passado, presente e confusão.

1438 Words
Acordei poucas horas depois, ainda era dia, mas assim que me levantei, me senti estranha, meu estômago se revirou, minha pele se arrepiou, o medo mais uma vez era meu companheiro, mas agora, por alguma razão que eu não entendia. Olhei em volta e vi uma mulher, eu não estava em meu quarto, minha cama estava à beira mar, mar este que eu conhecia muito bem. Eu estava de volta à minha ilha, mas como isso era possível? — por que mulheres não podem ter acesso à educação? porque meu pai ainda tem a semente retrógrada? conheço tantas partes do mundo sem sair daqui... Ouvi a mulher perguntar, a voz dela era triste, me aproximei mas parecia que ela não me percebia, então eu toquei o ombro dela, mas minha mão passou pela mão dela como se fosse um holograma. — As vezes a nossa cabeça é fechada e precisamos de alguém para expandir nossas mentes. Respondeu um rapaz cujo seus cabelos eram lisos e pretos, seus olhos eram castanhos escuros, quase pretos como a noite, este rapaz estava debruçado na lateral do barco de pesca com um leve sorriso ladino em seu rosto. — Eu conheço ele de algum lugar, mas de onde? - eu disse prestando atenção no rapaz. — Meu pai não me deixa ler livros. - A jovem à minha frente falou parecendo chateada — Mas esse é o único meio de você conhecer outros lugares, de explorar universos, tão ultrajante ele não a deixar ler, logo quando a leitura é uma das coisas maravilhosas de se ter. — Sim! - respondeu ela indignada. Eu ouvia a conversa dos dois, embora eu não tinha a intenção de parecer fofoqueira ou algo do tipo. — Tenho alguns livros aqui em meu quarto, quer dar uma olhada? — Eu poderia? — Claro bela jovem! A moça subiu a bordo e por um vislumbre do sol no rosto dele pude perceber enfim de onde eu o conhecia. —Nikolai ? ________________________________ Acordei assustada de maneira repentina, havia tido mais um sonho, desta vez um sonho vívido. Me sentei na cama logo em seguida, fechei meus olhos enquanto respirava fundo contando de um à dez para acalmar minha respiração. Escutei batidas em minha porta, minha cabeça estava dolorida, parecia que havia batido a cabeça em algum lugar. Me levantei e abri a porta, dando de cara com Anthony. —Boa noite, senhorita. Diego me pediu para ver se você estava acordada. —Eu acabei de acordar, estou com um pouco de dor de cabeça, acho que não vou descer para a festa. Ele mordeu a própria mão e estendeu a mesma em minha direção, afastei o rosto de maneira automática. —O sangue de um vampiro tem grandes capacidades degenerativas, pode ser que alguém tenha se alimentado de sua energia ou sonho, você precisa disso. — parece meio nojento. - fui sincera. —Vamos, isso vai te deixar melhor! —Você não tem uma dipirona? Um torsilax? Paracetamol? Dorflex? —Você quer melhorar a dor de cabeça ou fazer uma farmácia particular? - perguntou ele rindo de leve. Acabei rindo de leve com o comentário dele, me aproximei e ele elevou a mão ferida até minha boca me fazendo tomar de seu sangue. Assim que o sangue de Antony passou pela minha garganta, minha cabeça melhorou, ele afastou a mão de minha boca, o gosto metálico inundava meu paladar, não era agradável mas aos poucos sumia. —Eu vou me arrumar, encontro você no hall de entrada. Anthony sorriu e se afastou descendo as escadas, fechei a porta e peguei o vestido preto com o salto que eu havia escolhido na noite passada. Peguei uma toalha e roupas íntimas, escova de dente, pasta e um pente. Fui em direção ao banheiro, tomei banho, escovei meus dentes, me vesti, calcei o salto no pé e penteei meu cabelo em coque deixando uma mecha de cabelo solto ao lado do rosto. Respirei fundo e saí do banheiro descendo as escadas o hall de entrada estava diferente, enfeitado e organizado. Pessoas que eu nunca vi na vida andavam de um lado para o outro enquanto riam de leve, pessoas de verdade, não eram vampiros, eles comiam petiscos enquanto bebiam vinho. Me aproximei de um grupo de garotas que falavam sobre séries de tv, eram adolescentes comuns, com vidas comuns! A felicidade me invadiu de uma maneira contagiante, caminhei até Anthony que estava dançando devagar ao som de "Sweater Weather". — Eu não sabia que iriam vir humanos! - eu disse um pouco alto por conta da música. — Costumamos usar festas para nos alimentarmos, pelo menos uma vez ao mês, é normal por aqui! — Entendi ! Eu vou andar por aí! - disse me afastando. Por alguns minutos me senti bem, estava em meio às pessoas normais. Eu não era mais a órfã do convento de freiras, não era mais a humana em meio aos vampiros, era apenas mais uma pessoa normal. Deixei o vislumbre dessa pequena ilusão, enquanto eu andava senti uma mão tocar minha cintura por trás e me girar puxando para perto, assim que elevei meus olhos pude ver Viktor à minha frente. —Pensou que iria andar livremente por aí, ratinha? - disse ele rindo de leve. —O que quer, Viktor? - perguntei ríspida. —Uma dança. - disse ele naturalmente. —Nem morta. - respondi automaticamente. — Te deixarei em paz a festa inteira depois disso. —promete? Pelas suas presas. Ele riu de leve e aproximou o rosto de minha orelha, ele estava com certeza tentando me provocar. —Mesmo que você me peça, ratinha. - ele mordeu o lóbulo de minha orelha. Meu corpo se arrepiou, meu rosto corou automaticamente, balancei a cabeça concordando com uma dança. As luzes do pequeno salão mudavam de verde para azul, de azul para vermelho, e voltavam para o verde, no ritmo da música. No centro do pequeno salão estávamos nós dois, aos poucos dançamos lentamente ao som da música "Memories" de Conan Gray, que fluía suavemente pelo ar. Foi a primeira vez que reparei a roupa de um dos meninos na festa, Viktor, ele estava vestido de forma descontraída, com uma camisa branca de mangas dobradas e jeans escuros. Seus movimentos eram calmos e cheios de intenção, os olhos fixos nos meus enquanto dançávamos em perfeita sincronia. O ambiente estava tranquilo e íntimo, com a música envolvendo-nos em uma atmosfera nostálgica e contemplativa. Cada movimento parecia contar uma história, como uma narrativa silenciosa de provocação, os olhos dele escondiam algo que eu sabia ser desejo. À medida que a música chegava ao seu clímax, nossos corpos se aproximavam ainda mais, com nossas mãos entrelaçadas nós dançávamos como se fosse apenas o nosso mundo naquele momento, perdidos na melodia até que nossos rostos se aproximaram e a música se findou. Me afastei e caminhei para fora do pequeno salão, imediatamente passando pela cozinha indo em direção ao jardim, minha mente estava tão turbulenta quanto meu coração, fechei meus olhos sentindo a brisa suave tocar meu rosto, o cheiro das flores do jardim invadiu minhas narinas aos poucos a lembrança da noite passada retornava à mente, meu plano, o livro. Sim, o livro, eu deveria ir até a biblioteca da mansão, seria a hora perfeita para ler "O cálice". Entrei novamente, agora a música era mais agitada, uma batida eletrônica tocava a todo vapor. Corri para a biblioteca e tentei abrir a porta da biblioteca, porém estava trancada, não importa o quanto eu tentasse abrir, mas um estalo me veio à mente. —A janela da biblioteca! Saí da mansão fazendo questão que ninguém me seguisse, se eu pegasse pelo jardim daria acesso à pequena biblioteca. Assim o fiz, entrei pela janela e caminhei até a estante com o livro ao qual eu desejava, estendi a mão e toquei no livro e o tirei da estante, esse livro seria exatamente o que eu precisava. Pulei novamente a janela e escondendo o livro tentei entrar novamente na mansão, mas senti uma mão tocar meu ombro e assim que me virei percebi uma pessoa desconhecida, era uma garota, ela era linda, olhos vermelhos, cabelo cacheado até a cintura, pálida como se tivesse levado um susto. — Não deveriam deixar o cálice andando sozinho desse jeito. Disse a mulher antes de uma falta de ar assolar meus pulmões, minha mente virou, à minha volta tinha vento mas eu não o alcançava em meus pulmões, o jardim girou em minha visão, a aflição me atormentava antes que eu viesse a apagar. E assim, sem ar, aos poucos... fui perdendo a consciência.
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD