Afrontando a fiel

1112 Words
MANU   Fiel? — Sim, e daí? — deixei minha bolsa na cadeira. — E daí que eu não gostei nem um pouco de saber que tem uma mulherzinha na casa do meu homem.  Ele nem mora nessa casa, segundo ele.  — Ah. Somos duas. E se você quiser aproveitar esse ciúme pra convencer ele a me colocar em outro lugar, de preferência melhor e com uma chave que só eu tenha, porque nesse barraco parece que todo mundo tem uma cópia da chave! Eu agradeço. Ela ficou me encarando com o olhar estreito. — Não mente, que tu tá de olho no meu gostoso. Ele é só meu. Aquela delicia é só minha. — contou parecendo uma maluca. Que coisa mais ridícula! — Nossa, verdade? Mudou a minha vida essa notícia. Vou ser uma pessoa melhor. — assenti de braços cruzados com ironia. Ela apontou o dedo na minha cara. — Olha aqui. Eu não sei o que cê tá fazendo aqui, mas não mexe com ele. Porque senão eu te mato. Ousada! Abaixei o dedo dela e segurei a gargalhada. Essa menina não vai me fazer medo. — Entra na fila então. E quirida, garanto que ele tá precisando mais de mim do que de você. Senão ele não teria me sequestrado. — Há Há Há. — ela riu ironicamente. — Você nunca vai ser como eu. E, ele nunca vai querer uma branquela como você. — Tô nem aí. Eu não quero ele mesmo. Ele não faz meu tipo, não é bom pra mim. Não ficaria com ele. De onde eu venho tem homem bonito de monte. — desdenhei. Ele é gato, mais ainda é o filho da mãe que me sequestrou. — E o que você tá fazendo aqui então?  — Pergunta pra ele. — abri a porta pra ela sair. — Perguntar oque a quem? — Ricky entrou no barraco junto com a luz do sol. Parece até um anjo. Um anjo caído. — Nada. — A tal da fiel saiu rebolando na direção dele. — Depois a gente conversa. — deu um beijão safado na boca do Ricky. Virei o rosto o mais rápido que pude. É muito contraste pra o meu globo ocular, sabe? Ele parece um playboy norte-americano e ela só uma garota do morro que anda desesperada por macho. — Tchauzinho doutora. — ele balançou os dedos. Não respondi. Fingi que foi o vento que saiu de dentro de casa. Nem vi. — O que foi que teve? — ele fechou a porta. — Sua fiel veio tirar satisfação comigo... Pensando que eu tenho alguma coisa com você! — Ah, foi? — Sim. Até me ameaçou de morte. Olha, se for pra ficar sendo ameaçada de morte todo dia por favor, me mata logo. — pedi. — Tem mais fiel? Preciso ficar preparada. Vou amolar umas facas. — Relaxa. A Sandrielly não vai fazer nada com você. Eu não deixo. Quanto as outras... Elas não vão te incomodar.  Me arrependi de dormir na cama dele. Imagine as doenças! Credo. — Ata. Acho bom. — sentei no sofá e tirei meu sapato apertado. Não aguento mais essas roupas. — Como vai com a minha mãe? Ela tá melhor? — sentou na cadeira. — Não sou o gênio da lâmpada. Sou uma médica, isso demora. Mas eu passei um medicamento pra ela já começar a tomar, vou analisar os exames a partir de agora, e logo começo o tratamento. — Ok. Mas você acha que ela vai ficar bem? — ele não esconde sua aflição. Não consigo imaginar como deve ser o que ele tá sentindo. Mas penso na minha mãe e como ela deve estar preocupada comigo. — Espero que sim. Vou fazer o meu possível. — tentei ser esperançosa. — Eu queria ligar pra minha mãe. — Não é possível. — Como não é possível? Não tem rede aqui não?! —Você pode falar besteira. Lembre-se que você tá sequestrada. Lembre-se... Parece até que fala culto. — Não vou fazer nada de besteira. Só quero falar com a minha mãe. Se é difícil ver sua mãe doente assim imagine sua filha sumir de repente?! Como você ficaria? Minha mãe tá preocupada comigo. — me deu um aperto no peito e meus olhos estão cheios de lágrimas. Ele ficou pensativo. Penso que minhas palavras devem ter tocado ele. Tá me encarando com esses olhos internacionais. — Você vai dizer que tá bem e que tá trabalhando. Só isso. Nada mais, ouviu? — me encarou sério. Balancei a cabeça com um sorriso animado no rosto. Minha mãe vai ficar tão contente! Ele tirou meu celular do bolso e me entregou. Sério que ele anda com meu celular? Ainda bem que tem senha digital. Ainda tem carga. Pouca, mas dá pra fazer ligações.  E tem muitas ligações perdidas da minha mãe, e tem umas do Dr. Gostoso. Merda de sequestro. Liguei pra minha mãe e esperei ela atender. Foi rápido e quando ouvi ela perguntar: — filha? É você? Onde você tá? — comecei a chorar. — Oi mãe. Eu tô bem. Não se preocupa. — enxuguei meu rosto que já tava todo molhado. — Onde é que você tá? Não apareceu pra jantar nem pro café da manhã. Porque não atendeu minhas ligações?!  — Eu tinha perdido meu celular. Deu um trabalhão pra achar. Desculpa mãe. — engoli o choro. O rei do morro fez um sinal me apressando pra desligar. — Mãe eu tô bem, mas precisei viajar a trabalho. Tô tratando uma paciente em estado critico e só volto quando o tratamento dela acabar. — Mas como? Porque você não me falou antes? — Porque foi coisa de última hora mãe. Desculpa. Eu tenho que desligar. Tá tudo bem tá? Não se preocupe comigo. Logo eu volto pra casa. Beijo. Te amo. — engoli seco no final. — Eu também te amo filha. Se cuida. — ela falou e eu desliguei e entreguei logo o telefone enquanto voltei a chorar. Merda! Porque isso tá acontecendo comigo? Tanto médico no mundo, logo eu fui cair nessa cilada! Enxuguei meus olhos e me recuperei o mais rápido que pude. — Obrigada. — agradeci a ele e ele assentiu todo sério. — Agora que não tem ninguém te procurando fica mais tranquila. Minha irmã vai te levar pra comprar umas roupa. Daqui a pouco ela aparece. Viu? — Tá. — entrei no banheiro e lavei meu rosto. — Antes de você sumir só me responde uma coisa: Porque eu? — o encarei e ele ficou pensativo. — Não foi escolha. Você só tava no lugar na hora que aconteceu. — saiu do barraco. Merda de sorte!
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