Na sala de Christian, o clima estava tenso entre ele e Catarine. Por mais que a mesma soubesse do que se tratava aquela conversa, estava fingindo demência para não perder o seu emprego. Mas será que perderia o seu trabalho só por falar a verdade? Se questionava em pensamentos.
De repente, a voz rouca e vil reverberou naquela sala, a tirando dos seus pensamentos e questionamentos.
- Enfermeira Catarine, a senhora gosta do seu trabalho no hospital?
Por mais que o seu tom fosse calmo, ela sentia o corpo tremer pois, sabia que Christian era um homem bem explosivo quando queria e aquela calmaria a estava deixando em pânico. Respirando profundamente, organizou as suas emoções para o responder.
Fitando o belo homem na sua frente, ela assente com a sua voz trêmula.
- Sim... senhor.
Inclinando-se para frente da sua mesa de vidro, Christian apoia os seus cotovelos sobre a mesma e a encara com um semblante bem sério e lhe faz mais uma pergunta.
- A senhorita tem algum problema ou desgosta de algum funcionário do hospital? - Conhecendo-a bem, já sabia a resposta.
Ela n**a nervosamente.
- Não... senhor.
Uma lufada no ar, Christian dá antes de chegar a parte que precisava. Com as confirmações da enfermeira Catarine, poderia chegar ao ponto ao qual foi chamada a sua sala.
- Então senhorita Catarine, porque cargas d’água, tem falado tanto da vida pessoal da doutora Carly! Porque gosta tanto de destilar o seu veneno sobre ela pelos corredores?
Com os olhos arregalados, olhou para aquele homem que a encarava com desdém. Sentia enojado por tudo o que soube e até mesmo reforçaram que aquela enfermeira possuía um ódio gratuito pela melhor médica pediátrica do seu hospital.
Por mais que Catarine fosse uma ótima enfermeira do departamento de clínica geral e algumas vezes cobrisse alguma enfermeira no mesmo setor que Carly atuava, não entendia porque tanta raiva pela ex-mulher do seu amigo.
- Bem... Eu... – Tentava se explicar, mas falhou miseravelmente.
Olhando-a com escárnio, desdenhou.
- Sabe enfermeira Catarine, há tantos anos está aqui na nossa matriz e sempre fora assim desrespeitosa com outros profissionais, só que dessa vez a senhorita passou de todos os limites.
Engoliu em seco pelo que Christian despejava sobre ela e a mesma abaixou a cabeça envergonhada.
Christian por outro lado, queria lhe dar uma lição. Já estava farto de vários profissionais se queixarem sobre o seu comportamento, mas estava surpreso por Carly nunca ter reclamado dela. Soube por outras enfermeiras e médicos que reclamaram da sua conduta contra uma médica que sempre foi solícita com todos, além claro de tratar Catarine com respeito ao contrário da mesma que desdenhava de Carly pelas costas e até em alguns momentos quando estava no mesmo setor que ela, era às vezes grossa. O que Carly acarretava por ser assim só por ser amiga de Ashley que mentiu seu nome verdadeiro se tornando Aysha.
Levantou-se da sua cadeira dando alguns passos até o seu aparador se servindo de uma água que retirava de um balde com gelo. Ao despejar aquele líquido translúcido no copo, sorveu de um gole e colocou o copo de volta no lugar que estava.
Lentamente caminhou até atrás da cadeira em que Catarine estava sentada e então se inclinou. O suficiente para sua voz regada ao ódio de como aquilo o deixava enojado acontecendo no seu hospital, murmura ao seu ouvido.
- Você acha que eu não saberia de tudo o que andou fazendo Catarine! Acha mesmo admissível ser como é dentro do meu hospital e vou achar maravilhoso o que faz?
Seu corpo se retraiu. Encolheu-se pelo ecoar da sua voz e com isso, estava se tremendo toda. Ao afastar-se da sua cadeira, Christian voltava para a sua, quando ouviu um estrondo no chão.
Ao olhar para onde vinha o barulho, se deparou com Catarine ajoelhada e chorando ao chão. Suplicava por clemência ao seu chefe.
- Por favor senhor, me perdoe por tudo o que tenho feito. Me dê mais uma chance. – Um soluço escapou enquanto tentava pedir desculpas por tudo que estava fazendo. Demonstrava de fato, estar arrependida.
Massageando as têmporas, Christian estava indignado com aquilo. Não iria demiti-la embora, pelo menos não por enquanto. Mas vê-la daquele jeito foi o melhor que poderia pela lição que queria aplica-la. Mas, não deixou de puni-la.
- Levante-se enfermeira Catarine!
A mesma se negava até que num tom mais ríspido, ordenou.
- Levante-se agora!
Ouvindo essas palavras, Catarine estremeceu. Fez o que Christian ordenou e enxugou o seu rosto com as palmas das suas mãos abruptamente.
Fungou profundamente e o encarou incerta do que o seu chefe pretendia.
- Passe no RH para assinar a sua suspensão. Está sendo advertida pelo seu m*l comportamento e com isso, ficará 10 dias afastada sem remuneração por esses dias. Terá 10 dias descontados do seu salário. Agora pode se retirar.
Christian não tinha mais paciência com aquela mulher na sua frente. Voltou a sua cadeira e as suas anotações sem olha-la novamente.
Mesmo que tenha sido punida, o agradeceu e saiu antes que resolvesse mudar de ideia, mas ao passar pela porta, estava enfurecida e a secretária percebeu.
Saiu praguejando algo que não foi capaz de conseguir ouvir pela moça que estava atenta ao que fazia enquanto marchava para o elevador e ir até o RH para assinar sua suspensão.
Enquanto isso na ala da pediatria, Carly fazia o seu trabalho feliz mas preocupada com o que a enfermeira Catarine poderia vir a fazer contra ela. A sua preocupação era por seu bebê, mas com os demais colegas e principalmente Ander, não precisaria ficar assim.
Seu celular vibra e era uma mensagem que recebia.
Pediu licença para a mãe e uma menina que veio para a emergência ser atendida por ingerir alguns comprimidos da mãe que é cardíaca e com isso, solicitou uma pequena lavagem no estômago da menina, saiu da sala em que preparava a sua paciente para fazerem a lavagem enquanto ia verificar quem havia mandado mensagem.
Ao ver quem era, congelou. Não acreditava que acabaram de se divorciar e Joshua agia como se ainda fossem casados.
“Estarei saindo em viagem a trabalho amanhã. Amo vocês e tentarei voltar logo. Josh"
Sentiu um calafrio percorrer por seu corpo até que Ander se aproximou colocando as mãos sobre o seu ombro a assustando.
- Que susto! – Exclamou levando a mão ao peito.
- Desculpa minha linda. Está tudo bem? - Olhou-a preocupado.
Respirando fundo, assentiu.
- Agora sim.
Desconfiado, a indagou.
- O que foi que te deixou assim?
Virando a tela, Ander pôde ler a mensagem. Por mais que ficasse com raiva, sabia que aquilo era normal vindo de Joshua e principalmente de um homem que acabava de se divorciar.
Olhou para a amada e sorriu.
- Isso é normal. Vindo dele é normal. Ainda mais que hoje assinaram o divórcio e vocês tem um bebê a caminho.
Suspirando pesado, acabou concordando desanimada.
- É, você tem razão.
- Vamos fazer um lanche na cantina? Está há muito tempo sem comer.
- Vou só voltar na sala para que as duas enfermeiras façam o procedimento na minha paciente e já volto.
Pegando-a de surpresa, beijou a sua bochecha a deixando corada.
- Queria beijar a sua boca deliciosa, mas me contento somente com o seu rosto. – Deu de ombros sorrindo.
- Bobo! – Sorriu e correu para a sala tentando fugir de toda aquela vergonha.
Ander riu e a esperava na frente da sua sala quando foi abordado por alguém que o fez fechar logo a cara.
- Doutor Ander. Vejo que está bem íntimo da doutora Carly! Bem mais que quando era casada. Quem diria! – Seu tom é de pura inveja e despeito.
- O que quer enfermeira Catarine, torrar a minha paciência suponho! – Seu tom é ríspido.
- Nossa doutor Ander, assim me ofende. Só vim avisar que ficarei 10 dias fora. Estou suspensa pela queridinha do diretor Christian. – Fingiu-se de injustiçada.
Franzindo o cenho, não quis demonstrar que aquele comentário o deixou com raiva, mas sabia no fundo que aquela enfermeira, era capaz de tudo já que adorava destilar o seu veneno.
- Fico feliz em saber que não estará aqui esses dias. Pelo menos o ar estará mais leve com a sua ausência. Agora, se não se importa, me poupe da sua presença.
Estendeu o seu braço lhe mostrando o caminho. Catarine cerrou os punhos e suas unhas, cravaram na sua palma chegando a ferir. Estava furiosa por ser tratada com tanto descaso pelo homem que sempre nutriu sentimentos.
- Você...
Sem conseguir falar mais nada, girou os calcanhares pisando duro no chão com raiva.
Já Ander, se viu satisfeito e com isso, ficou imerso nos seus pensamentos pelo que Catarine disse e sentiu o peito se apertar de medo por ter mais um concorrente tentando tira-la dele. Nem sentiu que Carly havia voltado, até a sua voz doce e suave ressoasse no seu ouvido.
- Vamos Ander?
Lentamente, ele vira-se ao seu encontro. Seus olhares se cruzam e recaem sobre os seus lábios que estão sorrindo.
- Huh! Vamos sim minha linda.
Mesmo que o achasse estranho, resolveu não perguntar nada. Se ele quisesse, com certeza falaria. Então, seguiu ao seu lado até a cantina, onde fizeram o seu lanche em silêncio.
Os dias foram passando e Joshua já estava trabalhando na filial em Springfield. Lá, reencontrou um taxista que estava trabalhando para ele como motorista particular e teve uma ideia para quando voltasse para Shelburn Falls. Só que esse taxista, era um amigo de longa data.
Na hora certa, lhe faria uma proposta, enquanto isso, estava se familiarizando a cidade e ao trabalho, mas não deixava de pensar em Carly e no seu filho até que recebeu um mensagem do seu pai.
Ele não estava bem e queria vê-lo no hospital em que estava internado. Por sorte, era na mesma cidade em que estava e poderia ir no mesmo momento em que recebeu a mensagem.
Falou com o seu amigo Mark e foram até o lugar que o seu pai lhe pediu para o encontrar.
Chegando lá, sentiu uma dor ao ver sua mãe com Philip e a sua irmã sentados numa sala de espera com os olhos bastante vermelhos e inchados. Se aproximou em passos lentos temendo o pior.
- Mãe, Philip, como está o meu pai?
Erguendo os seus olhos, a sua mãe suspirou pesarosamente e disparou com a sua voz trêmula.
- Ele está naquela porta. Não está nada bem meu filho. Vá vê-lo.
O sorriso fraco da sua mãe, chegou a aperta-lhe o peito. Suspirou profundamente e virou-se. Caminhou como se houvessem correntes nos tornozelos que tentava não chegar naquela porta até que estava frente a ela.
Pôs a mão sobre a maçaneta e respirou várias vezes tentando se acalmar. Até que, girou sinuosamente e abriu. Lá estava seu pai, envolto em aparelhos, com uma máscara de oxigênio na face. Seus olhos profundos e com olheiras, pele pálida aparentando que desde a última vez que se viram estava mais magro.
Assim que seus olhos pousaram sobre ele, estendeu a sua mão que estava ligada ao acesso intravenoso do soro.
Os olhos cheios de lágrimas não conseguia mais conter a vontade de chorar. O choro copioso veio forte assim como os pés que se apressaram para se aproximar.
Indo em direção ao seu pai, percebeu que o mesmo também tinha lágrimas escorrendo por seu rosto pela emoção de ver o seu filho antes de partir.
- Pai!
Segurando a sua mão, chorou ainda mais. O homem que estava ali lutando pela vida, para pelo menos ver o seu filho uma última vez já que a agressividade da doença resolveu lhe tomar todo o tempo que lhe restava, retirou a máscara para que Joshua pudesse lhe ouvir.
A voz trêmula, saía como um sopro.
- Filho...
Os dois se olharam e então, Joshua o abraçou desesperadamente já sabendo o que estava para acontecer.
Continua...