Esperança

790 Words
Clara Eu preciso muito sair daqui. Eu estava de novo trancada no banheiro fazia tempo demais, encarando o meu reflexo no espelho, e deixando de me reconhecer pouco a pouco. Por sorte, os meus ferimentos estavam curados, não sem cicatrizes, mas curados. Eu respirei fundo de novo, enquanto tentava voltar ao controle dos meus nervos. Logo a Gertrudes viria para a prova do vestido que eu usaria sábado, no meu noivado. Um grito silencioso saiu da minha garganta e eu tremi dos pés a cabeça. 22 dias presa nesse inferno e até agora eu não consegui falar com ninguém que possa me ajudar. Mas, sábado, talvez eu possa. Sábado eu posso tentar falar com o Nicolas finalmente, além de olhares trocados pela janela. Isso foi todo o contato que eu tive com ele durante aquele tempo. Nem mesmo a Anna tinha permissão para falar comigo, não depois da surra do Dom. Eu era completamente ignorada nas refeições e não tinha permissão para falar, sem que me fosse dirigida a palavra. O que quase nunca era. E na noite anterior, recebi apenas acenos de cabeça quando o Dom anunciou o noivado para o próximo sábado. Balanços de cabeça que eram mais uma ameaça do que uma parabenização. Aquela família estava ruindo, planejando se destruir pela herança do império Camorra e eu era o centro de tudo. Respirei mais uma vez. O Ricardo tem um plano, eu tenho certeza que ele vai me tirar daqui, mesmo que depois de 3 semanas essa frase não me acalmasse mais como fazia nos primeiros dias. Eu não posso perder a fé. Não depois de tudo… Uma batida na porta interrompeu os meus pensamentos e eu respirei fundo antes de sair do banheiro. - Senhorita… - A Gertrudes se curvou em cumprimento. - Gertrudes, quando estamos nós duas, me chame de Clara e por favor, me trate como alguém normal. Todo santo dia eu falava isso para ela, e todo santo dia ela repetia. - Desculpe… É força… - Do hábito, eu sei. Vamos logo com isso? - Depois dela cuidar de cada um dos meus ferimentos eu acabei me simpatizando pela governanta, e entenda, isso não quer dizer que eu gostava dela, mas ela não era cru3l comigo, apenas era profissional. - Temos 3 opções de cores. - Ela apontou para os vestidos no cabide que ela trouxe. - Eu aconselho que use o azul, ele vai ressaltar as suas feições. Eu não discuti, até porque eu não estava em clima de entrar em uma discussão por causa da cor do vestido que eu usaria para vender a minha alma diante de toda a sociedade de Nápoles. Eu me vesti com rapidez e a Gertrudes aplaudiu o resultado. - Você ficou deslumbrante. - O vestido era de fato lindo, mas eu nunca escolheria um modelo como aquele, que cobria boa parte da minha pele. Mas era um azul turquesa intenso e brilhante que ressalta mesmo os meus olhos. - Bem, está escolhido. - Eu comecei a tirar o vestido e ela estalou a língua se movendo. - Ajustes. - Ela moveu os meus braços e começou a trabalhar em ajustes que eu não tinha certeza que realmente precisava. Depois do que pareceu uma vida inteira, eu me troquei e ela se preparou para partir. - O Senhor Davi virá te buscar para uma volta no jardim mais tarde, para escolher as decorações. - Eu assenti. Aquilo também foi explicado no jantar, que era responsabilidade minha cuidar dos preparativos da festa de noivado. - Estarei pronta. - Respondi e ela saiu. Era a oportunidade de falar com o Nicolas, de enviar ou receber qualquer recado do Ricardo… Eles de certo estavam pensando em um plano, ou… Eu ignorei o pensamento de terem desistido. Era impossível algo assim acontecer, o Ricardo morreria tentando me tirar daqui. Me troquei e esperei, tentando não demonstrar a ansiedade que eu sentia. E ali eu fiquei, sentada na janela observando, estava quase na hora do Nicolas passar embaixo da janela e assentir como todos os dias que estava trabalhando, enviando um sinal. Há dias que eu achava que esse sinal era bom e dias que parecia que o sinal era ru.im. Talvez eles não tivessem um bom plano, talvez eles tivessem desistido ou até estavam dispostos a derrubar a todos para chegar até mim. Era confuso e doloroso, mas eu me obrigava a ter esperança, todos os dias, a cada hora, a cada merd4 de refeição que eu dividia com aquela família de bost4. A Anna mesmo tentou fazer alguns sinais durante as refeições no começo, mas depois que a Perlla perguntou se ela estava com câimbra ela parou. Esperança, era só isso que eu tinha. E teria que bastar.
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