A dança perigosa entre confiança e manipulação

1330 Words
Me assustei com a porta se abrindo, me levantei fechando o livro com pressa, mas era ele. Acho que nunca fiquei tão tranquila vendo aqueles cabelos bagunçados novamente. — Anthony! — Desculpe demorar para vir, eu só estive liberado agora. - deu um leve sorriso. Percebi quando ele se aproximou e tirou algemas do bolso e estendeu para mim. — Você confia em mim? — Eu... Eu não sabia o que fazer, estava presa e agora Anthony, a pessoa que achei estar do meu lado, estava me colocando algemas. Ele olhou nos meus olhos e eu pude sentir que podia confiar nele, fechei meus olhos e respirei fundo. Eu estendi os braços, torcendo para que não fosse mais um vampiro traindo minha confiança. Meu coração acelerou enquanto ele pacientemente me colocava as algemas e me direcionava para fora do quarto. Por mais uma vez caminhei pelo corredor do lugar que agora era a minha "casa". — Eu não sei o que vai acontecer com você, ele não conta nada a ninguém, mas para um cálice conseguir reviver alguém, tem que estar com as habilidades ativas. E você ainda não desenvolveu nenhuma. — Eu estou com medo. — Eu sei que está, mas nesse exato momento, a única pessoa que consegue me reconhecer é você. Meus poderes de vampiro permitem que eu me disfarce em qualquer outra pessoa. — Entendi... — Para qualquer um aqui dentro, me chamo Adrian. - disse ele caminhando ao meu lado. — Nome de nerd. - eu provoquei com um leve sorriso. — Pareceu Viktor falando. - ele retrucou. Eu parei de sorrir, ficando pensativa. É verdade que Viktor às vezes era bastante provocativo. Uma memória me veio à mente, Viktor se aproximando de meu ouvido, o cheiro que nunca antes reparei me lembrava limão siciliano, um aroma agradável, e se eu fosse mais fundo, diria que tinha um leve toque de laranja. — Elena. - ouvi a voz de Viktor e me virei, mas não havia ninguém. Parecia que eu havia imaginado em meio à minha viagem. Um pouco mais à frente, Anthony parou de caminhar e me olhou com um olhar um pouco sério. — Tome cuidado, sua mente pode lhe pregar peças neste lugar, e na sua idade, tudo conspira para que consiga acender suas habilidades de cálice. Se acontecer, você... — Eu sei o que acontece. - respondi rápido. O assunto me incomodava, saber que eu poderia morrer para algo horrível, me angustiava. — Vamos, estamos quase chegando. — Nunca me contou sua história. - respondi me aproximando dele. — Você não vai querer ouvir, o passado às vezes pode ser mais triste do que parece. — As pessoas com passados tristes são as mais belas reviravoltas para contar. Não tenha medo de contar suas cicatrizes, tenha medo de perdê-las. — Todo vampiro já foi humano, eu não fui diferente. Para ser sincero, adorava explorar a natureza, ela me encantava. - ele suspirou. - Eu tinha uma irmã mais nova chamada Emma, éramos como todo irmão, brigávamos, mas nos amávamos demais. — E sua irmã está... viva? — Não... - disse ele, abaixando a cabeça e fechando a mão com força. Eu não sabia o que dizer, um nó se formou em minha garganta. — Tudo aconteceu no ano de dois mil, minha irmã não gostava de fazer trilhas comigo, mas eu a convenci a fazer uma trilha fácil. Para ser sincero, tenho certeza agora do que aconteceu, eu preferiria que ela continuasse em casa. Eu percebi que os olhos dele estavam ficando marejados, ele mostrou uma fragilidade que eu não sabia que os vampiros tinham. — Infelizmente, a trilha fácil de fazer ficava no meio de um local de caça dos vampiros. Um vampiro me mordeu e tomou parte do meu sangue. Minha irmã pensou rápido e trocou uma bolsa por um sinalizador de emergência, ela atirou no vampiro, ele me soltou... - nesse momento eu vi quando ele começou a chorar. Me aproximei, ainda com as mãos algemadas, e coloquei-as por cima dos ombros dele, puxando-o para um abraço. Ele não retribuiu e logo depois me afastou. — Ele matou minha irmã e, por vingança, derramou sangue na minha boca. Com sangue no meu organismo, ele me matou. Alguns segundos de silêncio pairaram sobre nós, e finalmente ele abriu a porta da sala à qual estávamos na frente. Eu queria saber mais, consolá-lo, mas não tínhamos mais tempo. Eu entrei na sala com ele atrás de mim, e ele tirou as algemas de minha mão. Assim que ele retirou, passei a mão em meus pulsos, pois haviam ficado marcados por conta das algemas. — Demorou a chegar. - Nikolai se aproximou e segurou meu antebraço, me puxando para o centro da sala. — Como não sei quais são os poderes de um cálice, vamos começar com elementais... Fogo. Olhei em volta, eu estava em uma espécie de sala branca, à minha volta tinha uma tocha, um jarro com água e um jarro de terra. O teto era alto, do tipo que para chegar perto do teto precisaria de uma escada de eletricista especializado em consertar postes de luz. Eu respirei fundo e olhei para Nikolai. — O que te faz pensar que eu vou perder meu tempo? - cruzei os braços. — Porque você vai poder vingar seus pais, se conseguir despertar seus poderes será mais divertido. Você vai poder aniquilar os vampiros que destruíram sua ilha há 20 anos. Eu me afastei dele e o olhei com ódio, mas atrás dele tinha um vampiro amigo, Anthony, que estava praticamente implorando para que eu não respondesse. Nikolai não sabia que eu tinha o conhecimento sobre os reais planos dele. — Eu não sou um boneco de pano que você pode manipular, Nikolai. Evitei olhar nos olhos dele e estendi a mão para a tocha, fazendo careta enquanto fingia me concentrar. Deixei o olho direito entreaberto e os dedos entreabertos para fingir realmente tentar acender fogo. Depois de dois minutos, olhei para Nikolai com a cara mais natural possível e dei de ombros. — Nada. Ele bufou e apontou para o jarro com água, como se quisesse que eu tentasse com o jarro de água da mesma maneira que ele achava que eu tinha feito com a tocha. E eu refiz todo o teatro e mais uma vez dei de ombros quando fracassei propositalmente, o mesmo com o jarro de terra. Depois disso, fingi bocejar, colocando a mão na boca. — Cara, que cansaço... Meu estômago me pregou uma peça enquanto roncava. — Nikolai... Digo, pai. Ele me olhou quando o chamei de pai com um brilho de interesse no olhar. Acho que foi a primeira vez em muitos anos que ele não ouviu essa palavra, o que me deixava curiosa sobre a história de vida do meu carcereiro. — Eu gostei da companhia de... Adrian, certo? Anthony fez que sim com a cabeça. Fiquei tranquila por não ter errado o nome do disfarce dele. — Ele pode me fazer companhia? Assim, não preciso ficar confinada no quarto. — E você acha que pode andar por aí com meus lacaios? - ele riu. — Daria menos trabalho para você. Ele pode cuidar da minha alimentação, fazer companhia e me vigiar, se você preferir. — Você foi burra, mas também muito inteligente. Eu queria rir, mas tive que me fazer de plena, até porque ele estaria me deixando andar por aí com Anthony sem saber. — Por mim, tanto faz. - ele se virou para Anthony. — Adrian, vigie nossa... convidada, deixarei ela em suas mãos. Ele saiu da sala caminhando de maneira tranquila, enquanto Anthony e eu ficamos para trás. — Sabe que isso foi sorte, não é? — Não me importo. Você ainda tem história para me contar. — Sim, temos bastante tempo agora. - Anthony disse, com um leve sorriso nos lábios enquanto se aproximava. - Mas primeiro, acho que é melhor nos certificarmos de que estamos seguros aqui.
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