Clara
- Eu ainda não entendi, voltem conosco para Nova York. - O Ricardo sugeriu, depois que o Nicolas, resumidamente explicou as responsabilidades da Anna, como uma Camorra.
- É praticamente impossível tirar ela de lá, e mesmo que eu consiga. Eles vão nos achar… - Ele respirou. - Eu vou ser morto e ela terá que enfrentar um tribunal.
- Tribunal? - Fiquei tentando imaginar como aquilo funcionava.
- Sim. Dentro da Máfia Camorra existe um grupo que controla as ações dos mafiosos. Basicamente para não chamarem a atenção demais. Fugir seria um ato de traição, e ela seria condenada.
- Ela seria presa? - A expressão do Dego era indecifravel.
- Pior… As punições variam muito, com base no que a pessoa fez. Mas eles são sanguinários. A punição seria com a carne.
- Eles iriam bater nela? - A minha voz saiu mais controlada do que eu me sentia. Ele assentiu.
- Ela não iria só levar uma surra. As punições servem para humilhar. Ela seria açoitada em praça pública, na frente do alto escalão dos Camorras, e seria deserdada, se tornando uma mancha de vergonha na família.
- Isso é terrível. - Falei.
- Eu sei. Por isso, eu preciso ter certeza que consigo protegê-la antes de pensar em fugir. - Ele balançou a cabeça e fechou os olhos como se lutasse com as emoções.
Depois que ele me relatou como a estrutura da máfia funcionava ali eu descobri que ficar enojada seria comum dali para frente. Eu estava processando o horror que eu sentia.
- Dentro dos Bambinos, você não tem poder para protegê-la? - A pergunta do Ricardo pareceu uma ideia ainda mais insana pela expressão do Nicolas.
- Depois que a Perlla fugiu, o meu tio proibiu qualquer tipo de relação com os Camorra. Ele literalmente ameaçou a todos de morte, e lá a estrutura é parecida, com as suas leis e os seus governantes.
- Mas você é Herdeiro por direito, pode assumir no futuro e mudar as regras. - Eu sugeri e ele sorriu.
- As pessoas não me reconhecem como herdeiro, Rhay. - Ele era filho do Russo, ele tinha direitos, assim como eu. - Quando o meu pai foi embora a minha mãe me escondeu. Faz poucos anos que eu soube de quem eu era filho e procurei o Carlo, que me colocou como conselheiro. Ele tem 3 otári0s na linha de sucessão e já chegou a propor que eu casasse com uma das filhas dele… - Ele fez uma cara de nojo. - Mas elas são minhas primas.
- A Anna também é sua prima. - Lembrei a ele e ele sorriu.
- A Anna não é filha legítima da Perlla, apenas do Dominique. - O choque gelou o meu estômago.
- De qualquer forma, mesmo que eu seja herdeiro, não sou reconhecido como tal. - Ele concluiu.
- Tudo isso é muito triste e eu sinto muito. - Falei, sendo honesta com ele.
- Obrigado. Mas preciso de ajuda, de verdade. - O olhar do Ricardo ainda analisava o menino, agora com um brilho de compaixão.
- Nicolas, nos conte, quais os planos do Carlo? - Pedi. Ele suspirou antes de começar a falar.
- Você sabe da rivalidade entre as famílias, uma rivalidade que já foi maior e menor ao longo das últimas décadas. - Assenti. - Quando os nossos pais partiram, o meu tio assumiu tudo assim que a Perlla fugiu. E desde então ele planeja tomar Nápoles. Ele fez alianças com famílias poderosas por toda a Itália, alianças em segredo, escondendo de todos o tamanho do poder e influência da família Bambino na Itália. O plano dele é tomar tudo, ser a família mais poderosa do país inteiro, e acredite em mim quando eu digo que ele é capaz disso. O único lugar que ele não conseguiria uma aliança é em Nápoles. Os Camorra estão enfraquecidos, e nem imaginam isso. Então o plano é simples até. - Ele fez uma pausa, tomando uma lufada de ar. - Ele vai matar todos os Camorra, até o último soldado vivo. Extinguir a família e as famílias aliadas, que responde a eles, podem escolher entre servir ao meu tio ou ter o mesmo destino. É assim que ele pretende tomar Nápoles.
- E você não quer isso... - Presumi.
- Eu não sou santo, facilitaria as coisas para mim. Eu poderia fugir com a Anna… Mas eu sou o conselheiro e atual espião deles. Eu colocaria os explosivos e na hora certa mandaria todos eles pelos ares.
- Mas é a família da Anna. - O Ricardo completou. - Ela não te perdoaria.
- Você me perdoaria? - Ninguém respondeu.
- Ela sabe? - Eu perguntei.
- Ela sabe que existe um plano para assumir Nápoles, e que eu estou ali infiltrado para passar informações. E é isso. Ela não sabe que eu posso executar isso quando eu bem entender.
- Você já poderia ter feito? - Perguntei.
- Eu já deveria ter feito, e logo algum Bambino virá atrás de mim, para saber porque o plano ainda não aconteceu. E bem, seja lá quem venha…
- Vai colocar o plano em prática. - Conclui para ele.
- Eu não estou vendo muita saída para você. - O Ricardo admitiu.
- Se vocês me ajudarem, existe saída.
- Eu ainda não entendi como eu poderia ajudar, nem se devo. - Falei.
- Você, mesmo distante, é filha de um homem que já foi Dom dos Bambinos. Você é a próxima na linha de sucessão. Não os nossos primos, nem mesmo o Carlo que está lá.
- As mulheres não podem, lembra? - Ele assentiu.
- Elas não podem quando são solteiras, mas um casamento por contrato resolveria isso.
- Você enlouqueceu? - O Ricardo apoiou o dedo no gatilho de novo.
- Não. Você pode ir até o Carlo, exigir o seu lugar de direito, e dizer que casou com o Truck ali para fortalecer os laços das famílias. Ele então se tornaria o Dom. - Pisquei para ele, tentando entender.
- Calma. Eu reivindico o meu lugar, mas o meu marido que assume? - Ele assentiu. - Isso é um absurdo.
- É uma forma de se pensar. - Ele falou. - Mas, de qualquer forma, você veio atrás de vingança, e procurou a sua outra família primeiro. Logo os Bambinos devem aparecer na sua porta, e eles não vão perguntar os seus motivos, você será arrastada para o tribunal. - Senti um gelo no estômago. - Ou você se associa aos Camorras ou aos Bambinos. E isso precisa ser feito rápido, caso contrário, uma das famílias poderá te acusar de traição.
- Eu sabia que não era uma boa ideia virmos aqui. - O Cobra falou.