O CASTELO DE CARTAS - 02

1517 Words
Entretanto, suas palavras ecoaram no vácuo, como suspiros de uma alma torturada, dissipando-se na névoa da desesperança. Sandrine, imperturbável diante da torrente de retórica desesperada, permaneceu como uma estátua de mármore em meio à tempestade, inabalável, sua determinação como um farol solitário em uma noite eterna. Seus olhos, embora cansados pelas agruras do destino, brilhavam com uma determinação silenciosa, como se refletissem os abismos sombrios de sua própria alma enquanto fechava a porta com um estrondo, deixando para trás apenas o eco macabro dos argumentos vazios de Hector, que ecoavam como murmúrios de espíritos atormentados nos corredores sinistros de um castelo abandonado. Passaram-se mais quinze minutos, um intervalo marcado pelo silêncio denso que envolvia o ambiente como um manto funesto. O som da campainha ecoou novamente, uma nota solitária trespassando a quietude da tarde, como o grito de uma alma perdida ecoando pelas sombras do além. Sandrine, envolta em uma aura de certeza sombria, sentiu seu coração acelerar com a expectativa de suas pulsações ecoando como tambores da libertação, anunciando a chegada de uma verdade obscura. Cada batida parecia um presságio sinistro, um sussurro das trevas que envolviam sua alma em um abraço mortal, ecoando o nome de Larry em um lamento fúnebre. Quando finalmente abriu a porta, a luz da tarde banhou o rosto familiar de Larry, com sua figura destacando-se como uma silhueta sombria contra o manto alaranjado da tarde. Seus olhos encontraram-se em um momento de reconhecimento mútuo, uma faísca de entendimento passando entre eles como uma corrente elétrica enigmática, ligando-os em um elo indissolúvel. Em silêncio, eles se encontraram, tal como dois destinos entrelaçados em um momento fugaz, onde o passado e o futuro convergiam em um presente carregado de significado sombrio, se as sombras do destino pairassem sobre eles, tecendo os fios invisíveis do destino em uma tapeçaria macabra. - Boa tarde – falou o jovem com um belo sorriso nos lábios – espero não estar muito atrasado. - Não está não! – disse Sandrine tentando conter a ansiedade – Eu até achei ótimo você ter chegado agora, pois deu tempo de arrumar uma bagunça que estava acumulada lá dentro da biblioteca. - E então? – perguntou Larry – Vamos lá conhecê-la? - Vamos sim! Entre. – Sandrine fala sorrindo, abrindo mais a porta e convidando Larry para conhecer sua “humilde residência” – Mas vou logo avisando: não repare muito na bagunça que sobrou, porque sempre deixamos um restinho para o fim-de-semana. - Ah, não se preocupe com isso. Sou um especialista em lidar com a desordem - Larry respondeu com um tom brincalhão enquanto seguia Sandrine para dentro da biblioteca. À medida que adentravam na majestosa mansão, os passos ecoavam como suspiros melancólicos sobre o piso polido, onde cada centímetro parecia cuidadosamente planejado para exalar não apenas opulência, mas também uma aura de mistério e ocultação. A luz do sol, que ousava penetrar os vitrais empoeirados, não mais dançava, mas sim se contorcia em agonizantes reflexos distorcidos, lançando sombras que se retorciam como espectros famintos. A biblioteca, outrora o santuário da sabedoria e do conhecimento, agora se apresentava como um santuário de segredos soturnos. Ao cruzar o limiar da biblioteca, um arrepio involuntário percorreu a espinha de Larry. Diante de seus olhos, não se estendia mais um paraíso literário, mas sim um labirinto de palavras encerradas em suas prisões de papel e couro. Estantes imponentes, agora pareciam monólitos sinistros, erguendo-se em uma elegância sombria, como sentinelas de um conhecimento proibido. Os volumes amontoavam-se, sufocando as prateleiras até as últimas extremidades, como se ansiassem por serem libertados de sua prisão de silêncio. O ambiente, longe de exalar o aroma suave de papel envelhecido, era impregnado pelo odor de desespero e desolação. Cada página amarelecida e cada letra desgastada carregavam consigo o peso de histórias não contadas e segredos sepultados. À medida que se aproximavam, o aroma se intensificava, como se os próprios livros suspirassem em agonia pela falta de mãos que os abrissem e olhos que os lessem. Ao entrar na biblioteca, Larry não encontrou apenas um ambiente aconchegante; encontrou-se em meio a um cemitério de ideias e pensamentos, onde os livros, em vez de adornarem as estantes de madeira escura, pareciam sussurrar-lhe promessas de tormento e perdição. - Uau, este lugar é incrível! - Exclamou Larry, olhando ao redor com admiração. - Obrigada! - Sandrine sorriu, parecendo satisfeita com a reação de Larry. - Sempre me sinto em casa aqui, rodeada pelos livros e pela atmosfera tranquila. - Compreendo perfeitamente. Também me sinto assim em minha própria biblioteca - disse Larry, lembrando-se de sua própria coleção de livros e do ambiente sereno que criara para si mesmo. Caminharam em meio às sombras opressivas das estantes, onde o cheiro de mofo e tinta velha impregnava o ar, como se as páginas dos livros ali depositados exalassem uma melancolia ancestral. Entre murmúrios sussurrantes, deslizavam entre os corredores estreitos, suas figuras obscurecidas pela penumbra que pairava sobre aquele lugar esquecido pelo tempo. Discorriam sobre seus volumes preferidos, mas suas vozes ressoavam com um tom sinistro, ecoando pelas paredes enegrecidas. Cada palavra pronunciada parecia carregar um peso sombrio, como se os espíritos dos autores mortos vagassem ali, sussurrando segredos obscuros aos ouvidos dos vivos. Histórias de horror e mistério se entrelaçavam em suas conversas, ecoando pelas estantes como um eco macabro. Eram contos de almas atormentadas e destinos trágicos, onde o bem e o m*l se confundiam em uma dança sombria, lançando sombras sobre os corações dos presentes. A conexão entre eles parecia mais do que uma mera afinidade literária; era como se os livros que os cercavam tivessem o poder de abrir portais para os recônditos mais profundos de suas almas, revelando os desejos mais sombrios e os medos mais profundos. E assim, entre as páginas amareladas e os corredores notívagos, eles se viam presos em uma teia de suspense e desespero, onde cada passo dado os aproximava mais do abismo da loucura e da morte. - É incrível como os livros podem nos conectar com pessoas tão especiais - comentou Larry, olhando nos olhos de Sandrine com uma expressão de admiração. - Concordo plenamente. É como se cada página virada nos levasse a novas descobertas e novos encontros - respondeu Sandrine, sentindo seu coração se aquecer diante das palavras de Larry. Cada livro repousava como um relicário macabro, suas lombadas adornadas com títulos que pareciam ecoar em murmúrios sombrios, promessas veladas de segredos obscuros e viagens a lugares sombrios e proibidos. Entre as estantes de madeira maciça, enegrecidas pelo tempo e pela maldição do esquecimento, Larry avistou uma coleção impressionante de volumes encadernados em couro, manchados pelo tempo e pela angústia de séculos de existência. Romances amargos, repletos de paixões malditas, crônicas históricas repletas de sangue e tragédias, contos de fadas corrompidos pela sombra da loucura e poesias melancólicas que pareciam ecoar o lamento dos mortos. Diante desse espetáculo literário macabro, Larry sentiu-se envolto por uma sensação de êxtase, mas não um êxtase celestial, e sim uma vertigem tenebrosa, uma reverência profunda diante do desconhecido e do indizível. Ele sabia que estava diante de um verdadeiro inferno de conhecimento, um santuário profano onde a mente humana e as forças além da compreensão se entrelaçavam em uma dança maldita e eterna. Perdido na imensidão das prateleiras corroídas pelo tempo e pelo desejo insaciável de devorar almas, ele m*l conseguia conter a excitação mórbida de pensar em todas as histórias que ali aguardavam para serem desfrutadas, mergulhando em um abismo de palavras que prometiam arrastá-lo para a perdição, para além das fronteiras do conhecido e do seguro, rumo a terras distantes e aventuras inesquecíveis, mas cujo preço era a própria alma. - Sandrine... Quanta riqueza cultural você tem aqui! – exclamou Larry, pegando um livro atrás do outro – Não sei qual o melhor: são todos ótimos! - Vamos começar pelo que você escolher – disse Sandrine com um estranho brilho no olhar – e dependendo de nossa inspiração, podemos aumentar nossas tarde de debates com a minha mãe. Ela adora comentar e debater os romances que lê e acredite: ela já leu todos esses livros, muito antes de eu nascer. - Sua mãe é? – perguntou o jovem rapaz, demonstrando certo interesse – Nesse caso é melhor já começarmos nossas tardes a três. - Sim, minha mãe é uma ávida leitora e uma excelente crítica literária - respondeu Sandrine, com um sorriso carinhoso. - Ela sempre consegue enxergar camadas nas histórias que eu nem mesmo percebi na primeira leitura. Larry pegou um livro e examinou a capa com curiosidade. Era um romance histórico, com uma ilustração de um castelo medieval em destaque. - Este parece interessante - comentou ele, mostrando o livro para Sandrine. - Você já leu? - Sim, várias vezes - respondeu ela, com um brilho nos olhos. - É uma história envolvente, cheia de traições, intrigas e romance. Acho que você vai gostar. - Então, é este! - decidiu Larry, animado. - m*l posso esperar para começar a ler. - Ótimo! - disse Sandrine, com um sorriso satisfeito. - Vamos para o sofá, assim podemos mergulhar nessa história juntos.
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