Preocupada

1129 Words
Anna Voltamos do clube e fui direto para o meu quarto. Ficamos lá quase duas horas e pareceu uma vida inteira. A Perlla me apresentou a todas as famílias possíveis que tinham homens disponíveis para casar. O meu rosto estava dolorido de forçar sorrisos e se mais alguém comentasse mais uma vez como eu era linda e parecida com ela, eu juro que ia gritar. O Nicolas não tinha aparecido ainda e eu estava começando a ficar apreensiva. Depois que troquei aquele vestido por um conjunto mais leve, sentei na beira da janela e tentei me apegar a alguma leitura. Sem sucesso. Ele não tinha mandado mensagem nem aparecido ali, o que me fez pensar que talvez os Trucks não fossem tão receptivos quanto ele imaginou. Calma Anna, não entre em pânico. Ainda não. Ele foi pedir ajuda, fazer uma aliança com eles, para quando a Clara assumisse as coisas aqui em casa, ele pudesse se aproximar de mim. Poderíamos namorar pensando em casamento, e não seria necessária uma oferta pelo meu dote. Eu dividiria a vida com ele por amor, não por um contrato determinado pelo meu pai. Às 14 horas eu desci, era hora do almoço e como sempre me sentei no meu lugar na mesa em silêncio. Não era permitido que eu conversasse com os homens da minha família durante as refeições. “Uma moça educada deve apenas existir, sem demonstrar reações ou fazer comentários. Assim ela se mantém como a esposa ideal.” Aquela ideia de ser um objeto a ser exibido me dava calafrios, mas era a realidade. Observei os meus tios sentarem nos seus lugares, um a um seguidos pelo meu pai. A Gio sentava à minha direita e a Perlla a minha esquerda, e eu sempre agia como se estivesse sozinha. Iniciamos o almoço em silêncio, e torci para que continuássemos assim. - O papai saiu de novo? - O Mattia perguntou. Continuei olhando para o meu prato, concentrada na sopa de legumes destinada para mim. Carnes em geral só podiam ser consumidas em eventos e almoços importantes, no dia a dia eu me alimentava com caldos e legumes em geral. Afinal, uma princesa Camorra não poderia exagerar na comida e parecer gorda. - Sim. Ele foi resolver alguma coisa na central. - O meu pai respondeu sem olhar para ele. - E sobre a nossa visitante, quando ele vai convidá-la? - O Davi perguntou e precisei de toda a minha força para não olhar para ele. - Eu esperava que ele não precisasse convidá-la, mas você fez questão de resolver isso. - Aquele tom, ameaçador, era mais familiar do que eu gostaria. Eu sempre soube que o meu pai não era uma boa pessoa. Ele nunca foi amoroso conosco. Éramos especiais somente quando ele poderia tirar vantagem de alguma coisa. Já o meu tio sempre foi diferente. Ele é um homem justo e cuidadoso, e sempre agiu com muito carinho comigo e com a minha irmã. Eu queria que ele fosse o próximo na linha de sucessão, não o meu pai. Com certeza ele não iria se opor que eu tomasse as minhas próprias decisões. Mesmo que ele fosse um Bambino. - Domi, o papai ia acabar descobrindo. E ela é a herdeira legítima, gostemos ou não. - O Matteo bufou com a resposta dele. - Você sempre foi um mole Davi. - O meu tio era um babaca. De todos eles, o Matteo era o que eu menos gostava, beirando a ódio. - Matteo, tenha respeito na mesa. - o meu pai repreendeu e ele bufou de novo. - Os homens já voltaram? - O Mattia perguntou. - Chegam umas 4, só o Nico que pediu o dia para visitar a mãe. - Olhei rapidamente para o Matteo e voltei os olhos para o meu prato. Então o Nicolas não viria hoje. Um alívio estranho me dominou. Ele deve estar bem, deve ter conseguido falar com ela e pedido ajuda. Muito em breve eu iria embora dali. - Eu gosto desse rapaz. - O meu pai falou. - Acho que ele é bastante dedicado nas missões. - Ele é um soldado como qualquer outro. - O Matteo respondeu. - Não é não. Qualquer outro olharia com cobiça para as minhas meninas, ele não faz isso. - Então ele é um covarde ou um bicha. - Um choque de raiva subiu pelas minhas pernas. Olhei para o Matteo de novo, agora sem tentar disfarçar. Eles não perceberam, mas a Perlla ao meu lado viu e eu rapidamente olhei novamente para o prato. - Bicha ou covarde, ele vai viver mais que muitos outros. - O meu pai constatou e senti um alívio imediato. Eu sabia que o Nicolas tentava não nos olhar, mas era para não levantar suspeitas sobre nós dois. - Perlla, como foi no clube? - O meu corpo endureceu. - Muito bem. Acredito que os Thermas e os Bittencourt devem fazer uma oferta. - Olhei discretamente para o meu pai, que não esboçou reações. - Leve-a mais vezes, acredito que podemos encontrar pretendentes melhores. - A Perlla assentiu e voltou a se calar. Fiquei aliviada quando o assunto mudou e passou a ser sobre carregamentos de vinho. Terminei o meu almoço e assim que foi educado o suficiente sai da mesa e voltei para o meu quarto. Andei de um lado para o outro, ainda ansiosa. Eu sabia que ele não deveria aparecer ali hoje, e por conta disso eu saberia apenas amanhã, se tivéssemos sorte, o que aconteceu. Deitei na cama e fiquei ali, olhando para o teto. Seria uma longa tarde e uma longa noite. Respirei fundo e fechei os olhos, voltando alguns dias antes. Nico e eu sempre trocamos olhares e eu sentia o meu coração acelerar sempre que eu o via. Ele me acompanhou no jardim e em algumas compras, algumas vezes, quando o Tom estava ocupado com outras coisas. E nesses momentos começamos a conversar e foi aí que eu me apaixonei. Não houve um grande acontecimento, apenas a beleza e educação dele foi o suficiente para me envolver. Em uma noite, que tive uma das minhas frequentes crises de insônia, eu fui caminhar no jardim. Era madrugada já e eu apenas alguns homens estavam em serviço, então eu consegui caminhar sem chamar atenção até a árvore chorona que tinha no jardim dos fundos. Um lugar em que a Perlla cultivava várias espécies de flores. Embaixo da árvore ela colocou um banco de pedra e eu sabia que poderia sentar ali sem ser vista, já tinha feito aquilo milhões de vezes. Era o único lugar que eu sentia que não estava sendo vigiada. Mas naquela noite, alguém me seguiu, percebendo quando caminhei entre os arbustos e me sentei ali, longe dos olhares curiosos.
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