Capitulo 2

3080 Words
S A S U K E — Quando aconteceu seu último surto? — a Doutora Kurenai perguntou me entregando uma xícara de chá. Aquela pergunta estava se tornando tão frequente ultimamente que eu já havia me cansado de mentir, de uma forma ou de outra eu pararia aqui no final das contas. Olhei para o teto colorido e desenhado me perguntando o que levaria uma pessoa a pintar a imagem de um boneco assassino no teto de um consultório. O intuito dela era tranquilizar seus pacientes? Certamente crianças não entram nesse local. — Uma semana. — olhei para a xícara em minhas mãos pensando em como a esvaziaria na planta sem a mulher ver. — O que aconteceu? — Um cara chutou a minha moto. — Fez o que combinamos? — me olhou curiosa. Eu não era um cara que tinha muita paciência, não é como se eu simplesmente saísse procurando brigas por aí, mas ninguém apenas passa por cima de mim sem sair detonado. — Sim, mas ele não estava afim de conversar. — Então você bateu nele? — Eu detonei o carro dele. — olhei as horas no meu celular já cansado daquela merda. — Nós já conversamos sobre isso Sasuke, quebrar as coisas e bater em alguém não irá resolver seus problema. Me diga, isso por acaso faz sua raiva passar? — Não. — O que faz ela passar além de correr por aí com aquela moto? Toquei em meu bolso ignorando a mulher tagarela e curiosa a minha frente. — Eu vejo a foto dela. — Sua mãe? — Não. — Quem seria ela? — Uma garota. — respondi encarando as nuvens carregadas pela janela. — Você está apaixonado por ela? Quis rir daquela pergunta pois chegava a ser irônica para alguém como eu. — Eu não me apaixono, eu não sei amar ninguém. Kurenai ficou um tempo em silêncio apenas me observando enquanto anotava algo em seu bloco de notas. — Entendo, acho que já deu por hoje (...) A garota do sorriso bonito e cabelos rosados nunca saiu da minha cabeça, durante os quatro anos que se passaram eu a procurei em vários lugares mas nunca a encontrei. Em alguns momentos eu me pego encarando sua foto ao lado da de Mikoto pecebendo que de alguma forma elas são parecidas, talvez o sorriso e o olhar cheio de vida que estranhamente me acalmam. — O que tanto olha nesse colar? — Karin passou os braços em volta do meu pescoço tentando espiar o pingente em minhas mãos. — Nada. — o fechei guardando no bolso, longe da garota enxerida a minha frente. Karin fez um bico decepcionada. O vento forte que fazia no alto do morro bagunçava seus cabelos vermelhos, deixando suas bochechas avermelhadas, mesmo não combinando com seu estilo. Ela era uma garota durona, nós éramos parecidos e nos divertiamos juntos, mas apenas isso. Eu não sentia absolutamente nada pela garota a minha frente e nem por nenhuma outra que já passou pela minha vida. — Você nunca me deixou ver o que tem dentro. — resmungou roubando o cigarro que estava entre meus dedos. Ela o colocou entre os lábios dando uma tragada, soltando a fumaça no meu rosto. — Coisa minha. — olhei para o mar agitado lá embaixo, estávamos no topo de um dos maiores morros da cidade. — Desagradável. — Não se intrometa. — Quando vai me levar pra correr com você de novo? — mudou de assunto notando que eu não estava gostando da sua insistência. — Já falei pra você não criar esperanças em mim Karin, só vai se decepcionar. Sabe que eu não entro em relacionamentos. — Eu sei que é apenas sexo Uchiha. Não sou uma garotinha boba e sei separar as coisas. — a ruiva revirou os olhos apertando meu queixo antes de se afastar. — Não pode ver um macho que já se joga em? — Suigetsu se aproximou provocando a ruiva que revirou os olhos pra ele. — E você tá louco pra eu me jogar em você cara de peixe. — Cai fora. — Babaca. — Podem parar? Me dão dor de cabeça. — montei em minha moto acelerando para longe dali. — Exibido. — ouvi Suigetsu gritar enquanto me distanciava. Ele era um cara irritante a maioria das vezes mas era parceiro, alguém para poder contar a cada loucura vivida, as apostas, as corridas. Conheci Suigetsu e Karin por meio delas, eles eram como eu, buscavam por liberdade dessa vida de merda, correr sem limites por aí sem se preocupar com nada. A minha moto era tudo que eu tinha, minha parceira de todos os momentos e a única em que eu poderia confiar, a sensação de ter o mundo ao meu alcance era relaxante, a velocidade era tudo pra mim. Não consegui superar a morte de Mikoto, foram quatro longos anos de surtos de raiva e ansiedade que fizeram até Fugaku mudar de casa, ele nunca se importou com os filhos e eu não ligava de forma alguma para aquele cara, na verdade eu simplesmente o odiava. Itachi aguentou minhas crises todo esse tempo até que achou melhor eu ter uma psicóloga, estava a dez meses em um tratamento irritante tentando melhorar meu temperamento de alguma forma, mas parecia inútil. Curiosamente a única coisa que me acalmava era pensar nela, a garota do cemitério, gostava de tentar desvendar como alguém além da minha mãe poderia ter um coração tão bom, mas nunca cheguei a uma conclusão e nem mesmo conseguia entender o porque dela sempre vir a minha mente. Sai das ruas desertas entrando no trânsito infernal do centro e enquanto desviava entre os carros, vi de relance uma cabeça rosa no meio da multidão de pessoas pelo parque central. O susto me veio e tive que frear a moto para não bater na traseira de um carro. Buzinaram atrás de mim e eu virei o corpo para trás tentando enxergar os cabelos rosados, mas tinham se perdido no meio da multidão e eu me pergunto se foi uma alucinação da minha cabeça. As buzinas ficaram frequentes e eu acelerei saindo dali. Quantas garotas de cabelo rosa haviam em Konoha? Vaguei pelas ruas até o anoitecer antes de voltar para casa, não havia ninguém me esperando lá mesmo. Itachi alugou um apartamento para nós dois, não era bom pra mim continuar morando na mesma casa que minha mãe um dia esteve, eu conseguia ve-la em toda parte e meu irmão decidiu que estava na hora de mudarmos quando eu destrui toda a biblioteca. Entrei no apartamento jogando as chaves da moto na estante, e ouvi barulhos vindo da cozinha. Itachi estava trabalhando agora então a única pessoa que poderia estar aqui era uma certa garota inconveniente. — Sasuke estou fazendo bolinhos de mel, Itachi disse que você gostava quando era criança. — Konan apareceu na porta da cozinha sorridente segurando uma colher. Era a namorada do meu irmão mais velho. Sempre tentando me agradar com sorrisinhos forçados, isso quando não estava se esfregando em mim com roupas curtas, mas claro que quando Itachi aparecia a garota se fingia de santa. Meu irmão era um corno essa era a verdade, mas eu não estava nem aí porque ele simplesmente fechava os olhos para isso. — Não estou afim. — tirei minha jaqueta indo em direção ao meu quarto. — Mas eu fiz especialmente pra você. — Konan me seguiu fazendo um bico emburrado e eu bati a porta na sua cara. Meu celular apitou mostrando uma mensagem e eu arquei uma sobrancelha me perguntando o que aquele cara queria depois de tanto tempo. "E ai Sasuke, sei que não nos falamos desde aquele dia, mas eu preciso da sua ajuda com um carro eu sei que você é muito bom nisso. Vou esperar por uma resposta" Naruto Uzumaki. (...) S A K U R A Encarei meus olhos verdes no espelho do corredor abrindo um pequeno sorriso, tentando me convencer de que seria uma boa noite, mesmo eu sabendo que só ficaria entediada e triste. Desci as escadas devagar arrumado a postura observando as pessoas da alta sociedade espalhadas pela sala de estar da minha casa. Sorrisos forçados, bebidas caras, palavras falsas e olhares cheios de inveja, um antro de maldade. Deveria ser algo natural para mim pois sempre vivi cercada por eles, mas eu me sentia uma completa estranha naquele lugar. — Sakura como está? — Cada dia mais bela querida. Respondia a aqueles falsos com sorrisos forçados e acenos de cabeça. Ninguém se importava comigo ali essa era a verdade, e eu também não me importava em saber o quanto aquelas Senhoras hipócritas haviam gastado em seus vestidos de luxo. Meus pais se encontravam conversando com alguns políticos, e eu não me dei o trabalho me aproximar pois seria ignorada. Eles não se importavam comigo de qualquer forma, só me queriam ali para manter a imagem de família unida e feliz. Me dava nojo a ideia de que eu só via meus pais quando eles me chamavam para posar de frente a uma câmera. Alguns jornalistas e fotógrafos estavam pelo local, e quando se aproximavam de mim eu virava o rosto me afastando. Caminhei até a cozinha disposta a ter mais liberdade, mas parei na porta incrédula pela cena ridícula a minha frente. Sasori paquerava uma garota na porcaria da minha casa, sem se importar se qualquer um poderia ver aquela pouca vergonha, mas o auge da minha raiva foi quando ele teve a audácia de beija-la. Quem aquele cara pensava que eu era pra fazer isso comigo? O quão babaca ele poderia ser? Soltei um ruido de nojo atraindo a atenção dos dois e os olhos surpresos do meu namorado. Não lhe dei tempo para explicar nada e sai daquele lugar sentindo ânsia de vômito. Meus saltos faziam um barulho irritante pelo caminho de pedras a medida em que eu caminhava apressada para fora de casa, usando a última dignidade que me restava para manter a compostura. Farta, eu estava farta de tudo isso. Cansada dessa vida falsa de merda, dessas pessoas hipócritas que só me faziam m*l. — Sakura volta aqui. — Sasori gritou da porta da mansão não ousando mover um músculo para me seguir. O cara por quem eu era apaixonada desde os meus quatorze anos de idade, havia me traído outra vez, não se importando com os holofotes ou se amanhã o meu rosto estaria estampado em todos os sites de fofoca do Japão como a corna do ano. — Senhorita Haruno. Engoli um soluço de raiva começando a correr quando os seguranças prestaram atenção em mim. Atravessei os grandes portões de ferro ouvindo meu sobrenome ser chamado por um deles, mas não parei em nenhum momento, tropeçando nos malditos saltos ao chegar no meio da rua. Ouvi uma barulho alto de motor e olhei assustada para o lado vendo o momento certo em que uma moto freou a centímetros do meu corpo. O motoqueiro colocou o pé no chão parando o veículo em um movimento brusco. O olhei ofegante vendo o homem parado me observando através do capacete escuro. Por um momento vi a morte passar em frente aos meus olhos. — Senhorita Haruno. — os seguranças se aproximaram correndo. — Mantenha-se no lugar iremos chamar uma ambulância. — Estou bem Kakashi. — me recompus olhando para o chefe da segurança da minha família. Ele estava sério quando se virou para o motoqueiro que ainda se encontrava parado sem mover um músculo. — Você rapaz, aqui é um condomínio fechado, não sabe que há limites de velocidade? O cara tirou o capacete e eu engoli em seco quando seus olhos escuros como a noite miraram em meus olhos, ignorando qualquer outra pessoa que estivesse no local. O avaliei franzindo o cenho confusa pois tinha a sensação de que já tinha visto aqueles olhos em algum lugar, talvez em um sonho. — Vamos ter que leva-lo a delegacia. Poderia ter acontecido um acidente grave ou até mesmo matado a garota. — Kakashi avisou pegando seu celular. — Era só a patricinha olhar para os lados antes de atravessar a rua, não é algo tão difícil. — o cara retrucou com arrogância sem desviar o olhar em nenhum momento. — O que você disse? — o olhei chocada vendo o mesmo arquear uma sobrancelha como se estivesse zombando de mim. — Você ouviu. — Está insinuando que a culpa da sua falta de senso é minha? — Não sou eu que ando pelas ruas como se estivesse na Disney. Eu não era uma pessoa que gostava de confusão ou brigas e muito menos ferrar os outros. Mas eu estava tão irada e revoltada com Sasori e agora esse cara vem me ofender depois de quase me atropelar. — Sakura, por Deus você está bem? — um Sasori ofegante parou ao meu lado mas eu só tinha olhos para o cara arrogante e prepotente a minha frente, ousado o suficiente para me desafiar com o olhar. — Vamos a delegacia. — decretei olhando no fundo de seus olhos negros não vendo nenhuma alteração de humor. (...) Sasuke Uchiha era seu nome. Era sobrinho do delegado da cidade e eu nunca me senti tão patética antes. — Isso não irá mais se repetir Senhorita Haruno, meu sobrinho estava com pressa porque um amigo precisava de sua ajuda. Não que isso justifique ultrapassar limite de velocidade ainda mais em um condomínio fechado, poderia ter machucado qualquer pessoa. Sasuke tomará uma punição por isso. — O delegado explicou enquanto eu estava sentada a sua frente com as pernas cruzadas, assentindo impaciente. — Tudo bem, acho que já posso ir embora. — murmurei cansada de tudo aquilo. — Claro. Tenha uma boa noite. — Igualmente. Sai da sala colocando minha bolsa no ombro dando de cara com causador de todo aquele problema. Ele estava parado a minha frente, fazendo-me sentir uma nanica perto da sua altura. Suas roupas eram escuras dando um contraste atraente aos seus olhos e cabelos, consegui ver risco de tatuagens abaixo de sua jaqueta de couro, ele parecia um marginal como diria Mebuki. — Tem noção de que pode me ferrar não é? — Você ultrapassou os limites da velocidade, poderia ter machucado alguém, me machucar. — ergui o queixo não me intimidando. — A patricinha está inteira. — seus olhos negros vagaram lentamente por todo meu corpo. Meu vestido de seda rosa era curto, e o decote valorizavam meus s***s pequenos. Eu podia sentir seus olhos perfurando minha pele. Arquei uma sobrancelha para sua ousadia de me encarar tão descaradamente. — Não me chame de patricinha. — retruquei irritada com suas insinuações prepotentes. Fui surpreendida com meu corpo sendo empurrado contra a parede ao lado, e o Uchiha apoiou um braço acima da minha cabeça, parecendo se importando se alguém visse aquela cena. — Retire a queixa. — Sasuke ordenou segurando meu queixo, aproximando o rosto do meu. Seus olhos tinha uma intensidade estonteante, eram tão profundos e misteriosos como nunca havia visto antes, na verdade sinto que já tinha os visto em algum lugar. — Não vou. — respondi com falta de ar, odiando o fato do meu coração estar quase saindo pela boca com sua proximidade. E definitivamente não era medo daquele delinquente o que eu sentia. Que merda era essa? O que eu estava pensando? — Não vai querer brincar comigo rosada. — ousou pegar uma mexa do meu cabelo. — Está me ameaçando? — estreitei os olhos vendo um brilho passar pelos seus. — Deixando um aviso. — Não tenho medo de você. — deixei claro que sua pose de marginal não me assustaria. — Sakura? — ouvi a voz de Sasori e o corpo de Sasuke se afastou do meu, sem deixar de me encarar o Uchiha se moveu entrando na sala do delegado. Ele fazia parecer que todos a sua volta fossem insignificantes, menos a mim. — Sakura o que foi isso? — Sasori me tirou do meu momento de loucura lembrando-me da sua existência patética. — Nada. Me deixa em paz. — passei por ele encontrando Kakashi me esperando na porta da delegacia. — Tudo certo? — Sim. Me leve para casa. — E seu namorado Senhorita? — ele olhou por cima do ombro para Sasori que estava parado nos encarando com nervosismo. Olhei no fundo dos seus olhos castanhos lhe mostrando todo rancor que eu sentia. Sasori conseguiu jogar quatro anos fora, quatro anos perdidos da minha vida com um cara que não merecia nem minhas migalhas. — Ele não é mais meu namorado. — Devo mante-lo longe de você? — Agradeceria, obrigada Kakashi. — entrei no carro de luxo o vendo fechar a porta atrás de mim. — Meu dever é proteger a filha do Governador Senhorita — ele fechou a porta e eu observei pela janela o momento em que Sasori tentou se aproximar do carro e Kakashi o barrou. Fechei os olhos me escorando no banco deixando as primeiras lágrimas caírem. Minha vida era tão patética que me dava ânsia de vômito. — Kakashi mudei de ideia, me leve para o internato. — Não deseja esperar até amanhã? — Lembrei que tenho muita coisa para organizar no meu quarto. — limpei o rosto sentindo seus olhos vidrados em mim pelo retrovisor. — Tudo bem, mas preciso avisar aos seus pais. — Não se preocupe, eles não lembram que eu existo, não vamos atrapalhar a festa deles. — Sinto muito Senhorita mas é meu dever relatar tudo que acontece com você. — Faça o que quiser, não fará diferença mesmo. Contanto que eu continua-se sendo uma boneca de porcelana sem nenhum defeito, tudo estava bem para Mebuki e Kizashi Haruno. Eles só me viam em alguma data comemorativa, nem sequer me telefonavam, e só sabiam que eu estava viva pelo relatório que Kakashi os mandava todos os dias. O internato foi uma das melhores escolhas que eles fizeram para mim, lá eu tinha amigos que eram minha família de verdade. Esse era meu último ano na escola, já tinha dezoito anos e era maior de idade, podia fazer minhas próprias escolhas e desejava a liberdade. E meu passo mais importante acontecerá no fim do ano, onde irei embora desse lugar, para bem longe onde ninguém nunca irá me encontrar. Um passarinho preso em uma gaiola implorando para voar, era exatamente assim que eu me sentia, mas algo me dizia que minha liberdade estava próxima.
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