Eu levantei e o Ricardo se colocou atrás de mim, pronto para me segurar. Todos ficaram alertas, inclusive a Julie. A Perlla manteve o olhar no meu, sabendo que com aquela frase ela tinha assinado a sua sentença de morte. Eu sabia o que ela estava vendo ao olhar para mim, ela estava vendo a fúria do meu pai nas minhas feições.
Eu não atacaria agora. Esse descontrole colocaria tudo a perder, mas eu repassei na minha mente formas muito prazer0sas de fazer ela engolir aquelas palavras.
- Esse chá está encerrado. - Falei, segurando os meus nervos. - Aguardo uma nova data para me reunir com o Dom.
- A verdade é demais para você? - O Dominique perguntou. - Você não os conhecia, não imagina o que fizeram com ela. - Ele sorriu com praz3r, ao falar isso. Ele sentia praz3r em ferir a esposa e a mim. Essa ação não passou despercebida por ela.
- Essa não é a verdade. - Olhei para a Perlla. - Eu não me lembro do meu pai, mas o Russo era gentil e amoroso. Ele largou toda essa merd4 para me criar e se opôs veementemente que eu assumisse o meu lugar, porque queria me manter segura. - Eu reconheci a raiva na minha voz, a emoção começou a subir pelos meus nervos. Senti o Ricardo apoiar a mão na minha cintura, pronto para me segurar.
- Ele sabe fingir muito bem… Ele também te chama de florzinha? - A Perlla me desafiou e estremeci. A forma que ela falou não estava no tempo certo. Ela não sabia.
- Chamava. - O olhar dela cruzou o meu e percebi ela estremecer. - No passado. - Sim, a dor saltou dos olhos dela e eu queria que dominasse tudo, que ela fosse dor por completa.
- O que está dizendo? - Ela inclinou o corpo para frente trêmula.
- O Russo morreu. Picado, como refém, para me atingir. - Falei cada palavra sentindo o recipiente que guardava a minha raiva explodir dentro de mim. Olhei para a Julie e pelo olhar dela, ela tinha ocultado muito das suas ações contra nós. - Se quer detalhes, a Juls pode te descrever exatamente, passo a passo do que fez… - Todos, sem exceção olharam para ela. Um temor passou pelo rosto dela e eu sorri.
- Julie…? - O tom da Perlla era um misto de dor e incredulidade. Ela fez menção de falar.
- Foi ela. - Eu senti o sorriso abrir nos meus lábios. - Assim como muita merd4 que aconteceu na minha vida. Ela matou o Russo.
O único que teve alguma reação foi o Matteo. Ele riu, não de mim ou do que falei, mais dela. Ele gargalhou, jogando a cabeça para trás.
- Ela é exatamente o que eu avisei que era. - A aceitação na expressão da Julie era uma bênção. Ela sabia que não iria sobreviver, seja pelas minhas mãos ou pelas mãos deles, ela iria morrer. - Eu me lembro nitidamente de ter avisado todos vocês, que ela era um lobo em pele de cordeiro.
- Vejo que não contou tudo para eles, minha querida. - Falei diretamente para ela. - Falou da Donna? Do Caqui? Falou do Cosmo? - Apoiei a mão na perna, sentindo o cabo da adaga ferver de encontro com a minha mão. A minha voz perdendo o controle. Em um segundo as mãos do Ricardo estavam nos meus ombros.
- Rhay, chega. - Ela falou com a voz calma, de encontro com o meu ouvido. Ele sabia qual seria o meu próximo passo, eu iria atacar ela, mesmo que isso nos colocassem em iminente perigo.
Ela era uma Camorra, não importa o quanto ela tenha me feito m4l.
- Ouça o Chefe Truck. - O Dominique falou.
- Não ouça, por favor… - O Mattia pediu sorridente. Eles estavam brincando comigo e eu não estava para brincadeira. Soltei a adaga e observei a minha tia, que lutava contra as próprias emoções. Ela parecia prestes a chorar e eu senti o triunfo me preencher.
Sangre, como eu sangrei…
- Perlla. - Falei diretamente para ela. - O que você viveu com eles não me interessa. Nunca mais os ataque na minha presença.
- Eles são Bambinos. - O Dominique falou antes que a Perlla pudesse ter uma reação. - Bambinos nunca serão bem quistos aqui.
- Eles eram Trucks. - Contra argumentei. - E os dois foram homens fortes e que mudaram a vida de muitos, fizeram da máfia algo além de poder e morte. - Ele sorriu com as minhas palavras.
- Aqui não é a América Clara, e quanto antes você entender isso, melhor para você e para o seu pequeno grupo de seguidores.
- Aliados. - O Ricardo corrigiu. - E não nos ameace. - Ele virou o olhar para o Ricardo e manteve o sorriso no rosto.
- Eu não ameaço. Eu faço. - Meus sentidos ficaram duplamente alertas. Ele tinha decidido nos matar assim que pisamos ali, eu o desafiei e ele não gostou.
O Davi levantou calmamente, sem ter feito nenhum movimento ou comentário até aquele momento.
- Nique, não vamos chegar em lugar nenhum. Você sabe quem ela é, o que ela representa. - A honestidade das palavras dele me surpreendeu. - Sabe o que o papai faria. - O Dominique não se deu ao trabalho de olhar para o irmão, manteve a expressão ameaçadora para nós.
- Isso é uma oportunidade para você, não é? - O Dominique falou, ainda olhando para mim. - Tendo ela, pode assumir as coisas. - Ele olhou desafiadoramente para o irmão.
- Quem sonha loucamente em ser Dom é só você. - O Davi respondeu, parecendo consciente da própria situação. Se virou para nós. - Agradeço a visita de vocês, a proposta e os esclarecimentos quanto a nossa irmã. - O tom cordial dele me surpreendeu. - Vou levar ao Dom o que foi discutido aqui e vou enviar um recado, chamando para uma nova reunião.
- Não acredito nisso. - Retruquei e ele sorriu de forma doce.
- Não espero que acredite, mas o sangue que corre nas suas veias garante a sua segurança. - Apertei os olhos avaliando o que ele queria dizer. - A sua segurança e a dos seus aliados.
- Eu incrivelmente não acredito nisso. Quem me garante, que vou passar por aquela porta e não serei atacada?
- Você é herdeira legítima de todo o legado dos Camorras. - Ele falou, muito descontraído para o meu gosto. - Todos sabem disso. - Ele olhou para o irmão, que parecia estar prestes a atacar ele. - E você quer expandir a sua riqueza aqui, respeitamos isso.
- Eu não quero herdar nada de vocês. - A verdade saiu pela minha boca antes que eu pudesse me segurar.
- Não imaginei que quisesse. - Ele admitiu. - Voltem em segurança, e que Deus os acompanhe.