O plano - R

1095 Words
(RICK - VULGO O DONO DO MORRO) Estava num daqueles momentos em que preciso incentivar meus colegas a fazer coisas que eu mesmo não faria. Tem horas que paro e penso: sou um ator da p***a. Outras horas: eu tô fodendo com a vida dos outros, mas eles fazem as coisas com meu nome, então, eles me fodem de volta. Enfim, estamos para receber algumas mercadorias e esses Zé mané são piores com o que fazem do que eu com minhas habilidades como dono do morro. — Alguém tem que ir pegar o bagulho na esquina treze! Só isso! Só isso e ninguém tem coragem nessa p***a!— gritei aborrecido. Realmente, eu estava aborrecido, porquê eles já fizeram isso milhares de vezes, mas parece que não aprenderam nada! — Vocês têm armas! São uns covarde de merda, que carregam uma arma de enfeite?! Todos ficaram cabisbaixo e só o Cadú resolveu aparecer com a desculpa, quase choramingando. — Rick, os gambé tão lá o tempo todo cara, como é que a gente vai se arriscar desse jeito?! E ainda acham que nasceram pra vida do crime. — Parece que tenho que arranjar outros parceiro...— lamentei cogitando a possibilidade e dei uma tragada no meu cigarro. Cigarro eu gosto, não vou mentir. — Tem gente esperando essa carga. A gente não pode perder aquela grana. Ajuda todo mundo aqui, por mais que sejam uns idiotas, a grana das drogas alimenta a família de cada um de nós. Eu faço isso não por mim, mas pelos outros. Eu tenho gastado tudo o que eu ganho com os outros. Tanto que eu tenho morado num barraco e adiei a minha compra de uma mansão. Eu tô quebrado e com a minha mãe assim... Tudo piorou. — Ninguém quer, Ricky, mas... — Cadú parece brigar consigo mesmo. — Nós vamo buscar essa p***a hoje a noite. Pode ficar tranquilo. — Eric assegurou colocando munição no revólver. Eric tá passando uns dias aqui, pegando o jeito das coisas. Pegando a manhã, mas ele não é muito de falar não. Ele é mais de fazer e é isso que eu quero. Com essa grana eu vou resolver todos os problemas da minha família. — Ótimo. Eu gosto assim. — me tranquilizei. — Agora podem ir. — balancei a mão no ar e eles foram saindo um por vez. Assim que saíram da biqueira, que fica no ponto mais alto, Beta, a minha irmã, apareceu correndo e assustada. — Ricky, é a nossa mãe. Ela piorou Ricky! — seus olhos estão cheios de lágrimas. Um frio na barriga me tomou. São poucas as coisas que me assustam, e ultimamente a doença da minha mãe é meu maior pesadelo. Joguei o cigarro no chão, o pisei, guardei a arma atrás do cós do short e saí correndo atrás da Beta. Faz um tempo que minha mãe tá assim. Cada dia piora. Beta a levou para fora do morro, fez exames mas os resultados só pioraram tudo. O pior desta história é que tem gente querendo me matar e querendo se vingar de mim, que faria qualquer coisa, até machucar a minha mãe ou minha irmã. Por isso eu tenho medo que ela saia de casa. Aqui no bairro ela tá segura. Todo mundo conhece a gente, ninguém vai fazer nenhum m*l a ela, mas lá fora eles estão só me esperando e só esperando a chance de pegar alguém. Até a teimosa da minha namorada anda correndo perigo, mas ela não tá nem aí. Teimosa. Eu dou o aviso, mas se não quer seguir, eu deixo de lado. Entramos na casa dela e a vi sentada na cadeira da mesa, tossindo com um pano na boca. Ela parece não conseguir mais respirar tão bem. Seus pulmões estão doentes. Muito doentes. Andei até ela e me agachei em sua frente. — Mãe, a senhora consegue falar? — Icky, minh espir... ção... não con... igo... — tentou falar aflita. — Ela tá muito r**m Henrique. Será que ela vai morrer?? — Beta começou a chorar olhando pra ela e eu ajudei nossa mãe a deitar na cama. — Ele disse, o médico do postinho, que ela tinha que começar o tratamento urgente. Você nunca me escuta. — chorou ainda mais. — Para de falar em morte na frente da nossa mãe, c*****o! Não vai acontecer nada. Minha mãe não pode morrer assim. Eu não vou deixar. Isso me deixa agoniado, desesperado. Eu tenho que dar um jeito. Mas não posso sair do morro, nem ela. O pessoal da saúde fica com medo de chegar aqui. Tem muita gente que tem medo de ter contato comigo e ficar com a ficha suja. — Como eu não vou ficar preocupada, Ricky? É a nossa mãe! — Relaxa, Beta. Eu vou dar um jeito. Nossa mãe não vai morrer. — peguei meu rádio no bolso e liguei saindo na frente do barraco. Parte do nervosismo da minha mãe se deve a minha irmã, que não a deixa se mexer e qualquer "ai" ela sai na rua gritando. Entrei em contato com os meninos que trabalham comigo. — Aê galera, tenho um trabalhinho pra vocês que não estão saindo pra buscar a carga. Subam aqui na casa da minha mãe. — Falô. — alguém respondeu do outro lado. Não demorou muito para eles aparecerem e eu estava ali na frente da casa esperando, porque ficar dentro de casa seria bem pior. — Coé, Ricky? — Matheus perguntou terminando de subir a calçada junto com os outros dois. — Minha mãe tá doente. Preciso que vocês tragam um médico de fora da favela. Um dos melhor desses hospital de rico.— ordenei. — Mas isso aí é sequestro! — um dos moleque se espantou. Eu bufei. — Não me diga... Mas é claro que é a p***a de um sequestro, mas também não é um sequestro. Eu não vou deixar ninguém preso e amarrado. Eu só quero alguém pra cuidar da minha mãe aqui e assim ninguém correr o risco lá fora. — Pra quando cara? — Matheus perguntou. — Pra ontem1 — gritei no final agoniado. — Vão logo procurar, pesquisar. Tragam o mais rápido que puder alguém que seja bom. Só tragam especialista em pulmão. Entendeu? — Tá bom. — eles assentiram e saíram dali apressados. Eles tem que encontrar alguém que cuide dela. Eu vou manter um médico aqui até a minha mãe ficar curada. Eu não sou o cara mais a favor de tiroteio, roubalheira, nem sequestro. Mas pela minha mãe eu faço qualquer coisa.
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD