CAPÍTULO QUATRO

1995 Words
CAPÍTULO QUATRO Erec fica na proa do navio acompanhado de Alistair e Strom enquanto observa com preocupação o estreitamento do rio. Sua pequena frota, tudo o que resta dos navios que haviam deixados as Ilhas do Sul, o seguem de perto, abrindo caminho por aquele rio sem fim à medida que entram cada vez mais fundo no território do Império. Em alguns pontos, o rio de águas límpidas tinha sido tão largo quanto o oceano e não tinha sido possível ver suas margens, mas agora, Erec observa o horizonte e vê que o rio está mais estreito, com apenas vinte metros de largura, e que suas águas estão ficando turvas. O soldado profissional que existe dentro de Erec fica em alerta máximo. Ele não gosta de ficar em espaços confinados ao liderar seus homens e sabe que o estreitamento do rio deixará sua frota ainda mais suscetível a ataques inesperados. Erec olha para trás e não vê qualquer sinal da enorme frota do Império da qual eles haviam escapado em alto mar, mas isso não significa que eles não estejam lá fora em algum lugar. Ele sabe que o Império não irá desistir daquela perseguição até que eles sejam encontrados. Com as mãos nos quadris, Erec olha para trás, analisando o território do Império estendendo-se interminavelmente em ambos os lados do rio, um solo de areia seca e rochas, sem árvores ou qualquer sinal de civilização. Erec vasculha as margens do rio e fica feliz, ao menos, em não ver qualquer tipo de forte ou batalhões do Império posicionados ao longo do rio. Ele quer avançar com sua frota até Volúsia o mais rápido possível, encontrar Gwen e os outros, libertá-los e sair daquele lugar. Ele pretende levá-los para a segurança das Ilhas do Sul, onde será capaz de protegê-los. Erec não quer encontrar qualquer distração pelo caminho. Mas, por outro lado, o silêncio sinistro e aquela paisagem desolada também o preocupam: O Império estaria se escondendo em algum lugar, preparando-se para atacá-los? Erec sabe que existe um perigo ainda maior do que um ataque inimigo diante deles: a fome. Essa é uma preocupação ainda mais urgente. Eles estão atravessando o que é essencialmente um deserto vazio e todas as suas provisões estão praticamente esgotadas. Enquanto Erec fica ali, ele pode sentir um barulho em seu estômago, tendo imposto uma única refeição diária para si mesmo e para os seus homens há muito tempo. Ele sabe que se não encontrar algo em breve, eles terão um problema ainda mais sério em suas mãos. Aquele rio por acaso tem fim? Erec se pergunta. E se eles nunca encontrarem Volúsia? Ou pior: e se Gwendolyn e os outros não estiverem mais lá? Ou se já estiverem mortos? "Mais um!" Strom dispara. Erec olha para trás e vê um de seus homens puxando uma linha de pesca e um grande peixe amarelo se debatendo no convés do navio. O marujo pisa no peixe e Erec e os outros se aproximam, olhando para baixo. Ele balança a cabeça, sentindo-se desapontado: duas cabeças. Aquele é mais um dos peixes venenosos que parecem existir em abundância naquele rio. "Esse rio é amaldiçoado," declara o homem, preparando sua vara mais uma vez. Erec caminha até a grade lateral do navio e olha para a água com frustração. Ele sente uma presença e vê Strom se aproximando dele. "E se esse rio não nos levar até Volúsia?" pergunta Strom. Erec consegue ver a preocupação na expressão de seu irmão, um sentimento que ele compartilha. "Ele vai nos levar para algum lugar," Erec responde. "E nos levará para o norte. Se não chegarmos até Volúsia, atravessaremos a pé e seguiremos lutando." "Então vamos abandonar nossos navios? E como vamos sair desse lugar? Como voltaremos para as Ilhas do Sul?" Erec lentamente balança a cabeça, suspirando. "Pode ser que não voltemos," ele responde com sinceridade. "Nenhuma missão honrada é segura. Isso alguma vez nos impediu de agir?" Strom olha para ele e sorri. "Vivemos por situações como essa," ele responde. Erec sorri e vê Alistair se aproximar dele, segurar a grade e começar a observar o rio que está ficando cada vez mais estreito. Seus olhos estão embaçados e ela tem um olhar distante; Erec percebe que ela está perdida em outro mundo. Ele também percebe outra coisa de diferente em Alistair, mas não sabe com certeza o que é, como se algum segredo a estivesse mantendo distante. Ele está morrendo de v*****e de questioná-la, mas não quer se intrometer. Um coral de alarmes soa e Erec, surpreso, se vira e olha para trás. Seu coração se parte ao ver o que se aproxima. "APROXIMANDO-SE RÁPIDO!" grita um marujo de cima do mastro, apontando freneticamente. "FROTA DO IMPÉRIO!" Erec, acompanhado de Strom, atravessa o convés de volta para a popa, correndo pelos seus homens, que se preparam para o confronto, pegando suas espadas e arcos e se preparando mentalmente para a batalha. Erec chega até a popa, segura na grade e olha para fora, percebendo que é verdade: ali, apenas a cem metros de distância, na curva do rio, há uma fileira de navios do Império, exibindo suas velas pretas e douradas. "Eles devem ter encontrado a nossa trilha," diz Strom ao seu lado. Erec balança a cabeça. "Eles estiveram nos seguindo durante todo esse tempo," ele fala, finalmente percebendo tudo. "Estavam apenas esperando pelo momento certo." "Esperando pelo quê?" pergunta Strom. Erec se vira e olha por cima do ombro, em direção ao rio diante deles. “Por aquilo,” ele responde. Strom se vira e analisa o estreitamento do rio. "Eles esperaram até chegarmos ao ponto mais estreito do rio," explica Erec. "Até que estivéssemos navegando em fila única e fosse tarde demais para voltar. Eles nos têm exatamente onde queriam." Erec olha para a frota e, enquanto fica ali parado, é invadido por uma sensação de extrema concentração, como costuma acontecer quando ele está liderando os seus homens em tempos de crise. Ele sente outra sensação invadir o seu corpo e, como sempre acontece em momentos como aquele, uma ideia começa a se formar em sua mente. Erec olha para o seu irmão. "Vá para o navio ao lado," ele ordena. "Fique na retaguarda de nossa frota. Tire todos os homens de cima do navio e os envie para o navio ao lado. Está me ouvindo? Esvazie aquele navio. Quando o navio estiver vazio, você será o último a abandoná-lo." Strom olha para ele, sentindo-se confuso. "Quando o navio estiver vazio?" ele repete. "Eu não estou entendendo!" "Eu planejo naufragá-lo." "Naufragar o seu próprio navio?" pergunta Strom estupefato. Erec assente. "No ponto mais estreito, onde as margens do rio se encontram, você vai virar o navio de lado e abandoná-lo. Isso irá criar um bloqueio, a barragem da qual precisamos. Ninguém será capaz de nos seguir. Agora vá!" Erec grita. Strom parte para a ação, seguindo as ordens de seu irmão mesmo que ele não concorde totalmente com elas. Erec leva o seu navio para perto dos outros e Strom salta. Ao aterrissar no outro navio, ele começa a disparar ordens e os homens partem para a ação, saltando para o navio de Erec um de cada vez. Erec fica preocupado ao ver os navios começando a se afastar. "Segurem as cordas!" Erec grita para os seus homens. "Usem os ganchos e segurem os navios juntos!" Seus homens seguem o seu comando, correndo para a lateral do navio, arremessando os ganchos no ar e prendendo-os no navio ao lado. Então, eles começam a puxar as cordas com todas as forças até que os navios param de se separar. Isso acelera o processo e dezenas de homens saltam de um barco para o outro, correndo para pegar suas armas com a mesma rapidez com que haviam abandonado o navio. Strom supervisiona tudo, disparando ordens, se certificando de que todos os homens abandonem o navio e cercando-os até que não resta ninguém a bordo. Strom olha para Erec, que o observa com satisfação. "E o que eu faço com as provisões do navio?" Strom grita por cima do barulho. "E com as armas excedentes?" Erec balança a cabeça. "Esqueça tudo isso," Erec grita de volta. "Siga-nos e destrua o navio." Erec se vira e corre até a proa, liderando a sua frota quando eles se aproximam do estreitamento. "FILA ÚNICA!" Todos os seus navios formam uma fila atrás dele quando eles alcançam o ponto mais estreito do rio. Erec continua avançando com sua frota e, ao fazer isso, ele olha para trás e vê a frota do Império se aproximando rápido, agora a apenas algumas centenas de metros de distância. Ele vê quando centenas de soldados do Império pegam seus arcos e se preparam para arremessar flechas, incendiando-as. Ele sabe que seus navios estão ao alcance do Império, não há tempo a perder. "AGORA!" Erec grita para Strom assim que seu navio, o último da frota, entra no ponto mais estreito do rio. Strom, observando e esperando, ergue sua espada e corta as cordas que prendem seu navio ao de Erec ao mesmo tempo em que salta para o navio de seu irmão. Ele corta as cordas no mesmo instante em que o navio abandonado alcança o estreitamento, navegando sem rumo. "VIREM O NAVIO DE LADO!" Erec ordena. Seus homens esticam os braços, agarram as cordas que ainda estão penduradas na lateral do navio e puxam com todas as forças até que navio, rangendo, lentamente se vira se lado contra a corrente. Finalmente, levado pela correnteza, o navio se prende firmemente às rochas e fica preso entre as duas margens do rio, rangendo à medida que a madeira começa a se partir. "PUXEM COM MAIS FORÇA!" Erec grita. Eles continuam puxando e Erec se junta a eles, gemendo ao puxar o navio com toda a sua força. Lentamente, eles conseguem virar o navio, segurando firme à medida que ele fica cada vez mais preso nas rochas. Quando o navio para de se mover, alojado firmemente no lugar, Erec finalmente se sente satisfeito. "CORTEM AS CORDAS!" ele grita, sabendo que aquele é o momento decisivo e sentindo o seu próprio navio começando a ceder. Os homens de Erec cortam as cordas restantes, soltando o seu navio no momento certo. O navio abandonado começa a se partir e seus destroços bloqueiam o rio. Um momento depois, o céu se escurece quando uma saraivada de flechas incendiadas do Império atravessa o ar na direção da frota de Erec. Erec consegue tirar os seus homens do caminho bem a tempo: as flechas acertam o navio abandonado, caindo a apenas seis metros da frota de Erec e incendiando o navio, o que apenas cria mais um obstáculo entre eles e o Império. Agora, o rio está intransponível. "Vamos em frente!" Erec grita. Sua frota navega com agilidade, utilizando o vento para distanciar-se do bloqueio à medida que eles avançam mais ao norte, longe do alcance das flechas do Império. Mais flechas são arremessada, caindo na água e chiando ao serem apagadas pelo rio. Erec fica na proa do navio à medida que eles continuam avançando e assiste com satisfação quando a frota do Império é impedida de continuar pelo navio em chamas. Um dos navios do Império tenta atravessar mesmo assim, mas consegue apenas incendiar-se; centenas de soldados do Império agonizam, envoltos pelas chamas, e saltam para dentro do rio, deixando que seu navio crie um obstáculo ainda maior. Olhando para aquilo tudo, Erec deduz que o Império não será capaz de segui-los por muitos dias. Erec sente uma mão forte em seu ombro e vê Strom sorrindo ao seu lado. "Essa foi uma das suas estratégias mais inspiradoras," ele fala. Erec sorri de volta. "Você agiu muito bem," ele responde. Erec volta a olhar para o rio, para as águas que o cercam por todos os lados, e ainda não se sente aliviado. Eles haviam vencido aquela batalha, mas quem sabe quais obstáculos eles ainda têm pela frente?
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