Antes daquele carro parar bruscamente na minha frente, eu só me lembro de pensar que eu tinha fugido para morrer. Eu não achei que ele conseguiria parar.
Eu lembro de ter visto alguém descendo do carro, mas estava escuro, e eu levei tantos socos no meu rosto que eu não conseguia abrir os meus olhos, por isso não dava para ver o rosto dele.
Depois disso, só me lembro de ver tudo girando, a minha vista escurecendo e as minhas pernas enfraquecendo.
[...]
Quando me acordei, começaram a vir flashes na minha cabeça. Eu me lembro de um homem me segurando dentro do box do banheiro e me ajudando a tomar banho, lembro dele ter me colocado em uma banheira e dele dizendo que precisava que a minha febre baixasse. Eu lembro dele vestindo uma roupa em mim, lembro dele me alimentando por duas vezes e depois disso não me lembro de mais nada.
Eu não consegui vê o rosto dele nenhuma das vezes, meus olhos m@l se abriam por conta do inchaço.
Eu estava perdida em meus pensamentos tentando ver se me lembrava de mais alguma coisa, quando aquele homem apareceu na minha frente todo suado e sem camisa.
Minha primeira reação foi paralisar, o abdômen dele era definido em um nível que eu nunca vi igual, pelo menos não pessoalmente, sem falar que chegava a brilhar de tão encharcado de suor que ele estava. A segunda reação foi me encolher puxando o lençol para cima do meu corpo.
Eu lembrei de algo que eu escutei e das minhas suspeitas sobre esse homem, eu simplesmente fiquei apavorada.
Ele ficou apenas me encarando por alguns segundos, mas que para mim parecia uma eternidade.
Ele tinha um olhar que constrange, não sei se é bem essa palavra, mas eu fiquei desconcertada, não que eu não tivesse mais apavorada.
— Está se sentindo melhor? — eu apenas assenti ainda segurando a coberta.
Ele continua me olhando, talvez estivesse achando estranho a minha cara de quem está com medo do bicho papão.
— Eu vou tomar um banho, e quando terminar eu vou descer para preparar o café da manhã, tudo bem? — Eu novamente apenas assenti.
Ele entrou no banheiro trancando a porta e eu pude soltar o ar que eu não fazia a menor ideia que estava aprendendo.
"O Guepardo... Ele é o Guepardo... Esse homem é o Guepardo... Eu ouvi ele falando no celular como tinha matado aquele homem." Quanto mais eu pensava, mais tinha vontade de sair correndo dali.
"Tanto lugar para eu vir parar, porque logo na casa desse homem?"
Quando ele saiu do banheiro, instintivamente eu puxei o lençol novamente e eu sei que ele percebeu.
Ele estava enrolado em uma toalha branca, foi até o seu armário, pegou uma roupa e saiu do quarto.
"Merd@, eu precisava muito fazer xixi e precisava muito de um banho."
Corri até o banheiro, segurando a calça daquele homem que eu estava vestida na minha mão, senão facilmente cairia do corpo.
Notei que o cheiro dele, que por sinal é um cheiro muito bom, havia ficado no banheiro.
Enquanto fazia meu longo xixi que parecia que não ia acabar mais, percebi que tinha no balcão uma toalha dobrada, escova de dente na embalagem, com creme dental ao lado e um sabonete no pacote.
Mesmo passada de vergonha e com um pouco de medo, confesso, fui até o armário dele e peguei a maior camisa que eu encontrei.
Votei até o banheiro, o cheiro dele ainda estava lá, tomei um banho demorado, lavando bem os meus cabelos e coloquei o meu vestido. É, a camisa dele ficou um vestido abaixo do meio da minha coxa.
Andei pelo corredor bem devagar, desci as escadas, estava criando coragem para chegar na cozinha, mas um cheiro maravilhoso vindo de lá me encorajou rapidinho.
Ele me viu, mas logo virou de costas, estava só de bermuda, seu cabelo estava preso em um coque meio bagunçado.
— Está com fome? — ele perguntou sem virar de frente para mim.
— Um pouco — nessa hora minha barriga roncou alto e eu não tinha onde esconder a minha cara. Ele só se virou o rosto, olhou para mim com a expressão bem séria e voltou a se concentrar no que ele estava fazendo.
— Pode se servir, eu só estou finalizando o suco — fiz o que ele falou e me sentei. Fui comendo um pouco de tudo, eu estava tão concentrada em matar a minha fome e tudo estava tão delicioso, que eu nem percebi que estava comendo saboreando.
Ele se virou de frente, sentando na mesa e eu estremeci toda.
— Obrigada pelo que fez por mim — falei quebrando o silêncio depois de alguns minutos que ele já estava na mesa. Eu o encarei pela primeira vez depois de agradecê-lo, mas quando ele lançou aquele olhar penetrante para mim, eu não consegui sustentar o olhar.
— Quem é Francesco? — ele perguntou e eu me levantei na mesma hora me encostando na parece. Eu não estava raciocinando direito, eu estava tomada de desespero e achando que o Francesco estava lá.
— Calma — ele veio na minha direção percebendo que eu estava tendo uma crise de pânico. — ele não está aqui — a voz dele era serena.
Aquela sensação horrível durou alguns minutos, o ar faltou e eu cheguei a pensar que eu iria morrer ou enlouquecer. Eu comecei a ficar tonta e com medo de desmaiar, então me agarrei no corpo dele e ele correspondeu me abraçando.