Sonhos de Cativeiro

1336 Words
Anthony me levou até o meu quarto e quando lá chegamos já tinha um prato com sanduíche e suco. Me alimentei e me deitei na cama, Anthony se retirou com o rosto sério, provavelmente estava preocupado com algo. Eu observei o teto por um longo período de tempo até finalmente adormecer. _______________________________________ Eu abri meus olhos no que pareceu ser apenas um segundo de noite, minha cabeça estava dolorida. Me levantei dando conta de que estava na mansão, a cama com os lençóis e os móveis alegraram meu coração, mas como era possível? Eu estava no cárcere... —Não pense nisso agora... eu te trouxe aqui. Eu ouvi uma voz ao meu lado. A voz era em um tom rouco e profundo, transmitindo confiança e um certo desdém. Ela era deliberadamente calma, quase despreocupada, uma voz um tanto provocante quanto sedutora. Era Viktor, seu cheiro cítrico não me deixava enganar. Quando olhei para o lado, realmente o vi e um alívio percorreu meu corpo como se eu estivesse livre. —Como é possível? - perguntei olhando em volta. —Você está dormindo. Ser um vampiro que se alimenta de sonhos tem suas vantagens. O que aconteceu? —Eu... - tentei dizer, mas o cenário mudou e estávamos na biblioteca. Ele estava acessando minhas memórias? Não... era eu mesma, tentando explicar a situação sem conseguir me controlar. Presenciamos de perto quando eu invadi a biblioteca, quando pulei novamente pela janela. Mas algo que eu não tinha reparado, Anthony, ele estava no jardim se alimentando. Diferente dos outros vampiros, ele estava mordendo um cachorro, era grande e parecia estar bem cuidado. —Foque ali, você está pulando a janela pra sair. - disse Viktor, e eu olhei para a cena. Assim que eu saí, a loira se aproximou em uma velocidade impressionante e Viktor pôde ouvir o breve diálogo. —Não deveriam deixar o cálice andando sozinho desse jeito. Disse a mulher antes de uma falta de ar assolar meus pulmões, minha mente virou. À minha volta tinha vento, mas eu não o alcançava em meus pulmões, o jardim girou em minha visão, a aflição me atormentava antes que eu viesse a apagar. Eu observava aflita quando tudo escureceu, eu ainda estava de pé, olhando para o que agora era o nada. Era como se eu flutuasse no espaço, ao meu lado estava Viktor. —Anthony está comigo lá na... Em um piscar de olhos, aparecemos no quarto onde estou dormindo, o de prisão. —Aqui. - disse eu suspirando. —Mas o que ele realmente quer com você? - perguntou ele. —Não, Anthony não me sequestrou. Pelo contrário, ele está me ajudando.. —Não, isso não é possível Elena. —Viktor, eu corro perigo. Eles querem que eu ative... - após isso minha voz foi ficando ecoada como se eu estivesse em um túnel - minhas habilidades de cálice. —Finja se esforçar, eu vou encontrar você. —Viktor, eu não sei quanto tempo vou conseguir mentir pra ele. —Só mais um pouco Elena, eu vou conseguir te encontrar. Eu o abracei, e de início pensei que ele não fosse retribuir, mas ele retribuiu e sussurrou para mim. —Diga para Anthony que o céu é estelar. —Que? —Não é nada de mais, mas promete que vai dizer. —Prometo. - suspirei. —Não se preocupe, irei buscá-la. E com isso eu abri meus olhos, estava de dia ainda. Viktor não estava lá, o quarto era o da cela novamente. Eu fechei meus olhos querendo dormir e sonhar que estava fora desse lugar, mas nada ocorreu, eu não tinha mais sono. Me sentei na cama e coloquei a mão em minha cabeça, sentindo leves pontadas de dor. Estava um pouco tonta. Respirei fundo e aos poucos fui melhorando, acho que tinha algo a ver com Viktor se alimentando de meus sonhos e me passando mensagens. _______________________________________ Ouvi a porta se abrir e quando levantei a cabeça, era Nikolai. —O que faz aqui? - perguntei. Ele se aproximou e se ajoelhou perto de mim, me olhando nos olhos. Eu desviei o olhar. —Não vou olhar nos seus olhos Nikolai, suas habilidades de vampiro não vão me pegar. Você não me engana com essa pose de bom moço. —Me magoa que minha própria filha não confie em mim. —Você pode ser meu progenitor Nikolai, mas meu pai você não é. Um pai de verdade nunca faria o que você está fazendo comigo. —E o que eu estou fazendo? - perguntou. —Me mantendo cativa e planejando me matar. - falei alto. —E como isto chegou a sua mente? - ele riu. —Não preciso ser inteligente pra saber disso pelo seu comportamento. —Então talvez, você precise ver novamente por outro ângulo. Eu te trouxe para ficar mais perto de mim, estou te treinando para se tornar mais forte, eu nunca te machucaria. Esqueceu que fui eu quem segurou a mão de Victor para que ele não tocasse em você? —Sim, ele teve a intenção de me bater e você me protegeu, mas isso não apaga o fato de que você está me mantendo cativa contra a minha vontade, muito menos de estar me usando. Me levantei da cama, me afastando dele enquanto caminhava pelo quarto, claramente irritada. —Elena, entendo suas preocupações, mas acredite em mim quando digo que tudo que estou fazendo é para o seu próprio bem. Eu sei que pode parecer difícil confiar em mim agora, mas espero que com o tempo você perceba que minhas intenções são genuínas. Eu não quero te machucar, apenas protegê-la, mesmo que isso signifique tomar medidas drásticas. A voz dele soava calma, melódica e persuasiva. Ele tinha um tom confiante, com uma pitada de sutileza e charme, como se estivesse tentando me acalmar quaisquer dúvidas ou preocupações. Era uma voz que transmitia confiança, mas algo que ele não conseguia esconder tinha um toque de manipulação sutil, algo que, com o tempo, convivendo com a cobra da Marina, era o mesmo tom que ela usava com todas as freiras quando mentia. —Você acha que sou ingênua o suficiente para acreditar nessas desculpas? Você pode tentar justificar suas ações com palavras bonitas, mas não me engana. Você está me mantendo cativa contra a minha vontade e tentando manipular minha mente. Não vou cair nesse seu jogo, Nikolai. Uma hora eles vão me encontrar e eu vou estar esperando por eles. - gritei. Nikolai se aproximou de mim com uma velocidade surpreendente, segurou meu pescoço e me pressionou contra a parede do quarto, enquanto me encarava com um olhar frio. —Você acha que pode me desafiar com essa insolência? Suas palavras carregadas de desdém não me afetam, Elena. Você está presa por uma razão, e é melhor você aprender a aceitar isso. Seus delírios de grandeza não vão te salvar desta situação. E quando eles finalmente vierem, você vai perceber que não há escapatória para você. Foi nesse momento que eu percebi, ele queria que o pessoal da mansão viesse, ele queria que me resgatasse. Eu me calei enquanto me sentava na cama novamente. —Você é fraca, Elena, e nunca será capaz de se libertar do meu controle. Seu destino está selado, e você vai se curvar diante de mim, implorando pela misericórdia que eu nunca concederei. Então aproveite sua vida enquanto a tempo, porque quando os seus poderes despertarem e eles vão despertar, será o seu fim! - ele disse com ódio e me soltou logo em seguida se retirando do quarto me deixando sozinha. Me sentei no chão enquanto abraçava minhas pernas, o desespero tomou conta de mim me fazendo perceber algo que só até então eu fui entender: Anthony, ele já sabia que Anthony estava aqui! Desesperada fui até a porta da cela e comecei a gritar por ajuda, para que alguém me ouvisse, na tentativa de comover alguém ou algo do tipo, mas ninguém apareceu, eu estava sozinha pela primeira vez em muito tempo.
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