Capítulo 4

2496 Words
Mais uma noite sem dormir. Mais uma noite sem ela. A imagem de Janette não saía de sua mente desde o momento em que ficaram frente a frente há quatro dias após tantos anos. Aliás, sendo sincero, a imagem dela nunca saiu de sua mente. Entretanto ele sempre trazia consigo a imagem da adolescente de dezessete anos pela qual foi loucamente apaixonado. Ainda é apaixonado. Foram raras as vezes em que conseguiu uma foto recente de Jane e mesmo quando conseguia, a qualidade da mesma não evidenciava a beleza daquela mulher. Deslumbrante, magnífica, sexy sem fazer qualquer esforço. Foi preciso muito autocontrole para que ali, na frente de Peter Brosnan ele não se jogasse aos pés dela e implorasse por uma chance. Porém, Ethan conhecia muito da vida para saber que demonstrar fraqueza era o primeiro passo para uma derrota. E ele não poderia sair derrotado mais uma vez. Ignorando seus medos, ele olhou mais uma vez para o seu monitor de atividades físicas e aumentou a velocidade da esteira. Ainda não eram cinco da manhã, mas sem sono resolveu se exercitar, o que aliás fazia religiosamente todas as manhãs. Suas costas largas e musculosas brilhavam resultantes do suor, assim como seus cabelos grudavam em sua testa. Passou a se cuidar mais desde que sentiu fortes dores no peito há pouco mais de cinco anos. Na época andava fumando e bebendo além do limite e aquela dor o pegou desprevenido. Após um sermão do seu médico particular, Ethan passou a se cuidar mais. E precisava, afinal ele se recusava a morrer cedo sem a chance de desfrutar de uma longa e feliz vida ao lado de Janette. — Eu vou reconquistar você Jane. Falou tentando convencer a si mesmo. Às vezes quando o bom senso falava mais alto ele entendia que talvez sua situação piorasse ainda mais. Mas o que pode um homem fazer quando a mulher de sua vida desaparece do mapa, recusa seus telefonemas e cartas? Ele tentou. De várias formas tentou conversar com Jane, mas sempre ignorado. Não lhe restou alternativa,essa era sua defesa. Meia hora depois ele se dirigiu ao banheiro de sua suite e entrou sob a ducha fria. Sem ver Jane desde o dia em que voltou, Ethan estava se sentindo um pouco nervoso. Falaram-se uma única vez por telefone quando ele lhe informou que o adendo ao contrato estava pronto e seria enviado por seu motorista. Ela apenas respondeu que assinaria se estivesse de acordo... e desligou o telefone. Fria. De gelo. Suspirando Ethan tentou não pensar no caminho árduo que teria pela frente. Hoje não pensaria nisso. Hoje. Dia em que seu noivado com Jane se tornaria oficial. Ele, é claro, fez questão de uma festa, embora soubesse que ela estava odiando tudo isso. E já que ela estava de acordo com todos os termos do contrato, o casamento aconteceria dali a duas semanas. E assim, quem sabe, convivendo sob o mesmo teto os dois conseguissem finalmente conversar e colocar tudo em pratos limpos. Às oito horas em ponto, após voltar do Vale do Silício, Ethan saía de seu elegante elevador privativo entrando diretamente em sua sala sem passar pela mesa da secretária. No entanto Gina sabia o quanto o chefe era pontual e não via a hora de entregar aquela encomenda diretamente em suas mãos. Provavelmente ele não abriria em sua presença, mas Gina estava curiosa demais. Sabia que era uma joia e provavelmente o anel de noivado de Janette Brosnan. Aguardou cinco minutos e se levantou pegando a caixa preta e dourada. Alisou a saia e blazer e se encaminhou à sala de Ethan. Deu duas batidas rápidas à porta, como era seu costume e em seguida girou a maçaneta. Ele estava concentrado na leitura de alguns papeis sobre a mesa, testa levemente franzida enquanto mordia a ponta da caneta. Era um homem belíssimo e Gina se perguntava até quando Janette resistiria. Embora soubesse dos fatos acontecidos no passado, ela não conseguia acreditar que aquele deslize típico de um adolescente fosse perdurar ate hoje. Seria o caso de amor recolhido? Aquele em que a pessoa n**a com medo de se machucar novamente? Ou Jane simplesmente deixou de amá-lo? — Já está acordada Gina? Ela despertou de seus pensamentos fofoqueiros e seu rosto enrubesceu ao olhar para o chefe que a encarava com a sobrancelha arqueada. — Ah... bom dia. Desculpe-me... estava distraída. A encomenda que o senhor esperava. Colocou a caixa sobre a mesa notando como ele prendeu a respiração ao vê-la. Sabendo que já tinha dado bandeira em frente ao chefe, Gina controlou sua curiosidade e pediu licença para se retirar da sala. Mas antes que desse um passo a voz de Ethan a impediu. — Espere. Com mãos trêmulas ele abriu a caixa e de dentro dela tirou outra caixa, dessa vez menor e em veludo. Abriu-a com cuidado e os olhos de Gina ficaram arregalados. — Acha que ela vai gostar? — Janette? Ele arqueou novamente a sobrancelha de um jeito cínico fazendo Gina corar novamente. — Ah sim... claro que é Janette. Que pergunta i****a. Se me permite senhor Crown... que mulher não gostaria? Ele é maravilhoso. E Gina não estava exagerando. Era realmente a joia mais magnifica que já tinha visto em sua vida. Ele queria impressionar ou era uma prova de amor? — Diamante? — Sim. Ele sorria olhando para o anel. Não pretendia impressionar Jane com aquela joia. Ele apenas queria que ela relacionasse o que diziam a respeito dos diamantes com o sentimento dele por ela. Suspirou e guardou novamente o anel na caixa. — Pode trazer minha agenda, Gina. — Só um instante. Gina saiu praticamente correndo da sala e Ethan recostou na cadeira fechando os olhos. Há tempos vinha ensaiando como abordaria aquele assunto do passado com Jane, mas nunca ficava satisfeito. E agora à medida que o casamento se aproximava ele começava a entrar em pânico. Arredia do jeito que era, Jane não facilitaria as coisas. E essa talvez fosse a última chance de provar que se arrependeu a cada maldito minuto de sua vida de tê-la feito sofrer. **** Janette girou seu corpo para a esquerda em frente ao espelho, analisando sua imagem. As palavras de Ethan, mesmo após tantos anos ecoaram em sua mente: Eu amo qualquer tom de verde em sua pele. Resoluta, levou a mão às costas e desceu o zíper, deixando o vestido cair aos seus pés. Não faria nada que levasse Ethan a pensar que ela queria agradá-lo. Optou então pelo vestido preto justo ao corpo. Luto. O vestido combinava exatamente com seu estado de espírito. Alisou o tecido sobre o corpo, suspirou e ajeitou o cabelo. Peter entrou no quarto nesse momento, após uma rápida batida na porta. Apesar de tudo ele sorriu. Jane estava linda e em nada lembrava a mulher exausta, suada e desgrenhada que chegou de viagem há poucos dias. — Filha? Tudo pronto? — Sim pai. Vamos passar logo por encenação i****a. Peter se aproximou e segurou as mãos de Jane, olhando diretamente em seus olhos. De nada adiantaria dizer que lamentava tudo o que estava acontecendo. Não mudaria os fatos. — Eu sei que não adianta pedir desculpas... — E nem quero isso pai. Se essa foi a única forma de salvar essa casa e cuidar da minha mãe... eu não me importo. Eu vou me casar e ponto final. Mas também não vou facilitar a vida do Ethan. — Jane... olhe la minha filha. O que está pensando em fazer? Ethan não é homem de brincadeira. — Eu não vou aprontar nada feito uma adolescente de dezessete anos.Só não vou permitir que Ethan me faça de otária. Esse casamento não é normal e nunca será. Se ele está pensando que será nos moldes tradicionais... está redondamente enganado. — Eu preciso saber o que aconteceu entre vocês. É óbvio que tem algo. Vocês já se envolveram não é? — Sim pai. Mas não vamos falar nisso agora. Outra hora está bem? Imagino que ele já esteja aqui. — Sim. E me parece bem ansioso. Jane rolou os olhos e segurou a mão do pai. Por enquanto faria do jeito que Ethan queria. Um noivado para vários amigos, um casamento tradicional na igreja, festa... Mas se ele esperava por uma lua de mel seus planos seriam frustrados. Desceu com Peter e ao chegar a sala viu a mãe sentada no sofá ao lado de Ethan. Diana parecia a vontade ao lado do futuro genro e até trazia um sorriso no rosto abatido. Assim que viu Jane descer as escadas ao lado do pai Ethan se levantou, sentindo um arrepio percorrer seu corpo. Maravilhosa era pouco para descrevê-la. — Boa noite Ethan. Ele se aproximou olhando dentro dos olhos de Jane e levou as mãos dela aos lábios. Bem perto dela, pode perceber a frieza nos olhos verdes, mas fingiu não notar. Sabia que não seria fácil e não alimentava esperanças quanto a isso. — Boa noite querida. Você está maravilhosa, como sempre. — Obrigada. Você também não está m*l. E Jane não mentia. Hipocrisia não fazia parte do seu vocabulário, então não ia negar que Ethan sempre estaria de tirar o fôlego, independente da roupa. Mas... como pensava sempre, era só uma bela embalagem. O interior era produto falsificado. — Podemos ir? — Claro. Apesar de desejar fazer essa festa na casa dos pais, Jane precisava admitir que a casa não estava em condições de receber aquela sociedade hipócrita e fútil. Sendo assim acabou concordando com a ideia de Ethan. Um dos melhores clubes da cidade estava reservado exclusivamente para a festa de noivado. Seguiram no carro dele por insistência de Jane. Ela queria adiar ao máximo o momento de ficar a sós com Ethan. Somente quando estivessem os dois sem possibilidade de interferência ela diria a ele tudo o que pensava a seu respeito e de suas atitudes. Como se fossem uma família feliz, Ethan ia conversando com Diana e Peter. Mas Jane permanecia com o rosto virado para a janela perdida em seus pensamentos. E ela sequer fazia ideia do quanto essa atitude massacrava o coração de Ethan. Ele preferia que ela o xingasse, gritasse, batesse ou cravasse uma faca em seu peito. Preferia qualquer reação mais ardente a essa frieza e indiferença. *** Duas horas mais tarde, já cansada de toda aquela gente soberba, arrogante e mexeriqueira, Jane se levantou da mesa onde conversava com dois casais, pedindo licença. Foi até a varanda, área onde geralmente os casais apaixonados procuravam desfrutar de momentos românticos. Odiou cada momento ao lado daquelas pessoas que insistiam em fazer perguntas maliciosas, tudo para descobrirem se aquele casamento era real ou uma farsa. Entretanto, Jane admitia que Ethan fazia tudo parecer verdadeiro. Ele a abraçava possessivamente pela cintura, acariciava seu rosto e lhe dava selinhos sabendo que ela não recusaria para evitar falatório. E claro, não teve como recusar o beijo ardente que ele lhe deu quando colocou o anel em seu dedo. — Não sabe como esses beijos lhe custarão caro Ethan. — Falou para si mesma enquanto observava a noite clara e quente. Seu olhar recaiu sobre sua mão onde estava o fabuloso anel de diamantes. Nunca se importou tanto com joias ou roupas caras e de grife. Mas não podia negar que o anel era espetacular, de extremo bom gosto. Da mesa onde estava sentado Ethan observava Jane na varanda. Comportou-se como uma noiva atenciosa, conversando simpaticamente com os convidados. Mas somente alguém que a conhecia muito bem sabia que por dentro ela fervilhava. Ethan controlou seu impulso de ir até ela e se esforçou para prestar atenção ao que Paul, gerente de produção da EC dizia. Distraído com a conversa ele não se deu conta de quem estava seguindo até a varanda atrás de Jane. — Janette! Há quanto tempo! Jane congelou no lugar. Nem precisava se virar para saber de quem se tratava. Mesmo tendo se passado vários anos, aquela voz debochada e enjoativa continuava a mesma. Ela so queria saber o que aquela vagabunda estava fazendo ali... e quem a convidou. Girou o corpo e encarou a loira sorridente à sua frente. Sophie era uma mulher muito bonita, sem dúvida alguma. Já era na adolescência e agora estava ainda mais. Entretanto era fria, interesseira, mesquinha e invejosa. Isso estava evidente em seus olhos depreciativos que olharam Jane de cima a baixo, parando no anel em seu dedo. — Olá Sophie. — Que mundo pequeno não é? Quando eu ia imaginar que veria você por aqui novamente? Ainda mais depois de desaparecer da cidade feito uma criminosa. — Pois é... mas voltei. — E voltou noiva do Ethan. Quem diria! Jane se calou. Sabia que ela queria entrar num terreno proibido. As duas ficaram um tempo se encarando até que Sophie resolveu destilar seu veneno. — Bom, já que aceitou se casar com Ethan devo imaginar que você superou aquele episódio. — Certamente. Mas e você? Supera o fato de não ser você a se casar com ele? Sophie enrubesceu e praticamente arreganhou os dentes, controlando-se para não arranhar o rosto de Jane. — Isso nunca me passou pela cabeça. Mas eu imagino que para você seja muito difícil estar cara a cara com a mulher que tirou a virgindade do seu namorado. Mas superou não é? Ou Ethan não teria me convidado para vir aqui hoje. Jane mordeu os lábios com força e fechou as mãos. Mas não deixaria a última palavra com Sophie de forma alguma. — Claro que não. Sabe... eu já deveria ter imaginado que aconteceria isso. Meu pai costumava dizer que antigamente os próprios pais dos adolescentes os levavam a bordeis para que os filhos perdessem a virgindade com uma prostituta e depois se casassem com moças decentes. Pelo visto as coisas não mudaram muito não é? Falou arqueando a sobrancelha e se afastou, passando por Sophie com altivez deixando o rastro de perfume delicado e sensual. A loira sentiu vontade de gritar. Como ela odiava Janette Brosnan! Tardiamente Ethan percebeu Sophie e Jane juntas. Levantou-se num rompante interrompendo a fala de Paul e caminhando até a varanda. Entretanto ainda não estava na metade do caminho quando viu Jane passar por Sophie, deixando-a sozinha. Se antes imaginou que Jane estava fria... agora ela parecia um iceberg. Olhou-o nos olhos ao passar por ele. — Essa terá volta Crown. — Jane, eu não... Mas ela se afastou impedindo-o de dizer qualquer coisa. Irritado, foi até Sophie e parou ao seu lado, praticamente a fuzilando com os olhos. Há quase dois anos não via aquela ordinária e esperava nunca mais vê-la. — O que você está fazendo aqui? — Estou com meu namorado. Sam trabalha com você. Pensei que soubesse que estamos juntos. — É so um aviso: fique longe da Jane. E falando isso ele se afastou de Sophie. As coisas já estavam ruins para ele, e a presença de Sophie ali naquela noite certamente pioraria tudo.
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