Vingança é uma coisa que move até a mais bondosa alma.
Olhei no espelho, vestida para o baile daquela noite e avaliei quem eu me tornei.
Uma mulher perigosa, assassina, chefe da Máfia Nova Iorquina, que estava naquele momento em outro continente me preparando para caçar a cabeça de uma desgraçad4.
- O que aconteceu Clara Cardoso, para você acabar aqui? - Perguntei para o meu reflexo.
A definição talvez seja um pouco focada no lado negativo. Pensando bem, o meu destino sempre me levaria para aquele momento, os meios não importam.
Eu cresci em uma família que gerenciava as operações mafiosas de Nova York, e antes disso em Nápoles, na Itália, onde eu estava naquele momento.
Eu cresci longe de tudo isso. Eu era muito nova quando a máfia começou a tirar partes de mim mesma. Partes importantes e insubstituíveis. Eu perdi demais para a Máfia, muito nova. Eu perdi os meus pais, assassinados e o meu querido padrinho, ao qual eu também perdi recentemente, que me criou para ser uma mulher forte e independente, perdi todos para a vingança.
Vingança!
Eu não sei bem quando tudo isso mudou. Quando a minha repulsa pela máfia mudou e se tornou o meu lar. Eu sei o que foi o catalisador de tudo isso. E até ele cruzar o meu caminho, eu me mantive alheia e completamente sem contato com qualquer organização criminosa. Eu não me apeguei aos acontecimentos que me levaram até ali. Até aquela casa no oeste de Nápoles, onde uma verdadeira operação foi montada para caçar e vingar a nossa família. Os Trucks.
Me olhei no espelho de novo. Eu quase não me reconheci. Eu escureci o cabelo e mudei o corte, para tentar me misturar. Eu estava mais magra e com músculos. Quase sorri pensando no meu querido cunhado Beto, ele com certeza ia falar que eu estava ficando mais durona.
O Vestido vinho com pedras destacava o meu colo e me cobria até os pés. Simples e elegante. A faixa dos ombros cobriam a prova de quem eu era. O símbolo dos Trucks tatuado na altura do meu coração. Eu não queria chamar a atenção, aquele evento era apenas para reconhecimento dos nossos possíveis obstáculos para chegar até ela.
Me misturar era um desafio. Claro que não falar bem Italiano sempre me destacaria, mas eu tive sorte, a maioria das pessoas que estavam comigo falavam Italiano muito bem e passei o último mês treinando. Aquela noite seria a primeira jogada para assumir o meu lugar de direito em duas famílias muito fortes na Itália. A família Bambino, que levou os Trucks para as Américas e os Camorras, que a minha avó era a única herdeira antes de casar com o meu avô.
Como os Camorras prosperaram era uma verdadeira incógnita, com sorte saberíamos naquela noite.
Os Bambinos se mantiveram na Sicília, tomando tudo ao redor.
- Princesa? - A porta do quarto abriu, me tirando dos meus pensamentos. E ali estava ele, o motivo da minha vida ter mudado tanto e o catalisador para todas as decisões questionáveis que tomei até aqui.
Ricardo Campos. O chefe Truck. O meu vizinho mafioso, e também o dono do meu coração.
Observei ele entrar no quarto, vestido literalmente para matar. Ele usava um terno preto, de corte fino que ressalta o queixo forte e os olhos pretos. O cabelo liso preto estava penteado para trás, tornando a visão impactante do rosto lindo dele. O perfume dele chegou em mim antes dele, e eu soube que naquela noite eu poderia matar alguém, só por olharem para ele. A gravata dele era da cor do meu vestido, um vinho profundo e quando ele me viu pronta o sorriso dele quase me fez perder o ar.
- Estamos esperando você, meu amor. - Ele parou de frente para mim, me inebriando com o perfume acqua e o sorriso encantador.
- Estou pronta. - Aleguei, tentando encontrar a minha voz. - Eu vou ser obrigada a levar uma arma. - Brinquei olhando ele dos pés à cabeça.
- Ciúmes? - Ele me provocou. - Eu estou surpreso. - Ele me beijou carinhosamente nos lábios. - Eu gostaria de te mostrar o quanto eu estou enlouquecido vendo você nesse vestido.
- Mas não temos tempo. - Falei encostando o corpo dele no meu.
- Não temos tempo. - Ele apoiou uma das mãos na minha bund4 e apertou com vontade enquanto mergulhava na minha boca parecendo faminto. O beijo dele era uma promessa de atividades perversas e cheias de praz3r. A língua dele era igual a ele, dominadora. Controlando tudo o que toca. O hálito refrescante dele tomou cada canto da minha boca fazendo da minha língua a sua refém. Eu me entreguei ao beijo avassalador, deixando tudo o que passou e tudo que viria para depois. Aqueles momentos intensos com ele eram como uma recompensa por ser uma pessoa audaciosa.
E a minha audácia havia tirado vidas e salvo outras também. Sempre tentando manter a balança equilibrada, pelo menos pendendo para o nosso lado. Senti ele subir o meu vestido enquanto mordia o meu lábio e o meu corpo se preparou para recebê-lo.
Até que ele parou e se afastou com delicadeza.
- Realmente precisamos ir. - Eu suspirei.
- Você me faz perder a noção do tempo, sempre. - Ele me beijou com ternura em resposta e arrumou o meu vestido enquanto eu ajeitava a gravata dele que ficou torta com o beijo quente.
- Logo, teremos todo o tempo do mundo. - Ele prometeu.
- Sim, teremos a vida inteira. - Ele me estendeu o braço e eu apoiei a mão no braço dele. As minhas unhas vermelhas se destacaram na minha pele branca e ele sorriu ao ver que eu mantive a aliança no dedo.
- Achei que íamos fingir não sermos um casal. - Ele brincou. No plano íamos ficar separados durante a festa e observaríamos os Camorres de longe, sem chamar atenção.
- Mudei de ideia. - Sorri para ele. - Eu quero desfilar com você, como você é.
- E como eu sou, minha linda princesa? - Ele segurou a porta para eu sair do quarto.
- Você? Um pecado, saboroso e lindo… Um verdadeiro Truck. O meu Truck! - Ele riu livremente da minha possessividade.
- Eu preciso me acostumar com esse seu ciúmes. - Pisquei para ele. - Espero que você não mate ninguém.
- Aí está uma coisa que não posso prometer.