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Queima de Arquivo

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Blurb

Elena Stuart é a melhor médica legista da cidade de São Paulo. Como em qualquer outro dia de trabalho, ela foi convocada para uma ocorrência. Um corpo havia sido encontrado com indícios de suicídio, mas como nada passa despercebido por seus olhos ágeis e atentos, Elena logo tem a certeza de que está em frente há um caso de um homicídio, o que dar um rumo totalmente diferente a investigação.

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Capítulo 1
A médica legista foi chamada às oito da manhã de uma segunda-feira, o que era para ser apenas mais um começo de semana aparentemente comum tornaram-se o mais corrido. Os detetives se apressaram rumo aos seus carros e partiram rapidamente para o seu destino. Elena, porém, sentia seu estômago se embrulhar sem motivo aparente, deixando-a desconfortável enquanto sua estagiária dirigia tranquilamente pelas ruas conhecidas de sua cidade. Ela não havia dormido bem, de modo que a fez acordar de mau-humor, mas não a impedindo de sorrir quando chegou ao seu local de trabalho. Seus olhos aéreos, que antes estavam focados nas árvores que passavam rapidamente do lado de fora do carro, focaram, de repente interessados, na rua em que sua condutora percorria. — Para onde estão solicitando a nossa presença? – Perguntou com a preocupação evidente em sua voz. — Na rua B 47. Eles chamaram pelo rádio. Algum problema? – A jovem garota virou a esquina. Elena não respondeu, mas sentiu seu peito apertar. De frente à casa marrom, havia muitas viaturas, dois carros populares e pessoas curiosas que se aglomeravam na entrada da casa, onde uma fita da polícia impedia a aproximação dos civis. A motorista estacionou o mais próximo possível e Elena saltou do carro antes mesmo dele se desligar, esquecendo-se até mesmo de sua maleta no veículo. Ela entrou na casa vasculhando cada cômodo temendo o pior, mesmo sabendo o que estava por vir. Muitos policiais andavam pelos cômodos, uns tirando fotos, outros procurando por pistas e alguns apenas auxiliando. Não havia nada ali, então foi para o quintal dos fundos, onde uma cena a paralisou. Uma jovem, sem vida, estava sentada desajeitadamente em uma cadeira de madeira, as pernas juntas caíam de lado enquanto ambas as mãos se deitavam em seu colo. Ela se encontrava descalça, o que não passou despercebido a Elena, mesmo com a cena chocante em sua frente. No pescoço da falecida, uma corda estava amarrada, mas arrebentada na ponta onde deveria estar amarrado em alguma viga ou suporte para o possível suicídio. Aproximou-se mais um pouco, obrigando seus olhos a fazerem seu trabalho de legista e não ficar paralisada e triste com a face apavorante da garota. Não conseguia evitar, por anos trabalhando naquele ramo de médica legista, Elena nunca ficou tão chocada antes, a ponto de ter um elo especial com a vítima. No fundo, sentiu suas pernas bambearem, mas se conteve diante de tantos telespectadores. — Elena, você está bem? – Max, seu colega de trabalho parecia preocupado. — Sim. – Respondeu saindo do transe. A estagiária que a acompanhava se aproximou com a maleta, onde havia luvas e saquinhos de evidências. Elena se abaixou e abriu a maleta, pegando uma luva e as vestiu. Lutou para examinar o corpo num primeiro momento, reprimindo a vontade de chorar, tocava o corpo com cuidado, tinha medo de desencaixar qualquer m****o se a apertasse com força. Seus olhos passaram com mais dificuldade dessa vez, estando mais perto do corpo frágil e sem vida de Verônica, sua melhor amiga. — Você sabe que horas aconteceu? – Alfredo, o oficial da polícia perguntou se aproximando enquanto observava Max fotografar o corpo. — Sim, está morta desde, aproximadamente, às três horas da manhã. – Chamou o homem loiro com a câmera na mão. – Max olha – Apontou para o pescoço da vítima, onde havia marcas de arranhões na vertical, então seu colega tirou algumas fotos dos hematomas. — Tentou se soltar? – Alfredo perguntou curioso. — Sim, essas são marcas que, provavelmente, foram causadas pela própria, quando tentava puxar a corda para se livrar do aperto. – Elena explicou. – É normal de o instinto humano tentar se livrar, a menos que o pescoço se quebre e a pessoa venha a óbito instantaneamente. — Sim. – Alfredo apontou um rapaz, que conversava com outro policial. – O namorado da vítima afirma que chegou hoje por volta das oito da manhã e a encontrou assim. Disse que a porta estava fechada e não havia sinal de invasão, foi encontrado um frasco de Clomipramina vazio, que é usado para o tratamento de depressão, tudo indica que se suicidou. – Alfredo termina de falar e Elena olha para o namorado da vítima. Observou com desconfiança que o jovem conversava tranquilamente, não chorava e nem parecia nervoso, uma atitude muito suspeita para quem acabou de encontrar a namorada morta. — Não posso te dizer agora o que realmente aconteceu, só terá um resultado mais exato depois da autópsia completa. – Se levantou e olhou novamente para o corpo. — Certo. Vamos esperar pelo resultado dos exames então. – Alfredo voltou para o seu pessoal. Max, atento, continuava tirando foto do que achava ser evidência, seus olhos varriam o quintal e registrava qualquer lata de refrigerante ou até mesmo uma bituca de cigarro, aparentemente insignificante, e notou há um pouco mais de um metro e meio do corpo, uma seringa usada. O objeto estava meio escondido no mato, tirou foto dos ângulos e com muito cuidado, a colocou em um saquinho de evidências. Os oficiais ensacaram o corpo e o levaram para o veículo da perícia, em seguida, partiram para o Instituto Médico-Legal (IML). A legista sentia-se extremamente triste, impaciente e furiosa pelo crime bárbaro. Sentia seus nervos à flor da pele e queria mais do que nunca o assassino atrás das grades. Assim que chegaram ao departamento, acompanhou a locomoção do corpo até a autópsia, avistando Maria já a sua espera. Assim que se aproxima do corpo, Maria, sua assistente, abriu o mortuário, revelando a bela jovem sem vida. — Tão jovem. – Maria lamenta puxando o saco para fora da mesa e o jogando ali mesmo no chão. Ela notou o olhar triste de Elena e não deixou de perguntar. – Você está bem? — Ela... – Elena encarava a face mórbida da sua amiga e lamentou a sua perda mentalmente. – Era minha melhor amiga. — Sinto muito! – Maria lhe tocou o ombro e voltou para o corpo. – Se quiser, posso fazer isso sozinha. — Está tudo bem, eu consigo. Elena tira as roupas do corpo e empacota tudo com os mínimos cuidados, depois o anel, os brincos e as pulseiras fazendo o mesmo processo das vestimentas. Todos os pertences guardados separadamente para um não comprometer o outro. Tinha que mandar para a polícia científica para examinarem de perto. — Por que está empacotando as roupas? Ela não cometeu suicídio? – Maria pergunta curiosa. — É o que dizem, mas não é o que essas marcas mostram. – Ela aponta para as marcas nas coxas em tonalidades arroxeadas no corpo de verônica. — Então você suspeita que possa ser homicídio? — Ou feminicídio. – Elena fala lembrando-se do cara que diz ser namorado de Verônica. O corpo é pesado e lavado. Elena começa analisar a área externa do corpo da vítima e junto com Maria procuram furos de bala, lesões e até sinais que identificam a morte além do que pensam que aconteceu. — Algo foi injetado nessa moça. – Maria fala para a colega e mostra o braço direito com um furo na parte superior. — Vamos fazer um exame toxicológico. Maria lhe entrega uma seringa onde Elena retira um pouco do sangue da vítima e o entrega ao Tom, que leva a pequena amostra para examinar no escritório ao lado. Maria faz uma a******a nas cavidades do cadáver que vai do pescoço ao p***s no formato de Y, e ela tem acesso à caixa torácica e ao abdome onde a mesma examina o estômago e acaba encontrando várias pílulas ainda se dissolvendo. — Deu positivo para d***a. – Tom aparece dando a notícia. Aquilo afirmou as suspeitas. Elena finaliza seu trabalho e se retira, precisava respirar ver sua melhor amiga deitada na mesa de autópsia não estava sendo fácil. Ela vai para sua sala e entra no banheiro, toma um banho e coloca uma roupa que não exalava o cheiro de cadáver, se afunda no sofá e chora lamentando pela perda da melhor amiga. Tentara esconder a angústia de examinar o corpo de uma pessoa tão especial, nunca imaginou passar por aquilo em anos nessa função e saber que nunca mais veria Verônica à fez soluçar de ódio e de raiva. Queria m***r o assassino com as próprias mãos se fosse possível. Alguém bateu na porta do pequeno dormitório onde elas costumavam tomar banho antes de irem para as suas casas. Ela limpou o rosto com a toalha ainda úmida em seu colo e se recompôs. — Pode entrar. — Com licença. – O policial responsável pelo caso entra cauteloso e se senta em sua frente. – Você está bem? Parece que chorou. — Eu tentei ser forte porque queria trabalhar no caso, mas está sendo difícil para mim. Aquela mulher é a minha melhor amiga. Eu entendo se o senhor não quiser que eu fique no caso. – Ela enxuga mais algumas lágrimas que insistiam em cair. — A decisão é sua Elena. Eu já te conheço há muito tempo e confio no seu potencial. Sei que você fará um ótimo trabalho. A decisão é sua em continuar ou não. — Obrigada. Eu vou continuar no caso. Quero saber o que aconteceu com ela – Ela fala decidida. — Já saiu o resultado da autópsia? – Pergunta Alfredo. — Sim. Acabei encontrando uma alta dose de metanfetamina no organismo dela, e como ela já sofria de depressão e usava como remédio controlado a dose da d***a, acabou deixando-a inconsciente em segundos, sem forças para se mover, então ela não teria forças de andar até a corda e se enforcar. Sem contar que encontramos furos em seu ombro a d***a foi aplicada por trás, indicando que foi planejado. E também no braço. Isso quer dizer que alguém aproveitou que ela já estava sob efeitos do remédio para aplicar ainda mais. O namorado dela mencionou que ela usava drogas? — Não. — Talvez seja melhor você o chamar para mais um depoimento. Achei-o muito frio. No lugar dele, qualquer um ficaria abalado por uma perda assim. — Você tem razão. Por enquanto, ele é o nosso principal suspeito. – Ele fala e dá um beijo na testa dela e se retira com as fotos em mãos. Elena não sabia o que fazer, sentia seu mundo se desfazer em questão de minutos diante dos seus olhos. Não tinha mais forças para continuar ali até o horário do almoço. Por sorte nenhuma chamada apareceu e tomou a liberdade de voltar para casa e colocar a cabeça em ordem. Dirigiu meio aérea, mas ficou melhor ao encontrar o conforto do seu lar. Tirou os saltos que pareciam apertar seus pés, apesar de os abraçarem com gentileza. Afundou-se no sofá e abriu à galeria do seu celular a procura de suas fotos e de Verônica da última vez que tiraram. O sorriso perfeito dela e a beleza de quem estava nos seus vinte e três anos, congelados numa foto que guardava a lembrança da moça mais gentil e amiga do mundo. A imagem de Verônica sumiu, revelando uma ligação e a foto de Vitória preencheu a tela.

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