RICKY
Eu Eu fiquei na casa da minha mãe o dia todo.
A minha irmã estava dando alguns remédios que o médico havia passado pra ela e pelo tempo que ficamos, ela melhorou um pouco. Mesmo assim ela precisa ser tratada.
Eu me preocupo com quem o pessoal possa trazer pra cá. Espero uma pessoa com muita experiência. Alguém que quando ver os exames da minha mãe, já pense no tratamento certo. Eu quero a minha mãe bem e se eles me trouxerem algum incompetente... eu não sei o que faço.
Alguém me contatou pelo rádio. — Rickê! Já trouxeram a Dôtora Madame pra cá. — Biel passou a notícia.
Foi até rápido. Ainda bem. Pelo menos esse povo faz alguma coisa direito. Se é que nesta rapidez eles pegaram a pessoa certa...
— Tô chegano. — avisei pelo rádio e levantei do sofá.
— Pra onde é que tu vai, Ricky? Vai deixa nossa mãe assim? — Beta reclamou quando abri a porta do barraco.
Ela não gosta de ficar sozinha com a nossa mãe, porque ela tem medo que aconteça o pior.
— Vou resolver esse problema. Volto já. — saí da casa da minha mãe.
— Volta logo mesmo, tá?! Não demora, por favor. — ela ficou para trás aflita.
Ela já passou por tanto e eu entendo que esteja traumatizada.
{...}
Cheguei no barraco do Biel e encontrei uma loira revoltada, amarrada numa cadeira com a cabeça coberta.
Acho que eles se empolgaram com esse lance de sequestro.
— Cê é doido, cara! Precisava amarrar? — reclamei tirando o pano da cara dela.
Misericórdia! Roubaram foi uma estudante, não uma médica!
— Que p***a é essa, Biel?! Eu falei médico de rico, p***a! Não uma patricinha! — arremessei o saco no chão com raiva.
As coisas já estão péssimas, agora vão piorar pra devolver essa garota.
Ela tem cara de filho de rico. Dou 6 horas pra este rosto estar em todo jornal do Rio e se brincar, no jornal nacional também.
— Relaxa cara, ela é médica. Sabrine sondou lá no hospital do centro. Ela é médica de pulmão. Ela até confirmou. Confia, brother. — ele sentou no chão aparentemente perturbado.
A gente nunca fez isso antes. Nosso negócio é mais troca de favores.
Ela ainda parece tonta.
— Tá vendo quantos dedo aqui, moça? — Biel fez o teste com dois dedos na frente dela.
— Dois, i****a. Me solta! Que merda é essa?! — se sacudiu, surtada.
Que médica boca suja é essa?!
— Posso solta, Ricky? — ele olhou pra mim com medo.
Agora eu entendi o porque de ela estar amarrada.
— Ainda não. — repensei minha reclamação de antes. — Me deixa eu falar com ela sozinho.
Ela tem que servir pra alguma coisa.
— Cê que manda. — ele saiu do barraco e fechou a porta. Agora sem Biel na minha frente ela me viu.
— Seja lá o que for, vocês pegaram a pessoa errada. — ela olhou assustada pra arma que eu carrego
.
A filha da mãe é muito bonita!
— O que é que tu faz? — perguntei mostrando um m*l humor para intimidá-la.
Ela não tem cara de médica. Tem cara daquelas patricinhas gostosas que vem pros baile do morro.
— Eu sou médica. — ela ficou se sacudindo na cadeira. — Vocês vão me matar? Eu não fiz nada. Nada. Nem devo drogas, nem nada. Eu só quero ir pra minha casa.
Tão nova e já é médica!
Deve ter começado a estudar com uns 3 anos.
— Tu é médica de quê? É boa mesmo?
Ela deve servir. Ela precisa servir.
E se essa história de loira ser burra for verdade? Então ela deve ter passado colando. Mas ela trabalha num hospital bom, ao menos foi o pré-requisito que eu dei pra pegar o médico. Ela também pode ser burra, mas filha de rico e influente...
— Vou ser pneumologista e eu trabalho no melhor hospital particular da cidade. Então claro que sou boa!
Eu vi confiança na sua fala.
— Ótimo.
— O que você quer comigo? — ela me encarou curiosa. — Eu não sou química, nem farmacêutica.
Debochada...
— Você vai se comportar se eu te desamarrar?
— Talvez sim, talvez não... — ela olhou na direção das minhas partes íntimas.
— Você não tá louca de tentar nada, gatinha. — a desamarrei. — Bora ali.
— Aonde? O que você vai fazer?? — ela continua assustada, mas me acompanhou acanhada, enquanto verificava os braços e as marcas das amarrações.
O pessoal pegou pesado. Acho que aprenderam com a bronca que eu dei mais cedo.
— Anda rápido. — a puxei pelo braço, mas ela ficou parada, sem querer sair do lugar.— Colabora caramba! Eu não vou te matar nem nada do tipo! p***a de m*l impressão que cêis tem da gente! Eu sou do morro mas não ando atirando pra tudo quanto é lado não! — abri a porta e saímos. Felizmente depois da minha reclamação ela ficou calada.
A guie até a casa da minha mãe, subindo um pouco o morro.
Quando entramos, ela logo reparou na minha mãe deitada. — O que ela tem?
— Ela tá muito doente. — me parte o coração ter que admitir isso. — Beta, vai buscar os exames pra ela ver.
Beta levantou o mais rápido que pôde e saiu da sala.
A doutora se aproximou da minha mãe e tocou na testa e pescoço dela. Minha mãe tá tentando dormir, mas ela está com falta de ar.
— O que a senhora sente? — sua voz soou doce.
— Fra...ueza, dor. — minha mãe falhou a voz. Coitada.
— Pior que eu nem tô com meu estojo de exames físicos... — ela reclamou baixinho.
— Aqui. — Beta entregou os exames a ela.
Ela olhou por um tempo e quanto mais seus olhos ficavam voltados para os exames, mais arregalados eles ficavam.
Pela primeira vez vi uma pessoa ter mais medo de um papel do que de uma arma.
— O que ela está fazendo aqui?! — me encarou indignada. — Ela devia esta se tratando num hospital!
— As coisa não são assim fácil, doutora. — tentei justificar. — Por isso que preciso da sua ajuda.
— Quer minha ajuda? Ouça meu conselho. Leve-a imediatamente para o hospital. Ela precisa começar o tratamento urgente. — guardou os exames mais furiosa comigo do que a Sandrinha quando eu apronto.
— Não tem como. Você tem que fazer alguma coisa com ela aqui.
— Como?! Eu não posso fazer nada aqui! Precisa de uma sala com equipamentos, medicamentos pra trata-la. Não é só tratar. Eu não eu milagreira! — ela veio pra cima de mim.
Mas é bem ignorante.
— Diga o que precisa. — tentei me manter calmo.
— Pra que? São muito caras. Você acha que vai achar fácil? Vai fazer o que? Roubar? — continuou arrogante.
O sangue subiu e apertei seu braço. — Não tem nenhum ladrão aqui, ouviu? Eu compro o que você pedir. Dinheiro é o que não falta.
Ela me olhou assustada e puxou o braço.
— É muita coisa. — continuou sem dar o braço a torcer.
— Anota tudo. — entreguei uma caderneta que estava na mesa. — Só anota tudo e deixa que o resto eu resolvo.
Ela ficou me analisando por um tempo, mas depois pegou a caderneta.
Vejo que essa daí vai me dar trabalho.
Pouco tempo depois...
— Aqui. — entregou a caderneta. Era uma lista enorme. — Agora eu posso ir embora?
— Não. Claro que não! Você vai tratar a minha mãe.
— O quê?! — ela me olhou incrédula. — Nada contra a senhora, Dona Maria, mas eu tenho que ir pra casa! Já tá anoitecendo, eu tenho coisas pra fazer. Eu saí de um plantão de 24 horas e estou acabada, esgotada físico e psicologicamente. E além do mais, um tratamento desse dura uns 3 ou 6 meses! Eu tenho a residência no hospital!
— Pois você vai permanecer no morro até o final do tratamento. E se você matar minha mãe, eu te mato. — decidi guardando o papel no bolso.
Ela tá em negação. — Você não pode fazer isso comigo!
— Posso sim. Quem manda aqui sou eu.
— Você é louco?! Eu tenho um emprego, tenho minha vida! Não posso ficar nesse lugar!
— Beta, leva ela pro meu barraco. Eu vou procurar os meninos pra resolver os aparelhos. — descartei as reclamações da loira.
— Eu não acredito numa coisa dessas... — a médica ficou resmungando enquanto acompanhava a Beta.
— Calada, caramba!
Tô perdendo a paciência. Parece que ela não entende que quando eu decido uma coisa, não te volta!
— Não calo não! Seu psicopata de merda! — elas saíram da casa.
Essa garota tá brincando com a vida. Só pode.
— VOCÊ NÃO TEM MEDO DE MIM NÃO?! — apareci na frente da casa e ela parou no caminho e olhou pra trás.
— MEDO EU TENHO É DE DOENÇA CONTAGIOSA. — me esnobou.
— POIS DEVIA TER MEDO DE MIM. VOCÊ NÃO SABE DO QUE EU SOU CAPAZ.
Filha mãe.
— EU QUERO IR PRA MINHA CASA!
— NÃO VAI NÃO. E BETA, SE ELA TENTAR FUGIR JÁ SABE O QUE FAZER. PODE ARRASTAR PELOS CABELOS. — gritei quando elas já tinham descido muitos degraus.
— SE VOCÊ FIZER ISSO, EU TE METO NUMA VOADORA. — ela alertou a Beta.
Que merda de médica é essa heim?!