MANU
Fiel?
— Sim, e daí? — deixei minha bolsa na cadeira.
— E daí que eu não gostei nem um pouco de saber que tem uma mulherzinha na casa do meu homem.
Ele nem mora nessa casa, segundo ele.
— Ah. Somos duas. E se você quiser aproveitar esse ciúme pra convencer ele a me colocar em outro lugar, de preferência melhor e com uma chave que só eu tenha, porque nesse barraco parece que todo mundo tem uma cópia da chave! Eu agradeço.
Ela ficou me encarando com o olhar estreito.
— Não mente, que tu tá de olho no meu gostoso. Ele é só meu. Aquela delicia é só minha. — contou parecendo uma maluca.
Que coisa mais ridícula!
— Nossa, verdade? Mudou a minha vida essa notícia. Vou ser uma pessoa melhor. — assenti de braços cruzados com ironia.
Ela apontou o dedo na minha cara. — Olha aqui. Eu não sei o que cê tá fazendo aqui, mas não mexe com ele. Porque senão eu te mato.
Ousada!
Abaixei o dedo dela e segurei a gargalhada. Essa menina não vai me fazer medo. — Entra na fila então. E quirida, garanto que ele tá precisando mais de mim do que de você. Senão ele não teria me sequestrado.
— Há Há Há. — ela riu ironicamente. — Você nunca vai ser como eu. E, ele nunca vai querer uma branquela como você.
— Tô nem aí. Eu não quero ele mesmo. Ele não faz meu tipo, não é bom pra mim. Não ficaria com ele. De onde eu venho tem homem bonito de monte. — desdenhei.
Ele é gato, mais ainda é o filho da mãe que me sequestrou.
— E o que você tá fazendo aqui então?
— Pergunta pra ele. — abri a porta pra ela sair.
— Perguntar oque a quem? — Ricky entrou no barraco junto com a luz do sol. Parece até um anjo. Um anjo caído.
— Nada. — A tal da fiel saiu rebolando na direção dele. — Depois a gente conversa. — deu um beijão safado na boca do Ricky. Virei o rosto o mais rápido que pude. É muito contraste pra o meu globo ocular, sabe? Ele parece um playboy norte-americano e ela só uma garota do morro que anda desesperada por macho. — Tchauzinho doutora. — ele balançou os dedos.
Não respondi. Fingi que foi o vento que saiu de dentro de casa. Nem vi.
— O que foi que teve? — ele fechou a porta.
— Sua fiel veio tirar satisfação comigo... Pensando que eu tenho alguma coisa com você!
— Ah, foi?
— Sim. Até me ameaçou de morte. Olha, se for pra ficar sendo ameaçada de morte todo dia por favor, me mata logo. — pedi. — Tem mais fiel? Preciso ficar preparada.
Vou amolar umas facas.
— Relaxa. A Sandrielly não vai fazer nada com você. Eu não deixo. Quanto as outras... Elas não vão te incomodar.
Me arrependi de dormir na cama dele. Imagine as doenças!
Credo.
— Ata. Acho bom. — sentei no sofá e tirei meu sapato apertado. Não aguento mais essas roupas.
— Como vai com a minha mãe? Ela tá melhor? — sentou na cadeira.
— Não sou o gênio da lâmpada. Sou uma médica, isso demora. Mas eu passei um medicamento pra ela já começar a tomar, vou analisar os exames a partir de agora, e logo começo o tratamento.
— Ok. Mas você acha que ela vai ficar bem? — ele não esconde sua aflição. Não consigo imaginar como deve ser o que ele tá sentindo. Mas penso na minha mãe e como ela deve estar preocupada comigo.
— Espero que sim. Vou fazer o meu possível. — tentei ser esperançosa. — Eu queria ligar pra minha mãe.
— Não é possível.
— Como não é possível? Não tem rede aqui não?!
—Você pode falar besteira. Lembre-se que você tá sequestrada.
Lembre-se... Parece até que fala culto.
— Não vou fazer nada de besteira. Só quero falar com a minha mãe. Se é difícil ver sua mãe doente assim imagine sua filha sumir de repente?! Como você ficaria? Minha mãe tá preocupada comigo. — me deu um aperto no peito e meus olhos estão cheios de lágrimas.
Ele ficou pensativo. Penso que minhas palavras devem ter tocado ele. Tá me encarando com esses olhos internacionais.
— Você vai dizer que tá bem e que tá trabalhando. Só isso. Nada mais, ouviu? — me encarou sério. Balancei a cabeça com um sorriso animado no rosto. Minha mãe vai ficar tão contente!
Ele tirou meu celular do bolso e me entregou.
Sério que ele anda com meu celular? Ainda bem que tem senha digital.
Ainda tem carga. Pouca, mas dá pra fazer ligações.
E tem muitas ligações perdidas da minha mãe, e tem umas do Dr. Gostoso. Merda de sequestro.
Liguei pra minha mãe e esperei ela atender. Foi rápido e quando ouvi ela perguntar: — filha? É você? Onde você tá? — comecei a chorar.
— Oi mãe. Eu tô bem. Não se preocupa. — enxuguei meu rosto que já tava todo molhado.
— Onde é que você tá? Não apareceu pra jantar nem pro café da manhã. Porque não atendeu minhas ligações?!
— Eu tinha perdido meu celular. Deu um trabalhão pra achar. Desculpa mãe. — engoli o choro. O rei do morro fez um sinal me apressando pra desligar. — Mãe eu tô bem, mas precisei viajar a trabalho. Tô tratando uma paciente em estado critico e só volto quando o tratamento dela acabar.
— Mas como? Porque você não me falou antes?
— Porque foi coisa de última hora mãe. Desculpa. Eu tenho que desligar. Tá tudo bem tá? Não se preocupe comigo. Logo eu volto pra casa. Beijo. Te amo. — engoli seco no final.
— Eu também te amo filha. Se cuida. — ela falou e eu desliguei e entreguei logo o telefone enquanto voltei a chorar.
Merda! Porque isso tá acontecendo comigo? Tanto médico no mundo, logo eu fui cair nessa cilada!
Enxuguei meus olhos e me recuperei o mais rápido que pude. — Obrigada. — agradeci a ele e ele assentiu todo sério.
— Agora que não tem ninguém te procurando fica mais tranquila. Minha irmã vai te levar pra comprar umas roupa. Daqui a pouco ela aparece. Viu?
— Tá. — entrei no banheiro e lavei meu rosto. — Antes de você sumir só me responde uma coisa: Porque eu? — o encarei e ele ficou pensativo.
— Não foi escolha. Você só tava no lugar na hora que aconteceu. — saiu do barraco.
Merda de sorte!