece ecoar em murmúrios sombrios, sussurrando segredos inomináveis através das paredes gastas e dos móveis antigos que testemunharam tragédias insondáveis. Adrienne sente-se envolvida por uma aura de desassossego, como se estivesse presa num pesadelo do qual não consegue despertar. Cada passo pelos corredores escuros ressoa com a memória de acontecimentos perturbadores, ecoando como o eco de um grito perdido no vazio. Ela vê-se cercada por uma atmosfera carregada de angústia, onde o ar parece pesado com o peso dos segredos não ditos e das dores não resolvidas. Cada canto sombrio, cada som estranho, é um lembrete agudo de que esta enorme residência não é apenas um abrigo de tijolos e argamassa onde pessoas foram emparedadas, mas um receptáculo de emoções enterradas profundamente, esperando para um dia serem desenterradas. E à medida que os primeiros raios de sol continuam a penetrar pelas cortinas, Adrienne se encontra enredada num emaranhado de mistérios que desafia a lógica e assombra a alma.
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