PRÓLOGO
ATÉ O ÚLTIMO DIA DA MINHA VIDA
NOVA YORK-ESTADOS UNIDOS
10 ANOS ANTES
...Você nunca vai estar sozinha
Deste momento em diante
Se você se sentir que está partindo
Não vou deixar você cair
Você nunca vai estar sozinha
Vou te segurar até a dor passar...
—Amor você tem mesmo que ir?—Sophia diz triste.
—Tenho meu amor, um ano passará logo, e antes do que possa imaginar estarei de volta, e então nos casaremos, compraremos uma casa branca com varanda e um jardim bem florido, cheio de rosas vermelhas, teremos um cachorro, depois teremos filhos e formaremos uma família linda—digo a abraçando.
—Eu tenho tanto medo de te perder, medo de que essa vida perfeita com a qual sonhamos, só exista em nossos sonhos, que ela nunca possa se tornar real—ela diz.
—Você nunca irá me perder, eu sempre estarei com você, e quando olhar esse colar em seu pescoço, sempre lembrará o quanto eu te amo—digo, segurando o lindo colar que lhe dei em seu ultimo aniversário.
Conheci Sophia em um show, onde eu estava fazendo segurança, aquela menina maluca, disposta a tudo por um autógrafo de sua banda favorita, conquistou meu coração, Sophia emanava luz e alegria, e eu um soldado marcado pela guerra, vi nela, naquela pequena garota, toda a esperança de uma vida melhor, a vida com a qual sempre sonhei.
E desde aquele final de agosto, nunca mais nos separamos, vivemos momentos incríveis, e nosso amor era palpável.
Mas fui chamado à guerra, novamente sentiria todo aquele pesadelo, ouviria todo aquele desespero, eu tinha que ir, era meu dever para com o país, mas só de pensar em deixar minha doce Sophia, um profundo vazio se instalava em meu coração.
Seu sorriso doce, e seus olhos seriam meus guias em meio aquele mar de horror, de dor e de medo, seu amor seria o motivo para querer viver, para voltar pra ela, eu amaria essa menina até o ultimo dia da minha vida.
DOIS MESES DEPOIS
IRAQUE
A minha volta tudo é uma grande poeira, um mar de explosões e mortes, os barulhos de tiros e granadas ecoam sem cessar, minha visão é pouca, ouço meus companheiros, mas não faço ideia de onde estão.
—Capitão, precisamos sair daqui, ouço barulho dos helicópteros—um dos meus soldados diz.
Abaixo-me para pegar a placa de identificação de um soldado que deve ter sido morto, levaria a placa de volta para a família.
Vejo na densa fumaça uma mulher com uma criança no colo escondida sob, algumas madeiras, me arrasto até ela.
—Por favor, não nos machuque—ela implora.
—Não vou machucá-la, vou ajudá-la preciso que entre naquele jipe, consegue me entender? —pergunto.
—Sim, consigo—ela diz.
Saio abaixado, protegendo ela e a criança com meu corpo, assim que coloco eles no carro ouço um barulho, e então o apito em meu ouvido, o cheiro de sangue, meu sangue, ouço ao longe meu soldado gritar: Capitão! E por fim uma escuridão sem fim vejo os olhos dela, minha noiva meu amor, Sophia, e então, ela se desfaz, tudo se desfaz e entro em um vazio sem fim.
Abro meus olhos lentamente, estou em um hospital, uma mulher se aproxima.
—Olá Sr , sou a Dra. Sara, consegue me dizer seu nome? —ela me olha.
—Onde estou? —inquiro.
—O Sr esta em Denver, estamos em um hospital, sofreu um atentado em campo no Iraque, foi mandado de volta junto com outros feridos, estava há quase três meses em coma—ela diz.
—A bomba, eu me lembro da bomba, foi uma grande explosão, e a mulher e a criança? Eu as salvei?—questiono.
—Sim, o Sr as salvou agora me diga o que mais o senhor se lembra? Sabe me dizer seu nome? —ela pergunta.
—Não me lembro de mais nada—digo.
Quando eu tentava me lembrar do antes, só conseguia me recordar dos gritos das pessoas inocentes, do cheiro dos corpos sendo queimados, as crianças chorando, o barulho dos tiros e granadas, o helicóptero bombardeando as casas, em meu passado só havia a guerra.
Lembro-me de uma placa de identificação, há um nome nela, eu consigo ler, esse deve ser o meu nome.
—Robbins, meu nome é Jack Robbins—digo.
—Muito bem Sr Robbins, o senhor sofreu alguns ferimentos que já foram tratados no tempo que esteve aqui, consegue se lembrar de mais alguma coisa? Telefone de parentes? Namorada? Esposa?
—Não, não consigo me lembrar de mais nada—digo.
—Sr Robbins, me ouça uma vez que o senhor está acordado e lúcido não posso mantê-lo mais nesse hospital, é imprescindível que o senhor tenha para onde ir—ela diz.
—Faça o seu trabalho Dra. apenas me arranje roupas limpas, para sair daqui, preciso me lembrar de onde eu vim tudo parece uma grande cortina preta que não me deixa ver o que aconteceu antes da guerra—digo.
—Ouça te darei roupas limpas e vou te dar um endereço, é do meu apartamento, você vai para lá e assim que terminar meu plantão irei encontrá-lo, ok—ela diz.
—Tudo bem—digo.
—Jack, sei que acabamos de nos conhecer, mas pode confiar em mim—a mulher loira á minha frente diz.
Eu não tinha outra opção a não ser confiar na mulher á minha frente, eu não sabia ao menos quem eu era de onde vinha ou se existe alguém me esperando, tudo que vejo é a guerra e destruição.
Sigo pelas ruas, e logo estou no endereço que ela me deu, subo até o andar que esta anotado no papel, e abro a porta devagar, é um apartamento simples e aconchegante, nas paredes os tons claros sobressaem, alguns quadros estão milimetricamente pendurados ao longo de corredor, um tv decora a parede á frente, e algumas plantas estão espalhadas pelo pequeno lugar, na cozinha um compacta ilha, abriga o fogão e uma bancada, tudo muito limpo e arrumado.
Caminho até a janela, a noite estava começando a chegar, e cada vez mais eu me perguntava quem eu sou?
Passava os canais da Tv, sem prestar atenção, quando a porta foi aberta.
—Olá Doutora desculpe liguei a tv—digo.
—Ei Jack, me chame de Sara, sim? Não há nenhum problema fique a vontade, olhe, pegue essa sacola passei no shopping e comprei algumas roupas para você—ela diz me estendendo a sacola.
—Sara, não precisava se incomodar, estou de partida—digo.
—Partida pra onde? Você pode me achar uma estranha, mas pra mim você não é um estranho mais, eu cuidei de você dia após dia durante esses três meses, você não tem para onde ir, não tem para quem voltar me deixe te ajudar—ela diz passando a mão pelo meu rosto.
Seu toque é delicado, sua voz é aveludada, seu corpo delicado, sem muitas curvas, seu rosto cansado do dia de trabalho, ela é uma mulher bonita, e eu um homem sem passado.
Aproximo-me mais dela, e seguro seu delicado rosto entre as mãos, encosto meus lábios nos dela e a beijo, ela me dá espaço e me pede cada vez mais, ergo seu pequeno corpo e ela coloca as pernas em volta da minha cintura, se esfregando em mim.
—Preciso de um banho—ela diz.
—Vamos juntos—digo.
O sexo foi bom, comum diria até normal demais, com o passar dos anos eu desisti de tentar saber quem eu era, ou de onde era, vivia feliz com Sara e Ozzy nosso pequeno Golden retrivier, ela ainda trabalhava no hospital em Denver, e eu abri uma empresa de segurança, afinal era tudo que eu sabia fazer.
Ainda morávamos no mesmo apartamento, com os mesmos vizinhos chatos, o mesmo vendedor de flores na esquina, o mesmo padeiro, o mesmo, sempre o mesmo.
Há cerca de seis meses, Sara e eu temos brigado constantemente, sempre pelo mesmo motivo, ela quer ter filhos, e eu não, ela quer se casar e eu não, ela me ama e eu não.
Não é como se eu estivesse enganando ela, mas eu não me vejo construindo uma família com ela.
Olho pela janela, e vejo uma família passando pela rua, eles brincam e riem, será que eu queria isso? Será que eu queria isso com Sara?
A porta se abre e vejo-a entrar brincando com Ozzy.
—Oi amor—ela diz.
—Oi Sara—digo.
—O que houve? Está tão sério—ela diz me olhando.
—Sara precisamos conversar—digo.
Ela olha as malas em um canto da sala, e me pergunta.
—O que são essas malas Jack?
—Estou indo embora Sara, não posso continuar aqui, não posso continuar com você, me perdoe, mas não posso mais—digo.
—Você conheceu outra pessoa Jack?—ela inquire.
—Não Sara, eu não conheço a mim direito, e esse é de fato um problema, não sei de onde vim, se eu tinha uma família me esperando, eu não sei nada—digo passando a mão pelos meus cabelos.
—E você acha que ir embora vai fazer com que você se lembre, esta se enganando—ela diz.
—Eu sei que não Sara, mas irá fazer com que eu pare de te enganar—digo passando por ela e pegando as malas no canto da porta.
Coloco as malas no carro, eu teria uma longa viagem pela frente, Nova York me esperava.
Após dois dias dirigindo quase sem parar, chego à enigmática Nova York, pego o cartão em meu bolso e disco o número de Owen, um advogado que conheci quando ele estava de férias em Denver, ele me ajudou com a transferência da minha empresa pra cá, e também a achar um local para eu morar.
—Owen, sou eu, estou na cidade—digo.
—É bom ouvir sua voz Jack, te mandei o endereço do seu apartamento novo, te encontrarei lá em meia hora, seja bem vindo amigo—ele diz.
—Obrigado Owen—digo.
Coloco o carro em movimento e logo chego ao local indicado, um prédio residencial e simples, mas no centro da cidade.
Entro e um senhor simpático se levanta para me receber.
—Olá sou James, o porteiro—ele diz.
—Olá James, me chamo Jack, Jack Robbins, creio que meu amigo fez a locação de um imóvel em meu nome—digo.
—Deixe-me ver aqui, eu me lembro do seu nome, espere eu anotei em algum lugar—ele diz ajeitando os óculos, sobre o rosto cansado.
—Tudo bem—digo olhando em volta.
—Achei, aqui esta a sua chave é o trinta e seis fica no terceiro andar, seja bem vindo senhor Robbins—ele diz.
—Obrigado James—digo pegando a chave que ele me estende.
Abro a porta do meu novo apartamento, olho tudo ao redor a decoração simples, porém funcional, uma vidraça que mostra as ruas agitadas de Nova York, uma nova vida me aguardava, mas eu tinha a sensação de que era uma vida velha.
Os primeiros dias de volta a cidade, foram de adaptação e mudanças, com o passar dos meses, aluguei uma sede para a minha empresa, e com o passar dos anos me tornei referência na área de segurança pessoal, formei uma equipe confiável, que atendia desde políticos a artistas em ascensão.
Fazia exatos seis anos que eu havia chegado ou retornado a Nova York, não sei bem ao certo, quando o rapaz alto e magro entrou em minha sala querendo contratar o serviço da minha equipe, para sua chefe, uma poderosa CEO de uma grande empresa de softwares em Nova York.
—Boa tarde Sr Robbins, chamo-me Henry Forbs, estou aqui para representar a minha chefe a senhorita Marshell—ele diz.
—Sim, eu analisei o contrato que me enviaram, e também as várias cláusulas presentes nele, entendo cada uma delas acredite, estou no mercado há anos, como pode ter visto na apresentação que lhes enviei, e a ficha de cada profissional que trabalhará para a sua chefe, inclusive a minha, mas algo me deixou bastante intrigado, por que nas noites de quinta não devemos escoltá-la?—questiono.
Ele olha de um lado e depois para o outro e diz.
—É melhor o senhor não saber, digamos que não apreciaria muito o lugar.
—Ouça senhor Forbs, se a sua chefe recebeu uma ameaça como me informou, eu preciso estar com ela vinte e quatro horas por dia, incluindo as quintas à noite—digo me debruçando na linda mesa de cor âmbar a minha frente.
—Acredite senhor Robbins, eu concordo, o problema vai ser a fazer concordar, que ela não me ouça, mas aquela mulher poderia ser facilmente a vilã daquele desenho antigo que tinha um cavalo de fogo, esqueci o nome—ele diz tentando se recordar.
—Cavalo de fogo?—inquiro, e me dou conta de que me lembrei de algo do passado, de antes da guerra.
—Isso mesmo, poxa obrigada, pois bem ela poderia ser a diabolin, alias ela é a diabolin, aquela mulher apavora meus dias e assombra minhas noites—ele diz com medo.
—Com tantos elogios estou ansioso para trabalhar com a sua chefe—digo com sarcasmo.
—E então senhor Robbins, o que fará com as noites de quinta?—ele inquire.
—Falarei pessoalmente com ela, onde quer que ela vá, eu terei que ir junto—digo.
—Boa sorte senhor Robbins, o senhor vai precisar—ele diz me estendendo a mão e depois saindo da minha sala.
Pego a pasta que contém as informações sobre a tal megera, deve ser uma velha feia.
Abro a primeira pagina do dossiê e me deparo com uma foto dela, uma linda foto de uma linda mulher, fico por alguns instantes olhando a foto, me parece familiar, mas de onde? Nunca vi essa mulher.
Imerso aos documentos á minha frente, nem vi quando Tony, um de meus melhores homens entrou na sala.
—E ai Jack, descobriu algo mais sobre a ricaça?—ele questiona.
—Só que ela é uma megera, e você descobriu algo sobre as quintas a noite?—inquiro.
Ele senta-se a minha frente e diz.
—Descobri, e digamos que a sua nova chefe tem gostos peculiares, as quintas ela frequenta um clube de prazeres—ele diz envergonhado.
—Seja claro Tony—digo.
—Ok, ela frequenta um clube onde pessoas com grande poder aquisitivo como ela, pagam por sexo, e até onde chequei, ela frequenta o lugar há no mínimo cinco anos, não tem namorado fixo e gosta de sexo selvagem—ele diz.
Olho novamente para a foto em minhas mãos, aqui ela apenas representa uma grande empresária, contida, mas, no entanto era uma devassa.
—Já decidiu quem comandará a equipe?—Tony questiona.
—Sim, pelo que essa mulher está pagando eu mesmo comandarei—afirmo.
—Confesse Jack, você também está curioso para conhece-la—ele diz.
—Tony, entraremos naquela casa, faremos nosso trabalho, e sairemos nada, além disso, entendeu?—inquiro.
—Sim, Jack, entendi—ele diz e então sai da minha sala.
O restante do dia passei pensando e imaginando, o por que de uma mulher tão bonita e jovem como ela, ter que procurar prazer em um lugar como aquele.
Com o cair da noite, sigo para o meu apartamento, no caminho passo pelo tal clube frequentado por ela, o lugar discreto mais parece um hotel, poucas pessoas sabem o que realmente acontece atrás daquelas portas, mulheres bem vestidas estão na recepção, carros luxuosos entram pelo portão lateral, tudo discreto.
Observo por mais alguns minutos, e então sigo para a minha casa, amanhã seria um dia importante o dia que conheceria a tal Sophia Marshell.