Hospital

1086 Words
Jason Comprei várias coisas e algumas roupas pra ela, não sei por que, simplesmente comprei. Pego a chave em meu bolso, meio sem jeito, e abro a porta, deixo as sacolas de compras sobre a mesa, vou guardando logo os frios dentro da geladeira. Não sou muito bom cozinhando, sei fazer o mínimo, geralmente como na rua, qualquer porcaria mesmo. Eu sei, nada saudável, mas é o que o tempo me permite. Pego a bolsa com a roupa e levo para o quarto, deixo ela cair no chão quando encontro Ângela desmaiada. Ergo-a do chão frio, coloco sobre a cama novamente, afasto seu cabelo do rosto e vejo o hematoma na testa pálida. Maravilha, aposto que estava tentando fugir, maluca. Pego a bolsa e visto ela com uma calcinha e um short. Pego-a em meu braço novamente, saio com ela. A queda deve ter piorado o braço, foi imprudente levantar sem ajuda, não vou esperar mais, tenho que leva-la para o hospital agora. Desço pelo elevador, saindo direto no estacionamento, coloco ela na parte de trás do carro, pode ter tido um trauma, algo do tipo. Guio com cuidado, o hospital fica perto, meu amigo é um dos chefes do plantão, assim que chego coloco ela em uma maca na entrada de emergência. — Dr. Pedro está de plantão hoje? — Pergunto ao enfermeiro que me acompanha. — Sim, vou mandar chama-lo. — Informo sobre o estado da paciente, ela vai direto para sala de raio-x. — Sanders, quem está salvando dessa vez? — Pedro estica a mão e me dá alguns tapas em minhas costas. — O de sempre Pedro, obrigada por vir. — O radiologista nos entrega as chapas de raio-x, estamos numa salinha ao lado da sala grande de raio-x. — Uma fissura mínima no úmero, veja. — Aponta o local. — Recomendo uma tipoia e repouso, volta ao local por si só. — Explica, deixamos sobre a mesa e saímos. — Vamos sair no sábado? Nunca mais vi sua cara feia. — Agradeço o elogio, acho que vou dar uma olhada em minha agenda. — Ele gargalha e observa as enfermeiras que passam pelo corredor. — Você não tem agenda. — Bato em seu ombro de leve. — Ainda vai demorar por aqui? — Não sei dizer Pedro, o albergue em que trabalho precisa de mim. — Pedro balança a cabeça. Estudamos juntos, sempre ambicionou mais, é um ótimo profissional, mas acredito que use seu talento de uma forma mais egoísta. Pego o prontuário da minha paciente e anoto todo procedimento que realizei em casa, entrego a Pedro e ele assina a alta. — Tenho uma vaga pra você aqui, se quiser. — Seguimos pelos corredores até chegar ao quarto onde Ângela foi acomodada logo depois de realizar o raio-x. — Agradeço meu amigo, mas você sabe que meu foco não é o hospital propriamente dito. — Balança a cabeça e aperta minha mão. — Bem, a proposta está de pé pelo tempo que for, você tem meu número pode me ligar. — Acena e segue sozinho. Abro a porta do quarto e sento numa poltrona ao lado da cama, ela ainda está inconsciente, está muito fraca. Comprei alguns suplementos e vitaminas, além de todos antibióticos para o tratamento da pneumonia. Uma enfermeira entra e me entrega a tipoia, agradeço e ela sai, vou até a cama, afasto o cabelo que está no rosto dela, descubro seu corpo, onde o lençol cobre. Tiramos as bandagens, para realizar o raio-x, seus s***s pequenos estão expostos, tento não ficar olhando, enquanto coloco a tipoia. Ela acorda e afasta as minhas mãos. — Não tenha medo, estou apenas vestido a tipoia em você. — Seguro sua nuca e a faço sentar um pouco para instalar o suporte adequadamente. — Onde estamos? — Hospital, te trouxe assim que a encontrei inconsciente. — Começa a tremer e chorar, está com medo. — Não posso ficar aqui. — Afasta minha mão novamente e tenta levantar. — Vai cair de novo e dessa vez será pior. — Seguro seu ombro e a encaro. — Você já pode ir, é só tomar todos os remédios no horário certo e não movimentar o braço. — Solto seu ombro assim que ela para de tentar sair da cama. — Eu posso te levar até o ponto de táxi. — Puxo minha carteira. — Vou te dar algum dinheiro. — Eu... Eu não... — Olha pra mim com desespero, depois olha para porta fechada. — O que? — Pego algumas notas e estendo, ela olha para o dinheiro e depois para mim, as lágrimas correndo por seu rosto. — Não posso aceitar. — Puxa o lençol e cobre o corpo. A febre tinha cedido, mas ela ainda está bastante pálida. — Posso te dar uma carona, deixo você onde quiser. — Seu queixo treme e meu coração fica estranho com tudo que consigo identificar com seu olhar triste, passa a mão no rosto. — Comprei algumas roupas pra você e seus remédios, podemos passar lá em casa, pegar tudo e depois levo você onde quiser ir. Me olha com descrença, aperta o lençol contra o corpo. Está com medo de mim, muito, está evidente agora. No entanto consigo ver que ela não sabe o que dizer ou fazer. — Ou só aceite o dinheiro para o táxi, você decide. — Tento passar segurança em minhas palavras, continuo com minha mão estendida com o dinheiro na mão, olhos nos dela. Seus olhos, são, castanhos, pretos? Não sei, é um pouco estranho, ela pisca muito, parece que seu globo ocular estar irritado. — Eu não tenho para onde ir. — Volta a chorar desesperada e treme o corpo magro. — Não tenho ninguém. — Tudo bem, então temos um impasse, não precisa chorar. — Tento amenizar, mas minhas palavras não fazem tanto efeito. — Como eu disse, você pode ficar em meu apartamento, eu quase não vivo lá. — Me olha e avalia minhas palavras, avalia minha postura. — Pode ficar até que esteja melhor. — Não sei o que dizer. — Suspiro e sorrio para ela. — Venha comigo. — Guardo o dinheiro em meu bolso, estendo minha mão vazia. — Eu cuido de você. Fica encarando minha mão com a boca um pouco aberta, continuando a apertar o lençol que a cobre. Olha para mim, volto a sorrir. Ela estica a mão e coloca sobre a minha, eu estremeço com o contato quente de sua mão pequena. — Por favor, cuide de mim.  
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