Pelo tom de voz de Carly, Ander percebeu que a amiga não estava bem, só não sabia o porquê. Não iria força-la a falar nada, mas vendo a respiração entrecortada, deduziu que ela estava chorando.
- Carly, você já está voltando para Shelburn Falls?
Por mais que estivesse preocupado, não iria perguntar logo de cara se ela estava bem, sabendo que não estava.
- Eu estou indo para Springfield, na verdade já estou aqui Ander. Acabei de chegar na rodoviária.
Franzindo o sobrolho, Ander estranhou a amiga ter tal atitude, já que sempre gostou do seu trabalho e foi uma pessoa responsável. Antes que pudesse questioná-la, Carly parecendo ler os seus pensamentos, o respondeu friamente.
- Me separei do Joshua. Ele estava me traindo ou traiu, eu já nem sei. Vou precisar ficar um tempo afastada.
Enquanto contava a ele o motivo da sua ausência e que precisava de um tempo afastada de Shelburn Falls, as lágrimas desciam por seu rosto novamente.
Engolindo em seco, Ander suspira profundamente.
- Carly, se você está certa de que é isso que quer, estarei sempre aqui para te apoiar. Eu sinto muito por isso, mas como... – De repente, se calou percebendo que estava sendo invasivo. Sabia que a amiga estava sofrendo.
Fechando os olhos, a cena nojenta que presenciou vinha a sua mente. As palavras que Aysha lhe falava que sempre foram amantes quando estavam namorando e noivos, não deixava de martelar como um prego fincando na carne e não se soltando mais.
- Eu os vi juntos Ander! – Sua voz embargada, eram as únicas palavras que conseguiu proferir com tanta dor.
Sentindo a dor da amiga, fechou os olhos e respirou pesadamente. Não sabia o que dizer e nem como confortá-la, mas agora, queria estar ao seu lado sendo o seu ombro amigo e secando as suas lágrimas. Agora, tinha a certeza de que era isso que Aysha pretendia e pelo visto, conseguiu.
- Carly, eu vou avisar na administração que você faltará por alguns dias por estar doente. Mande um e-mail para o setor de RH avisando e então, assim que for a minha folga, irei até onde está.
- Eu farei isso Ander, mas não precisa vir... – Ele a interrompe.
- Nada disso minha amiga. Estarei aí na minha folga. Tome o tempo que precisa e não se esqueça que por mais doloroso que seja, enfrente tudo de frente.
Com uma lágrima grossa escapando dos seus olhos, enxugou rapidamente e sorriu fraco agradecida.
- Obrigada Ander!
- Não há o que agradecer. Fica bem tá!
- Você também.
Assim que encerraram a ligação, a picape do senhor Elliot parou ao seu lado. Assim que Carly estava se aproximando da rodoviária com os raios de sol adentrando entre as frestas da cortina a acordando, ligou para o seu pai pedindo que a buscasse na rodoviária de Springfield.
Conhecendo bem a sua filha, Elliot estranhou a sua ligação, mas não quis interroga-la e agora vendo o estado que a filha se encontra, sabia que alguma coisa havia acontecido.
Assim que o viu descendo do seu carro, Carly não aguentou e correu até o seu pai se jogando nos seus braços desabando.
Preocupado pelo choro copioso e dolorido, Elliot a abraçou com tanta força, que parecia querer tentar arrancar aquela dor da sua filha.
Acariciando os seus cabelos, o corpo da sua filha estava trêmulo dos soluços e daquele choro abafado que molhava a sua camisa xadrez.
- Calma filha. O que quer tenha acontecido, eu estou aqui.
De certa forma, ele sabia bem que tinha a ver com o seu genro. Já havia descoberto algumas coisas sobre o passado de Joshua, e que algumas dessas descobertas, levavam a Aysha que se surpreendeu ao saber que aquela mulher teve um caso com o próprio pai.
Só que agora, não falaria nada e deixaria que a filha desabafasse e que chorasse tudo o que quisesse para depois a indaga-la e quem sabe assim, lhe revelar tudo o que descobriu sobre Joshua Stanley e Aysha Miller.
Afastando-se da filha, o suficiente para secar as suas lágrimas, doía vê-la daquele jeito, Elliot apenas a encarou e sorriu.
- Vamos para casa minha menina.
Sorrindo fraco, Carly concorda. Pegando a sua mala e abraçando a sua filha, Elliot beija a sua testa e saem abraçados até o carro. Com os dois acomodados, seguem para o pequeno rancho que recentemente o seu pai comprou.
Resolveu no caminho, mandar uma mensagem para o diretor do hospital e em seguida uma carta para o setor de Rh avisando que estava com problemas pessoais e precisou ir para a cidade do pai relacionado a saúde.
Imediatamente, o diretor do hospital mandou a sua resposta lhe dando uma semana de licença, já que por ser uma excelente médica, sabia que Carly só faltaria numa extrema emergência. Lhe desejou melhoras e o setor do Rh recebeu o e-mail e respondeu dando o aval sob a assinatura do diretor geral.
Com isso, ia desligar o celular para não ser incomodada, e então, ele ligou.
Seu pai olhou de soslaio e viu a sua filha olhando para o aparelho sem reação. Ali, foi a confirmação que Carly estava com problemas com Joshua. E algo lhe dizia que, sua menina tinha descoberto quem aquele homem era verdadeiramente. Parecia ter tirado a venda dos olhos.
- Não vai atender filha?
Prestando a atenção na estrada, olhou de relance e viu a sua filha parecer despertar de um transe e o olhar de lado. Deixou que caísse na caixa postal e para que não ligasse novamente, desligou o celular e sorriu para o seu pai mesmo que tristemente.
_ Não pai. Eu estou aqui para dar um tempo e isso inclui o senhor Joshua.
Seu pai apenas assentiu em silêncio e assim continuaram até o rancho.
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Em Shelburn Falls, Joshua havia acabado de chegar em casa e para a sua surpresa e desespero, Carly não havia chegado.
Tentou como em todo o caminho de volta ligar para ela, sem sucesso. Agora pelo menos, chamou até cair na caixa postal. Mas insistindo mais uma vez, caiu direto na caixa de mensagem o deixando irritado, ao ponto de arremessar o aparelho na parede se espatifando em pedaços.
Exasperado, pegou as suas chaves do carro e mesmo cansado por ter vindo mais rápido que o flash, saiu novamente de casa, seguindo até o apartamento de Aysha e ao chegar na frente do imenso prédio, foi barrado pelo porteiro que o avisou que a senhorita Miller não havia chegado. O seu objetivo de ir até ela, era completar o que jurou fazer durante o caminho de casa, iria mata-la. Mas por sorte ou azar, não estava em casa ou mandou o porteiro mentir.
- Onde você está Aysha?! – Saindo do prédio atordoado, cerrava os punhos e murmurava.
Entrou no carro e retirou um aparelho celular que tinha guardado no porta-luvas o ligando para tentar falar com Carly e quem sabe agora, o atendesse.
Socou o volante assim que entrou no carro e antes de dar a partida, o seu amigo que trabalhava na administração do hospital, enviou uma mensagem preocupado com Carly.
Ali, o seu mundo caiu. Aonde a sua esposa estava e pelo visto, não estava bem.
Arrancando com o seu carro, Joshua seguiu para o hospital a procura do amigo para saber melhor sobre isso.
Continua...
Prevejo muita tempestade a frente!