_____ Formatura

2164 Words
2° Capítulos Formatura do ensino médio Hoje acordei muito nervosa com a minha formatura, fui escolhida como a oradora da turma. Vou fazer o discurso e durante um mês fiquei pensando o que iria falar, e confesso que muitas vezes achava sem sentido fazer um discurso. Onde eu direi para centenas de formandos escolherem uma boa faculdade e investirem nos seus futuros quando eu estava a abrir mão. É claro que a minha circunstância são outras e eu decidi isso ninguém me pediu ou obrigou eu optei por isso. Para não somente eu ter um futuro, mas sim toda a minha família. " resolvi discursar a importância de nos apoiarmos quando preciso, e sempre pensar sim, no nosso futuro, mas, também pensar no futuro do próximo, essa, sim, é a diferença que temos que fazer em qualquer lugar que estivermos, seja numa faculdade, num curso, ou em um trabalho, o importante é fazermos a diferença." Esse é o meu pequeno discurso, claro que agradeci aos professores, diretores, as tias da limpeza, assim como cada pais e alunos. O meu celular tocou, era a Milla, minha melhor amiga, estudamos juntas desde da oitava série, mesmo eu morando longe do colégio, minha mãe fez questão em nos manter lá, o colégio era um colégio grande que dividia em três setores: 1° série até a 5° série, outro setor da 6° série até a 9° série, e o meu setor que era do 1°ano ao 3° ano. Nós mudamos ano passado para esse colégio tanto os meus irmãos como a Mila que foi junto nós não queríamos nos separar. Oi Milena, como você está, amiga? Estou bem, mas para você eu sou a Mila, não se esqueça! Rimos da situação era sempre tão bom estar ou falar com ela. Amiga, só queria confirmar o salão com você, vemo-nos às 15:00 horas lá, ok? OK amiga, estarei lá. Já são 18:00 horas, quase todos já estão aqui usando as suas becas e eu estou um pouco nervosa, confesso que estou com borboletas no estômago. São tantas lembranças boas desse último ano, são memórias tão boas que fizeram os dois anos aqui se tornarem únicos. O Augusto está aqui, claro, ele é o meu par, assim como fui no dele ano passado, ele está lindo no seu traje social com pinta de galã de novelas. Oi linda como está se sentindo? - Estou nervosa Augusto: Vai dar tudo certo, fica tranquila. Assim, ocorreu todo o evento na hora do discurso todos ficaram meio-emocionados e aplaudiram com muito entusiasmo a minha humilde pessoa. A noite foi curta para tanta empolgação, rimos, dançamos, e por fim jantamos com os nossos familiares e amigos celebrando assim o fim de um ciclo. Domingo chuvoso Acordamos cedo com os barulhos das goteiras, como era difícil dia de chuva aqui, a minha mãe havia pedido ao dono para consertar, mas, ele só enrola. E agora com os alugueis atrasados, ele não irá arrumar mesmo, minha mãe conseguiu pagar um mês, mas ainda faltam dois, as contas de luz e água também estão atrasadas. O dinheiro é pouco para deixar em dia, visto que tem muitas despesas, com comida, o valor das parcelas do cartão de crédito divididas em 12 X, um ano para quitação. Um lado bom que é dezembro e estamos de férias, assim a minha mãe economiza nas passagens de ônibus, mesmo pagando meia sai puxado. Karla filha, Arthur filho, vão para cama da mãe, aqui está ficando molhado das goteiras, minha mãe, já estava levando os colchões para o quarto o único lugar que não goteja. O meu irmão deitou-se na cama com a Sophia e voltou a dormir eu já estava sem sono e comecei a ajudar a minha mãe com panelas, bacias, baldes pela casa... Mãe temos que arrumar um jeito de sair daqui logo eu não aguento mais viver assim enquanto aquele velho safado está com a nossa casa com uma ordinária que ele arrumou na rua não é justo mãe, você trabalhou duro para conquistar aquela casa. Eu sei filha, eu estou esperando o advogado conseguir provas como o Heitor me enganou. E tirou a casa de mim, eu jamais passaria a casa para o nome dele com três filhos para criar, a casa era pra vocês, eu tenho esperança que logo o advogado vai provar isso. E também fazer as papeladas do divórcio, se não conseguir a casa de volta ao menos a metade ele vai ter que dar para vocês. Não vejo a hora de irmos morar em outro lugar onde tenha espaço para você e o seu irmão dormirem, um quarto para cada, você já é adulta e precisa da sua privacidade e o seu irmão um adolescente também precisa do espaço dele. Esse mês eu tenho um pouco do décimo terceiro e mais o dinheiro que vou economizar das passagens, acho que consigo pagar mais um aluguel, assim deixando em dia, aí vou cobrar o concerto do teto, mas confesso filha ter um certo medo de ficar cobrando. O Osvaldo tem cara de poucos amigos, vai que ele se chateia e nos manda desocupar a casa. Infelizmente ainda não tenho dinheiro para outro lugar, o meu CPF já está regularizado da dívida que está negociada, mas não temos o suficiente para dois aluguéis, pra uma casa maior em outro bairro. Mas prometo que logo vou dar um jeito nessa situação, estou vendo uns b***s de fim de ano em restaurantes para trabalhar em eventos. Como cozinheira ou garçonete._____Mãe bem que poderia ver uns b***s desse de garçonete para mim também, assim teríamos um valor a mais para somar. Karla, mas e os seus irmãos com quem irão ficar? Mãe, o Arthur tem 13 anos, já consegue se virar e ajudar a Sophia nas horas que estivermos no trabalho, vamos conversar com ele e explicar a situação. Precisamos de um extra para arrumar outra casa, ele fica cuidando da Sophia, será no horário da noite não tem muito perigo é só eles dormirem no horário que dará tudo certo. Noite do evento - Regina Miller: hoje recebi o meu salário e o décimo terceiro vou conseguir deixar em dia o aluguel. E com o dinheiro do evento de hoje vamos receber 1.500 reais por essa noite, eu vou receber 1200 reais como chefe de cozinha, Karla 300 reais como garçonete esse dinheiro vai aliviar as coisas para nós. Se tivermos mais uns eventos teremos dinheiro o suficiente para alugar outra casa. Estou tão animada, será que as coisas vão começar a entrar nos trilhos? Mãe, está perdida nos seus pensamentos? Eu liguei e falei com o Arthur, eles estão bem, não vão abrir a porta para ninguém e nem vão sair, eles estão assistindo um desenho e logo irão dormir. Obrigada Karla, aqui já está quase tudo pronto e lá no salão? No salão também já está tudo pronto só esperando os convidados. Era duas da manhã quando as pessoas foram embora e lá pelas três horas terminamos de organizar e limpar tudo. Eu fui para o banheiro me trocar, peguei o meu celular na bolsa, vi várias chamadas perdidas do meu irmão, o coração gelou na hora, será que aconteceu algo? Meu Deus, já faz horas das ligações, as minhas pernas enfraqueceram, fiquei branca igual papel, a moça do evento veio ao meu encontro. Amparar-me. Karla, o que aconteceu, você parece ter visto um fantasma. Nessa hora minha mãe chega perto de mim e eu desesperada comecei a chorar sem falar. A Minha mãe correu e sacudiu-me pedindo pelo amor de Deus para falar o que havia acontecido. Eu só conseguia chorar com um nó na garganta, só mostrei o celular, ela viu as chamadas do Arthur e ficou nervosa, ligou na hora para ele, uma, duas, três vezes e nada dele atender. A moça, Mariana, vendo o nosso desespero perguntou se queríamos uma carona pra casa pra chegarmos rápido, eu aceitei na hora, mas a minha mãe disse-lhe que era um pouco longe. E talvez fora da rota dela e que era na favela e ela poderia não querer ir até lá já que até os taxistas e motorista de aplicativos são raros os que aceitam corrida. Nesse momento entendi a preocupação da minha mãe, mas felizmente a Mariana disse que a rota dela era a caminho e não se importaria de dar a carona, foi até o namorado dela falar com ele, a minha se prontificou a pagar um valor pela gasolina. "Desespero de ser roubada pela segunda vez" Chegando em casa minha mãe desceu correndo portão a dentro, enquanto eu pagava a Mariana e agradecia a carona. Entrei e vi a minha mãe caída no sofá chorando, sem parar entrei em desespero e corri para o quarto para ver se os meus irmãos estavam bem. Gritei os seus nomes chorando, eles acordaram assustados com os meus gritos e choros, choros da mãe que estava estática na porta. Arthur, você quer nos matar do coração, gritei na sua direção. Porque ligou dezenas de vezes para o nosso celular e não deixou mensagem, e depois não atendeu quando retornei? Disse em lágrimas, eu quase tive um infarto e a mãe também, achamos que algo tinha acontecido com você e a Sophia. Por Deus que susto você nos deu!! - Arthur: Continuo atordoado com o sono, com os gritos, e as lágrimas de minha irmã e minha mãe ainda não consegui ter um raciocínio. Mãe, mana-me desculpem pelo susto eu não pretendia assustar. Eu só liguei porque era algo sério, o pai esteve aqui, chegou bêbado aos berros esmurrando a porta e disse se eu não abrisse ia derrubar. Começou a bater e gritar, ficamos assustados e eu abri a porta para ele, ele entrou gritando, xingando. Queria saber da mãe, falou que ela ia pagar. Falou que o advogado tinha ido atrás dele, que ele vai ter que devolver a casa e ainda iria preso. Queria saber onde vocês estavam, eu disse que estavam trabalhando, ele riu e insinuou que vocês estavam se prostituindo. Saiu revirando tudo e achou a bolsa da mãe com dinheiro e pegou tudo, eu tentei pegar de volta. Ele me empurrou, saiu andando e disse para eu te avisar que ele vai arrumar um advogado também e vai nos tirar de você. Você não tem condições de nos criar, além de morarmos aqui nesse barraco você deixa-nos sozinhos em casa. - Karla: Eu não conseguia acreditar no que os meus ouvidos ouviam, eu só sentia uma raiva, um ódio crescer dentro de mim. Se eu encontrasse o meu padrasto nesse momento, ele certamente iria parar num hospital. Eu só vi a minha mãe caindo de joelhos no chão em prantos e desespero, não poderia mensurar a dor que ela sentia, em ser roubada mais uma vez pelo seu ex. A minha mãe ficou uma meia hora chorando sem parar e nós ficamos ali com ela chorando jogados no chão. Não tinha o que dizer daquela situação lastimável. Após longos minutos nos levantamos, sentamos na cama, eu fui fazer um chá de camomila para todos nós. Nesse momento o Arthur veio até a cozinha e começou a se culpar por deixar o pai dele entrar. Por não ter forças o suficiente para ter impedido o pai de nos roubar. Ele se sentia culpado e chorava sem parar. Arthur, meu irmão querido, você não tem culpa de nada, o único culpado nessa história é esse homem. Ele não respeita a família, e nem nada. Por favor, se acalme tome esse chá, vamos todos nos acalmar. Já foi, já passou, é só um dinheiro, o importante é que estamos bem e com saúde. Na hora que vi as suas ligações eu juro que só pensei coisas ruins, eu travei não conseguia falar de tanto medo. Eu sei que foi muita s*******m desse homem nos roubar e nos deixar ainda mais na merda, mas, é só dinheiro, algo pior não aconteceu. Sei que para mãe é doloroso por tudo que ela já passou por culpa dele, pelo salário dela, fruto do seu trabalho, eu entendo-a e sei que ela vai precisar de todo o nosso apoio nesse momento. - Regina: eu estava atônita com tudo que aconteceu nessa noite. Dos meses dos dias, desde que a minha vida revolveu que iria ser a p***a de uma confusão sem fim. Eu não tenho mais forças... Aquele momento não conseguiria mais lutar, resistir, a vida tinha-me nocauteado de uma forma que eu era um oponente vencido. Não consigo por em palavras que senti, foi uma dor no peito, cabeça, pernas, foi uma ânsia, um ódio. Uma sensação de derrota que aniquilou as minhas forças e esperança, só me joguei no chão em sinal de rendição e impotência diante das rasteiras do mundo à minha volta. O que me move se encontram na cozinha, meus filhos, tão novos e já carregando um fardo tão pesado comigo.
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