Dom José Camorra

1284 Words
Dessa vez não teríamos espaço para erros. Eles sabiam as nossas intenções e iremos direto para a negociação. Quando o Ricardo parou o carro nos portões imponentes da Mansão Lussuria eu senti o meu estômago revirar de ansiedade. Um homem armado se aproximou e olhou dentro do carro. O Dego nos acompanhou dessa vez também, então quando o homem nos encarou eu imaginei que ele iria barrar a nossa entrada. Ele olhou para dentro, onde outros dois homens estavam posicionados e os portões abriram. O Ricardo conduziu o carro calmamente pelo caminho entre árvores até a entrada da mansão e parou bem ali. Na porta o Davi nos esperava, com um semblante despreocupado. Como ele havia se comprometido, teríamos a reunião com o Dom, e a presença dele me dizia que somente ele concordou com isso. Descemos do carro e um outro rapaz pediu a chave ao Ricardo, para estacionar. Caminhei até o Davi e o cumprimentei com a cabeça. - Fico feliz que pode se juntar a nós nesta tarde. - Ele ensaiou um sorriso, mas encarou os meus acompanhantes. - Vejo que aumentou o seu efetivo. - Esse é Vicente. Um dos meus Capis. - Ele assentiu. - Sejam bem vindos. O almoço está para ser servido, ficarmos felizes se nos acompanharem. - Não tem necessidade. - O Ricardo falou. - Confie em mim, o Dom negocia mais abertamente quando está comendo um bom carbonara. Olhei para o Ricardo e ele pareceu relaxar um pouco. Caminhamos por dentro da mansão dessa vez. Do lado de dentro era ainda luxuosa, agora que os espaços não estavam preparados para uma festa. Obras de arte estavam penduradas nas paredes e estátuas complexas demais para que eu entendesse estavam dispostas por todos os lados. Passamos por algumas portas e um cheiro gostoso de comida recém feita nos atingiu. - A Maria está caprichando, afinal vocês são convidados de honra. - O Davi comentou, gesticulando em direção ao que eu imagino que fosse a cozinha. Nos mantivemos em silêncio, sendo conduzidos por dentro da fortaleza, cada vez mais fundo. No final daquele corredor havia um par de portas pretas imensas, que tomava quase a parede inteira. Ali era o escritório do Dom, eu não tive dúvidas. O Davi se adiantou e bateu na porta. - Potresti entrare. - A voz dele era forte e eu estremeci ao ouvir. O Davi abriu a porta e entrou, eu o segui, sentindo os meus 3 acompanhantes muito próximos. A sala tinha um formato oval, com várias poltronas de couro e um sofá preto imenso em um canto. Tecidos, cortinas e tapetes estavam dispostos por todos os lados e na parede de fundo tinha uma estante de ponta a ponta, cheia de livros, com um quadro no centro, um quadro com toda a familia Camorra pintada. Abaixo tinha uma mesa de mogno imensa, e no meio dela, um senhor com expressão simpatica nos aguardava. - Mia cara nipote. - Ele falou. - Dom, ela não fala italiano. - O Davi alertou. O Dom sorriu enquanto se levantava. Ele era alto, como todos os filhos, e pude ver os mesmos olhos do Davi nele. O queixo firme e um sorriso amistoso. Ele veio até mim e segurou a minha mão. - Minha querida sobrinha. Fico feliz que finalmente se juntou a nós. - Ele beijou as costas da minha mão e eu lutei contra o impulso de puxar a mão. Ele se virou para os rapazes e observou cada um deles, com uma expressão de cautela. - Vejo que veio bem acompanhada. - O sotaque dele era forte, mas o inglês dele era admirável. - Sim. - Confirmei. - Esse é o Ricardo, que divide a chefia dos Trucks comigo, e meu futuro marido. - Ele estudou a expressão do Ricardo. - E os outros dois são os meus generais. Rubens e Vicente. - Apontei para o Piranh4 e depois para o Dego. Ele sorriu para mim, ignorando os dois. - Venham, sentem… - Ele apontou para o sofá. - Davi, sirva vinho para todos! - Ele pediu enquanto sentava em uma poltrona ornamentada de couro preto. Sentei e o Ricardo quase sentou no meu colo, de tão perto que ele ficou. - Attento. (Cuidadoso) - O Dom comentou. - Mi prendo sempre cura di ciò che è mio. (Eu sempre cuido do que é meu). - O Ricardo respondeu em italiano e fiquei levemente incomodada por não entender direito o que eles falavam. Ele apoiou a mão na minha cintura e começou a circular o dedo ali, demonstrando a sua possessividade. O Dom riu da resposta dele e quase gritou. - Bem, vamos aos negócios! - O Davi colocou taças na mesa de frente e serviu de uma garrafa um vinho encorpado. - Molto bene grazie. (muito bem, obrigado) - O Davi assentiu, e sentou em outra poltrona. - Meu menino disse que você tem uma proposta para mim. - Sim, tenho. - Olhei para o Davi insegura e ele assentiu com a cabeça, me encorajando. - Como sabe, somos uma organização que cresceu em Nova York, mas que nasceu aqui. - No sei0 dos meus inimigos. - Ele falou sorrindo. - Sim. - Eu não parei. - Sou filha de um Bambino, mas sou neta de uma Camorra. - Eu sabia que a minha descendência seria questionada, achei melhor já esclarecer isso. - Não quero assumir nada, de nenhuma das duas famílias. - O sorriso dele aumentou. - Estar aqui, com os seus homens, armados como estão, me diz outra coisa. - Eu sorri para ele. - O que os meus homens carregam é apenas por proteção. Eu poderia ser bem recebida por vocês ou morta por ser filha de quem eu sou. - Ele assentiu, ainda sorrindo. - O dedo do Ricardo circulava a minha pele, e me concentrei no movimento para não perder a cabeça. - Nós fizemos um mercado sólido nas Américas, e queremos expandir. - Quero uma amostra. - Ele falou com simplicidade. O Dego tirou do bolso um pino e apoiou em cima da mesa. O Dom segurou nas mãos. - Parece pura. - Ele abriu o pino, molhou o dedo e colocou na boca. Fechou os olhos e estudou o sabor. Eu não entendia muito de drogas, mas eu sabia do poder da nossa. - Perfetto! - Ele fechou o pino e colocou de volta em cima da mesa. - Como pretende exportar? - Não quero exportar. - Falei calmamente. - Vou abrir uma fábrica Truck aqui, e espero que você seja o meu único comprador. - Ele me estudou enquanto eu falava. - Sei que o que produz não é tão potente quanto a dos Bambinos. - Os olhos dele seguiam me analisando. - Mas, com isso. - Segurei o pino nas mãos. - Você pode tomar a Itália. - Ele observou o meu movimento, coloquei o pino em cima da mesa de novo e esperei. Ele refletiu por alguns segundos e olhou para o Davi. - Domi não quer. - O Davi falou. Eu sabia que o subchefe iria se opor. - E tu? - O Davi pensou por alguns segundos e sorriu. - Não cabe a mim. - Ele respondeu por fim. - Uma resposta politica. - O Ricardo falou e o Davi assentiu. O Dom respirou fundo e sorriu. - Mangiamo. (Vamos comer) - Ele levantou. - A Maria nos espera com o Carbonara. Eu fiz menção de recusar. Sem saber se conseguiria comer qualquer coisa, com as sensações no meu estômago. Ele me olhou sorridente. - La carbonara non aspetta. (O carbonara não espera.) - E eu sabia que ele não aceitaria um não como resposta.
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