Acidente no banho

1567 Words
Madeleine Thomas Enquanto estávamos na estrada, o silêncio entre nós três era quase palpável. Maxwell, ao volante, mantinha os olhos fixos na estrada à frente, sua expressão sempre tão séria e impenetrável como uma parede de pedra. Ele não era o meu irmão favorito dos Dubois, Bartolomeu era o mais engraçado e gentil. Ele e meu pai eram amigos até o momento em que eu decidi vir realizar a mutação. Ao lado dele, Christian estava recostado no banco do passageiro, seus olhos azuis penetrantes fitando a paisagem que passava rapidamente pela janela. Ele não disse uma palavra desde que saímos do castelo, mas a tensão em seus ombros era evidente. Ele estava claramente incomodado com a minha presença, mas, mesmo assim, eu havia decidido ser gentil. Tinha algo de melancólico em observar Christian, com sua postura sempre rígida e controlada. Por trás daquela máscara de indiferença, eu podia sentir um certo desconforto, uma raiva latente que ele não fazia questão de esconder. Mas, por algum motivo que eu não conseguia explicar, eu não queria mais essa hostilidade entre nós. Me incomodava ele não gostar de mim. Talvez fosse a necessidade de ter alguém, qualquer um, que me aceitasse neste novo mundo em que me joguei de cabeça. A noite já havia caído completamente quando Maxwell decidiu parar em um hotel simples de beira de estrada. Era o único lugar disponível, e as circunstâncias não permitiam que continuássemos a viagem sem descansar. Não era o tipo de lugar que um clã de vampiros normalmente escolheria, mas não tínhamos opção. Quando entramos, o cheiro de cigarro velho e móveis empoeirados quase me fez recuar, mas eu segui Maxwell e Christian, mantendo minha fachada de permanecer positiva. — Vou pegar as chaves. — Maxwell disse, caminhando até a recepção. Fiquei ali, no pequeno saguão, lado a lado com Christian, que mantinha sua usual postura de silêncio. Um silêncio particularmente tenebroso. Resolvi tentar mais uma vez, quebrando o gelo. — Christian...— comecei, minha voz soando mais hesitante do que eu pretendia. — Sei que você não está feliz em estar aqui comigo, mas... eu realmente quero que isso funcione. Eu quero ser útil. Ele virou a cabeça na minha direção, seus olhos frios me avaliando por um momento antes de dar de ombros levemente. — Não é pessoal, Madeleine. Só não tenho o costume de confiar em recém-chegados, especialmente aqueles que não conheço bem. — Sua voz era cortante, mas havia uma sombra de sinceridade que me fez perceber que talvez, só talvez, ele não fosse tão inatingível quanto parecia. Assenti, sem querer pressionar mais o assunto. — Você pareceu se dar muito bem com os outros. — ele falou baixo. Eu estava prestes a responder quando Maxsuell voltou com as chaves. — Vamos lá? Consegui dois quartos, mas se você precisar de alguma coisa, Madeleine, grite para nós. Eu assenti e fomos para os nossos quartos separados, e tomei um banho rápido. A água quente ajudou a aliviar um pouco da tensão nos meus ombros. Quando terminei, me envolvi em uma toalha, secando o cabelo rapidamente antes de sair do banheiro. Foi aí que tudo aconteceu de repente. Meus pés escorregaram no chão molhado, e antes que eu pudesse me segurar em qualquer coisa, eu estava no chão, gemendo de dor ao sentir o impacto. A toalha se soltou no processo, deslizando para longe, me deixando completamente nua e vulnerável. Foi nesse exato momento que a porta do banheiro se abriu, e Christian entrou, provavelmente sem perceber que eu estava ali. Seus olhos arregalaram-se por um breve segundo, e eu senti meu rosto queimar de vergonha, tentando cobrir meu corpo o melhor que podia com as mãos. — Merda... Madeleine,— ele murmurou, visivelmente desconcertado, algo que eu nunca pensei que veria nele. Eu pensei que ele fosse se virar e sair, mas, para minha surpresa, ele rapidamente se abaixou, pegando a toalha e me entregando, seus olhos desviando dos meus de uma maneira respeitosa. — Você está bem?— Ele perguntou, sua voz mais suave agora, quase... cuidadosa? — Sim, eu... só me machuquei um pouco,— eu respondi sentindo minhas bochechas queimarem. Havia uma dor lancinante em meu quadril, mas o constrangimento de estar nua diante de Christian era muito maior. Não, eu não era feia, mas pelo amor de Deus… Quem está preparada para essas coisas? Ele me ajudou a levantar, seus dedos tocando minha pele apenas brevemente, mas mesmo assim, o toque fez algo dentro de mim tremer. Quando finalmente me vi de pé, com a toalha novamente ao redor do corpo, ele deu um passo para trás, me observando, — Vou pegar gelo para isso,— ele disse simplesmente antes de sair do banheiro, me deixando sozinha, ainda processando o que havia acontecido. Eu caminhei tropeçando até alcançar a cama e me sentei na beirada. Christian voltou, com uma pequena bolsa de gelo em mãos. Ele entregou-a para mim sem dizer uma palavra, seus olhos evitando os meus. Senti que a tensão no ar estava um pouco diferente agora, como se algo tivesse mudado entre nós depois daquele encontro inesperado no banheiro. — Obrigada,— murmurei, pressionando o gelo contra o meu quadril. A dor começou a diminuir, mas o desconforto da situação ainda pairava sobre nós. Christian ficou em pé por um momento, sem saber o que fazer com as mãos. Ele parecia fora de lugar, como se não estivesse acostumado a lidar com situações tão... humanas. Finalmente, ele se sentou em uma cadeira ao lado da cama, mantendo uma distância segura, mas seus olhos ainda me analisavam mais uma vez. — Você deveria ter mais cuidado,— ele disse, a voz grave, mas sem a habitual frieza. — Este lugar é uma armadilha para qualquer um que não esteja acostumado. Dei um leve sorriso, tentando aliviar o clima. — Eu normalmente sou mais graciosa... ou pelo menos tento ser. Acho que só estava um pouco distraída. Ele assentiu, como se estivesse processando minhas palavras, mas seu olhar se fixou no gelo em meu quadril, como se estivesse avaliando o dano. — Ainda bem que não foi nada mais grave. Houve uma pausa antes de ele continuar, — Você está lidando bem com tudo isso, com essa... mudança? — Era a primeira vez que ele me perguntava algo tão pessoal, e eu podia ver que ele estava genuinamente curioso. Eu me ajeitei na cama, pensando na pergunta antes de responder. — Acho que estou tentando. É difícil, não vou mentir. Ainda me sinto perdida às vezes, como se não pertencesse totalmente a este novo mundo, mas... também sinto que não posso voltar atrás porque minha antiga vida acabou. Algumas escolhas são para a vida. Christian assentiu novamente, e pela primeira vez, vi um traço de empatia em seus olhos. — Todos nós passamos por isso de alguma forma. É uma adaptação difícil, e nem todos conseguem encontrar seu lugar. Eu vi isso em você. — Obrigada, Christian,— eu disse com sinceridade. — Por me ajudar e tudo mais. Ele apenas inclinou a cabeça em resposta, como se não estivesse acostumado a receber agradecimentos. — Ah, sobre o que aconteceu no banheiro... não se preocupe com isso. Não vou mencionar a ninguém. Eu corei novamente, me lembrando que ele me viu nua, mas o modo como ele disse isso, como se estivesse tentando me poupar do constrangimento, que me fez relaxar um pouco. — Eu... aprecio isso. — Só... não faça disso um hábito,— ele murmurou, e dessa vez havia um toque de humor em sua voz. — Não quero ter que socorrê-la de novo. Eu ri, um som genuíno e despreocupado que pareceu relaxar ainda mais a atmosfera. — Prometo que vou tentar ser mais cuidadosa. Mas, se eu tropeçar novamente, talvez eu precise de ajuda. Esteja por perto. Outro silêncio se instalou, mas dessa vez, não era desconfortável. Era quase... natural. O gelo começou a derreter em minha pele, e o calor entre nós parecia crescer, mas de uma maneira diferente do que antes. Não era apenas tensão ou desconforto; era algo mais profundo, mais sincero. — Christian,— eu o chamei, rompendo o silêncio, — Não precisamos ser inimigos. Ele me olhou fixamente, como se estivesse pesando minhas palavras. — Você não é minha inimiga, Madeleine,— ele admitiu, a honestidade crua em sua voz. — Mas confiança é algo que se ganha, não se exige. Isso vai levar tempo. Eu assenti, respeitando seu ponto de vista. — Você costuma tratar todos assim? — Perguntei, minha voz vacilando um pouco enquanto colocava o gelo contra o meu quadril dolorido. — Assim como? — Ele levantou uma sobrancelha, um toque de desafio em sua expressão. — Tão... distante. Como se estivesse sempre esperando que algo desse errado. Ele riu, um som curto e seco, mas não necessariamente c***l. — É o que se aprende quando se vive tanto tempo. Desconfiança mantém você vivo. Ele ficou em silêncio por um longo momento, depois se levantou da cadeira, parecendo decidido. — Vamos ver como as coisas se desenrolam,— ele disse e se dirigiu à porta, mas antes de sair, olhou por cima do ombro, seus olhos azuis cravados em mim. — Boa noite, senhorita Thomas. Descanse. — Boa noite, Christian. — respondi suavemente, observando-o sair do quarto. Assim que ele saiu eu me vesti e deitei. Que estranho foi tudo isso.

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